O SONO DAS ALMAS
Todos mortalizados pela noite
Camuflam no suícidio dos corpos.
Nenhum espírito desampara as carnes
Sai solitário, senta-se no madrugal e embriaga-se!
Nenhuma alma
Está solta na estrada
Seguindo as setas,
Sem pernas... Sem olhos!
Enlouqueço no meu Karma!
Separo meus lados:
Corpo esquálido
Esquálida alma.
Ele imobilizado
Atenta-se ao fluido da irmã
Solitária
Prestes a adormecer no espaço...
Enlouqueço no meu Karma!
Tomo o corpo nos braços da minha própria alma
E adormeço!
Élsio Américo Soares
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OBSERVÂNCIA
Presencio
A tarde fechar em cio
Nuvens densas
contorcendo
No ventre do universo,
Gerando fetos diversos...
Presencio
Um corpo solitário
Esperando o cuspe do sêmen
Ventar-se em desespero,
Até cautelosamente
Sugar o líquido chuvoso...
Presencio
O espírito mover-se do silêncio
E fluir lentamente
Na noite de pesadelo...
Presencio
O sonho de uma chuva
Adormecida no colo do monte,
Na cabeceira de um rio tão doce...
Tão doce...
Élsio Américo Soares
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PALAVRAS
O que é viver?
Responderam-me:
-É a doce lucidez do espírito...
O que é viver?
Responderam-me:
-É a triste sensatez do fim...
O que é viver?
Responderam-me:
-É a moldura infinita de Deus...
Aí perguntei –
E quem é Deus?
Responderam-me:
-Talvez seja Ele um outro Ser!...
Élsio Américo Soares
PENÚRIA
Tenho medo que me impossibilite
De fazer toda razão desfluir por fim...
Canonizando demônios da elite,
Premiando-os com mil troféus de marfim...
E do Homem gerado que tem seus medos?
-Faz-se nos escuros, desfaz-se nos claros...
-Envergonha-se das honras e dos segredos...
Nele pulsa o sangue e os escarros;
Nele eu habito, eu traio, eu calo!
Eu sofro a paixão de ser inconsolado!
Eu morro na miséria que mesmo escalo...
-Eu sou o Homem que a razão procura:
Sem elite... Sem anjos... Sem o respaldo,
Sem mesmo encontrar na minha penúria...
Élsio Américo Soares |