Invocação

Eu te vejo sentada entre os palmares
Robusta e bela, pensativa e airosa,
Cheias de sangue as fortes jugulares,
Beijando a naiadéia e não a rosa.
América gentil! Filha dos mares!
Tu, que a manhã bafeja carinhosa,
Dá gênio a teu cantor, lhe estende a mão,
Infunde-lhe na fronte a inspiração!

Pura em tua nudez, sempre singela,
Da Gália mentirosa o luxo deixas,
És da Escritura a tímida gazela!
Teus vestuários são tuas madeixas!
Do mundo conhecido és a donzela!
Sempre perdoas e jamais te queixas!
Dá gênio a teu cantor, lhe estende a mão,
Infunde-lhe na fronte a inspiração!

Hei de em minhas canções sempre invocar-te,
Pois creio que me atendes, que tens almas!
De teu cocar farei um estandarte
A cuja sombra tenha asilo e calma!
"Se a tanto me ajudar engenho e arte"
Nada na terra meu talento espalma!...
Dá gênio a teu cantor, lhe estende a mão,
Infunde-lhe na fronte a inspiração!

Simbolizas os filhos do futuro,
Os homens da esperança e da verdade,
Não tens de antigos o pensar escuro,
És só luz, pensamento e liberdade!
Não te manchou o rosto o bafo impuro
Das seitas infernais da média-idade!
Dá gênio a teu cantor, lhe estende a mão,
Infunde-lhe na fronte a inspiração!

Quero-te sempre assim entre os palmares
Robusta e bela, pensativa e airosa,
Cheias de sangue as fortes jugulares,
Beijando a naiadéia e não a rosa.
América gentil! Filha dos mares!
Tu, que a manhã bafeja carinhosa,
Dá gênio a teu cantor, lhe estende a mão,
Infunde-lhe na fronte a inspiração!

VOLTAR