ANOREXIA NERVOSA

CARACTERÍSTICAS DA CULTURA , IDADE E SEXO

A Anorexia Nervosa parece ter uma prevalência bem maior em sociedades industrializadas, nas quais existe abundância de alimentos e onde, especialmente no tocante às mulheres, ser atraente está ligado à magreza. O transtorno é provavelmente mais comum nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e África do Sul, mas poucos trabalhos examinaram a prevalência em outras culturas. Os pacientes que emigraram de culturas nas quais o transtorno é raro para culturas nas quais o transtorno é mais prevalente podem desenvolver Anorexia Nervosa, à medida que assimilam os ideais de elegância ligados à magreza.

Fatores culturais também podem influenciar as manifestações do transtorno. Por exemplo, em algumas culturas, a percepção distorcida do corpo pode não ser proeminente, podendo a motivação expressada para a restrição alimentar ter um conteúdo diferente, como desconforto epigástrico ou antipatia por certos alimentos.

A Anorexia Nervosa raramente inicia antes da puberdade, mas existem indícios de que a gravidade das perturbações mentais associadas pode ser maior nos pacientes pré-púberes que desenvolvem a doença. Entretanto, também há dados que sugerem que quando a doença se inicia durante os primeiros anos da adolescência (entre 13 e 18 anos de idade), ela pode estar associada com um melhor prognóstico. Mais de 90% dos casos de Anorexia Nervosa ocorrem em mulheres.

EPIDEMIOLOGIA

A taxa de prevalência de pacientes com anorexia é de 1% e, destes, cerca de 90% dos casos são em mulheres. A doença acomete mais freqüentemente classes sociais mais elevadas. A anorexia surge em 45% dos casos após dieta de emagrecimento; em 40% por ocasião de uma situação competitiva. Algumas profissões ligam esbelteza com realizações, e populações especiais (notavelmente bailarinas e modelos) demonstraram ter um risco incomumente alto para o desenvolvimento de transtornos alimentares. A incidência de Anorexia Nervosa tem aumentado nas últimas décadas.

CURSO

A idade média para o início da Anorexia Nervosa é de 17 anos, com alguns dados sugerindo picos aos 14 e aos 18 anos. O início do transtorno raramente ocorre em mulheres com mais de 40 anos. O aparecimento da doença freqüentemente está associado com um acontecimento vital estressante, como sair de casa para cursar a universidade, casamento, rompimento conjugal, etc.

O curso e evolução da Anorexia Nervosa são altamente variáveis. Alguns pacientes se recuperam completamente após um episódio isolado, alguns exibem um padrão flutuante de ganho de peso seguido de recaída e outros vivenciam um curso crônico e deteriorante ao longo de muitos anos. A hospitalização pode ser necessária para a restauração do peso e para a correção de desequilíbrios hidroeletrolíticos. Dos pacientes baixados em hospitais universitários, a mortalidade a longo prazo por Anorexia Nervosa é em torno de 10%. A morte ocorre, com maior freqüência, por inanição, suicídio ou desequilíbrio eletrolítico.

Existe um risco aumentado de Anorexia Nervosa entre os parentes biológicos em primeiro grau de pacientes com o transtorno. Um risco maior de Transtornos do Humor, principalmente depressão, também foi constatado entre os parentes biológicos em primeiro grau de pacientes com Anorexia Nervosa.

MENINAS COM 9 ANOS JÁ FAZEM DIETA

Uma investigação conduzida no Reino Unido revela que, aos nove anos, são já muitas as crianças que se preocupam com o seu aspecto físico. Os cientistas da Universidade de Leeds chegaram à conclusão que uma e cada cinco meninas com nove anos de idade fazem dieta porque, na escola, os colegas troçam do seu aspecto físico.

O investigador principal do estudo, Andrew Hill, alerta para o risco que estas crianças correm de vir a desenvolver desordens alimentares durante a adolescência. Isto porque a forma encontrada pelas meninas para reduzir o peso passa, muitas vezes, por saltar refeições, evitar determinados tipos de comida e/ou comer menos durante o dia. Através do estudo, percebeu-se que existe um grupo etário específico que está a desenvolver uma preocupação exagerada em torno da imagem. Fonte: Cidade Médica Virtual

No recreio, as crianças mais gordas são alvo de troça dos colegas mas são vários os fatores contribuem para esta preocupação: a pressão do órgãos de comunicação social, dos pares e da própria família. Todos estes vetores, em conjunto, levam as crianças a acreditar que, realmente, «é esteticamente agradável ser magro». Os investigadores também perceberam que as meninas que são alvo de troça por parte dos seus colegas apresentam uma personalidade mais frágil e baixa auto-estima, mesmo quando não são, de fato, gordas.

