A PELEJA DOS POETAS E A BANCA DOS CORDELISTAS
Otavio Menezes*
A Academia Brasileira de Cordel ABC,
criada por iniciativa de Vidal Santos, F.S. Nascimento e outros, estava desativada. O
Centro de Referência Cultural Ceres, da Secretaria de Cultura do Estado, unidade de
pesquisa e documentação da cultura Popular, mantenedora de projetos específicos de
apoio à Literatura de Cordel, amargava um melancólico processo de esvaziamento. Os
escritores em torno da Literatura de Cordel, salvo as exceções de sempre, refinavam o
surrado discurso da morte da poesia de folhetos. Cantadores de viola marcavam
presença constante na Praça José de Alencar esquecidos de pelejas ou desafios e até
dos repentes das cantorias amigáveis. As canções comandavam
seus repertórios. Coquistas embolavam, de pandeiro em punho, seus frenéticos
carreirões na Praça do Ferreira. Violeiros também se reuniam na Casa de
Juvenal Galeno, às últimas segundas-feiras de cada mês, para apresentarem a Noite
das Violas antigo programa da Casa, mantido até os dias de hoje graças ao trabalho
e a teimosia do escritor Alberto Galeno, atual diretor. O espaço sempre foi destinado à
cantoria, no estilo de costumes dos repentistas sertanejos.
Nesses pontos, não era fácil, mas se
encontrar um outro repentista oferecendo livretos de cordel. A maior parte desses folhetos
eram exemplares impressos em São Paulo, numa editora chamada Luzeiro, sobre a qual,
diga-se da passagem, pesam algumas denúncias de apropriação indébita de originais de
poetas nordestinos. Cordelista mesmo existiam aos montes em Fortaleza mas quase ninguém
sabia onde os encontrar. E raramente publicavam folhetos.
Em rápidas palavras era este o
panorama da poesia de Cordel em nossa Capital, em meados de 1987. Pode-se afirmar que o
quadro seria o mesmo não tivesse progredido o projeto de um grupo de ainda anônimos
poetas, iniciantes na arte de rimar, resolvidos a enriquecer a História da Literatura de
Cordel criando uma nova entidade. Um tipo de associação de poetas que viria assumir, de
fato, o compromisso de criar suportes de apoio ao folheto popular e, conseqüentemente, ao
cordelista, num momento em que os organismos então existentes, como tais finalidades,
estavam falidos.
Depois
de algumas reuniões em que tomaram parte JOÃO AMARO,AFONSO NUNES,OTÁVIO
MENEZES, GERARDO CARVALHO(PARDAL),JOSÉ
CAETANO,VESCÊNCIO FERNANDES E GUAIPUAN VIEIRA, este à frente,
nasceu o CENTRO CULTURAL DOS CORDELISTAS DO ESTADO CECORDEL.
Legalmente constituída e formada a primeira diretoria, a entidade, de logo iniciou um
trabalho dos mais profícuos no sentido de estabelecer metas, armar estratégias, e pôr
em prática mecanismos que viessem colaborar na solução dos problemas que afetavam,
direta ou indiretamente, o movimento da Literatura de folhetos em Fortaleza.
Não foi preciso
esforço incomum para os membros do CECORDEL entenderam que a pretendida
dinamização deste campo cultural dependia da coordenação de duas atividades: a
editorial e a comercial. A primeira necessária à comercialização do
produto, no caso do folheto impresso; e a segunda para, obviamente, dirigir a
produção às estruturas comerciais, nos espaços de venda. Tudo, porém, advertia-se,
deveria ter um custo baixo para não encarecer o preço no produto final. Nada
de sofisticação ou equipamento que exigisse especialização, serviços de terceiros. A
solução não foi outra senão lançar mão do mimeógrafo. Esta idéia se concebeu
depois da informação de que a Receita Federal aninhava em seus depósitos uma farta
quantidade dessas máquinas repetidoras. De pronto o CECORDEL articulou-se com
o Centro de Referência Cultural-Ceres, já citado, conseguindo a doação de uma
Gestetner. Elétrica bastante usada e necessitando de limpeza mas em perfeito estado. Para
dizer a verdade, a reprodução de folhetos de Cordel através do mimeógrafo não
constituía novidade. Há tempos experiências vinham sendo realizadas pro cordelistas da
Capital obtendo-se surpreendentes resultados.
Nestas circunstâncias o
mimeógrafo seria capaz de atender as necessidades do CECORDEL que tentava movimentar a
sua unidade de editoração. A velha Gestetner oficialmente doada fora levada
para o prédio da Biblioteca Pública Menezes Pimentel onde, provisoriamente, funcionava a
sede do CECORDEL. Estava, portanto, sem muitas exigências, resolvida a questão
editorial. Resolvida porque os cordelistas partiam da idéia de que a apresentação
gráfica não era tão importante. O cuidado com a rima, com a métrica, um bom título e
abordagem de temas atuais e de domínio público, despertavam o interesse do leitor
tradicional de folhetos na medida necessária. E o CECORDEL atingiu, com o uso do
mimeógrafo resultados tão bons que somente o leitor mais dado a conhecer técnicas de
impressão conseguia distinguir o trabalho rodado. A rapidez com que se
obtinha o produto final era outro pronto positivo. Enquanto qualquer gráfica
exigia uma prazo mínimo de 15 dias para entregar um milheiro de folhetos de 8 páginas,
com o mimeógrafo a mesma quantidade podia ser rodado, encadernado e lança no
dia seguinte ao da encomenda.
