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  FORMAÇÃO DA TERRA
                                                                     
ODÙDÚWÀ



Para o mito da criação da Terra, há uma variante que não pode ser ignorada. Pelo relato anterior, Òrìsà Nlá foi o agente criador de Olódumarè na realização do trabalho. Em outra versão surge um personagem conhecido pelo nome de Odùdúwà como substituto de Òrìsà Nlá na criação do mundo , conforme o seguinte relato abaixo:
Quando Òrìsà Nlá pegou suas instruções pôr Olódùmarè, ele passou pôr Èsù, que lhe perguntou se havia feito as oferendas necessárias para a realização do trabalho, Òrìsà Nlá não lhe deu importância. Em razão disso, durante a sua caminhada, ele ficou bastante sedento e bebeu abundantemente de uma bebida extraída de uma palmeira . Em conseqüência , ficou sem forças e sem condições de prosseguir para executar a sua tarefa caindo em sono profundo. Olódùmarè enviou Odùdúwà para verificar o que estava acontecendo. Ao ver Òrìsà nlá adormecido, pegou os elementos da criação e foi comunicar o ocorrido a Olódùmarè, que, diante do fato, determinou que ele, Odùdúwà, fosse criar a Terra. Após a tarefa cumprida, eis que Òrìsà Nlá despertou , e , ao tomar ciência do que havia acontecido foi até olódùmarè reivindicar dos seus direitos, o que lhe foi negado. A partir daí ficou proibido de beber  e de usar o azeite de  dendê. Porém, foi  lhe dada a tarefa de modelar o barro para a criação do ser humano. Mais tarde, houve o reencontro de Òrìsà Nlá até que se deu a intervenção de Òrúnmìlà para trazer a paz entre ambos.
Essa variante não podia ser ignorada porque ela levanta uma questão muito interessante que envolve a primitiva história e a religião yorubá com um de seus personagnes mais expressivos, que é Odùdúwà.
Segundo a linguagem histórica da tradição de algumas cidades yorubá, o personagem a quem foi dado o nome Odùdúwà era um líder poderoso, dono de uma forte reputação e com uma personalidade que a tudo dominava. Partiu de seu lar original migrando pelas diversas cidades yorubá. Não se sabe ao certo qual era o seu nome original, mas ele pode não Ter sido Odùdúwà. Dentre seus seguidores foram distinguidos guerreiros com cujo auxílio ele estabeleceu a dinastia yorubá. Atualmente é reconhecido como o progênitos de vários clãs que, reunidos, constituem o povo yorubá. Um dos mais antigos relatos acerca da origem de Odùdúwà e o seu lar ancestral é o que segue:

