- Estudo menciona alto risco de transmissão oral do vírus da Aids

- O que é o Sistema Único de Saúde - SUS

- Aids na África

 

Notícias

 

Estudo menciona alto risco de transmissão oral do vírus da Aids

 

Richard A. Knox

O risco de transmitir o vírus da Aids via sexo oral é mais alto do que os especialistas estimavam anteriormente, de acordo com um estudo financiado pelo governo dos Estados Unidos.

Cerca de 8% de um grupo de 102 homens gays e bissexuais adquiriram o vírus da deficiência imunológica humana por meio de contatos orais-genitais, constataram os pesquisadores -proporção de quatro a oito vezes superior à estimada anteriomente pelos especialistas. Além disso, esse indicador é provavelmente inferior ao risco real, de acordo com um funcionário dos serviços federais de saúde entrevistado nesta terça-feira (1º).

"Acredito que o índice de 8% tenha pego muita gente de surpresa", disse o médico Ronald Valdiserri, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. "Uma minoria substancial de homens recém-infectados contraiu o vírus dessa maneira."

"Estamos surpresos mas não chocados", disse Jeff Jacobs, da Aids Action, uma organização de lobby de Washington. "Acredito que isso venha a ser uma novidade para a comunidade da Aids, e acredito que deva ser novidade para a comunidade em geral."

Embora pesquisas anteriores tenham sugerido que a transmissão do vírus da Aids era possível via sexo oral, o novo estudo é a mais forte evidência já obtida de que isso de fato ocorre em nível significativo, pelo menos entre os homens gays e bissexuais. Mulheres que fazem sexo oral com homens infectados com o HIV, acrescentou Valdiserri, correm riscos significativos.

De fato, as conclusões têm importância em termos de saúde pública para os adolescentes e jovens adultos de ambos os sexos que estão começando a se tornar sexualmente ativos e podem ter presumido que o sexo oral não acarreta risco de Aids.

"Não só os homens gays fazem sexo oral", disse Valdiserri. "É preciso garantir que os jovens, muitos dos quais praticam sexo oral como alternativa ao sexo vaginal, compreendam que existe um risco nisso." A transmissão oral do HIV não requer que a pessoa tenha feridas perceptivelmente abertas ou sangramento nas gengivas, segundo o médico.

"O vírus é encontrado não só no sêmen como na pré-ejaculação", disse Valdiserri. "E não é preciso que a pessoa tenha sangramento intenso nas gengivas. Pequenos cortes e arranhões podem representar uma porta de entrada para o vírus."

As autoridades de combate à Aids estão preocupadas com a possibilidade de que mais infecções ocorram via sexo oral devido à crença generalizada de que é seguro, enquanto o sexo vaginal ou anal sem proteção não o seria. Na verdade, algumas organizações de prevenção da Aids em Massachussets e outros lugares vêm encorajando as pessoas a adotar o sexo oral como forma de redução de risco.

"Houve um suspiro de alívio quanto as pessoas leram o relatório", disse Christopher Broughton, ativista da comunidade gay de Boston. "A intenção não era fazer com que as pessoas sentissem que 'escorregar' para o sexo oral era a mesma coisa que 'escorregar' para o sexo anal. O medo era que elas dissessem que se escorregaram para o sexo oral, podiam bem avançar mais um passo."

As novas conclusões estão fazendo com que os funcionários do serviço federal de saúde repensem suas mensagens de prevenção da Aids. Para começar, o estudo reforça a necessidade de que pessoas que têm relações estáveis saibam se seus parceiros estão infectados e se é seguro praticar sexo oral com eles.

"Dissemos aos homens gays que o sexo oral apresentava risco, mas muito menor", disse Valdiserri. "O estudo demonstra que os homens entenderam a mensagem como se fosse 'o sexo oral é seguro'. Mas dizer que uma atividade acarreta pouco risco não quer dizer que ela não apresenta risco nenhum."

O estudo foi realizado em San Francisco pela médica Beth Dillion, do Centro de Prevenção e Combate às Doenças, em colaboração com pesquisadores da Universidade da Califórnia. Eles usaram um método relativamente novo de teste do HIV que torna possível determinar se uma pessoa foi infectada recentemente -fator importante quando os pesquisadores querem determinar de que forma alguém foi contaminado.

Os pesquisadores entrevistaram os envolvidos no estudo de maneira incomumente detalhada, disseram, e excluíram da categoria "sexo oral" qualquer entrevistado que pudesse ter estado exposto a outra forma de contaminação. Por exemplo, dois homens alegaram não ter tido relações sexuais de qualquer outro tipo, mas informaram ter desmaiado depois de usar álcool ou drogas em ocasiões em que poderiam ter sido infectados, de modo que não podem estar certos de que não foram parceiros passivos em intercurso anal.

Os especialistas em Aids e ativistas da comunidade gay disseram que as novas conclusões causariam alarme aos homens gays e bissexuais, em particular, que no geral limitaram sua prática de sexo anal sem proteção em resposta à Aids.

"Acredito que algumas pessoas vão ficar bastante perturbadas e algumas muito zangadas", disse o médico Kenneth Mayer, da Universidade Brown. "Eles se sentiam reconfortados com os estudos epidemiológicos anteriores que informavam que o vírus não era facilmente transmitido via sexo oral. As pessoas traduziam essa informação como: transmissão impossível."

Mas Mayer, que já há mais de uma década estuda casos individuais de transmissão de HIV por via oral-genital, acrescentou que "a epidemiologia e a biologia ainda informam que esse método é muito menos arriscado do que o sexo anal".

"Se uma pessoa 'escorrega' uma vez e tem exposição oral à ejaculação, essa exposição isolada provavelmente será um evento de baixo risco", acrescentou Mayer. "Mas se alguém diz que 'vou fazer sexo oral e não prestar atenção ao status de HIV de meu parceiro', e arranjar diversos parceiros, creio que esse estudo sugere que se trataria de uma estratégia arriscada." Tradução: Paulo Migliacci

Volta | Quem somos | Fale conosco
Por Valdemar Alves
© Copyright 2000 -2001 Cidadania & Aids  - Todos os direitos reservados