Colunas 2006


"Coluna do Hyder" - Fabio "Hyder" Azevedo

Cobras e Lagartos

 

Autódromo Internacional Nelson Piquet do Rio: patrimônio público tem de ser levado a sério.

 

Olá pessoal, novamente retornamos ao nosso encontro semanal. Fiquei muito feliz em ver as noticias da recuperação do Kiki e saber que, como individuo, ele está muito bem. Mais uma vez eu digo e repito: se voltar a correr, ótimo, se não, que viva feliz e saudável a sua vida. Mas com esta história de mensalão e dossiês daqui e dali, resolvi entrar nesta festa também e contar uma coisa que alguns não se lembram e a maioria nem tem idéia. Seria um dos grandes escândalos no município do Rio de Janeiro e no Brasil, com reflexos grandes em Michigan, onde se localizava a antiga sede da Cart Inc.

Em 1997 o então prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde, resolveu privatizar o Autódromo Internacional Nelson Piquet e dois consórcios disputavam à administração desta pista, que já sediava as etapas do mundial de Motovelocidade (Moto GP) assim como a Cart e outros eventos nacionais e regionais. A pista, que era considerada umas das mais seguras, técnicas e velozes do mundo, de acordo com a FIA era um excelente negócio a médio e longo prazo. Algumas obras, acertos, divulgação... Mas a certeza de sucesso era grande. O José Moraes, antigo secretário municipal de esportes costurou um acordo de egos e brigas históricas de bastidores, pois os dois consórcios eram formados por: Emerson Fittipaldi representando a Fittipaldi Sports & Marketing e do outro lado estavam Paulo Judice (empresário e ex-piloto de turismo no Brasil e pai do também ex-piloto Ernani Judice) e Nelson Piquet pela Piquet Participações. Como se tratava de dois ídolos, o talento de Moraes foi visto neste acordo político e surgiu o único grupo vencedor. A PPE (Piquet, Paulo e Emerson) foi aclamada como vencedora da licitação e o primeiro trabalho do grupo foi um grande “filme queimado”. A FIM (Federação Mundial de Motociclismo) e a Dorna (Empresa que organiza a Moto GP no mundo) barraram a etapa brasileira de 1998 por motivos de segurança no asfalto na grande reta. Excesso de preciosismo dos europeus, pois existem pistas piores na Europa e eles fazem sempre uma "vista grossa", mas havia a garantia do retorno no ano seguinte.

Em 1999, com a Rio 200, prometia-se um grande show com F-3, F-Júnior, F-Truck e a Cart. Os dirigentes da Dorna estavam no Brasil e ao verem os “brutos” anunciaram aos três lideres do consórcio que gerenciava o autódromo que caso os caminhões entrasse na pista, a etapa de Moto GP seria definitivamente cancelada no Rio e isso com toda programação e caminhões e pilotos prontos para treinar naquele que é, ou era, o único circuito oval homologado pela FIA na América do Sul. Foi uma guerra política na sala de briefing, que por acaso ficava ao lado dos escritórios da Penske e era claro ouvir, em português e em inglês os palavrões proferidos por todos. No final da história, a Truck voltou para seus caminhões-cegonha num momento vergonhoso. Emerson, não queria contrariar os europeus enquanto Piquet e Judice preferiam dar apoio aos caminhões, venceu a batalha, mas foi algo vergonhoso, pois várias pessoas envolvidas, direta e indiretamente, ficaram com cara de bobas. Conversei rapidamente com pessoas e a revolta e frustração eram grandes. A política venceu. Não preciso dizer que Piquet mal apareceu no dia de treinos livres e nem na corrida, que foi num sábado, ele ficou, pois era claro que se ambos estivessem no mesmo lugar, uma “tragédia” poderia ocorrer entre grandes ídolos. Sempre houve um grande respeito público pelos grandes pilotos que foram, mas nunca se deram bem, pois sempre houve questões de ego.


Como mais da metade do caderno de encargos no autódromo não foi cumprida, a prefeitura retomou o controle da pista e Emerson continuou como promotor do evento, por exigência da Cart. Não é preciso dizer que durante uma época a luz era roubada através de um clube de aeromodelismo que fica ao lado do complexo, assim como as contas de água estavam atrasadas há meses. Fora que as obras de manutenção e corte de grama, por exemplo, estavam maiores que eu – que tenho cerca de 1,87 m. E a etapa derradeira em 2000 quase não aconteceu, pois Paulo Judice acionou a Fittipaldi e o Emerson na justiça exigindo uma compensação pelo fim da parceria. Os advogados da Fittipaldi foram rápidos e o próprio juiz deferiu que o que Paulo Judice queria era aparecer na mídia e deu ganho de causa a Fittipaldi. Mas o clima ficou estranho, pois os equipamentos somente foram totalmente desmontados de seus pacotes na terça-feira, pois havia o risco de todos embarcarem de volta para os Estados Unidos na quinta-feira. Num momento de mudanças e muita correria, o evento aconteceu apenas com apoio da prefeitura e sem a participação forte de outras empresas, assim como em outras oportunidades.

A privatização de algum patrimônio público tem de ser efetuada com seriedade. Coisas que não vimos nas outras empresas de telecomunicação, transporte, rodovias, e com o autódromo explicitamente neste caso. Uma pena, pois as idéias eram muito boas, mas nunca houve vontade de conseguir investidores e ficar dependendo de dinheiro público e não “coçar” o próprio bolso seria algo realmente que não era o que esperado.


OBS: Semana histórica para o automobilismo brasileiro com a comemoração de 25 anos do primeiro título de Nelson Piquet e 15 anos do derradeiro título de Ayrton Senna. Dois grandes gênios brasileiros que encantaram o mundo e nos enchem de orgulho. Vivo ou post-morten são e serão grandes ídolos.

 

Um grande abraço e até a próxima.

 

Fabio "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com                                                                             

 

 

Torcedor do Vasco da Gama e da Associação Atlética Anapolina, fui membro da Penske, atualmente sou Analista de Tecnologia da Informação mas continuo apaixonado pelas corridas como nunca. Todas as semanas, falarei sobre as minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que poucos conhecem.

 

 

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