JORNAL "OS MISSIONÁRIOS
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Quem são os árabes?
Árabes são originalmente os habitantes da península arábica. Maomé
(570-632)
era um homem árabe que morava em Meca (ainda hoje a cidade mais importante
da Arábia Saudita). Ele disse ter recebido uma revelação sobre a qual
fundou
uma religião. Ao morrer, Maomé tinha conquistado por adesão ou pela força
toda a região da Arábia Saudita atual. Os árabes que tinham se convertido à
sua religião conquistaram militarmente uma série de regiões vizinhas. Suas
populações se misturaram com o conquistador e adotaram língua e cultura
árabes. Por isso, são chamados países árabes.
Arábia, Iêmen, Omã, Emirados Árabes Unidos (Abu-Dabi, Dhubai), Kwait,
Qatar,
Bahrein, Jordânia, Iraque, Síria, Líbano, Egito e todos os países do norte
da África (Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos), mais dois países da África
negra, Sudão (onde os árabes estão apenas no norte) e Somália, são países
árabes. Essa definição mistura um conceito étnico original com outro
lingüístico-cultural, mais amplo e tardio.
É mais ou menos como aconteceu com os latinos: o povo latino original era
apenas aquele que morava em torno de Roma e constituiu os chamados romanos,
que acabaram construindo um Império Romano e conquistando a maior parte do
mundo que eles conheciam em sua época. Mas quando eles conquistaram outras
regiões e se misturaram com suas populações, étnica e culturalmente, estas
também passaram a ser chamadas de latinas (como o resto da Itália, a
Espanha, a França, Portugal, a Romênia) e mais recentemente também as
colônias destes, que adotaram sua língua (toda a América Latina, que no
entanto, tem forte influência indígena).
Um exemplo disso: os árabes do Iêmen são diferentes dos egípcios, pois são
compostos da mistura dos árabes do século 7 depois de Cristo (época da
conquista) com os habitantes tradicionais da região. Mas todos os países
árabes falam árabe, com variações de sotaque e dialeto entre os países mas
diferenças que não impedem dois árabes cultos de países tão longínquos
quanto Iraque e Marrocos de conversarem em árabe culto.
Parte dessa permanência da língua se deve ao fato de a religião muçulmana
ser até hoje obrigatoriamente ensinada e praticada em árabe antigo (o mesmo
que aconteceu com as línguas latinas até a Idade Média, quando os
habitantes
dos diferentes países ainda falavam entre si em latim). Mas nem todos os
árabes são muçulmanos. Pode-se dizer que hoje em dia o islamismo é maioria
no conjunto dos países árabes, mas em nem todos eles é a força hegemônica:
no Líbano, até a década de 1970, os cristãos eram maioria (deixaram de ser,
por causa do crescimento dos muçulmanos); na Síria, até hoje, a Igreja
Ortodoxa Síria tem uma presença marcante no universo religioso. Os cristãos
que fundaram o Líbano moderno são árabes (como são árabes de religião
cristã
boa parte dos imigrantes sírios ou libaneses que vieram para o Brasil no
começo do século 20, gente como os Maluf, Cury, Mafuz, Yunes entre muitos
outros).
O que é o Islã?
É uma religião que professa a fé em Deus, chamado em árabe Alá (que é o
mesmo Deus dos judeus e dos cristãos), e em Maomé, seu único profeta. Em
árabe, islam é a fé ou temor à vontade do Senhor, o que inclui a crença em
Deus (chamado Alá) como único deus e Maomé como seu profeta.
Quem são os islâmicos?
A palavra Islã é usada como nome da religião criada por Maomé e como a
totalidade do povo que acredita na religião. Ou seja, corresponde ao mesmo
tempo aos termos Judaísmo ou Cristianismo (nomes de religiões) e povo judeu
ou cristandade (genérico para os adeptos das religiões). Quem segue o Islã
é
islamita, islâmico, maometano ou muçulmano (em árabe, muslim, o mesmo que
em
inglês). Nem todo islamita é árabe e nem todo árabe é islamita. A religião
muçulmana não está organizada em torno de um líder único, como o Papa dos
católicos, o que dá muitas características específicas, locais, regionais
ou
nacionais aos movimentos religiosos.
Quem são os muçulmanos?
