Boletim Mensal * Ano VI * Janeiro de 2008 * Número 58

     

 

COLUNA DOS VINHOS

 

Ivo Amaral Junior

 

           

            Meus ilustres e pacientes compadres: recebi algumas críticas e sugestões sobre o artigo do mês passado, o qual versei sobre duas coisas. Gostaria de comentar sobre os dois tópicos abordados, uma vez que são assuntos de interesse geral, não só da Academia. Serei breve!

            O primeiro ponto abordado foi em relação a um chamamento, se assim posso falar, para que os compadres se integrassem com mais veemência à nossa Academia, que pudéssemos fazer encontros cada vez maiores e mais prestigiados e que viessem beber conosco um bom vinho, acompanhado do sempre delicioso bacalhau do restaurante Adega, da multifacetada Cláudia Leal, que tenta sempre engendrar um acordo para as nossas reiteradas exigências. Até agora ambas as partes obtiveram êxito!

            Tal convocação teve a intenção de alertar às pessoas que não podemos caminhar para o mundo isolacionista que vemos já como uma realidade, onde ninguém mais se reúne com amigos, seja para ter apenas uma prosa, seja para tomar vinhos ou uma simples visita.

            Mais uma vez reitero a proposição! Vamos nos reunir e fazer com que os nossos familiares também integram essa “rede” social. Oportunidades não nos faltam: Academia do Bacalhau (última quarta-feira do mês), Almitante Barroso, Sardinhada (último sábado), Festa de São Martinho, Clube Português e sua estrutura, Gabinete Português de Leitura e seus livros, Recanto Lusitano e sua excelente comida, Carmem Delicatessen e Com Pão ponto com seus pães e salgados, Padaria Santa Cruz e seu pão-de-ló e bolo inglês ou então um cafezinho lá na Medical com o compadre Marcelo Tavares, são coisas que não podemos deixar de fazer ou freqüentar.

            Isso para ficar somente nas instituições portuguesas! Uma gama de outras confrarias, associações, restaurantes e lojas merecem a visita dos amigos; visitas essas que sempre deixamos para depois sob a desculpa de que o corre-corre da vida atual não nos permite esse deleite. Fica a idéia, vamos transformar em realidade!

            Sobre o segundo ponto abordado na coluna anterior, qual seja, os vinhos da minha seleção, ressalto que não fui taxativo quanto aos mesmos, até porque por uma questão de física – falta de espaço – não haveria como discorrer sobre todos os vinhos que gostei no ano de 2007.

            Assim, apenas dei o “norte” sobre alguns nomes de produtos, em outros falei somente do produtor e, em alguns casos, somente do tipo da uva. Portanto, como é do meu feitio, sempre indico aos compadres que a única forma de saber se gosta ou não do vinho é tomando, provando e conversando; da simples leitura vem apenas o conhecimento abstrato, mas o teste final só se chega com o exercício dos sentidos sobre esse precioso líquido.

            Para não me tornar cansativo com reminiscências do meu passado vínico, findarei o artigo desse mês falando sobre o “vinho dos mortos” de Boticas, em Portugal, o qual é enterrado sob o solo, alguns meses antes de ser bebido. O material de pesquisa foi-me ofertado pelo Editor e encontrei pouca coisa na internet. Espero passar a informação da melhor maneira possível, para o deleite dos leitores da coluna.

            O nome, talvez um pouco macabro, desse líquido, faz parte da história da freguesia de Granja, surgindo quando em 1807, na segunda invasão francesa em Portugal. Os patrícios, com receio da pilhagem dos seus melhores produtos, seja agrícolas ou manufaturados, tentaram esconder os mesmos,nos lugares menos prováveis de serem procurados. No caso dos vinhos, foram enterrados embaixo dos lagares e das pipas, sob o saibro. Após a expulsão dos franceses, tempos mais tarde, os portugueses recuperaram seus bens e desenterraram os vinhos, julgando-os estragados ante o lapso temporal transcorrido.

            Ocorre que algum curioso ou alguém muito sedento resolveu tomar uma garrafa e para a surpresa geral descobriu-se que o vinho estava muito melhor do que costuma ser em condições normais, pois no escuro e a uma temperatura constante, existiu uma fermentação diferenciada, deixando o mesmo com novas características e sabores, inclusive um pouco de gaseificação natural, antes inexistente.

            A técnica, descoberta por acaso, continua sendo utilizada por poucos, alguns aderiram a outros meios de obtenção desse resultado, mas os que continuam a proceder dessa forma – “enterrando” o vinho – sabem que esse “vinho dos mortos” têm propriedades únicas e irresistíveis, pois passam de três a cinco meses debaixo do solo e quando “desenterrados” estão prontos para serem bebidos.

            Pois bem. Este mês fico por aqui, pois o editor me pediu para ser mais breve. Abraços!