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Era tarde, noite adentro. O telefone tocou. - É o doutor quem está falando? – Sim, minha senhora. Pode falar! – Doutor, a minha mãe não está passando bem. O senhor poderia vir atendê-la? É urgente doutor. Rua tal, nº tal, aqui mesmo no bairro. – Tudo bem, minha senhora; irei em seguida. E lá fui eu sonolento, semi-dormindo. Encontrei facilmente a rua e a casa, pois já eram minhas conhecidas. A orientação clínica foi seguida com presteza para socorrer a enferma. A seguir, a clássica pergunta, formulada com extrema cortesia: - seus honorários, doutor? Respondi com o mesmo tom delicado e cortês, pois a ocasião e a circunstância assim o exigiam. – Um momento, por favor, doutor. Enquanto aguardava o retorno da gentil senhora, lancei uma vista d’olhos pelo ambiente. Me chamou atenção, um canto da espaçosa sala, uma pequena lamparina, cuja luz mortiça bruxuleava, projetando sombras esvoaçantes na parede, que mais pareciam voláteis dançarinas em passos mágicos rodopiando por sobre os objetos artisticamente dispostos naquele canto da sala. Sobre uma mesa retangular, um Malhete de Prata, em pedestal de madeira de lei. Ao lado, uma Trolha em bronze reluzente. Em frente, um medalhão dourado no qual, estampada em relevo, destacava-se a letra G em esmalte azul, circundada pelo Compasso sobreposto ao Esquadro, ambos em polimento luzido, que davam à peça uma nobreza singular. Centralizando todas as peças, do agora reconhecido relicário, um diploma de Mestre Instalado emoldurado com esmero requintado.
Absorto no enlevo da contemplação, respeitoso e constrito, quase em clima de meditação, não percebi a aproximação da gentil senhora. – Gostou do meu santuário, doutor?... Indagou-me com entonação receptiva. Como ao despertar de um sono, senti-me um pouco embaraçado, como se fora um profano surpreendido ao tentar adentrar em recinto sagrado. Em rápidas pinceladas traçou-me o perfil do homem, do esposo, do pai e do amigo que se fora, deixando um vazio impreenchível em seu saudoso coração. Deus levou para junto de si. Por isso, esta lâmpada votiva permanece acesa todo o tempo, dia e noite, iluminando as coisas que ele tanto prezou. Aqui venho, nos momentos de desconsolos da vida, para meditar, orar e sentir a sua presença nestas coisas, cujo significado não entendo muito bem, mas as velo com respeito. Depois de pequena pausa reflexiva, confidenciou-me a seguir, muito altiva: - Era Maçom, doutor. Ele era Maçom!... Profundo silêncio meditativo, como se naquele instante tivesse sido desvendado um profundo mistério, um segredo impenetrável tivesse se revelado. Repetiu-me com voz enternecida como a reviver um passado de ternura e bem-querência: - Era um Grande Maçom. Tive o ímpeto de envolve-la em carinhoso abraço e chamá-la de cunhada, tal o enlevo com que proferiu a frase. Detive-me respeitoso, para não macular a sublimidade do momento, nem desmerecer a revelação confidente. - Obrigado, por me permitir participar deste momento de ternura e carinho-, disse-lhe eu, em tom emocionado. Depois de algum tempo com um leve meneio de cabeça, retirei-me sem dizer palavras. Mas que palavras, Deus meu? Acaso haveria palavras a serem ditas naquele instante? Só o silêncio foi capaz de traduzir o diálogo de sentimentos e emoções que entre nós se estabeleceu. -Doutor! Seus honorários!: - disse a bondosa senhora. Ao pé da porta voltei-me e, com um leve aceno de mão, despedi-me daqueles dois santuários. Um vivo, à minha frente, o outro, revivido e perpetuado no simbolismo “daquelas coisas”, relíquias sacrossantas de um passado e de uma vida exemplar. Era Maçom!... Foi Maçom!... É Maçom!. Pois a Maçonaria é a luz sublime que ilumina os caminhos do eterno existir. Que a sabedoria, a força e a beleza do poderoso G .’. A .’. D .’. U .’., adorne os nossos pensamentos, as nossas palavras, gestos e atitudes, para que possamos passar essa imagem da Maçonaria, na vivência de todos os instantes do cotidiano de cada um de nós.
Assim Deus nos ajude!!!
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