REPORTAGEM REFORÇA MITO À VÉSPERA DO PRIMEIRO DE ABRIL

No dia 31 de março de 2002, o jornal baiano A Tarde publicou, no caderno principal, uma reportagem que, como tantas outras, tenta manter a todo custo o mito de "paraíso sexual" da cidade de Salvador.


COM MOÇAS ASSIM, ATÉ EM ARATACA - "Bonitas e charmosas" segundo a reportagem de A Tarde, as garotas da foto, no entanto, representam uma beleza mediana, típica de subúrbio, acessível até mesmo em cidades como a também baiana Arataca, considerada de maior população masculina no Estado da Bahia.

Intitulada "Mulheres reclamam da falta de homens", a reportagem, publicada no caderno "Local", explora alguns clichês dessa publicidade enganosa. Primeiro, "confirma" a tão discutível hegemonia feminina na capital baiana. Segundo, mostra os bares como sendo "redutos" da vida amorosa. E, terceiro, mostra um grupo de jovens de beleza mediana, ou seja, mulheres pouco atraentes, numa foto.

A legenda credita as moças - de uma média etária de 21 anos, insatisfatória para uma autêntica hegemonia feminina, que requer um expressivo contingente de solteiras com mais de 30 anos, o que não ocorre em Salvador - como "bonitas e charmosas", coisa que a rigor não se vê nas moças da foto publicada. Elas, na verdade, são de uma beleza mediana, como muitas que se vêem no subúrbio, que ficam muito a dever diante de baianas de fato lindas como a repórter Rosana Jatobá, da Rede Globo. Para dar um tom "científico" à reportagem, além de citar os números da "hegemonia (sic) feminina" do Censo, são entrevistados psicólogos.

A reportagem também cita a cidade interiorana de Arataca, como a que maior número de homens, oficialmente, tem o Estado da Bahia. No entanto, em cidades assim a situação afetiva ainda se assemelha com a da capital baiana, que não é, na prática, o "paraíso sexual" tão falado pela propaganda turística.

A única novidade que se observa é que a população de Salvador, segundo o Censo, reduziu a diferença entre homens e mulheres para a proporção oficial de "100 fêmeas para 89 machos", embora o mito turístico fale ainda em "oito mulheres para um macho" (ou seja, "100 fêmeas para 12 machos").

Também é duvidosa a idéia de que Salvador é a cidade baiana com maior déficit de homens (na verdade, a tese é inversa, com grande déficit de mulheres, senão o maior ou algo próximo disso), uma vez que, entre outras coisas, o Censo considerou muitos homens (cerca de 40% não creditado na população soteropolitana) que residem em Salvador como não-habitantes desta cidade, levando em conta apenas o fato desses homens terem nascido no interior baiano. Por outro lado, uma proporção estimada de 10% de mulheres cuja residência é atribuída a Salvador, na verdade moram em regiões vizinhas, como Lauro de Freitas, Camaçari e Simões Filho.


AUTÊNTICA BELEZA MORENA - A belíssima jornalista Rosana Jatobá é um raro exemplar da morena sedutora da Bahia. E advinha no que deu? Ela se mudou para São Paulo e foi trabalhar na TV Globo de lá, diminuindo as já escassas estatísticas de mulheres bonitas na população de Salvador.

Na semana seguinte, 07 de abril, outra reportagem foi publicada mostrando a carência afetiva dos homens, sem no entanto desmitificar a suposta hegemonia feminina nem deixar de citar os bares como supostos redutos para a busca de um par para namoro. E, acima de tudo, sem mencionar os aspectos interesseiros (sobretudo de ordem econômica) das "relações amorosas", principalmente por parte das mulheres, já que muitas delas são tão exigentes quanto as ofertas de emprego, pedem "experiência profissional" e "salário satisfatório".

Curiosamente, a reportagem "Mulheres reclamam da falta de homens" foi publicada no domingo 31 de março, véspera de um primeiro de abril, dia tradicionalmente associado à mentira. Talvez, correndo pela frente, A Tarde acabou, mesmo sem querer, antecipando e fortalecendo todo esse clima de lorotas que Salvador, a capital do "jeitinho brasileiro" (uma "paixão nacional", infelizmente), insiste em manter para favorecer o enriquecimento de uns privilegiados. E quem paga com isso é quem quer sair desse clima, no caso as pessoas que querem uma relação afetiva mais séria, substancial e sem firulas biriteiras.

 

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