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C   a   r   m   i   r   a   n    d   a
                                                      Devaneios


  
Interessante, é que há dias na vida, que temos a impressão de estarmos como mero espectadores, num espaço entre espaços. Talvez espectadores não seja o termo correto, melhor quem sabe, participantes do presente, deslocados para o passado, ou quem sabe, o passado interferindo por alguns segundos no presente.
   Num dia quente, logo após o almoço, eu saí para o jardim, andar por andar, sem nada em mente, completamente distraída.
   Parei debaixo de uma grande árvore, perto dela um balanço, muitas flores, salvias floridas, cercadas por pedras, formando um grande círculo. De costas para a árvore, fiquei a observar uma pequena fonte, onde boiava um pequeno galho, coberto de parasitas, enfeitando, dando um toque nostálgico.
   Meu pensamento se perdeu, distraído por pássaros e flores.
   O muro, coberto por galhos de  maracujá, separavam-me da infância, adolescência e juventude, tudo vivido la, do outro lado, na casa dos meus pais.
   Por alguns segundos, ouvi as vozes que vinham da cozinha, ouvi até mesmo os pratos batendo. Os sons se misturavam, era hora do almoço. Meu pai e meus irmãos falando alto, comentando sobre o serviço, apesar de trabalharem juntos na oficina, nos fundos de casa. Sempre foi assim, muita conversa, enquanto minha mãe colocava a mesa.
   No mesmo instante, meu pensamento  voltou-se para lá, pois eu costumava me juntar a eles e conversávamos entre risadas. Foi tudo tão real...foram segundos, porém, verdadeiros. Ainda não sei explicar. Parecia estar em transe, alguns segundos de volta ao passado.
   No mesmo instante, o presente me acordou. Foi como se tivessem me dado aqueles segundos e tirados imediatamente.     Desceu sobre mim um pesar, tristeza profunda. Foi real, saudoso...queria mesmo que o tempo parasse um pouquinho mais ali, ou quem sabe, recomeçasse dali. Um dos meus irmãos faleceu aos vinte seis anos de idade, já há onze anos, e meu pai,  estava completando dois anos de sua  morte, neste dia.
   Hoje o cenário é outro, a quietude é uma constante, lá, do outro lado.
   A casa que acolheu seis irmãos andarilhando, falando, rindo, discutindo, hoje acolhe, apenas a mãe solitária, porém, tranquila.
   Ela sabe que a vida é feita de momentos e esses momentos se perdem no tempo e passam a residir, apenas na memória.
   Será que fui enganada pela memória?
   Quem sabe quiseram me presentear e  em rápidas lembranças, se fizeram presentes?
   Quem sabe minha mente tenha me pregado uma peça?
   Que mistérios se escondem em nossas lembranças?
   Onde está este passado, que como uma janela, se abre e se fecha?
   Naqueles rápidos segundos, onde eu realmente estava, no hoje, ou no ontém?
   São delírios ou paralelas?

                                                                                                                               Carmiranda

                                                           

                                                                            
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