Todos os que têm a fé ou temor na vontade de Deus (Alá). Em árabe se diz
muslim (como no inglês). Em turco a palavra virou mussulman (se você falar
em voz alta verá que é quase só uma diferença de pronúncia). Foi do turco
que a palavra chegou ao português atual, muçulmano. Em árabe quer dizer a
pessoa que teme o Senhor ou sua vontade. Nem todo muçulmano é árabe e nem
todo árabe é muçulmano.
Quem é Alá?
É a palavra árabe para Deus, o Deus único que é o mesmo Deus dos judeus e o
Pai de Cristo para os cristãos.
Quem é Muhammad?
É o nome em árabe do profeta Maomé (570-632). Muhammad nasceu na cidade de
Meca, filho de um mercador pobre que morreu logo depois de seu nascimento.
Sua mãe morreu quando ele tinha seis anos. O garoto foi criado por um tio e
trabalhou como pastor de seu rebanho até os 25 anos, quando ele se juntou à
caravana de uma senhora rica, chamada Kadidja, bem mais velha do que ele.
Aos 40 anos, Maomé teve uma visão em que o Anjo Gabriel lhe dizia para
ensinar a verdadeira religião a seu povo. O Deus de Maomé é o mesmo Deus
único dos judeus e dos cristãos, mas ele entendia que essas duas religiões
se afastaram da fé verdadeira. Depois de alguns anos em que ele ensinava
discretamente sua religião, ele provocou a desconfiança dos poderosos
governantes de Meca, que o expulsaram da cidade. Isso ocorreu no ano 622,
episódio que se tornou conhecido como Hégira (a Fuga), que passou a contar
como o ano 1 do calendário muçulmano (que é um calendário lunar como o dos
judeus).
Maomé se abrigou em Medina, onde conquistou mais seguidores e logo se
tornou
o governador da cidade. Ele começou a atacar Meca e, em 630, conquistou a
cidade. Ela se tornou a cidade sagrada dos muçulmanos e só pode ser
visitada
pelos seguidores da fé. Maomé, portanto, não só converteu-se ao monoteísmo
de Abraão como recebeu uma revelação, uma profecia, que compõe o texto do
"Corão", o livro santo dos islamitas. Por ser a versão mais recente da fé
no
mesmo Deus, os muçulmanos se consideram a forma mais bem acabada dessa
crença e por isso reivindicam a condição de superior às duas versões mais
antigas.
Mas essa crença na superioridade de sua religião não retira deles o
respeito
às duas outras fés monoteístas. Ao contrário, a religão islâmica carrega
consigo o respeito ou a fé em muito do que caracteriza as duas outras.
Assim, o livro sagrado do Islã é o "Corão", que contém a palavra divina
narrada a Maomé. Mas são igualmente componentes importantes da fé islâmica
o
Pentateuco dos judeus e a vida de Cristo. As três religiões têm em Abrão
(Ibrahim, em árabe) o seu patriarca. O túmulo de Abraão, na cidade de
Hebron, está abrigado em uma construção que é ao mesmo tempo uma sinagoga e
uma mesquita.
O que é sunita? |
As Cruzadas durante os primeiros séculos do milênio passado foram uma
|
As primeiras aparições do termo para falar de muçulmanos referiam-se aos
seguidores do aiatolá Khomeini, do Irã. Com o fim da "era Reagan" nos EUA,
seu uso primordial foi esquecido. Ele é usado para definir movimentos
cristãos (principalmente americanos), judeus (os ortodoxos) e também
muçulmanos. Normalmente é usado como sinônimo de ultraconservador, de
adesão
à letra das leis fundamentais da religião, sem concessões ao tempo ou aos
costumes de época.
Por que os palestinos (e vários vizinhos) têm tanto ódio dos EUA?
Como sempre, não devemos generalizar. Existem palestinos vivendo há décadas
nos EUA e outros que vivem bem em Israel. Mas a reação da maioria, contra
os
EUA, se deve ao apoio dos Estados Unidos a Israel, na maioria das questões.
Como isso tudo poderá afetar o Brasil?
A economia deverá sofrer se a recessão mundial se agravar. Além disso, o
preço do petróleo subiu e pode subir mais. Isso encarece os combustíveis e
pode encarecer toda a cadeia produtiva no Brasil, pois os combustíveis
estão
na composição de praticamente todos os preços (quando não é usado na
produção, é necessário ao transporte).
