UMA VERDADE
NUA E CRUA
EM OSLO
Seiscentos homens e mulheres, todos nus, reunidos num só lugar. Sambódromo no Rio de Janeiro? Não, embora liberal, o carnavalesco faz sempre uso de uma folhinha de parreira aqui ou uma purpurina acolá. Estou falando de pelados mesmo.

Praia nudista na Escandinávia? Também não. Mas está ficando quente, ou melhor frio, muito frio.

O local em questão chama-se Parque Frogner e embora longe de qualquer carnaval, faz parte do enredo histórico de Oslo, capital da Noruega e guarda um erotismo sem plumas e paetês que passou a fazer parte do dia-a-dia dos habitantes da cidade. O parque, hoje conhecido por Vigeland, reúne crianças, idosos, mulheres e homens, que vão lá vestidos e convivem muito bem com os trezentos e poucos grupos de esculturas nuas que são um cartão postal da cidade.

O parque é de quem busca lazer num espaço cujo planejamento visual é conseqüência do escultor responsável pelas obras que ali habitam. Seu nome: Gustav.

Gustav Vigeland está para o norueguês o que Alejadinho está para o Brasil.  Só que enquanto o nosso mestre escultor retratou passagens do Evangelho, o norueguês que, ainda jovem, ficou impressionado com ilustrações bíblicas, homem formado, apregoava que sexo era uma grande lei da natureza e preferiu levar para a posteridade diversas situações do ser humano nu ao longo da vida.

Entre as estátuas do Parque Vigeland não faltam crianças, adolescentes, adultos e idosos que, embora estejam como vieram ao mundo, revelam o clima do autor que parece ser absolutamente familiar. Vê-se o pai carregando o nenê no colo, crianças brincando com a mãe, o avô e a avó numa terna conversa, um único senão ( ou se sim): estão peladões

As situações são tão singelas que o povo de Oslo acolheu o artista e optou por destinar um espaço para seus trabalhos ainda no começo do século XX. E o Parque tornou-se verdadeiramente único. Nenhum outro artista no mundo teve carta branca para ocupar um espaço tão grande dentro de uma capital com suas criações artísticas, como aconteceu com o norueguês.

Gustav começou sua vida ao sul da Noruega, numa casa estritamente religiosa que segundo suas próprias palavras, “tinha por demais fogo do inferno e muito pouco Jesus”. Era um menino prodígio. Sabia recitar trechos de Odisséia e Ilíada. Como adolescente, não diferia de outros que possuiam igual número de espinhas no rosto quanto de sonhos no coração. Aos quinze anos foi para Oslo. Aos dezenove anos, faz esboços e estudos de estátuas e relevos e acaba por impressionar o escultor Brynjulf Bergslien que lhe apresenta pela primeira vez o treinamento prático.

Brynjulf sequer imaginava que oferecia asas a um artista cujas obras voariam pela eternidade. O povo norueguês percebeu rapidamente sua grandeza. Quando o esboço de uma fonte foi apresentada ao público, a reação foi tão positiva que a levou a uma vasta área não construída em Frogner. Era só o começo. E que começo! A fonte formada por seis gigantes sustentam no ar uma bacia da qual jorra a água.

Depois surgiu o obelisco, um pilar humano de dezessete metros de altura domina a visão de quem entra no parque. Interpretações para obra é que não faltam. A mais simples delas refere-se a seu aspecto fálico e o coloca como um ícone à fertilidade.

Em 1921, Gustav estabeleceu um acordo com o município de Oslo. A cidade ganhava suas obras. E ele, um atelier onde pudesse morar e executar suas criações. O resultado: duzentos e sete esculturas, mais de seiscentas figuras, a maioria delas localizada a partir do portão principal do parque numa extensão de 850 metros de comprimento.
 
Embora o parque não apresente nada que deponha à moral, Gustav era considerado pelos amigos um aficionado pelo sexo. Diziam que os traços de seus esboços revelavam uma sexualidade brutal, algo quase beirando a sugestão de estupro.

Outra interpretação desta pseudo violência para aqueles anos de recato e pureza talvez fosse o fato do artista colocar homem e mulher em pé de igualdade. Mulher era sexuada e dominante, um misto de dar prazer e fazer sofrer. Talvez reflexo de sua própria vida, pois Gustav, casado, pais de duas crianças, encontrou numa menina de dezessete anos sua musa inspiradora, uma melhor amante e a modelo ideal de suas obras.

Com esta garota, manteve um romance durante anos sem nunca ter se separado da esposa. Dentro de tanta “sacanagem”, o parque nada tem de pornográfico e quem vai lá, sente que ali a nudez é só poesia.
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ou o
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