"Coluna do
Hyder"
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Fabio "Hyder" Azevedo
Cobras e
Lagartos
Autódromo Internacional Nelson Piquet do Rio:
patrimônio público tem de ser levado a sério.
Olá pessoal,
novamente retornamos ao nosso encontro semanal. Fiquei muito feliz
em ver as noticias da recuperação do Kiki e saber que, como
individuo, ele está muito bem. Mais uma vez eu digo e repito: se
voltar a correr, ótimo, se não, que viva feliz e saudável a sua
vida. Mas com esta história de mensalão e dossiês daqui e dali,
resolvi entrar nesta festa também e contar uma coisa que alguns não
se lembram e a maioria nem tem idéia. Seria um dos grandes
escândalos no município do Rio de Janeiro e no Brasil, com reflexos
grandes em Michigan, onde se localizava a antiga sede da Cart Inc.
Em 1997 o então prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Luiz Paulo
Conde, resolveu privatizar o Autódromo Internacional Nelson Piquet e
dois consórcios disputavam à administração desta pista, que já
sediava as etapas do mundial de Motovelocidade (Moto GP) assim como
a Cart e outros eventos nacionais e regionais. A pista, que era
considerada umas das mais seguras, técnicas e velozes do mundo, de
acordo com a FIA era um excelente negócio a médio e longo prazo.
Algumas obras, acertos, divulgação... Mas a certeza de sucesso era
grande. O José Moraes, antigo secretário municipal de esportes
costurou um acordo de egos e brigas históricas de bastidores, pois
os dois consórcios eram formados por: Emerson Fittipaldi
representando a Fittipaldi Sports & Marketing e do outro lado
estavam Paulo Judice (empresário e ex-piloto de turismo no Brasil e
pai do também ex-piloto Ernani Judice) e Nelson Piquet pela Piquet
Participações. Como se tratava de dois ídolos, o talento de Moraes
foi visto neste acordo político e surgiu o único grupo vencedor. A
PPE (Piquet, Paulo e Emerson) foi aclamada como vencedora da
licitação e o primeiro trabalho do grupo foi um grande “filme
queimado”. A FIM (Federação Mundial de Motociclismo) e a Dorna
(Empresa que organiza a Moto GP no mundo) barraram a etapa
brasileira de 1998 por motivos de segurança no asfalto na grande
reta. Excesso de preciosismo dos europeus, pois existem pistas
piores na Europa e eles fazem sempre uma "vista grossa", mas havia a
garantia do retorno no ano seguinte.
Em 1999, com a Rio 200, prometia-se um grande show com F-3,
F-Júnior, F-Truck e a Cart. Os dirigentes da Dorna estavam no Brasil
e ao verem os “brutos” anunciaram aos três lideres do consórcio que
gerenciava o autódromo que caso os caminhões entrasse na pista, a
etapa de Moto GP seria definitivamente cancelada no Rio e isso com
toda programação e caminhões e pilotos prontos para treinar naquele
que é, ou era, o único circuito oval homologado pela FIA na América
do Sul. Foi uma guerra política na sala de briefing, que por acaso
ficava ao lado dos escritórios da Penske e era claro ouvir, em
português e em inglês os palavrões proferidos por todos. No final da
história, a Truck voltou para seus caminhões-cegonha num momento
vergonhoso. Emerson, não queria contrariar os europeus enquanto
Piquet e Judice preferiam dar apoio aos caminhões, venceu a batalha,
mas foi algo vergonhoso, pois várias pessoas envolvidas, direta e
indiretamente, ficaram com cara de bobas. Conversei rapidamente com
pessoas e a revolta e frustração eram grandes. A política venceu.
Não preciso dizer que Piquet mal apareceu no dia de treinos livres e
nem na corrida, que foi num sábado, ele ficou, pois era claro que se
ambos estivessem no mesmo lugar, uma “tragédia” poderia ocorrer
entre grandes ídolos. Sempre houve um grande respeito público pelos
grandes pilotos que foram, mas nunca se deram bem, pois sempre houve
questões de ego.
Como mais da metade do caderno de encargos no autódromo não foi
cumprida, a prefeitura retomou o controle da pista e Emerson
continuou como promotor do evento, por exigência da Cart. Não é
preciso dizer que durante uma época a luz era roubada através de um
clube de aeromodelismo que fica ao lado do complexo, assim como as
contas de água estavam atrasadas há meses. Fora que as obras de
manutenção e corte de grama, por exemplo, estavam maiores que eu –
que tenho cerca de 1,87 m. E a etapa derradeira em 2000 quase não
aconteceu, pois Paulo Judice acionou a Fittipaldi e o Emerson na
justiça exigindo uma compensação pelo fim da parceria. Os advogados
da Fittipaldi foram rápidos e o próprio juiz deferiu que o que Paulo
Judice queria era aparecer na mídia e deu ganho de causa a
Fittipaldi. Mas o clima ficou estranho, pois os equipamentos somente
foram totalmente desmontados de seus pacotes na terça-feira, pois
havia o risco de todos embarcarem de volta para os Estados Unidos na
quinta-feira. Num momento de mudanças e muita correria, o evento
aconteceu apenas com apoio da prefeitura e sem a participação forte
de outras empresas, assim como em outras oportunidades.
A privatização de algum patrimônio público tem de ser efetuada com
seriedade. Coisas que não vimos nas outras empresas de
telecomunicação, transporte, rodovias, e com o autódromo
explicitamente neste caso. Uma pena, pois as idéias eram muito boas,
mas nunca houve vontade de conseguir investidores e ficar dependendo
de dinheiro público e não “coçar” o próprio bolso seria algo
realmente que não era o que esperado.
OBS: Semana histórica para o automobilismo brasileiro com a
comemoração de 25 anos do primeiro título de Nelson Piquet e 15 anos
do derradeiro título de Ayrton Senna. Dois grandes gênios
brasileiros que encantaram o mundo e nos enchem de orgulho. Vivo ou
post-morten são e serão grandes ídolos.
Um grande abraço e até a próxima.
Fabio "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com
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Torcedor do Vasco da Gama e da
Associação Atlética Anapolina, fui
membro da Penske,
atualmente sou Analista de
Tecnologia da Informação mas continuo
apaixonado pelas corridas como nunca. Todas as semanas, falarei sobre as
minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que
poucos conhecem.
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