Childe harold [sobre uma página de byron]

Não te rias assim, oh! não te rias,
Basta de sonhos, de ilusões fatais!
Minh'alma é nua, e do porvir às luzes
Meus roxos lábios sorrirão jamais!

Que pesar me consome! ah! não procures
Erguer a lousa de um pesar profundo,
Nem apalpares a matéria lívida
E a lama impura que pernoita ao fundo!

Não são as flores da ambição pisadas,
Não é a estrêla de um porvir perdida
Que esta cabeça coroou de sombras
E a tumba inclina ao despontar da vida!

É êste enôjo perenal, contínuo,
Que em tôda a parte me acompanha os passos,
E ao dia incende-me as artérias quentes,
Me aperta à noite nos mirrados braços!

São estas larvas de martírio e dores
Sócias constantes do judeu maldito,
Em cuja testa, dos tufões crestada,
Labéu de fogo cintilava escrito!

Quem de si mesmo desterrar-se pode?
Quem pode a idéia aniquilar que o mata?
Quem pode altivo esmigalhar o espelho
Que a tôrva imagem de Satã retrata?

Quantos encontram inefáveis gozos
Nesses prazeres, para mim tormentos!
Quantos nos mares onde a morte enxergo
Abrem as velas do baixel aos ventos!

O meu destino é vaguear e sempre!
Sempre fugindo, a funeral lembrança,
Férreo estilete que me rasga os músculos,
Voz dos abismos que me brada: - Avança!

Que pesar me consome! ai! não mais tentes,
Espera a lousa de um pesar profundo,
Somente a morte encontrarás nas bordas,
E o inferno inteiro a praguejar no fundo!

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