Lámúrúdú, um dos reis de Meca, tinha como filhos Odùdúwà e os reis de Gogobri e de Kukawa, duas tribos da região de Hausa. Odùdúwà era o príncipe herdeiro, o que se mantinha com a idéias de modificar os costumes religiosos, introduzindo na grande mesquita formas de ídolos criados pôr Asara, o seu sacerdote e fazedor das imagens. Asara tinha um filho chamado Braima, que fora educado como adepto do maometismo e contrário às idéias do pai. Pela influência de Odùdúwà, um mandato real foi expedido ordenando que todos os homens fossem caçar durante três dias, antes da comemoração anual das festividades levadas a efeito em honra daqueles deuses.
Aproveitando  se da ausência de todos os homens, Braima invade a mesquita e destrói todas as imagens.
No retorno de Odùdúwà foi constatada a ocorrência e uma investigação foi feita. Braima começou a provocar Odùdúwà, dizendo: Perguntem ao grande ídolo quem fez isso? Ele sabe falar? Pôr que vocês adoram coisas que não sabem falar? ?Imediatamente foi dada a ordem para ele ser queimado vivo pela afronta cometida. Lenha e panelas de azeite foram trazidas. Isso foi o sinal para o início de uma guerra civil. Cada uma das partes era possuidora de muitos adeptos, mas os maometanos levaram vantagem. O rei Lámúrúdù foi assassinado, e todos os seus filhos e seguidores próximos foram expulsos da cidade. Os reis de Gogobri e de Kukawa do leste, viajando pôr 90 dias, atravessando a região do Egito e seguindo para o sul, próximo ao local onde viria a ser fundada a cidade de Ilé Ifè .
Odùdúwà e filhos juraram ódio mortal e vingança pela morte do pai. Tempos depois, a tentativa de vingança será comandada pôr Òrànmíyàn de forma infrutífera, mas com a vantagem de durante esta expedição, ser fundada a cidade de Òyó que viria a fazer frente em pretígio à cidade de Ilé Ifè. Quando Odùdúwà saiu da Arábia, levou consigo duas imagens de divindades. O rei que assumiu o poder resolveu enviar um exército para destruir Odùdúwà e submeter os demais à escravidão. Foram, porém, vencidos e dentre a pilhagem assegurada pelos vitoriosos havia uma cópia do Korão. Mais tarde isso foi guardado num templo venerado e cultuado como relíquia sagrada pelas gerações seguintes, com o nome de ìdí, significando fundamento ou algo sagrado. Entre aqueles que formavam a comitiva de Odùdúwà estavam: Òrúnmilà, Oluorogbo, Obamèri, Orèlúèrè, Obasin, Obàgèdè, Ògún, Alágada, Obamakin, Oba winni Ajè, Érìsilè, Elèsije Olóse, Alàjo, Esidálè, Olókun e Òrìsàteko.
Odùdúwà encontrou à sua agenda uma população local, os igbó, cujo rei era Obàtálá. Altivo e desdenhoso em suas atitudes, encontrou reação pôr parte de Orèlúèré, partidário de Obàtálá, um ancestral guardião da moral familiar e preservador da família tradicional.
Essa oposição ao novo regime que Odùdúwà desejava impor fez nascer a Sociedade Ògbóni, um culto secreto formado para proteger as instituições primitas da terra. Contudo, Odùdúwà conseguiu se impor espalhando o seu poder e fundado diversas cidades, entre elas, Ilé Ifè e tornando ?se o primeiro Óòni Ifè influiu nos costumes, na linguagem e foi pai de inúmeros reis. Houve assimilação mútua entre o novo e o elemento local, com resultado favorável terminado com o rigor entre as partes opostas. Morreu cego, vítima de uma doença nos olhos. Após sua morte, tornou ?se objeto de um culto ancestral ocupando um lugar destacado no panteão yorubá.
Essa promoção veio a favorecer interpretações diversas e algumas dúvidas, tais como o sexo masculino ou feminino de , e a sua real condição de criador da terra. Em território yorubá, Odùdúwà tanto é aceito como uma divindade masculina como feminina. Em Ilé Ifè, principalmente, é visto como uma divindade masculina; em Igbó Orà, sua imagem representativa é a de uma mulher com longos seios, amamentando uma criança.
A afirmativa e que Odùdúwà é uma divindade feminina está associada à tradição das deusas nesta terra ligadas à fertilidade. Em adó, Odùdúwà é indiscutivelmente uma divindade feminina, vista como uma das sete crianças, dentre as quais Òrìsànlá era uma delas:
Oh! Mãe, nós te suplicamos nos libertar
Toma conta de nós, de nossas crianças
Você que astutamente se estabeleceu em Adó

A concepção masculina de Odùdúwà se reporta ao fato de que ele era o sacerdote da divindade, assim como a cabeça de sua dinastia. Pôr ocasião de sua morte, ganhou respeito pelo seu papel de legislador e líder da comunidade, tornando se um Ancestral merecedor de culto. Passou a ser identificado pelo nome de sua própria divindade e entrou para o panteão yorubá pôr causa de seus atributos. Deve  se observar aqui que é quase somente em Ilé Ifè que o culto à divindade masculina é forte. Na maioria dos outros lugares o homem Odùdúwà é olhado somente como um ancestral e não como uma divindade.
Essa controvérsia sobre Odùdúwà se torna ainda mais controvertida nos deparamos com outra tradição que vê Odùdúwà como a esposa de Obàtálá nas interpretações inexatas dos primeiros estudiosos e nas sucessivas compilações desses mesmos estudos pôr autores mais recentes que não se preocupam em reexaminas as pesquisas inicias. Em algumas versões, ele (Odùdúwà) é a mulher de Obàtálá: esta reunião é simbolizada pôr duas cabaças, uma cobrindo a outra.
Juana Elbein dos Santos estrutura sua tese na condição feminina de Odùdúwà: ... Obàtálá e Odùdúwà, respectivamente princípio masculino e feminino do grupo de òrìsà funfun, do branco, disputam  se o título de òrìsà da criação.
A luta pela supremacia entre os sexos é um fator constante em todos os mitos, Odùdúwà, também chamada Odùa, é a representação deificada das Iyá  Mi, a representação coletiva das mães ancestrais e o princípio feminino de onde tudo se origina... Esses conceitos e seres divinos são representados simbolicamente pela cabaça ritual  igbà odù  que representa o universo sendo a metade inferior Odùa e a parte superior Obàtálá.
Mais tarde, atravessou o Atlântico e chegou até o Brasil em fins do século passado, em reportagens publicadas em jornais da época e assinadas pôr Nina Rodrigues. Essas reportagens foram reunidas e publicadas em livro. Os africanos no Brasil, onde na página 353 está publicada a lenda acima.
Igualmente, o desconhecido da linguagem dos povos africanos dá motivo a outras interpretações inexatas. No nosso caso, a língua yorubá possui uma característica especial; possui muitas palavras idênticas e outras tantas parecidas, diferenciadas ou não pelos acentos tonais, todas porém, com significados diferentes. O desconhecimento de seus significados e das regras que estabelecem as contrações comuns da escrita e da conservação motiva cosntantes traduções absurdas baseadas em suposições e interesses pessoais. ª B. Ellis, copiando autores anteriores, indica Odùdúwà como a grande deusa negra, considerando, assim, os acentos tonais, que , neste caso, também são acentos diferenciais.
Retomando o assunto, Odùa , neste caso é uma modificação da palavra Odù Logboje , a mulher primordial, também denominada Eléyinjú Egé, a dona dos olhos delicados. Ela recebe o poder da fertilidade para a sustentação do mundo recém  criado. Recebe os títulos de Ìyá nlá - a grande mãe, e Ìyá won  a mãe de todos. Olódùmarè lhe entrega uma cabaça, simbolizando o mundo contendo o poder dos pássaros, Eléiye.
Um cântico inserido no Odù Òsá Méjì revela o fato:

