A demagogia de Mário Kértesz

A Rádio Metrópole é um dos mais graves exemplos de demagogia no rádio baiano em particular e no brasileiro em geral. Sem um formato que a definisse e tendo transmissão simultânea em duas sintonias (AM e FM) numa mesma região (um processo completamente ilícito mas tolerado por lei), a Metrópole acaba sendo um veículo para a volta ao poder de seu dono que, como ex-prefeito de Salvador, provocou um escândalo que, investigado, adiou os sonhos dele se tornar o segundo político mais poderoso da Bahia, depois de Antônio Carlos Magalhães.

A rádio, tal como seu dono, é a expressão da demagogia travestida de "democracia". A Metrópole, mesmo transmitida também em AM, tem mais cartaz em FM, apesar de sua programação estar no nível de uma emissora AM de terceiro escalão. A rádio, principalmente na sua programação esportiva e até mesmo em alguns momentos do programa de Mário Kértesz, soa como se fosse uma AM bastante popularesca, mas que vende uma falsa imagem de "FM classe A".

Já seu dono, Mário Kértesz, é um célebre demagogo que, mesmo tendo sido um dos maiores corruptos do país, faz questão de passar uma imagem de "honesto". A nova demagogia ainda não é bem assimilada pela opinião pública, pois muitas pessoas, na sua boa fé, ainda estão acostumadas com aquela demagogia verborrágica e rebuscada dos antigos corruptos, ignorando que os novos demagogos hoje trabalham um discurso mais "objetivo" e pretensamente progressista para seduzir as massas.

Vejamos as seguintes questões:

- Tendo sido prefeito biônico (nomeado por uma junta militar) na ditadura militar, nos anos 70, e tendo construído sua carreira sob a ideologia da "direita" política, através da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido que, nas suas ramificações, gerou o PPB, PFL e PL, é, todavia, capaz de seduzir a "esquerda" política a apoiá-lo de alguma forma. Mesmo sendo filiado ao PL, Kértesz participa como dublê de locutor nas campanhas do PT, de Luís Inácio Lula da Silva, para as eleições de 2002. Oportunista, ele aproveitou-se da "lipoaspiração" publicitária do ex-operário na sua quarta tentativa para a Presidência da República. Como se sabe, Lula, cuja imagem de campanha está sendo pasteurizada pelo publicitário Duda Mendonça (que trabalhou com o rival de Lula, Paulo Maluf), se dispôs a fazer aliança com o Partido Liberal (PL), tudo para ganhar fácil as eleições.

- Kértesz, dotado de idéias machistas que transmite abertamente em seus programas de rádio (algumas delas bem grosseiras), gosta de contratar mulheres para dar uma imagem menos "machista" para a rádio, com programas supostamente dirigidos para as donas-de-casa e até para universitárias (supostamente, porque não dá para esperar um público-alvo certo para uma rádio sem perfil determinado).

- Kértesz nunca foi jornalista, nem mesmo radialista, no que se refere à formação legítima. Chegou a ter seu registro de radialista cassado numa ação movida pelo Sindicato dos Radialistas, em 1994. Com um bom advogado, Kértesz resgatou o registro ilicitamente obtido (nos tempos em que era prefeito de Salvador e tinha um programa de rádio chamado "Bom Dia, Prefeito"). Já como jornalista, sua formação é apenas duvidosa, não tendo um gancho verossímil que é o caso da suposta formação de radialista. Apesar disso, Kértesz, mesmo como "jornalista" e "radialista", é tido como um dos mais "conceituados" por uma mídia baiana que ainda vive sob o signo da acomodação, da politicagem e do conformismo piegas numa terra que há muito perdeu de sua poética aura "paradisíaca" e "romântica".

- Dependendo das circunstâncias, ataca ou afaga os políticos. Quando convém, Kértesz pode negociar, secretamente, ataques ao PMDB, assim como pode defender um famoso político do partido, Genebaldo Correia (um dos "anões do Orçamento Federal" de 1992-93). Pode atacar o atual (2002) prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, em seu programa - Kértesz chegou a fazer elogios ao concorrente de Imbassahy nas campanhas de 2000, Arthur Maia, que não tem relação alguma com o esquema de MK, só para dissimular alguma influência "carlista" - , mas declarar-se "amigo dele" em entrevistas de jornais.

- Se diz um "empresário independente", "idôneo", tal como fazem os atuais demagogos da era pós-FHC. Como se ser "independente" sugerisse uma figura autônoma que não está no poder. Só que Kértesz está no poder, e, dizem os cientistas políticos, ele só está esperando a morte de Antônio Carlos Magalhães para retomar a vida política, com o mesmo poderio político e econômico tão alardeado em relação ao "Toninho Malvadeza" (apelido pejorativo de ACM).

 

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