O que impediria de haver uma Terceira Guerra Mundial?
A hipótese de uma guerra mundial tal como foram as duas anteriores é muito
improvável, pois ninguém apóia o terrorismo, ou seja, não se formam blocos
que se opõem. No entanto, alguns analistas afirmam que a Terceira Guerra
Mundial já começou e que é um outro tipo de guerra, uma época (prolongada)
de conflitos isolados e sem nexo aparente entre si.
De onde vem esse ódio milenar dos muçulmanos contra os judeus?
Esse ódio não existe, essencialmente, trata-se de um mito contemporâneo. Em
verdade, os muçulmanos sempre foram mais amigáveis com os judeus do que os
cristãos. Alguns exemplos disso:
a) os judeus foram expulsos da Terra Santa em torno do ano 100 d.C. e,
enquanto a região foi dominada pelos cristãos, foram impedidos de voltar a
Jerusalém. Quando os árabes muçulmanos conquistaram a região, levaram de
volta a primeira comunidade judaica para a cidade (origem do bairro judeu
da
cidade velha);
b) quando milhões de judeus foram expulsos pelos "reis católicos" da
Espanha
em 1492, na maior limpeza étnica da história até o século 20, eles se
abrigaram nos países do norte da África e da Europa do Leste;
c) Nesses países de maioria islâmica, os judeus expulsos da Europa (em 1497
foi a vez de Portugal expulsar todos os judeus portugueses do país)
encontravam antiqüíssimas comunidades judaicas, algumas anteriores ao tempo
de Cristo, vivendo entre muçulmanos;
d) quando na Europa medireview os judeus eram obrigados a viver em guetos,
nos
países de maioria muçulmana controlados pelo Império Otomano (turco) eles
viviam normalmente e atingiam postos elevados da vida social;
e) quando o anti-semitismo cresceu na Europa no fim do século 19, o
movimento de retorno à Terra Santa (chamado sionismo) levou milhares de
judeus para a Palestina. A reação dos habitantes locais só começou a se
manifestar mais fortemente depois da Primeira Guerra Mundial, já no século
20, quando grandes comunidades começaram a afetar o equilíbrio de poder
político e econômico da região (ou seja, não se tratou jamais de uma
perseguição religiosa, muçulmana contra judeus).
A população de judeus cresceu na Palestina com o movimento sionista e com
as
fugas da Europa, onde os judeus eram perseguidos, principalmente mas não só
pelos nazistas alemães. Logo após a Segunda Guerra Mundial, sobreviventes
do
holocausto seguiram em massa para a Palestina e os líderes judeus locais
passaram a defender explicitamente a criação de um Estado judeu. A reação
dos habitantes da Palestina (maioria árabe de religião muçulmana) foi
violentamente contra, com também a de outros países árabes da região. Mas
até aquela altura não se falava de religião. Depois da criação de Israel,
de
quatro guerras (1948, 1956, 1967, 1973) e conflitos menos intensos mas
contínuos, a reação dos palestinos e dos vizinhos árabes, que perderam a
hegemonia sobre a terra que habitavam antes, foi vestida de um discurso
religioso.
Os turcos também são árabes?
Não. Os turcos são um povo originário do centro da Ásia que invadiu a
Europa
e o Oriente Médio durante a Idade Média e conquistou, entre outras regiões,
a Ásia Menor (que passou a se chamar Turquia), mas que habita também, por
exemplo, o Azerbaijão, Turcomenistão e regiões da China (Turquestão
chinês).
Em contato com povos de maioria islâmica (afegãos, persas, árabes), os
turcos se converteram ao islamismo. Mas têm língua e tradições diferentes
dos árabes.
Por que os libaneses e sírios são chamados de "turcos" no Brasil?
Porque quando começou a imigração de sírios e libaneses para o Brasil, no
início do século 20, seus países não existiam, eram províncias do Império
Otomano, dominado pelos turcos e com capital em Constantinopla ou Istambul
(que fica na atual Turquia). Eram chamados, genericamente, de "turcos".
Seria como chamar um índio apache de "americano", ou seja: era correto na
época (eles eram cidadãos turcos) mas impreciso e, com a independência dos
seus países, passou a ser errado.
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