AS
CONSEQUÊNCIAS DO IMPERIALISMO
Empobrecimento, subdesenvolvimento, perda da identidade cultural:
A exportação de capitais e de produtos manufaturados proporcionou lucros
elevados e enriqueceu enormemente os países industrializados, pois nas
colônias, juros cobrados eram altos, o preço das terras e dos salários
eram baixos e as matérias primas eram baratas. A expansão do capitalismo
via colonialismo criou, pela primeira vez, um mercado mundial, onde a
economia das colônias fornecedoras de minerais e de gêneros agrícolas
era complementar à economia dos países industrializados.
Entretanto, a criação de um mercado mundial não representou benefício
para as colônias porque a venda de seus produtos não se realizava conforme
as leis da oferta e da procura. Foi, antes de tudo, "o produto de uma
relação de forças", ou seja, a metrópole, por seu poderio econômico e
militar, impunha o preço da matéria prima. A Comercialização dos produtos
coloniais ficava a cargo das companhias européias que se apropriavam da
maior parte do lucro, restando à burguesia colonial associada a menor
parte dele.
A introdução do modo de produção capitalista na Ásia e na África levou
ao aparecimento do trabalho assalariado e da propriedade privada da terra,
concentrada nas mãos dos europeus ou da elite dominante local, dedicada
às atividades de exportação. A dissolução do cultivo coletivo da terra
nas aldeias e a desintegração do artesanato urbano afastaram os camponeses
e artesãos de seus meios tradicionais de subsistência, criando um proletariado
miserável concentrado nas cidades.
Do ponto de vista social, a colonização impôs uma hierarquização étnica:
o colonizador era considerado superior, racial e socialmente falando.
Nesse sentido, ficou famoso o aviso encontrado nos jardins de Shangai:
"Proibida a entrada de cachorros e de chineses". As velhas classes dirigentes
locais se adaptaram aos modelos ocidentais", procurando imitá-los e adotando
sua língua .
0 impacto da expansão capitalista sobre as regiões dominadas resultou
quase sempre no empobrecimento e no subdesenvolvimento em que elas se
mantêm até hoje. Em algumas regiões, indústria local foi destruída por
não poder concorrer com a indústria dos países capitalistas adiantados.
Se o Imperialismo trouxe o progresso representado por processos modernos
de cultivo e de irrigação, ferrovias, telégrafos, portos, hospitais escolas,
universidades e bancos, significou também muito derramamento de sangue,
guerras coloniais, massacres de populações nativas, subalimentação, erosão
dos solos, desestruturação de comunidades tribais e descaracterização
de culturas. As contribuições das técnicas e da ciência ocidentais foram
reais, mas cabe perguntar se elas não poderiam ser repartidas sem a dominação
política e a exploração econômica.
b) A Guerra Total
No final do século XIX, ao iniciarem sua participação na corrida imperialista,
a Alemanha e a Itália encontraram as principais áreas já tomadas pela
Inglaterra e pela França, potências que haviam logrado industrializar-se
mais cedo. As reivindicações de reajustes da divisão territorial geraram
confrontos e rivalidades que acabaram por contribuir para uma guerra devastadora
entre as potências européias: a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918.
c) A Revolta do Colonizado
A colonização européia gerou, nas regiões dominadas, uma elite intelectual
local formada na cultura e nas escolas européias, que tinha acesso a postos
subalternos da administração colonial. Aos poucos, essa elite transformou-se
no centro da resistência ao domínio colonial.
As ideologias européias predominantes no século XIX, como a democracia,
o nacionalismo, o cristianismo e o marxismo foram difundidas nas colônias
através dos imigrantes, funcionários, missionários, intelectuais, e acabaram
por criar uma consciência crítica contra os colonizadores. 0 pensamento
ocidental, baseado na liberdade na igualdade perante Deus e perante a
lei, foi usado nas colônias pa ra contestar a exploração econômica, o
racismo, a falta de oportunidade e de liberdade aos quais a maioria da
população local estava submetida, dando origem aos movimentos nacionais
pela libertação, mais fortes principalmente após a 2a. Guerra Mundial
(1939/1945).
