CARLOS RODRIGO CAMPO DALL'ORTO

04/03/2007


 

Emoção na avenida
 

Nesse ano o carnaval capixaba foi marcado muito mais pela emoção que pela ostentação de grandes carros alegóricos e bonitas fantasias. Não que isso tenha faltado, muito pelo contrário, teve em quantidade e com qualidade. Mas, o que não estava estampado em nenhuma fantasia foram os momentos protagonizados pelos privilegiados expectadores dessa festa que a cada ano se torna mais bonita e completa. Como poderemos esquecer a tristeza dos componentes da Andaraí, da MUG e de todos que amam o carnaval e torcem pelo brilho de todas as escolas, ao verem um ano de trabalho e dedicação serem atropelados por um imprevisto, por um carro alegórico quebrado? Tristeza essa, que se transformou em lágrimas e emocionou a todos. Ver Robertinho passar em prantos, juntamente com toda sua escola, nos mostrou que o luxo e a grandiosidade do carnaval, dependem do nosso amor por nossas queridas agremiações, que sobrevivem com dificuldades e tentam crescer ano a ano em meio a falta de recursos.

Mas o que mais emocionou e mostrou que o capixaba, além de talento e competência para fazer um bonito carnaval, possui também emoção e amor no coração para defender sua escola na avenida, foi o episódio da Porta-Bandeira do Barreiros

O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, vinha em sua evolução pela avenida com toda a beleza que é peculiar aos representantes do símbolo maior de sua escola. Sem que ninguém esperasse, sua fantasia demonstrava cansaço e começou a se desfazer. Mas o mesmo não se verificava nos rostos da Porta-bandeira e de sua coreógrafa. Nesse momento a preocupação e a aflição começaram a tomar conta de todos nós. A PB, em vão tentava segurar sua saia ao mesmo tempo em que tentava evoluir, até que se tornou inviável conciliar seus graciosos movimentos e a fantasia junto ao seu corpo. Isso a tornou imóvel, sem brilho, como uma flor que desabrocha e ao mesmo tempo murcha nos privando de sua beleza assim que nos acostumamos com sua magnitude. Mas uma PB não pode nos privar de sua alegria e de seus movimentos devido um problema em sua fantasia. Foi nesse momento que presenciamos o mais belo espetáculo da avenida. Como uma borboleta que deixa o casulo, a PB abandonou parte de sua fantasia, se libertando de sua temporária imobilidade, como uma lagarta que tem de passar pela metamorfose para bailar livremente sobre as flores. Sua coreógrafa em lágrimas traduziu o sentimento de todos nós ali presentes, inclusive dos jurados. Ao vê-la voltar com seus graciosos movimentos, nos fez resgatar a esperança de que podemos voltar a brilhar, mesmo com todas as dificuldades que temos de enfrentar para fazer nosso carnaval.
 

Nada o que aconteça pode apagar a emoção que sentimos ao ver o quanto o carnaval capixaba evolui e poderá evoluir em meio a tantos desafios, imprevistos e falta de recursos. São nesses momentos que temos de superar todas as dificuldades para ver nossa lagarta se transformar nessa linda borboleta que hoje são os nossos desfiles. O principal o capixaba já possui, que é o amor pelas nossas escolas. É isso que vale a pena, que nos emociona e nos faz superar todas as dificuldades para que no próximo ano possamos reagir e fazer com que nossas escolas voltem para a avenida.

Carlos Rodrigo Campo Dall'Orto
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