Por essa época
a Pepsi-Cola mantinha na praça do Ferreira um módulo, do tipo quiosque, em
madeira, que havia sido usado como posto de promoção de seus produtos,
trocas de tampinhas, entrega de brindes, etc. Estava fechada e aguardava-se a sua
transferência para os depósitos da empresa. Antes do recolhimento, porém a diretoria do
CECORDEL comunicou-se com o setor de refrigerantes, conseguindo sensibilizar seus
representantes para a importância do projeto que os cordelistas pretendiam lançar. O
plano foi explicado detalhadamente e, sem muitas delongas, o quiosque foi
doado para, em seguida, ser transformado na Banca dos Cordelistas. Era o componente certo
que faltava para promover a comercialização dos folhetos e da forma mais adequada uma
vez que independente. De acordo com as expectativas a banca proporcionaria não somente a
abertura mas também a expansão do processo de divulgação e comercialização dos
romances em nossa Capital. A idéia ganhou corpo num instante, mais do que um
simples ponto comercial voltado para a poesia popular a Banca dos
Cordelistas firmara-se como um referencial de encontro de pesquisadores,
professores, estudantes, cantadores e cordelistas em geral, afora turistas e o
povo que dia-a-dia se encontrava para adquirir folhetos e canções impressas.
Históriador e Poeta*
Fonte: Jornal
Tribuna do Ceará(Fortaleza,20/08/1995
Continua
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HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DO
CENTRO CULTURAL DOS CORDELISTAS DO NORDESTE-CECORDEL
( RELEASE )
N o dia 3 de abril de 1987, o
cordelista Guaipuan Vieira com o propósito de expandir cada vez mais a literatura
de cordel nordestina, que até então estava sumida do cenário cultural do Estado,
lançou a idéia de expor uma Amostra de folhetos na ASSEFAZ GALERIA DE ARTE,situada
no saguão principal do prédio do Ministério da Fazenda, em Fortaleza., em comemoração
à Semana do folclore. Garantido o apoio pelo presidente daquela Fundação, Dr.
Everardo de Pinho Vieira,Guaipuan procurou também o Centro de
Referência Cultural-CERES-da Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo, da Academia
Brasileira de Cordel, da Associação dos Cantadores do Nordeste, da Fundação
Rodon e da Pró-reitória de Extensão da U.F.C. No dia 1º de maio de 1987,
às dez horas, Guaipuan reuniu-se na sala de reuniões do Projeto Rondon,
com representantes das Entidades Culturais do Estado do Ceará: Academia Brasileira do
Cordel, representada pelo seu secretário, o pesquisador F.S.Nascimento; o CERES
na pessoa do seu Diretor, o poeta Francisco Otávio de Menezes; Associação dos
Cantadores do Nordeste, representada pelo seu primeiro secretário(hoje presidente), o
poeta Dimas Mateus, Projeto Rondon, representado pelo seu diretor de promoções
culturais, o poeta Vescêncio Fernandes. Ali estava oficializada a I Exposição de
Literatura de Cordel do Estado do Ceará, e uma feira de cordel, com a
participação de cantadores, emboladores, cordelistas e aboiadores.
Na oportunidade, Guaipuan lançou a idéia da criação da Fundação Cultural dos
Cordelistas do Ceará, que mais tarde veio a denominar-se Centro Cultural dos
Cordelistas do Ceará-CECORDEL, hoje, Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste. E
no dia 14 de agosto de 1987, criou, com um grupo de cordelistas, o Estatuto da nova e
pioneira entidade no Brasil, na Casa de Juvenal Galeno, situada na rua Gen.
Sampaio,1128-Centro. Em agosto, no dia 21, às vinte horas, teve abertura a EXPOSIÇÃO, I
Amostra Oficial de Literatura de Cordel do Ceará, na ASSEFAZ GALERIA DE
ARTE que permaneceu aberta ao público até o dia 31 de agosto. Essa entidade vem
realizando Exposições,feiras de cordéis em Praça pública,debates em Colégios,
Universidades, além de manter com o patrocínio da Fundação Demócrito Rocha e
Fundação Cultural de Fortaleza a BANCA NACIONAL DO CORDEL, sendo a pioneira nesse
gênero, situada no Largo dos Correios-Centro. Fone: (0-XX-85)454.18.35.
Informa Gerardo Carvalho Frota ( Pardal )
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