Alessandra
Tonholo de Araújo Pinto
Fernanda Nogueira de Almeida
Christiano
Rizzi Tymburibá
Gislene Aparecida Antunes Lima
Daniel
Ferreira de Souza
Grace Jardim Cândido
Eduardo
Eugênio de Macedo
Virlânia Silva Rodrigues
Supervisão:
Profa. Mariza dos Santos Castro, Pharm.D.
Farmacodinâmica
2-2s/97-Publicado em setembro/98
As
micoses superficiais são infecções causadas por fungos,
que se limitam às camadas superficiais da pele, podendo também
afetar as unhas, pêlos, mucosas e zonas cutâneo-mucosas.
Produzem lesões geralmente eritematovésico -descamativas.
São também denominadas tinhas por terem as bordas das lesões
características serpiginosas. São de distribuição
universal e estão incluídas entre as dermatoses que aparecem
com maior freqüência na prática clínica, especialmente
nas zonas tropicais e subtropicais, com variações regionais
quanto as características das lesões.
As
micoses superficiais, frequentes nos ambulatórios de dermatologia
e de clínica geral, são causadas por fungos denominados dermatófitos
que parasitam a queratina utilizando-a como fonte de subsistência.
02-
Quais são os tipos de dermatomicoses?
As micoses superficiais quando localizadas na pele são denominadas de dermatomicoses .
Além do clima, inúmeros fatores condicionam a ocorrência de dermatomicoses. Os animais silvestres representam fontes de infecção de importância epidemiológica. Em várias partes do mundo foram isolados dermatófitos dos gêneros Microsporum e Trichophyton da pele e do pêlo de pequenos animais, em geral silvestres, principalmente roedores e marsupiais. O homem doente representa igualmente expressivo papel epidemiológico. Citam-se microepidemias de tineas em creches, orfanatos, asilos, escolas e em meios famíliares. O ar, a água contaminadas, excretas, alimentos e roupas podem veicular fungos para o organismo humano. Culturas de dermatófitos têm sido obtidas de piscinas, assoalhos de vestiários coletivos e peças de roupa por vários investigadores. Certos tipos de calçados e peles de adorno têm atuado como transmissores.2 A infecção resulta do contato de pele ou cabelo íntegro com escamas da pele ou fragmentos de pêlo infectados. As hifas crescem, então, em direção ao estrato córneo. Casos esporádicos de tinha são contraídos a partir de cães ou gatos (M. canis).
04-
Quais são os sinais e os sintomas das dermatomicoses ?
As dermatomicoses comumente provocam o aparecimento de lesões circinadas, evoluindo conforme as seguintes formas:
A
tinea corporis é uma dermatose anular e representa um dos erros
de diagnóstico mais frequentes entre as enfermidades cutâneas.
Esta infecção é mais frequente nos trópicos.
Esta forma de dermatose, no geral, se associa com uma diversidade de apresentações
clínicas. A maioria das lesões possuem uma borda proeminente
que pode conter pústulas ou pápulas foliculares e o centro
da lesão está menos inflamado e escamoso. A enfermidade afeta
frequentemente pernas e tronco. O prurido é variável e as
lesões podem ser únicas ou múltiplas. Nas peles escuras
as lesões comuns são pigmentadas. Estes padrões clínicos
variam segundo o sítio da infecção e o agente etiológico.
No
diagnóstico diferencial da tinea corporis devem considerar-se numerosas
condições que variam entre um eczema e quadro de psoríase
ou eritema anular. Os elementos importantes que devem ser investigados
consistem em borda escamosa anular das lesões e a proeminência
folicular, os quais caracterizam as dermatoses. No entanto, pode
ser necessário obter material por raspagem para efetuar cultivos
em laboratório nos casos duvidosos.
06- Como é feito o diagnóstico laboratorial?
Como as manifestações cutâneas das micoses superficiais podem simular inúmeras dermatoses, não é possível fazer-se o diagnóstico com bases exclusivamente clínicas. Impõe-se a utilização do exame micológico direto, que permite diagnosticar as dermatofitoses e as demais micoses superficiais, sendo suficiente para fins práticos de orientação terapêutica . A cultura é utilizada para a caracterização da espécie causal e se justifica pelo interesse epidemiológico e preventivo.
