Cartografia e Geografia Quantitativa
1-Introdução O presente trabalho, referente a uma parte do seminário de Cartografia Temática. Com o nome de “ A Cartografia e a Geografia Quantitativa” , tem como objetivo maior analisar a influência da metodologia da Nova Geografia na Cartografia e também como era utilizada a Cartografia nessa nova corrente geográfica que nasceu após a Segunda Guerra mundial. Através de mapas, textos, boletins geográficos, transparências, tentaremos mostrar tal objetivo. A princípio descreveremos um pouco sobre a Geografia Teorética e depois sobre a história breve da Cartografia. Entraremos também nos autores e artigos mais importantes da época. Palavras chaves: métodos quantitativos; teorética; mapas; sistematização; quantificação 2-Geografia Quantitativa O movimento de renovação geográfica teve início como já foi dito, após a II Guerra, e teve como pressupostos as mudanças científicas e tecnológicas principalmente. O surgimento da guerra fria, o processo de urbanização mundial e a tecnificação do campo, também contribuíram para esta nova mentalidade. Com isso a Geografia Quantitaiva, ou Geografia Teorética, teve nos computadores e nas idéias neo-positivistas, bases para uma Geografia que não queria mais o trabalho empírico e acreditava na matemática e na tecnologia como metodologias úteis e vitais naquele momento. No âmbito da “Nova Geografia”, ou Geografia Teórica, tornou-se comum considerar a instrumentação estatística e matemática como necessária à formação do geógrafo e na composição curricular, pouco a pouco, foram sendo introduzidas disciplinas relacionadas com a quantificação em Geografia. Na pesquisa e no ensino da Geografia existe, em termos gerais, abundância de dados, sendo difícil senão impossível, tratar conjuntos muitos numerosos sem o emprego de técnicas quantitativas visando permitir a redução das informações a formas manejáveis e interpretáveis. Tanto para os casos de dados muito numerosos como para os poucos numerosos, as técnicas quantitativas possibilitam maior objetividade e precisão na análise, podendo evitar longas e muitas vezes superficiais descrições verbais. Com o emprego desta técnicas, os geógrafos desenvolvem uma lógica bem mais crítica, sendo orientados a pensar de forma mais rigorosa e precisa, evitando generalizações baseadas sobre evidências insuficientemente analisadas. Alem disso, as técnicas não-quantitativas aplicadas aos mesmos dados levam, em numerosas ocasiões, a resultados diferentes, permitindo variadas interpretações, enquanto que as técnicas quantitativas possibilitam a obtenção de resultados idênticos utilizando iguais procedimentos para os mesmos problemas e, consequentemente, levando a uma única interpretação. Por outro lado, as técnicas quantitativas permitem ao pesquisador importante economia de recursos e de tempo. A necessidade do emprego de técnicas quantitativas na Geografia é também reforçada pelo caráter de linguagem científica, interdisciplinar e universal que os mesmos apresentam, deve ser ressaltada a sua contribuição à aplicação na solução de problemas de diversas naturezas, através do oferecimento de eficientes modelos analíticos, predutivos e de planejamento. 3-A Cartografia A Cartografia embora há muito conhecida e utilizada, teve seu desenvolvimento teórico atrasado em relação à outras ciências. Tal fato pode ser atribuído a preocupação dos geógrafos com a beleza artística e aos fatores técnicos dos mapas. Com isso, a Cartografia que estava sob os domínios da Geografia era utilizada por militares e o foco principal era em cima das cores, projeções e elaborações de atlas. Até o final dos anos trinta, a Cartografia ainda procurava se firmar como um campo de ciência independente e o foco principal se voltou para a Cartografia Temática. Nos Estados Unidos, os progressos na parte teórica da Cartografia foram mais lentos do que a prática, podendo destacar E. Raisz, que enfatizou os aspectos científicos e artísticos do mapa. O norte americano A. H. Robinson apud Kanakubo (1995), discutiu a importância da impressão visual no design cartográfico e na clareza