Oriental

Virgem! minh'alma te adora
Como a abelha de Misora
As flores prenhes de mel,
Como a sultana formosa
A nota triste e amorosa
Da lira do menestrel.

Anjo! minh'alma te busca
Como o inseto que se ofusca
Dos círios à escuridão,
Como a clícia desmaiada
A carícia enamorada
Das asas da viração!

Ai! vem, divina criança,
Vem, minha douda esperança,
Que eu aqui te espero em pranto;
Vamos errar nessas plagas,
Aonde na praia as vagas
Soluçam sentidos cantos!

Oh!... lá, minha doce amada,
Plácida a lua encantada,
No céu de azulada cor,
O grato aroma das rosas
Nas velas deliciosas
Tudo, tudo inspira amor!...

O Ganges dorme sonhando,
Meu batel se embala arfando
Sobre as ondas de cristal;
O rouxinol inspirado
Modula o treno adorado
Nas sombras do larajal!

Oh! ao pálido luar
Como é celeste pousar
A fronte num seio amado!
Tremer de amores um'hora
Como a bela de Misora
Nas maravilhas do prado!

Ai! vem, divina criança,
Vem, ,inha douda esperança,
Que eu aqui te espero em pranto;
A noite aos poucos declina
E sobre o rio a neblina
Desdobra seus tênues mantos.

Se tu soubesses que chama
O teu olhar me derrama
Nas fibras do coração!
Que belos mundos diviso,
Que gozos do paraíso
Eu sinto ao cerrar-te a mão!

Se tu soubesses que dores,
Que medonhos dissabores
Eu sinto dentro do peito,
Ai! tu virias comigo
Sonhar das veigas no abrigo,
Das folhas verdes no leito!

Tu verias que tesouro,
Que mistério imorredouro
Eu te mostrara, querida!...
Oh! por um instante, virgem,
Por uma doce vertigem
Te daria minha vida!

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