Marion Gomes
Patrona da Cadeira 23
Ensaio
  Falar da nossa Patrona numa Academia não é fácil. Sendo esta Patrona nossa própria mãe, então, é tarefa muito difícil, em especial porque Marion nunca foi uma "unanimidade", e em face disto, sempre haverá quem contradiga os informes a seu respeito.
   Tendo vindo de Santo Antonio de Jesus para Caetité muito nova, durante sua vida granjeou muitos adversários, alguns ferrenhos, outros que superaram as rusgas, mas todos com a certeza de que esta mulher simboliza muito além da vontade férrea: era uma mulher que sempre lutou pelo Direito, pela Verdade, pelo mais correto. Durante minha convivência com ela, enquanto a saúde lhe permitiu, era mesmo freqüente e recompensador vê-la receber mensagens de gratidão dos ex-alunos.
   Antes de partir para o levantamento de sua vida, propriamente dito, devo narrar um fato que me ocorreu e que marcou para sempre a imagem que tive, tenho e sempre terei da Professora Marion:
   O ano era 1993. Estava em Salvador, lutando para conseguir meu diploma - não completar o Curso de Direito, mas o diploma mesmo: há meses empecilhos e desencontros de toda ordem desviavam o almejado canudo de minhas mãos. Tudo que podia dar errado, deu: primeiro os atestados de dispensa de Educação Física, que não foram anexados e se perderam, fizeram com que não colasse grau tempestivamente. Depois, longos processos administrativos, novos exames, entremeados com a mudança para reforma do prédio da Secretaria Geral de Cursos, interminável greve de funcionários, volta ao prédio reformado... dias, semanas se passando, até que finalmente faltava apenas a assinatura da Magnífica Reitora que, para meu desespero, renunciou exatamente no dia em que iria subscrever meu documento!
   Sem mais suportar tantos reveses, comecei a proferir ameaças na Reitoria, dizendo que iria entrar com um mandado de segurança, que deveria haver uma forma de contornar aquilo. Ante minha grita, apareceu um dos pró-reitores, não me recordo mais o nome ou qual pró-reitoria. Tinha uma barba e aparentava uns quarenta anos. Pegou meus papéis e, vendo o sobrenome, perguntou-me:
   _Koehne? Você é de Caetité?
   Desarmado com aquela pergunta simpática, e já imaginando ser ele conhecido de algum parente de meu pai que ensina na Capital baiana, respondi que sim já esperando que argüísse por alguma tia.
   _Você é o que de Marion?
   Gaguejando, muito surpreso, respondi que era filho, ao que o afável Pró-Reitor exclamou:
   _A MAIOR PROFESSORA DO ESTADO DA BAHIA!
   Acreditei que fosse alguma pilhéria... jamais ouvira alguém falar assim de minha velha, e era justo de um homem naquela posição que pela primeira vez tamanho elogio me aparecia. E, sem o pedir, ele começou a falar-me de como, nos anos 70 do século XX, Marion desafiara a ditadura, na Bahia capitaneada pelo governo ACM, fundando em Caetité a Associação dos Professores Licenciados da Bahia - APLB (era ilegal a sindicalização da categoria), fazendo a primeira greve da história baiana vingar naquele rincão longínquo do sertão. Falou de sua cultura, da dificuldade em fazer o conhecimento chegar até as mentes dos jovens, sobretudo imbuindo neles saber e sabedoria, conscientizando!
   Estava chegando ao fim de meu calvário... colei grau como Bacharel em Direito pela UFBA, ouvindo do mestre e Diretor Antonio Carlos Oliveira, sabedor do caminho de escolhos trilhado: "Pode colar com 'superbonder'"...
   Minha volta para Caetité era um imperativo. Ao lado de minha mãe estava escrito que passaria os meus dias, mal imaginando os dramas que viriam... Mas, sobre tudo e todos os momentos em que a temos qual criança após insidioso derrame, paira esta figura gigantesca de mestra, Professora, PROFESSORA - com tudo maiúsculo.
Introdução:
Marion Gomes
André Koehne, Caetité, julho de 2003
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