e legibilidade dos mapas e fez uma análise geral do processo no qual as teorias de comunicação cartográficas eram idealizadas. Tal discussão ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. As associações cartográficas de todo o mundo foram reunidas pela primeira vez sob a forma de Associação Cartográfica Internacional - ACI, em 1959. A partir daí, a ACI tornou-se um fórum internacional para a apresentação de teorias, troca de trabalhos e de avanços tecnológicos. Nesta época, desenvolveram-se: A Teoria da Comunicação Cartográfica foi desenvolvida nesta época, como também foi introduzida a Teoria da Modelização, a Semiologia e a Teoria da Cognição. Porém, todas as correntes, independente das diferenças terminológicas, mantinham a mesma combinação: realidade, criador de mapas, usuário de mapas e imagem da realidade, com variação apenas no veículo da informação através da modelização, da semiologia ou da cognição. Estas teoria e correntes foram de grande contribuição para a cartografia no sentido desta ciência para descobrir suas tarefas. Com o uso da informática na geografia e outras áreas, a Cartografia também começou a utilizar tais tecnologias, a Teoria da Modelização foi a que mais se beneficiou. BOARD(1967) foi o primeiro a apresentar o mapa como modelo. 4-Mapas Como Modelos Este autor é de grande importância para o estudo do desenvolvimento de uma metodologia para a Cartografia. Em “Os Mapas como Modelos”, temos a oportunidade de analisarmos a relevância e os fatores que contribuem para a construção de mapas. É importante enfatizar que mapa algum pode representar perfeitamente a realidade, senão seria uma cópia. Essa frase deixa exposto a originalidade de cada representação. Vários são os fatores que levam os mapas a mostrarem diferentes realidades: o ser humano que o faz, a escala, entre outras causas. Para BOARD(1967), há um ciclo do modelo – mapa e duas fases principais no ciclo de construção de mapas: o mundo real concentrado sob forma de modelo e o modelo testado em relação à realidade. Para a construção do modelo, o referido autor destaca etapas importantes e sujeitos relevantes para tal construção. O Cartógrafo O Cartógrafo por exemplo, também chamado de artista(BOARD). Ele deve selecionar alguns detalhes em vez de outros para serem retratados, pois nenhum mapa como já foi dito pode mostrar toda a realidade. Portanto, o ato de optar traz consigo a subjetividade de cada um. Um exemplo fácil para nós é ao vermos os mapas desenhados para propagandas, em que as empresas selecionam o que querem mostrar dando, é claro, maior ênfase ao produto exposto. Há motivos políticos nas construções, até para omitir alguma informação importante aos inimigos. Os selos também são utilizados ideologicamente, como exemplo pela Índia e Paquistão pela luta na Caxemira. Cada país colocou o território disputado como pertencente ao país em seus respectivos selos. O usuário do mapa Outra pessoa que faz o mapa tornar – se pessoal, ou até mesmo “perigoso” se observado rapidamente é o usuário, aquele ao qual o mapa é destinado. Ás vezes as exigências destes distorcem a realidade retratada. Por exemplo Mercator que destinava seus mapas às navegações exagerava excessivamente o tamanho das massas de terra nas latitudes setentrionais. O objetivo dos mapas Também nenhum estudo da função do projetista de mapas pode ser completo sem que haja referências aos fins para os quais são elaborados. Pode – se inserir detalhes de cidades e tratos de terra em lugares destituídos de habitações, a fim de atrair colonização e compradores de terras. Outra classe de mapas que mostra sinais claros da relevância do objetivo visado são os destinados à navegação, quer de navios e aviões, quer do tráfego de automóveis. Assim podemos refletir que os mapas podem ser produzidos para cada usuário de acordo com suas necessidades. A escolha dos dados As escolhas dos dados para as construções dos mapas também foi abordada por BOARD e diz respeito ao trabalho feito com as informações obtidas. Neste ponto de vista é feita a distinção entre os mapas chamados temáticos, projetados para