DÓ-LARES A QUEM DOÊ-LAS

Pode apanhar sua mochila, pegar um punhado de reais e ir à casa de câmbio. Mesmo que a troca seja de quilos por espécie, comprar dólares para viajar ainda vale a pena. E se você pensa que sou louco, sou sim: por viagem.

Eu sei que é triste. Sei que já foi o tempo em que um dólar valia um real. Era 1 por 1. Isso mesmo. Não é incrível? Você dava uma bala e recebia uma bala. Hoje você dá o pacote e eles devolvem o papel.

Era como se Vera Fischer e Sharon Stone tivessem o mesmo reconhecimento no mercado internacional. “Ah, vocês tem a Sharon Stone? Pois fiquem sabendo que a Vera Fischer é nossa”.
Hoje, pela Sharon Stone, eles querem a Vera, a Luciana Gimenez, a Daniela Cicarelli, a Fernanda Lima e ainda levam a Sandy para facilitar o troco.

Foi uma época em que nunca estivemos tão perto de nos sentirmos o verdadeiro americano, o mocinho do filme e não o bandido latino, mal encarado, que mesmo se nascido no Brasil, tem o nome de Ramirez.

Naquela época do 1 pra 1 dava sensação de que se a gente abrisse a janela ia dar de cara com a Estátua da Liberdade, imponente, com aquele braço erguido. Hoje, de braços erguidos, pode correr que é assalto.

Bons tempos aqueles. Porque afinal, nada é diferente por aqui. Pizza Hut?
Nóis tem. McDonalds? Nóis tem. Carro importado? Nóis também tem. Só faltava o dinheiro ser igual. E quando foi, ou pelo menos pareceu ser, a gente pegava o avião, ia para a Florida, e tomava o suco de laranja com gostinho de toma lá, dá cá. Hoje, o suco azedou, o dólar explodiu e só sobrou o brasileiro no bagaço.

Não ir para os Estados Unidos e ir para a Europa não refresca porque o euro anda tão forte quanto o dólar. Para o Japão? Só rindo. Pelo yen, você não só vai ter que dar a Vera Fischer, a Luiza, a Daniela, a Fernanda, a Sandy, como ainda vai ter que arrumar umas duas ou três nisseis interessadas em trabalho operário na terra do sol nascente.

Mesmo assim, ainda insisto. Tire o dinheiro debaixo do colchão, desdobre aquele monte de notas que de tão baixo valor está servindo da calço para a mesa bamba do jantar e vá ao banco.

O que der para fazer vai estar bem feito. Viagem é um bem que não se tira, não se perde, não se esquece. Um dia, o dinheiro vai embora (o meu está indo todos os dias) e você não viu o show de fogos de artifício do Epcot Center, não viu a Monalisa do Da Vinci ou o David de Michelangelo. Não foi ao topo da Torre Eiffel, não ouviu as badaladas do Big-Ben, não viu neve no Canadá ou dançou tango na Argentina. Não passeou de gôndola, não viajou de hidroavião, não assistiu uma peça na Broadway e nem tomou sol no Caribe.

E eu sinto muito por tudo que está perdendo.

E se não der para ir para fora do Brasil, não faz mal. O Brasil é lindo.
Só é preciso que alguns brasileiros descubram que viver com pouco dinheiro é o que tem sido o real. Que dólar taco a taco é fantasia.

Eu sei que a coisa tá brava. Eu mesmo, que adoro viajar, só estou viajando em pensamento. Mas, se tem ainda algum sobrando para você: viaje. Pode ser pra Pirapora ou pra Paris, mas viaje. O que se ganha em vida não tem preço.
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