07- É necessário usar medicamentos?
O uso de medicamentos é necessário por se tratar de microorganismos que o sistema imunológico do organismo humano por si só não consegue combater. Se não tratado o quadro poderá se agravar, com a disseminação do fungo para outras partes do corpo.
08- Quais são os medicamentos que devem ser usados nas dermatomicoses?
A
escolha do tratamento da s dermatomicoses depende do local do comprometimento,
do tipo de infecção e da extensão da doença.
Para o caso de infecção localizada (com apenas uma ou duas
placas) o tramento tópico com imidazólicos é suficiente.
Se o comprometimento é extenso, a terapia antifúngica exigida
é sistêmica, em particular nos pacientes com baixa da imunidade
celular, sendo a griseofulvina, o medicamento de primeira escolha.
09-
Quais os tipos de medicamentos que são prescritos para uso tópico
na tinea corporis?
O
tratamento da tinea corporis é realizado à base de antifúngicos.
Os azóis ou azólicos dividem-se em dois grupos, imidazólicos
e os triazólicos. No primeiro grupo temos como principais componentes
o clotrimazol, miconazol, econazol, cetoconazol, tioconazol, bifonazol,
oxiconazol e isoconazol. No grupo dos triazólicos, o itraconazol
e o fluconazol.
Esses
medicamentos apresentam-se na forma de creme, loções, pó
e "spray" e devem e devem ser espalhados por toda a área
afetada. O itraconazol pode controlar a infecção com uma
aplicação tópica diária.
Outras
drogas utilizadas são os derivados das alilaminas como a terbinafina,
usada na forma de cremes a 2% duas vezes ao dia; os cremes
e loções de ácido undecilênico a 5%, ácido
benzóico a 5%, ácido salicílico a 3% e enxofre precipitado
a 5% .4Estudos controlados mostraram
que os antifúngicos tópicos tradicionais, tais como o ácido
benzóico a 6% combinado ao ácido salicílico a 3% (pomada
de Whitfield), iodo a 1% (loção de Sabouraud), tintura de
Castellani e ácido undecilênico composto, possuem eficácia
comparável à das novas drogas no tratamento das dermatofitoses.
10-
Quais os tipos de medicamentos que são prescritos para uso sistêmico?
Dependendo
da intensidade da infecção fúngica pode-se recorrer
ao tratamento sistêmico. A griseofulvina, na opinião de vários
autores, é a droga de primeira escolha no tratamento sistêmico
das tinhas pela sua segurança e baixo custo. A dose preconizada
é 10 a 20 mg/Kg/dia após as refeições principais.
O cetoconazol pode ser empregado na dose de 200 mg/dia, o itraconazol na
dose de 100 mg/dia e a terbinafina na dose de 250 mg/ dia. A ação
terapêutica da griseofulvina é semelhante ao cetoconazol,
no entanto, apresenta menor toxicidade.
11- Qual é o melhor medicamento para tinea corporis?
O
melhor medicamento atualmente é difícil de escolher dada
a semelhança de ação entre eles, a seleção
fica então a critério médico. Atualmente, devido
aos vários medicamentos existentes a escolha de um tratamento será
devido ao tipo de fungo causador da doença. Desta forma há
necessidade do médico conhecer qual o fungo está presente
na infecção para depois escolher o melhor medicamento contra
este fungo.
Para
o tratamento tópico, os melhores medicamentos a serem utilizados
são os derivados azólicos devido a sua eficácia e
baixa toxicidade. Sua atividade foi demonstrada em vários ensaios
preliminares.
12-
Quais os medicamentos que não devem ser usados e por que?
Não
devem ser usados medicamentos de ação sistêmica em
micoses localizadas que seriam resolvidas com antimicóticos de uso
tópico, esse fato deve-se a possibilidade de desenvolvimento de
resistência dos fungos àqueles medicamentos.
No
caso de medicamentos sistêmicos, deve-se evitar utilizar o
cetoconazol, apesar da eficácia e ação terapêutica
comparável à griseofulvina. O emprego do cetoconazol deve
ser reservado para as dermatofitoses resistentes à griseofulvina,
pois apresenta maior potencialidade hepatotóxica.
