Enquanto o reggae
rola ao fundo, Alberto fala animadamente de saúde,
vegetarianismo e alimento vivo. No alto verão carioca, ele nos
recebe de bermudas, chinelos e avental - seu uniforme de trabalho na
Oficina da Semente, na Lapa, Rio de Janeiro. Médico especialista
em Nutracêutica, Professor Universitário e Membro da
Sociedade Alemã de Cirurgia, Alberto trocou o microscópio
pelo liquidificador. Cansou-se de curar doenças e hoje vende
saúde.
A intimidade com a
natureza atribui ao pai e à sua infância no sítio:
"Agradeço ao meu pai. Aprendi com ele a cuidar dos animais, a
plantar árvores e a gostar da natureza: uma flor que se abria,
um fruto que nascia". Da infância, vem também a
memória triste de presenciar o abate de um animal:
Eu lembro do
Moleque, um porco para o qual meu pai mandava eu jogar lavagem, eu
fazia isso todos os dias. Um dia eu vi o Moleque sendo puxado pela
orelha, tomou uma marretada no meio da testa, foi banhado com
água fervendo e tiraram todas as vísceras dele. Os gritos
daquele porco ficaram na minha memória. Quem vê o animal
sendo sacrificado participa dessa dor. É impossível
esquecer. É diferente da sociedade hoje em dia que pega o animal
na prateleira, embalado, maquiado e fica longe da crueldade que
significou a morte daquele animal.
Começou a
freqüentar um restaurante lacto-vegetariano quando fazia
residência em Brasília por influência de um colega
de faculdade, Marcos Freire Jr.: "um dia ele me disse: Alberto,
você anda muito estressado, sua profissão já tem
muita carne e muito sangue. Vai nesse restaurante que você vai
gostar". A importância da alimentação para uma vida
saudável foi, então, ganhando espaço na vida do
médico.
O veganismo vai
se aproximando da gente através do conhecimento. Fiquei sabendo
que na África os indivíduos quase não têm
câncer no intestino porque eles comem os alimentos in natura - a
incidência de câncer do intestino na África é
0,03 por mil habitantes e nos EUA já está chegando 4 por
cem habitantes. Eu cuidei de um rapaz de 36 anos que já tinha um
câncer em estado avançado. Eu lembro dele no leito do
hospital, chorando, se despedindo das filhas e eu pensava: "meu Deus, o
que é isso?". Hoje eu troquei o microscópio pelo
liquidificador e estou certo da importância desta escolha. Nossos
hábitos alimentares abrem para nós as portas da
saúde ou da doença.
O microscópio
foi seu instrumento de trabalho durante dez anos de pesquisas no Brasil
e na Alemanha. Publicou uma centena de artigos em
microcirculação.
O alimento vivo
De volta ao Brasil,
Alberto conhece Ana Branco, na PUC-Rio, e seu BioChip:
Conheci o
alimento vivo através da Ana Branco. Na sua primeira palestra,
ela ia falando e aquilo ia brilhando dentro de mim como uma
recordação. Posteriormente, fui pro Terrapia - Fiocruz -
onde fiquei um ano. Pensei: vou formar meu próprio grupo,
então surgiu a Oficina da Semente - um projeto de pesquisa da
Universidade Estácio de Sá.
A Oficina da Semente
não é um restaurante comum, é um espaço
informal de confraternização e conhecimento. Quem chega
cedo, pode ajudar no almoço. As pessoas vão chegando e
ficando. Como Arzhel, um francês que bateu na porta vendendo
pão e hoje é o mestre-cuca do local.
Na hora do
almoço, estudantes de medicina se juntam a turistas e executivos
do centro da cidade. Como a mesa é única, o bate-papo
é inevitável - e bem-vindo.
Para os iniciantes, o almoço pode parecer um pouco diferente: a
comida é 100% vegetariana e 100% crua - diferente do
almoço segundo o senso comum. Mas quem prova aprova e retorna.
Logo forma-se uma pequena família sempre aberta a novos membros.
A base da
culinária viva são os grãos germinados - grandes
reservas de nutrientes. Na oficina, o sabor dos vegetais crus é
realçado por temperos a base de ingredientes frescos - o que
acrescenta um aroma único à comida. O uso de
orgânicos é priorizado e muitos ingredientes vêm da
horta que o próprio Alberto cultiva em seu sítio na
região rural do Rio de Janeiro.
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