Sobre um Túmulo

Torce-te aí na sepultura fria
Onde passa rugindo o furacão,
Seja-te o orvalho das manhãs negado,
Soe em teu leito a voz da maldição!
Teu castigo será gemer debalde
Buscando o sono que o sudário deixa,
Ouvir nas trevas de uma noite horrenda
De errantes larvas a funérea queixa!
Pose-te a terra qual um fardo imenso,
Infecta podridão cubra teus olhos,
Seque o salgueiro que sombreia a lousa
E em seu lugar estendam-se os abrolhos!
Roam-te o ódio, - a maldição, - o olvido,
E quando as turbas levantar-se um dia,
- Aparências de Deus, - para afundar-se
No seio d'Ele, ardentes de alegria,
Surdo sejas aos ecos da trombeta
Em teu leito de pedra enregelada;
Findem-se os mundos, e a existência tua
Fria se apague na soidão do nada!

São Paulo - 1861

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