13- Quais são os efeitos colaterais dos medicamentos?
A
griseofulvina é relativamente bem tolerada. Cefaléia pode
ocorrer em cerca de metade dos pacientes, em geral, no início do
tratamento e de caráter transitório. Outros efeitos colaterais
são diarréia e mais raramente, reações alérgicas,
dos tipos eritema pigmentar fixo, urticária, dermatite fotoalérgica
e dermatite exfoliativa, bem assim como granulocitopenia. São excepcionais
os sintomas de confusão, letargia e neurite periférica .3
Aproximadamente 10% dos indivíduos apresentam náusea com
griseofulvina. Essas pessoas devem interromper a terapia por 3 a 4 dias
e então prosseguir para ver se essa pausa supera as reações
desfavoráveis.
Derivados
imidazólicos podem produzir alguma irritação local
na pele e na mucosa vaginal, que pode manifestar-se por enrigecimento,
prurido e sensação de queimação.
Os
efeitos colaterais mais frequentes devido ao cetoconazol incluem náuseas,
vômitos, dor abdominal e prurido. Raramente diarréia, cefaléia,
tontura, sonolência, erupção cutânea, urticária,
leucopenia, anemia hemolítica, diminuição da libido,
impotência e ginecomastia estão presentes. Foi demonstrada
a inibição da síntese do colesterol pelo cetoconazol,
bem como a ocorrência de casos fatais de hepatite, com o uso da droga.
É recomendável a determinação das enzimas hepáticas
durante o tratamento.
14-
Quais são as contra-indicações desses medicamentos?
Griseofulvina:
gravidez, insuficiência hepatocelular, lupo eritematoso ou síndromes lupóides e hipersensibilidade à griseofulvina .
Derivados imidazólicos e triazólicos:
alcoolismo ( cetoconazol) , hipersensibilidade aos antifúngicos imidazólicos e triazólicos, gravidez e lactação, crianças com menos de três anos de idade e hepatopatias.
15- Como saber se estão fazendo efeito? O que fazer se não melhorar?
Caso
não se observe qualquer melhora deve-se suspender o tratamento,
uma vez que,
a não suspensão poderá acarretar o desenvolvimento
de fungos resistentes. O mais indicado é consultar-se com um dermatologista.
Quando
a griseofulvina é bem tolerada, há um rápido clareamento
dentro de uma semana ou duas. O tratamento médico deve continuar
por mais 3 a sete dias, depois do desaparecimento clínico das lesões,
a fim de se evitar a recidiva. Em determinadas situações
deve-se dobrar a dose para que haja a cura. 5
No
caso de resistência ao tratamento com griseofulvina pode-se fazer
a substituição pelo cetoconazol .1
16-
Durante quanto tempo devem ser usados?
A
duração do tratamento irá depender da situação
clínica do paciente e do tipo de dermatofitose, podendo variar de
uma média de trinta dias a até três meses.
O
tratamento da tinea do corpo é demorado, e o paciente precisa ter
paciência para cumpri-lo.
17- Quais as possíveis interações medicamentosas que podem ocorrer durante o tratamento?
A
interação do cetoconazol com rifampicina, isoniazida, ciclosporina
e dicumarol, tem sido comprovadas.
A
griseofulvina pode interagir com outras drogas. Assim, os níveis
sanguíneos reduzem-se com fenobarbital, sendo necessária
maior dose do antimicótico durante o uso simultâneo das duas
drogas. O efeito anticoagulante do dicumarol é diminuído
pela administração com a griseofulvina, exigindo o monitoramento
dos níveis de protrombina, durante a administração
conjunta. Tem sido observada a diminuição da tolerância
ao álcool em pacientes usando griseofulvina.
18-
Como evitar a infecção?
Como
há um grande aparecimento desta infecção em áreas
quentes e úmidas, deve-se evitar banhos de mar em lugares (como
balneários, por exemplo ) onde já se sabe ter uma grande
incidência desta doença.
Já
que a transpiração excessiva é um fator de predisposição
ao aparecimento da tinea do corpo, deve-se ter bastante cuidado ao frequentar
academias de ginástica, tomando sempre banho após as atividades
físicas exercídas, com bastante higiene e ter uma toalha
de uso pessoal.
