O6 de novembro de 2005 _
Adeus, minha Mãe, até logo...
Mãe... encontrei você caída, sem mais um sopro
de vida, o olhar de quem tentava compreender algo estranho...
Logo mais a casa receberá os conhecidos, amigos, aqueles que um dia
partilharam a honra de lhe conhecer... não saberei mais como será.
Bem pouco sei, deste futuro que a gente nunca
quer encarar, e que vem, inexorável.
Mas uma grande certeza me acompanha: poucos, muito poucos, cumpriram
como você tão árduas missões: foi mãe, professora, conscientizadora.
Raros são os que, ao encarar este momento sempre incerto, levam na
bagagem a sensação do dever cumprido: e você os cumpriu! A todos, dando sempre
o melhor de si, muitas vezes indo além de suas forças, além de sua combalida
energia mental...
Hoje, pouco mais de meio dia depois que a encontrei, vejo que raras
vezes estava assim tão boa... nestes últimos tempos a
idade a fizera menina, a mulher foi se tornando criança, foi se fazendo cada
vez mais nova até... até nascer para esta nova vida.
Em meu coração viceja a vontade de saber que estará
bem, de que os anjos do Senhor estejam ao seu lado, e que poderá continuar
sendo aquela mãezona que primava pelo senso de
justiça, pela correição do caráter e pela ilibada honra que eram seu
norte e sua bandeira, sempre.
No seu grande medo da solidão, mainha,
fantasma que tanto a amedrontava, saiba que este meu fraco coração de filho
sempre devedor guardará para sempre um lugar que, de tão seu, jamais lhe
deixará sozinha!
Vemos por toda a parte escândalos, e sei que me deu firmeza e caráter
para nunca deles comungar. Clareza de caráter bastante para, mesmo que um dia
tendo de passar pela lama, jamais dela fazer parte...
Muitas são as lembranças de força, de coragem, e muitas também aquelas
de fragilidade e de receio... E sobre todas, sobretudo, paira a imagem de que,
por onde for, serei sempre o filho de Marion...
Sei que não fui tanto a rosa das que semeou, e que muitas vezes fui-lhe
o espinho, mas tenho certeza de que, se algo de bom tenho
hoje, foi fruto do seu trabalho, da sua luta, da sua certeza na ética e no bem.
E, mesmo quando as dúvidas pairam, tenho a certeza de que em breve
estaremos novamente juntos, na verdade e na vida. Ninguém morre,
professora, ninguém morre para sempre, não quando se é imortal nesta vida de
tantas futilidades...
Até logo, mãezinha.
André, Caetité, 07 de novembro de 2005. 5h 20min.