Ajoelhem  se para as mulheres
A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos
A mulher é a inteligência da Terra
A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos.
Odùa é a mesma Ìyá mi da sociedade Òsòròngá da qual Òsun faz parte. Os antigos abèbè  leque deste Òrìsà  possuem o desenho de um pássaro como lembrança do poder recebido.
Relacionamos alguns trechos do Odú Òsá Méjì, que revela a conversa entre Olódùmarè e Odù Logboje quando da entrega de seus poderes:
1- Olódùmarè diz: qual o seu poder?
2- Ele diz: Você será chamada, para sempre a mãe de todos
3- Ele diz: você dará continuidade
4- Olódùmarè lhe dá o poder
5- Ele entrega o poder de eléiye para ela
6- ela recebe o pássaro de Olódùmarè
7- Ela recebe, então, o poder que utilizará com ele
8- Ele diz: utiliza com calma o poder que dei a você
9- Se utilizar com violência, ele o retomará
10- Porque aquela que recebeu o poder se chama Odù
11- O homem não poderá fazer nada sozinho na ausência da mulher.
"Lati ìgbá náà ni Olódùmarè ti fun obirin l'à se "
(Desde aquela época , Olódùmarè outorgou axé as mulheres.)
Elas exerciam todas as atividades secretas:

"O mú Éégún jáde
O mú Orò jáde
Gbogbo nkan, kò si ohun ti ki se nigba náà"
Ela conduz Egun
Ela conduz Orò
todas as coisas , não ha nada que ela não faça nesse tempo.)


Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, O barì s à foi até Òrúnmìlà fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer Odùa, através de sacrifícios, oferendas( e b o com ìgbín e pas ò n Haste de Àtòrì) e astúcia.
Ele lhe oferta e ela negligentemente , aceita, a carne dos ìgbín.

"
Odù náà gba omi ìgbín , o mu ú
Nigbati Odù mu omi ìgbín tán , inú Odù nr ò di e di e ."
( Odù recebe a água de caracol para beber.
quando odù bebeu, o ventre de Odù se apaziguou.)

Obarìsà e Odùa   foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que cultuava Éégún. Mostrou-lhe a roupa de Éégún, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles cultuaram Éégún.

Aproveitando um dia quando Odùa saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egúngún. Com um bastão na mão (opa), O barì s à foi à cidade (o fato de Éégún carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odùa viu Éégún andando e falando, percebeu que foi O barì s à quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Éégún e a O barì s à, conformando-se com a vitória dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Éégún, e lhe outorgou o poder: tudo o que Éégún disser acontecerá. Odùa retirou-se para sempre do culto de Egúngún, e partiu para partir o culto Gèlèdè .Só   eléiy e , indicara seu poder e marcara a relação entre Egúngún e Ìyámí.

" Gbogbo agbára ti Egúngún si nlò agbára eleiye ni."
( Todo o poder que utilizara  Egúngún é o poder do pássaro.)

O conjunto homem-mulher dá vida a Egúngún (ancestralidade), mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olódúnmarè através dos abusos de Odùa. Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente, e somente os homens têm direito à individualidade, através do culto de Egúngún. 

No entanto Ìyámí conhece todos os lugares secretos que contém Egúngún, Orò etc... e Nos quais O barì s à não tem acesso.Reinterpretando Ìyámí , cabaça ventre contém os símbolos - filhos- pássaros ainda não renascidos, lugar onde O barì s à não penetrou.

*Existe uma relação errônea que diz que Odùa é Odùdúwà, esta confusão se deve primeiramente, a o costume usual na linguagem Yoruba de dar forma reduzida as palavras :
Òrìsà- Òòsà,Odùdúwà-Odúa,Olódùnmarè-Èdùmàrè e etc...

Os primeiros pesquisadores e em conseqüência os seguintes , continuaram a transcrever estes textos, que possuíam inúmeras falhas de interpretação inexatas  de palavras.O desconhecimento de seus significados e das regras que estabelecem contrações comuns e motiva traduções absurdas baseadas em interesses pessoais que acabam influenciando obras no Brasil e Cuba
.                                                                              Lokeni

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