Linda
*Por Damastor Ferreira
  Era cedo ainda, quando deixei o leito. Abrindo as janelas de meu quarto, absorvi com satisfação a brisa leve e inebriante de um dia que a meus olhos se antolhava e fiquei extasiado!

  Nunca senti tanta afeição pelas flores como naquela manhã...
  Violetas, rosas, lírios, tudo enfim me parecia mais encantador!
  De subito, senti um estranho rumor por sobre a cabeça; olhei para cima...

  Era um lindissimo beija-flor que, com seu afiado bico, sugava o mel de uma magnifica e branca flor, semi-escondida graciosamente por entre os vergalhos de uma parreira.
  Vendo-o, lembrei-me de Linda, a eleita do meu coração.
  E eu que a tinha deixado na noite anterior tão doente!...
  Por vezes suspirei. Não sei que misterioso presentimento apoderou-se de mim naquela formosa manhã!
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  Entrei, enlevado ainda, e sentei-me procurando recordar o ultimo momento que com ela estivera.
Oh! Quão linda estava ela! Deitada, com os crespos cabelos cor de ouro, esparsos e em desalinho por sobre os ombrinhos delicados, faziam-lhe sobressair as suas faces pálidas!
  E eu, embevecido, olhava-a. Olhava-a sempre e beijava-lhe as setineas e gélidas mãozinhas...
  Ao sair, ela,volvendo seus grandes olhos para mim marejados de um fio de voz apenas: "Adeus, amor! Vá e não penses em mim, porque, não quero que sofras.
  Vá e traga-me flores de teu jardim!
  E eu sai, comovido por aquele anjo louro de olhos da cor do céu!
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  Resolvi visitá-la e pressuroso levantei-me. Ao aproximar-me de sua casa, tremia, por notar que algumas pessoas para lá se dirigiam, com muitas flores.Apressadamente entrei; via-a.
  Linda como sempre, olhos semi-cerrados, palida, linda jazia morta, sobre o seu virginal leito alvo como o jaspe!
  Só então pude compreender aquela inesquecivel frase: "Vá e amanhã traga-me flores de teu jardim!..."
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  O jardim era o meu coração e as brancas flores eram minhas lágrimas que, como pétalas pude cobri-la amorosamente...
*Damastor Ferreira - Foi iniciciado na ARLS 14 de Julho (Oriente de São Paulo), em 1921, tendo chegado a Mestre Maçom em 1923 e, posteriormente prosseguiu nos graus filosóficos até ser elevado ao grau 18. Na vida profana, foi agente comercial da antiga Estrada de Ferro Sorocabana. Deixou inúmeras crônicas e peosias publicadas em jornais de diversas cidades do interior paulista. Partiu para o Oriente Eterno em setembro de 1983. Dois de seus netos são maçons, os Iir.´. Paulo de Tarso e Tércio Dames Martello..
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