salientar acidentes ou conceitos particulares, e os mapas topográficos, que são mais gerais em sua finalidade. Uma vez determinadas as classes de características, com exceção da base topográfica mínima, o Cartógrafo se concentrará nelas com exclusão das outras. Aqui mais uma vez salientamos a importância da subjetividade e uma advertência a procurada neutralidade científica, para a representação cartográfica. Transformações de escala Um importante aspecto é relacionado quanto ao tamanho da área a ser incluída no mapa. É possível representar o mundo inteiro num selo de correio. Naturalmente, há escala apropriada para cada fim particular, dependendo em parte muito grande da quantidade de detalhes que o cartógrafo deseja incluir, mas também do tamanho do papel disponível. Isto leva o autor a ter consciência do perigo de excluir aspectos importantes em áreas onde podem ser escassos, quando se esteja aplicando um esquema rígido de redução quantitativa em números. Claro, pois a passagem das informações sobre o mundo real pelo filtro da escala leva, inevitavelmente, ã sua redução. Certos mapas são elaborados sob encomenda para as necessidades de determinados grupos, de modo que a decisão de conservar ou eliminar determinados itens de informação é mais crítica. Sistema de mapeamento Consiste na escolha das técnicas e são estudadas sob dois aspectos: o do processamento de dados e o do método cartográfico. Mas o processamento de dados, embora importante, não é estritamente um procedimento cartográfico. Pois, ele é comum a todos os tipos de descrição e análise. Não são muitos mapas que exigem o processamento de dados, antes de se iniciar a sua compilação. Outros mapas são o produto final de cálculos longos e complicados e algumas vezes são apenas resultados bastante insignificantes deles. Um exemplo deste grupo citado são os mapas que representam situações multicomponentes.(ver fig. 1) Simbolismo Antes de tudo, deve – se distinguir os mapas topográficos dos temáticos, que empregaram escalas de medidas nominais e ordinais, e dos temáticos quantitativos a escalas mais altas de medições. Os mapas que empregam medidas de escala ordinal indicam o tamanho, a importância ou a freqüência relativas da característica. Os mapas totalmente quantitativos são deduzidos de estatísticas fidedignas, disponíveis para as unidades da enumeração. Intervalo de classes A terceira e mais critica fase do processamento de dados é a decisão de emprestar determinado intervalo de classe e o ponto básico para a escala dos intervalos. Uma vez escolhidos o número de classes, o projetista do mapa deve examinar a amplitude de valores ( por exemplo, densidade de população), tendo em vista arranjá-los para representarem adequadamente as diferentes partes da amplitude e reproduzirem suas características. Cada método tem os seus méritos mas, como observa Jenks (1963, Pag.15), o cartografo acha mais difícil visualizar uma distribuição abstrata, como a densidade de população, e portanto não sabe qual o melhor método. O modelo do mundo real Apenas uma parcela das informações do mundo real eventualmente encontra seu caminho até o leitor, através de um mapa ou um modelo representativo do mundo real. A maneira pela qual os mapas “funcionam como um artifício para retratar propriedades espaciais, em competição com outros artifícios, tais como as fotografias, os quadros, os gráficos, a linguagem e a matemática” é englobada pelo Bunge ( 1962, pag.38) chama de metacartografia. Esse autor reúne um grupo de expedientes, que Não são os mapas e a matemática, como pré-mapas, mas chega a conclusão de que eles talvez sejam um subconjuntos dos mapas. Bunge esboça um certo número de limites para estabelecer as fronteiras entre os pre-mapas e os mapas, exagerando sucessivamente as propriedades espaciais de diferentes tipos. Desta forma, trata da escala, da distorção da forma e do conteúdo de informações versus abstração, dados básicos dos mapas, ângulo de projeção, correspondência com a superfície da Terra, precisão psicológica (realismo aparente), convencionalidade das projeções e ligações entre