A psicóloga Denise Bellotto de Moraes, da disciplina de nutrição e metabolismo da Unifesp foi responsável por pesquisa que avaliou o comportamento de 316 adolescentes de dez a 19 anos de uma escola particular de SP.

No levantamento, verificou-se que metade das 178 meninas estava insatisfeita com seus corpos, contra 30% dos meninos. Das garotas, 30% faziam dieta sem precisar. Para nutricionistas, fisiologistas e pediatras o resultado dessa obsessão com as dietas é preocupante e pode comprometer o desenvolvimento, podendo, inclusive ser o início de distúrbios alimentares graves, como a bulimia e a anorexia.

O primeiro passo para uma alimentação saudável na adolescência é entender e aceitar as mudanças do corpo. Por exemplo; é normal que as meninas ganhem alguns quilos por volta dos dez anos, pois elas precisam de depósitos de gordura ( em média elas têm de ter de 18% a 20%) para a produção dos hormônios da puberdade e para se preparar para o fenômeno do "estirão", quando crescem rapidamente.

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA ANOREXIA NERVOSA

A - Recusa a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado à idade e à altura (por ex., perda de peso levando à manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado; ou fracasso em ter o ganho de peso esperado durante o período de crescimento, levando a um peso corporal menor que 85% do esperado).

B - Medo intenso de ganhar peso ou se tornar gordo mesmo com o peso abaixo do normal.

C - Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo peso corporal atual.

C - Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos. (Considera-se que uma mulher tem amenorréia se seus períodos ocorrem apenas após a administração de hormônio, por ex., estrógeno.) Especificar tipo:

Tipo Restritivo - Durante o episódio atual de Anorexia Nervosa, o paciente não se envolveu regularmente em um comportamento de comer compulsivamente ou de purgação (isto é, auto-indução de vômitos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).

Tipo Compulsão Periódica/Purgativo - Durante o episódio atual de Anorexia Nervosa, o paciente envolveu-se regularmente em um comportamento de comer compulsivamente ou de purgação (isto é, auto-indução de vômito ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).

TRATAMENTO

Uma das primeiras dificuldades é a que diz respeito à aderir o paciente ao tratamento, pois, como imos, a negação da doença é muitas vezes parte integrante do quadro. As pacientes com anorexia nervosa em geral desconfiam dos médicos, os quais elas percebem como inimigos e interessados apenas em realimentá-las, em fazê-las perder a vontade de controlar seus pesos. Portanto, o médico deve encorajar hábitos alimentares normais e ganhos de peso sem que isto se torne o único foco do tratamento.

Dependendo das condições clínicas da paciente, é necessário, muitas vezes em função de uma caquexia, proceder a internação da paciente para restabelecimento de sua saúde em ambiente hospitalar. A família deve ser orientada sobre a gravidade do problema, sobre falsas expectativas e de que a cura não será fácil.

Se o tratamento é em regime de hospitalização procede-se à correçào hidroeletrolítica, dieta hipercalórica mesmo contra a vontade da paciente, correção de possíveis alterações metabólicas e início do tratamento psiquiátrico.

Psicologicamente deve-se abordar o caso cognitivamente e/ou comportamentalmente, encorajando a adoção de atitudes mais sadias por parte da paciente, que é recompensada com elogios e diminuição de situações aversivas como restrição de sua mobilidade. A psicoterapia individual é indicada visando a modificação do comportamento, das crenças e dos esquemas falhos de pensamento.

A psicofarmacoterapia é indispensável e, normalmente, se faz às custas de antidepressivos, notadamente com tricíclicos que tenham como efeito colateral também o estímulo do apetite e o ganho do peso, como é o caso da maprotilina, amitriptilina ou clomipramina. Havendo necessidade de sedação (quase sempre há), recomenda-se que seja feita com neurolépticos e, preferentemente, com aqueles que também aumentam o apetite, como é o caso da levomepromazina.

Mesmo após a melhora é bom ter em mente que as recaídas são freqüentes. No caso da internação, a taxa de recidiva imediata é superior a 25%. Portanto o acompanhamento destas pacientes deve-se fazer por anos.


Para referir:

Ballone GJ - Anorexia Nervosa, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

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