Conforto

Deixo aos mais homens a tarefa ingrata
De maldizer teu nome desditoso;
Por mim nunca o farei:
Como a estrela no céu vejo tu'alma,
E como a estrela que o vulcão não tolda,
Pura sempre a encontrei.

Dos juízos mortais toda a miséria
Nos curtos passos de uma curta vida
Também, também sofri,
Mas contente no mundo de mim mesmo,
Menos grande que tu, porém mais forte,
Das calúnias me ri.

A turba vil de escândalos faminta,
Que das dores alheias se alimenta
E folga sobre o pó,
Há de soltar um grito de triunfo,
Se vir de leve te brilhar nos olhos
Uma lágrima só.

Oh! Não chores jamais! A sede imunda,
Prantos divinos, prantos de martírio,
Não devem saciar...
O orgulho é nobre quando a dor o ampara,
E se lágrima verte é funda e vasta,
Tão vasta como o mar.

É duro de sofrer, eu sei, o escárnio
Dos seres mais nojentos que se arrastam
Ganindo sobre o chão,
Mas a dor majestosa que incendeia
Dos eleitos a fronte os vis deslumbra
Com seu vivo clarão.

Curve-se o ente imbele que, despido
De crenças e firmeza, implora humilde
O arrimo de um senhor,
O espírito que há visto a claridade
Rejeita todo o auxílio, rasga as sombras,
Sublime em seu valor.

Deixa passar a doida caravana,
Fica no teu retiro, dorme sem medo,
Da consciência à luz;
Livres do mundo um dia nos veremos,
Tem confiança em mim, conheço a senda
Que ao repouso conduz.

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