lugares. Fidelidade - gradiente entre a realidade e a abstração. Num artigo recente sobre a teoria geral da natureza do conhecimento, Brambrough (1964) faz uso extensivos de analogias com o mapa. O emprego dos mapas como análogos por Brambough, Kaplan (1964, pag284-285), Treisman (1966, pag.601) e Toulmin (1953, cap.4), para ilustrar estudos filosóficos, sugere o fato de serem facilmente reconhecíveis como modelos, e muitas das suas propriedades são bem conhecidas. Bambrough começa citando Lewis carrol (1893), lembrando-nos da tentativa de fazer um mapa realmente útil, que terminou utilizando a escala de uma milha por milha, que os fazendeiros impugnaram porque iria cobrir toda a região e tapar a luz do sol. Bambrough (1964, Pag.102), comentando os métodos usados pelos metafísicos escreve: “Uma descrição direta das características lógica dos nossos conhecimentos do mundo externo mostra que cada um dos quadros atribui uma importância indevida a alguns aspecto do nosso conhecimento e obscurece ou deforma os outros aspectos, que os quadros rivais acentuam...Aqui podemos Ter outra vez ou um mapa na escala de uma milha por uma milha, ou podemos ter o domínio e a compreensão ao custo da deformação.” Quanto menos um mapa se parece com o mundo real, mais abstrato é, mais se torna um modelo desse mundo real. Na verdade, é perfeitamente fácil conceber uma escala de fidelidade entre o mapa e uma milha por milha e a seta de direção das estradas, que além de serem extremamente. O Mapa abaixo do texto, é um exemplo dos mapas construídos na Geografia Quantitativa. Porque mostra claramente a análise produzida por números, que se combinam, se relacionam. Vemos o Estado de São Paulo, no caso, dividido em várias partes, de acordo com os objetivos da pesquisa que era de delimitar as áreas de acordo com os atributos, no caso, de produção. Vemos então a classificação e a descrição de áreas produtoras no Estado de São Paulo. 5- Conclusão Após as análises do material recolhido para o trabalho, podemos concluir que a contribuição, tanto da Geografia Quantitativa como da Cartografia foram válidas para ambas ciências. Se observarmos do lado da Cartografia, a nova corrente do pensamento geográfico contribui para valorizar e sistematizar o estudo, produção e divulgação dos mapas. O uso do computador, de fórmulas matemáticas, de métodos quantitativos e estatísticas, métodos estes utilizados após a revolução tecnológica produzida pós – II Guerra Mundial, quando surgiu no mundo e na geografia uma nova mentalidade de crescimento, de urbanização bem como o advento da Guerra Fria. Com estes fatos históricos, os mapas foram super valorizados pois podiam fornecer ou omitir dados sobre os inimigos, tornando –se essencial para os exércitos. O cartógrafo também tornou – se peça fundamental pois qualquer intervenção nas construções dos mapas afetariam e poderiam mudar informações relevantes sobre determinadas regiões. Para a geografia, que estava se renovando, o crescimento e a sistematização da cartografia foram úteis no sentido de englobarem informações múltiplas obtidas nos números e cálculos matemáticos em mapas, ajudando a explicar as dinâmicas regionais. Assim podiam conter informações sobre comércio, indústria, agricultura e densidade demográfica num só mapa, tudo construído sem precisar ir ao campo pesquisar, pois as estatísticas eram muito usadas. Com isso, conclui-se que a tecnologia foi vital tanto para a Cartografia quanto para a Nova Geografia. BIBLIOGRAFIA Board C., Os mapas como modelos. Cap. 6 pag, 140-181. Boletim Geografico do Rio de Janeiro – julho/agosto, 1972. Christofoletti A. Bol. Geo. Teorética, Rio Claro, 8 ( 16): 1978. Faissol E., Revista brasileira de geografia, RJ – out/dez. 1973 Gerardi, Lúcia Helena Oliveira; Quantificação Em Geografia, Ed. Difel 1983. Ieda R. Leo; Luiz A. de C. do nascimento; Telma Suely A de C. Senra. Boletim Carioca De Geografia, 36 (258-259): 17-34, julho/dezembro, R.J.,1978. http://www.oocities.org/br/cartografiatematica
Mapa do estado de São Paulo
O Ciclo do Modelo de C. Board
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