d) Conscientização e Reação
"A Ásia, que tinha sido berço das grandes civilizações, a cujo gênio
a humanidade deve seus primeiros progressos fundamentais, como a domesticação
dos animais, a agricultura, a criação, a cerâmica, a metalurgia, o papel,
a pólvora, etc, bem como as instituições de vida social (cidades, Estados
organizados, moeda, escrita), perdeu, ao longo de dois séculos de dominação
européia, cinco milênios de autonomia e liderança. Seus povos, altamente
civilizados, tinham padrões éticos bem diversos dos valores que acompanharam
a ocupação pelo Ocidente, que atribuíam preeminência à técnica e aos bens
materiais.
0 sistema social da Índia, da China e das regiões que recebe ram sua
influência, fundamentava-se num conjunto de valores que lidava primeiro
lugar ao sábio, àquele que sabe no sentido poético, literário, metafísico
e espiritual" (Mathiex-Vincent, Histoire Aujoud'hui, v.II,1973). A perda
de sua identidade cultural seguiu-se a perda de suas riquezas, de sua
autonomia, à tentativa de lhe arrancar o passado pelas raízes.
A África, cuja verdadeira história começa agora a ser escrita pelos africanos,
sofreu a espoliação mais completa que se conhece em homens, recursos e
valores culturais. Os invasores mudaram os velhos padrões da sociedade
tribal, impuseram o trabalho forçado, o racismo, algumas vezes por métodos
paternalistas que encobriam a proletarização do trabalhador africano,
como foi o caso de katanga (Congo Belga). É conhecida a passagem dos livros
franceses de História usados nas escolas de suas colônias pelos "nativos",
cuja primeira frase falava de "nossos antepassados os gauleses". A própria
memória coletiva de um passado comum lhes era arrancada, apagada.
Na raiz do racismo e da alienação cultural está o regime de brutal exploração
do homem pelo homem, sobre o qual repousavam as estruturas coloniais.
A tomada de consciência desse processo de expropriação absoluta constitui
a essência do processo de descolonização que partirá da intelectualidade
colonizada, como Léopold Senghor, Aimé Césaire, David Dion, e de intelectuais
antiimperialistas do Ocidente, como Franz Fannon, Albert Memmi e Sartre
( ... ).
Em Paris, a revista "Présence Africaine", com Aliune Diop e um grupo
de poetas e escritores negros de expressão francesa, Léopold Senghor,
Aimé Césaire, David Dion, lança um movimento de idéias, a negritude, proclamando
a consciência do "eu negro". Sobre ele, assim se expressa um historiador
negro, do Alto Volta: "Um dos aspectos fundamentais da negritude é a afirmação
de si, após a longa noite de alienação, como aquele que sai de um pesadelo
e apalpa o corpo todo para se reconhecer a si próprio, como o prisioneiro
libertado que exclama bem alto: 'Estou livre!', embora ninguém lhe pergunte
nada", (Joseph Kizer bo, História da África Negra, Viseu, 1980)." (LINHARES,
Maria Yedda. A.luta contra a metrópole. São Paulo, Brasiliense, 1983,
p. 52 a 54.)
SI N T E S E
No século a conquista de novos territórios pelos europeus assumiu uma
dimensão e uma proporção desconhecidas. As empresas e os aventureiros
procuravam obter oportunidades de lucro e fontes de matérias primas antes
dos concorrentes. A presença dos interesses burgueses na África Ásia e
América Latina exigiu a intervenção dos governos europeus na defesa do
patrimônio de seus cidadãos, passando a atuar nas áreas ocupadas como
verdadeiros donos. A conquista assumiu caráter violento, espoliador e
racista. 0 imperialismo responsável pela difusão da técnica e da ciência,
foi também causa do atraso e do empobrecimento do colonizado. A intensa
rivalidade entre as potências provocou a Primeira Guerra Mundial. Após
a Segunda Guerra, os povos colonizados, conscientizados de sua brutal
exploração, iniciaram um movimento de reação a dominação.
Autores:
Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG
Volta O
Imperialismo
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