Na
tinha do corpo a penetração da camada córnea pode
ser facilitada por traumatismo, calor e umidade.
São
de valia na prevenção o uso de vestimenta leva e ventilada
no verão, bem como os cuidados com animais domésticos.
19- Quais os cuidados a serem observados durante a administração do medicamento?
Deve-se
observar se há o aparecimento de reações adversas.
Se estiver fazendo uso de algum outro medicamento observar o aparecimento
de possíveis interações medicamentosas. Verificar
as condições fisiopatológicas do paciente fazendo-se
ajuste de doses nestes casos.
Em
relação aos derivados dos imidazóis deve-se ficar
atento ao aparecimento de dermatite tópica que é considerada
uma reação alérgica.
No
caso da griseofulvina, a administração deve ser feita após
as refeições, de preferência gordurosas, para melhorar
a absorção, sendo o leite um bom veículo. Quando ocorrer
náusea, deve-se interromper a terapia por três a quatro dias,
só então prosseguir para ver se esta pausa supera as reações
desfavoráveis .
O
cetoconazol necessita de ácido gástrico para facilitar a
absorção, o que significa pelo menos duas horas de intervalo
para a administração subsequente de drogas que interferem
com a liberação de ácido gástrico, como os
anti-ácidos e bloqueadores H2 , caso o paciente esteja em uso destes.
20-
Quais os métodos caseiros que podem ser utilizados para melhorar
o quadro clínico?
-
Fazer assepsia do local (não usar sabão de coco, água
quente e substâncias alcalinas, em geral, pois estas irritam mais
ainda o local).
-
Pode-se também limpar o local e passar uma lixa de unha levemente
sobre a lesão antes de usar um antimicótico de uso tópico.
21-
O que um farmacêutico deve fazer em relação a um paciente
que chegue com esta doença em uma farmácia?
O
farmacêutico deve orientá-lo a procurar assistência
médica adequada, um dermatologista, pois não está
habilitado para diagnosticar este tipo de lesão e também
para indicar o uso de medicamentos, a não ser que o seu diagnóstico
já seja conhecido. O farmacêutico precisa convencer o paciente
que ele deve procurar um médico (dermatologista), para que ele informe
qual o medicamento correto a ser usado.
O
farmacêutico deve concientizar o paciente que o tratamento da tinea
do corpo é demorado e o uso dos medicamentos deve ser contínuo
pois, caso contrário, poderá ocorrer o desenvolvimento de
fungos resistentes.
E
durante a administração deste deve ficar atento ao surgimento
de reações adversas, como náuseas, no caso da griseofulvina,
ou dermatite tópica, no caso dos derivados imidazólicos,
comunicando ao médico.
REFERÊNCIAS:
1. HARRISON, T. R. Medicina Interna. 13. ed. : Mc Graw-Hill, Inc 1994. v.1 - p. 202 e 905.
2.
HARRY, L.; Jr., A.; ODOM, R. B.; James, W. D. Doenças da pele
. 8. ed. São Paulo: Manole LTDA, p.
354-355.
3.
JAWETZ, E. Microbiologia Médica. 18a. Ed., Guanabara Koogan
, Rio de Janeiro, 1991. p. 256 e 257.
4. LACAZ, C. S. Micologia médica. 8. ed. São Paulo: Sarvier, 1991. p. 160-165
5.
LOPES, A. C.; FILHO, M. C. C. Clínica Médica Contemporânea
II. São Paulo: Sanrer, 1995.
p. 353-358
6.
MACHADO, J. Doenças infecciosas com manifestações
dermatológicas. Rio de Janeiro: Medsi, 1996
p. 400-407.
7.
MANDELL/DOUGLAS/BENNETT Enfermidades Infecciosas - Princípios
y practica. 3. ed.
Buenos Aires, 1991.
8.
PINTO, J. M. Doenças infecciosas com manifestações
dermatológicas. Rio de Janeiro: Medsi,
1994. p. 392-393
9.SAMPAIO,
S. A. P. Dermatologia básica. 3a ed. São Paulo: Artes
Médicas, 1987. p. 332
[ÍNDICE],[HISTÓRICO] ,[ESQUEMAS], [ORIENTAÇÃO], [ASSOCIAÇÕES],[CASOS]
|