Queixas do Poeta

Ao cedro majestoso que o firmamento espana
Ligou a mão de Deus a úmida liana,
Às amplas soledades arroios amorosos,
Às selvas passarinhos de cantos sonorosos,
Neblinas às montanhas, aos mares virações,
Ao céu mundos e mundos de fúlgidos clarões,
Mas presa de uma dor tantálica e secreta
Sozinho fez brotar o gênio do poeta!...

A aurora tem cantigas e a mocidade rosas,
O sono do opulento visões deliciosas,
Nas ondas cristalinas espelham-se as estrelas,
E as noites desta terra têm seduções tão belas,
Que as plantas, os rochedos e os homens eletrizam,
E os mais dourados sonhos na vida realizam.
Mas triste, do martírio ferido pela seta,
Soluça no silêncio o mísero poeta!...

As auras do verão, nas regiões formosas
Do mundo americano, as virações cheirosas
Parecem confundidas rolar por sobre as flores
Que exalam da corola balsâmicos odores;
As leves borboletas em bandos esvoaçam,
Os reptis na sombra às árvores se enlaçam;
Mas só, sem o consolo de uma alma predileta,
Descora no desterro a fronte do poeta!...

O viajor que à tarde sobre os outeiros passa
Divisa junto às selvas um fio de fumaça
Erguer-se preguiçoso da choça hospitaleira
Pousada alegremente de um ribeirão à beira;
Ali junto dos seus descansa o lavrador,
Dos homens afastado e longe do rumor;
Mas no recinto escuro que o desalento infecta
Sucumbe lentamente o gênio do poeta!...

No rio caudaloso que a solidão retalha,
Da funda correnteza na límpida toalha,
Deslizam mansamente as garças alvejantes;
Nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes
Embalam-se avezinhas de penas multicores
Pejando a mata virgem de cânticos de amores;
Mas presa de uma dor tantálica e secreta
De dia em dia murcha o louro do poeta!...

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