Colunas 2006


"Coluna do Hyder" - Fabio "Hyder" Azevedo

Vitoriosos e "Vitoriosos"

 

“Little Al” é a prova de que um verdadeiro campeão não precisa se achar superior às outras pessoas.


Olá pessoal,
espero que estejam todos muito bem. Uma tremenda correria e novos projetos surgindo. Manter o comprometimento e a determinação não é uma tarefa fácil, mas é muito gratificante ver os resultados e ver como as coisas acontecem. Confesso que, pelo tanto de coisas com a qual estou comprometido, profissional e pessoalmente falando, deu um branco no que escrever. E resolvi buscar inspiração correndo em volta da Lagoa. Para quem mora na cidade maravilhosa ou conhece este lugar tão lindo, sabe bem do que estou falando. Um belo dia realizei um dos meus sonhos que era entrar neste mundinho fechado e restrito que era do mundo da Formula Indy (hoje em dia Champ Car). E de cara conheci o cara que, depois de Ayrton Senna e Rick Mears, era o grande ídolo no esporte. Estou falando de Al Unser Jr.

Como sempre faço, não vou utilizar este espaço para biografias ou estatísticas sobre a carreira ou coisas assim, mas quero aproveitar este espaço para falar da simpatia, paciência e grande capacidade de pilotar deste cara que, mesmo sofrendo o pior ano da Penske, com alguns parafusos na perna direita, com a filha sofrendo de leucemia e o casamento sendo deteriorado junto com um vício horroroso pelo cigarro, jamais deixou que seu desempenho ficasse abaixo de seu histórico profissional. Lembro que as primeiras palavras que falei para ele, após esta escala de ídolos, eram sobre a minha ira em um primeiro momento contra ele e como isso fez ser um fã muito grande deste cara. Tudo começou nas 500 milhas de Indianápolis de 1992, pois com um carro relativamente ruim – o Galmer – em relação aos Lolas e Penske, ele conseguiu vencer e vencer com estilo. Ali eu vi que este cara não era um piloto qualquer. O Bicampeão da Cart e duas vezes vencedor das tradicionais 500 milhas era considerado por muitos, como o Nigel Mansell da Cart, só que muito melhor.

Depois das tentativas frustradas de Roger Penske de contratar Ayrton Senna, ele não pensou duas vezes e trouxe o veterano piloto da Galles para ocupar o inesquecível carro nº. 31. Era incrível como tinha sorte, pois Fittipaldi, com quase uma volta sobre Unser Jr. em Indianápolis em 1994 conseguiu bater sozinho deixando a corrida e a vitória no colo desta raposa. Conseguiu com estilo a conquista daquele campeonato. Os anos seguintes foram de sucessos menos freqüentes, incluindo-se aí o erro pessoal de Roger Penske na estratégia de classificação das 500 milhas em 1995 e o vice-campeonato do mesmo ano. Em 1996 foi incrível que, com uma tremenda regularidade, chegou entre os quatro primeiros da temporada sem vencer uma corrida. Não por falta de garra ou inteligência, mas o motor Mercedes já demonstrava estar perdendo terreno para os outros.

Em 1998 as coisas estavam muito nebulosas na Penske devido à falta de bons resultados com o novo projeto e as pressões sobre a mais bem estruturada e tradicional equipe do campeonato eram maiores que em qualquer outro time. Mas o piloto não desistia e sempre apresentava grandes espetáculos com um carro bem ruim. Depois de muita discussão, ele conseguiu “dobrar” o tradicionalismo da Penske e fez com que os cofres fossem abertos e três Lolas fossem comprados. Mas nada dava jeito, pois os pneus Goodyear e os fracos motores Mercedes-Benz não contribuíram com nada. Numa mudança total de foco e rota, Al Jr. foi um dos sacrificados. Mesmo assim, saiu como um vitorioso, como um vencedor que não abandonou o barco em momentos críticos, pessoais e profissionais.

O que me fez e ainda faz tê-lo como um ídolo é que nunca desistiu e utilizou disso como motivos para ser arrogante como uns e outros que foram tentar o sucesso na Europa e voltaram correndo para a América do Norte. Ele venceu o vício do álcool e conseguiu diminuir a utilização de tabaco. Ao contrário destes que são amigos e ídolos apenas na frente das câmeras e por fora são o que são arrogantes e mínimos como seres humanos, Al Jr. sempre teve a paciência para entender e repassar bem o que os engenheiros queriam assim como ser um excelente relações públicas de seus patrocinadores e agradar os fãs – como eu, por exemplo. Hoje ele tem como meta colocar seu filho neste mundo onde os campeões não se formam apenas dentro das pistas, mas fora também, honrando e respeitando compromissos assumidos e pessoas. Algo que marcou bastante foi durante a etapa brasileira de 1999 quando ele ia caminhando do paddock ao pit lane com o auxilio de uma bengala. Sentia dores insuportáveis, mas ainda sim conseguiu classificar seu carro. Final da prova teve a humildade de cumprimentar cada membro do time pelo auxilio e bom trabalho efetuado num carro tão bonito, mas tão ruim que dava pena de vê-lo sendo superado facilmente pelos Toyotas da Arciero Wells. Depois disso, já de roupa trocada, foi conversar com a imprensa e atender a alguns fãs. Lembro de ter desejado melhor sorte nas outras provas e ele, com um sorriso maroto me dizia que só sorte não daria. Foi ali que percebi que um campeão não precisa ser o melhor na arrogância.

Falo isso, pois convivi com este time e cansei de presenciar atitudes dignas de um campeão ajudando outros colegas, nunca se negando a trocar informações e sempre, mas sempre sendo um cara que trazia uma boa atmosfera. Na sua aventura na IRL, ele teve a grandeza de parar por um tempo para poder se tratar, pois chegou ao fundo do poço e depois, venceu, categoricamente, em sua ultima vitória.

Campeões são formados desta forma. E não pela covardia. Que muitos que foram e voltaram possam estar inspirados neste exemplo de grandeza e humildade!

 

Um grande abraço e até a próxima.

 

Fabio "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com                                                                             

 

 

Torcedor do Vasco da Gama e da Associação Atlética Anapolina, fui membro da Penske, atualmente sou Analista de Tecnologia da Informação mas continuo apaixonado pelas corridas como nunca. Todas as semanas, falarei sobre as minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que poucos conhecem.

 

 

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