Em 1755, era editado em Lisboa um alvará real que coibia o uso do termo “cabouclo” como denominativo dos filhos mestiços de casamentos entre brancos e índios. Nos 250 anos que se passaram desde a promulgação deste alvará, o nome caboclo, bem como a população a qual ele se refere, têm tido um papel ambíguo nas representações acadêmicas e leigas. Ora representadas como produto degenerado da colonização européia, ora como legítimos herdeiros do conhecimento milenar dos “povos da floresta”, as sociedades caboclas amazônicas têm sido repetidamente essencializadas. Embora a importância do papel das sociedades caboclas no cenário amazônico não seja mais questionada, ainda está longe de ser amplamente compreendida. É no rastro destas preocupações que apresentamos ao público brasileiro o livro Sociedades Caboclas Amazônicas: Modernidade e Invisibilidade. São estudos de antropologia, história, ecologia, nutrição e saúde nos quais é possível não apenas vislumbrar os processos históricos que formaram esta grande parcela da população amazônica, mas também entender os contextos sociais, políticos e ecológicos nos quais as sociedades caboclas estão inseridas. Além de criar um espaço merecido para a discussão e a reflexão sobre um dos mais importantes e negligenciados segmentos da sociedade brasileira, esta coletânea representa uma instância única de exercício interdisciplinar. Desta forma, esperamos que este volume seja o início de uma nova tendência, que resultará no refinamento da nossa compreensão sobre as sociedades caboclas amazônicas em particular, bem como sobre os processos subjacentes à formação das sociedades humanas em geral.

Sociedades Caboclas Amazônicas - Modernidade e Invisibilidade
Autores: Cristina Adams, Rui Murrieta e Walter Neves (Orgs.), 362 p.
ISNB: 85-7419-644-4