Cordéis Infantis
- SISTEMA SOLAR EM VERSOS
- Autores:
Atila de Sá e Wilton Lima
- ( Alunos de 10 anos de idade, da 4º série
- da escola Emanuel ).
-
- Vamos contar nestes versos
- com muita
irreverência
- a
história do sistema solar
- Para
leitor apreciar
- esta nossa
experiência...
- moramos aqui e fazemos arte
- e seriam bem felizes
- se morássemos lá
em marte.
-
- Quando olhamos no espelho
- enxergamos o vermelho
- circulando ao nosso lado.
- Deve haver gente bondosa
- nessa superfície ferruginosa.
-
- Fazemos um paralelo
- desse planeta tão belo
- que tem um bom castelo
- pintado de amarelo.
- Estamos aqui na terra
- tentando nos comunicar
- com alguém de outro planeta
- desse sistema solar.
-
- Os homens da terra
- brincam de guerra
- tentamos rastrear
- alguém pra nós contar
- que o povo só pensa
- em matar e roubar.
-
- Estamos num planeta bonito
- dele não queremos sair
- pretendemos morar
- e viver até o fim.
-
- Caros leitores amigos
- termina o nosso cordel
- espero que vocês gostem
- que pra nós tire o chapéu.
Fortaleza(Ce),26/08/2002
-
FICHA TÉCNICA:
- Escola Emanuel
- Rua Nova Conquista,2671-bairro Bom Jardim
- Fone: 497.14.52-Fortaleza-Ce
- Diretora: Evani Arraes Aguiar
- Coordenadora: Alexandra Carvalho
- Professoras: Sharleny Vieira
- Rubenita Simões
- Alunos da 4ª série: Atila de Sá e Wilton Lima
-
-
OBS.: Não podemos cobrar dessas crianças a técnica de uma
poética refinada. São leitores de cordel. Certamente em breve, chegarão a
um nível mais elevado no que tange a esta cultura.
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Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste-Cecordel
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A
EDUCAÇÃO PELO
VERSO
-
Crianças descobrem a Literatura de Cordel
e são estimuladas a produzir suas próprias rimas
- "Agora eu vou falar
- De um mundo fácil não
- Tô falando do Brasil
- E da nossa educação
- Tô falando da escola
- E da alimentação(...)
-
- Onde está nosso governo
- E a sua obrigação ?
- Fazendo poucas escolas
- Cadê a educação ?
- Sem ajudar as crianças
- É muita preocupação".
C laro, as sextilhas acima não são de nenhum Patativa do Assaré mas nem por isso
deixam de chamar atenção ou mesmo de encantar, principalmente quando fica-se sabendo dos
ingênuos dez anos de seu autor. Isso mesmo: o pequeno Rafael Nepomuceno Oliveira mal tem
uma década de vida e já confessa empolgado seu deslumbre com a literatura de cordel,
transformando em métrica a espontaneidade de suas impressões e tomando consciência do
lastro histórico dessa que é uma das mais importantes manifestações da cultura popular
nordestina.
"O cordel é uma das raízes do povo do Ceará e do
Nordeste. Ele tem rima. É uma coisa bonita, que a gente vai aprendendo, vai pensando a
sextilha, a métrica", explica. E Rafael não é o único. Como ele, são mais
dezenas de colegas de classe que também abraçam o universo do cordel. Através de um
trabalho que, segundo o Centro Cultural dos Cordelistas do Nordeste(Cecordel), é pioneiro
entre as escolas de Fortaleza, o Instituto Educacional "O Canarinho", uma
pequena escola na Aldeota, estimula em seus alunos da quarta série do ensino fundamental
a descoberta,a valorização e a produção de pequenas peças de cordel. "A gente
sabe que existem pessoas que não sabem o que é o cordel, porque não é uma coisa
privilegiada na mídia. Então nosso objetivo é construir esse conhecimento, valorizando
nossa cultura e trabalhando a leitura de uma forma gostosa", explica Margareth Mota
Lima, uma das professoras envolvidas no trabalho.
Segundo Margareth, a reação das crianças ao tema tem sido a
melhor possível. "Elas gostam da informação,do lado lúdico do cordel. Mas é a
rima que mais lhes fascina", diz. De fato, conversando com as crianças, percebe-se
que é na cadência da contagem dos dedos que elas vão apurando o ouvido e desenhando na
métrica impalpável da imaginação o seu fascínio pela literatura secular do sertão.
"As rimas são engraçadas, elas têm som, parece que têm música", fala a
pequena Laise Mota Torres. "Se você tem que dizer alguma coisa, informar alguma
coisa, é muito mais legal quando você coloca na forma de cordel,como o cordelista se
expressa. É uma coisa muito interessante, o ritmo é empolgante", reforça a amiga
Isabela Navarro Lima. "Muita gente não dá valor. Quem dá mais valor é o Nordeste.
Tem quem pensa que isso não vai servir para a vida da gente, mas é assim que a gente
consegue resgatar nossa cultura",complementa o próprio Rafael.
