"GALINHAGEM" EM SALVADOR

Até a literatura a respeito de Salvador já fala, durante anos, da infidelidade amorosa. É um defeito humano que é tido como uma pretensa tradição, que nos dias atuais se manifesta num sutil assédio de amigos.

É comum ver rapazes e moças que são amigos se abraçarem como se fossem namorados. É o carinha passando a mão no bolso traseiro da calça da amiga, para sentir aquilo que os mais rudes chamam de "popozão" (ou então para roubar dinheiro, mas isso é outra história). É a mocinha levantando a camisa do amigo para acariciar o peitoral dele. É uma dupla de amigos, um rapaz e uma moça, cada um com seu respectivo cônjuge (namorados, noivos ou esposos), mas que se acariciam como amantes nos pátios das Universidades, ela brincando com o cabelo dele e ele, de vez em quando, beijando o pescoço dela. Mesmo em grupos religiosos de jovens, esse "carinho amistoso" acontece.

Muitas pessoas nem desconfiam disso, e dizem que se trata apenas do "saudável carinho de amigos". Só que muitas vezes a fulaninha que tem marido trabalhando, filhos na creche e tudo o mais, vai para a casa do melhor amigo dela (talvez mais "gato" que seu marido) a pretexto de estudo quando os dois vão transar, com o cuidado de não ocorrer gravidez, para não causar escândalo. Melhor deixar ocorrências assim para as páginas de "Dom Casmurro", livro de Machado de Assis sobre a infidelidade amorosa.

"Galinhagem" é o que se diz coloquialmente da infidelidade amorosa. Ou então é o que se classifica um falso namoro, sem compromisso mas também fútil e leviano. Os "galinhas" não querem amar, querem apenas curtição, e se apaixonam tão rapidamente quanto deixam de se apaixonar, e são capazes de trair o "amor de sua vida" do dia anterior por causa de um "novo amor" que apareceu de repente. Não importa se os envolvidos sejam comprometidos ou não, "galinhagem", como o nome diz, se compara a um monte de galinhas que amam um mesmo galo ou um mesmo galo que ama galinhas de diferentes galinheiros. Ou uma galinha que ama um galo mas que assedia os pintinhos da vizinha.

Como vemos que Salvador possui mais homens do que mulheres, numa proporção de dois homens para uma mulher, a "galinhagem" serve para que homens entrem em acordo e um pegue emprestado a mulher de outro, se passando oficialmente pelo "melhor amigo dela". A "galinhagem" também serve para os chamados "velhos babões", que passaram por vários casamentos para depois se convencerem de que querem mesmo é ser solteiros, darem voz aos seus instintos animais e pegar mocinhas novinhas, perfeitas para o sexo mais vulgar.

A "galinhagem" acaba por provocar o rompimento dos vínculos familiares, o que pode complicar na educação das crianças que, vendo a desunião dos pais, além da infidelidade e da descartabilidade amorosa (ter um caso de amor por cada semana, por exemplo), acabam na maioria das vezes se tornando insensíveis, céticas e inseguras no amor, por falta de algum referencial para uma vida conjugal decente e estável.

Enfim, a "galinhagem", que transforma a vida social num caos libertino, favorece a promiscuidade da plebe, mas faz com que doenças como AIDS, sífilis e uma infinidade de doenças venéreas se espalhem com rapidez tremenda. Afinal, homens e mulheres casados, segundo pesquisas mais sérias, estão cada vez mais sujeitos à infecção pelo vírus HIV, e tal risco esconde os casos de infidelidade entre qualquer um dos cônjuges.

Certamente essa suruba sexual só vai dar problemas no futuro. E não resolve a tão dissimulada predominância dos homens em cidades como a baiana Salvador.

 

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