Redação Sabonete
O
sabonete
Nove
entre dez pessoas que entram no banho usam
o sabonete que
estiver no chuveiro, não importanto a cor, credo,
raça, perfume ou
procedência do mesmo, o que parece ser um bom
começo para a
construção de um
mundo mais justo, democrático e livre de
preconceitos ou, pelo menos, pobre mas
limpinho.
Embora
a maioria dos usuários acredite que os
sabonetes brotem
nas saboneteiras por geração
espontânea, todos
eles foram
comprados, desembalados e colocados lá, um a
um, para uso de
todos
os freqüentadores do banho-box, por algum
membro da família,
em geral, a mulher.
O marketing do banho de espuma das
estrelas de cinema é tão eficaz
que até hoje existem mulheres que
acreditam que um dia um influente
produtor de
Hollywood vá aparecer no banheiro,
entre a privada e o
bidê
e levá-las para o estrelato.
Alguns levam, mas é só para
mostrar o que a Maria Chiquinha estava
fazendo atrás da horta.
O
sabonete mereceria mais atenção da
mídia em
geral, já que
trata-se do produto mais coletivo do ambiente
doméstico.
Nenhum outro item da casa freqüenta tantas
reentrâncias íntimas
da coletividade como o sabonete que só não
é
estigmatizado como
promíscuo justamente por ter uma conduta
impoluta.
Hoje
em dia, além da grande variedade de
marcas, cores,
sabores e formatos, dos geométricos aos
freudianos, existem
lojas especializadas em sabonetes e afins,
lojas essas que não
necessitam de divulgação do endereço
pois é só
você entrar num
shopping e cheirar seu caminho até lá, no
sentido lato e não
maradoniano da coisa, evidentemente.
Há
sabonetes sensíveis, que desmancham na água,
que viram mingau,
que tentam o suicídio jogando-se no ralo. Há
sabonetes ideológicos,
duros e rígidos, de extrema
direita, que não se rendem
à sedução do banho,
assim como também
existem aqueles que são rejeitados pela família,
que
acabam ficando ali, na saboneteira,
para sempre, secando e rachando como
a esquerda no Brasil.
E,
para encerrar esta crônica de higiene
pessoal, um último conselho:
não importa
qual seja seu sabonete preferido,compre-o.
Mesmo
que seja caro,
raro, estranho, renda-se a este capricho.
Tenha o seu próprio
sabonete, aquele que tem sua cara, seu cheiro,
sua textura. Este pequeno mimo,
um companheiro diário de seu momento
mais íntimo e solitário, talvez seja o
últimos dos prazeres
acessíveis,
o
bálsamo aromático que vai fazer você
feliz, do começo ao fim, de
fio a pavio, de cabo, a rabo.
Sabonete
já.
Rosana Hermann
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