Segundo Margareth, numa época em que as informações são
disseminadas de uma maneira vertiginosa, há que se estimular entre os alunos a
criticidade para que eles se situem entre os diferentes conhecimentos correntes. "Essas
crianças precisam saber quem elas são, qual a cultura que lhes pertence. E para isso
elas precisam ser estimuladas a ter esse conhecimento", afirma. "É a maior
recompensa nesse sentido é quando você percebe o cordel, de onde veio o nome, como ele
chegou aqui, o que ele representa na nossa história".
"Em quase todas as escolas de Fortaleza existe o ensino
da literatura de cordel, e isso é muito bom. Várias desenvolvem trabalhos louváveis.
Mas no canarinho, o método é diferente porque o estímulo aos alunos é constante e isso
faz com que alguns deles passem a escrever a poesia de cordel espontaneamente",
confirma Guaipuan Vieira, presidente-fundador do Cecordel. Desde a fundação do Centro,
em 1987, Guaipuan já percorreu escolas e universidades participando de palestras,gincanas
e debates sobre cultura popular e sobre a literatura de cordel. "Iniciativas como
essa são muito importantes porque, além do aspecto pedagógico, as crianças recebem o
estímulo para a preservação do cordel", defende. "As crianças
são a posteridade. É para elas que nós estamos repassando essa tradição
que é tão nosso".
Fonte: Jornal Diário do
Nordeste. Caderno 3- Fortaleza,CE-Terça-feira,09/11/1999.
CORDEL
Pendurado no cordão
Bem no fim da rua Nova Conquista, uma pista de barro
vermelho com muitos buracos no bairro Bom Jardim, tem um lugar tranqüilo cercado por um
muro branco.
Eleuda de Carvalho
da Redação
[17 Maio 00h41min]
É a Escola Emanuel. De longe, vozes de crianças brincando, porque chegamos bem na hora
do recreio.
A Escola Emanuel é um bocado diferente de outras escolas da periferia. Aqui tem merenda
escolar, tem sala de computador (com dez computadores!), biblioteca, e no pátio tem até
uma casinha-escorrega de madeira pra garotada se divertir. Outra coisa bem diferente é
que os alunos da professora Sharleny Vieira estudam e aprendem a fazer poesia de cordel,
também chamado de folheto. No dia que a gente foi lá, a turma estava preparando cordéis
muito especiais: era o presente deles para o Dia das Mães.
A professora Sharleny é filha do poeta cordelista Guaipuan Vieira. A idéia de dar aulas
utilizando o cordel é uma ''herança de meu pai'', disse. Há três anos, ela criou o
projeto Clube do Cordel, do qual participam alunos de 6 a 14 anos. Até mesmo quem já
saiu da escola vai lá toda terça-feira, para aprender um bocadinho mais sobre esta arte
antiga, que chegou ao Brasil nas caravelas de Pedro Álvares Cabral.
Sharleny, no começo, ensinava ciências. Com o cordel, ela diz, ''achei de trabalhar de
maneira diferente''. Daí surgiu o folheto Sistema Solar em Versos, dos
alunos Átila de Sá e Wilton Lima, publicado em agosto de 2002.
Primeiro, eles fazem o folhetinho à mão: escrevem a poesia, desenham a capa. A
professora corrige, acerta as rimas. Depois, eles vão para o computador. ''A gente tem
que acompanhar a modernidade mas sem perder a originalidade'', afirma Sharleny.
Nas páginas do cordel, cabe o mundo todinho
[17 maio 00h41min]
Coisa do tempo do vovô: as crianças de antigamente aprendiam a ler, escrever e contar
em livrinhos no formato dos folhetos. As cartilhas de ABC e as tabuadas também ficavam
penduradinhas em varais nas bodegas ou nas feiras. O tempo passou, veio a tevê, a
internet, mas a magia dos folhetos, com histórias inventadas há muito tempo ou com
notícias que acabaram de acontecer, continua seduzindo velhos e novíssimos leitores. O
cordel tem a força!
Wilton Lima, 11 anos, está na 5ª série. O que você mais gosta de
trabalhar em cordel? ''É das rimas. Foi um talento que Deus me deu e eu uso. Quando eu
sento, tranqüilo, aí vêm'', diz. Da biblioteca da escola, ele já leu os romances Senhora,
de José de Alencar, e Luzia Homem, de Domingos Olímpio.
Priscila Rodrigues também tem 11 anos e faz a 5ª série. Ela estuda na
Escola Emanuel desde pequenininha: ''A gente aprendeu a ler na alfabetização'', diz. E
não parou mais. O cordel de que ela mais gostou chama-se Lula, um operário no
poder, que conta em versos a história do nosso presidente.
Leila Santos Vieira, 11 anos, 5ª série. Ela faz parte do Projeto Cordel
desde o começo, e adorou os folhetos desde que leu a história de Aladim, escrita por
Patativa do Assaré, que é considerado o maior poeta popular do Brasil. Ela é tão
criativa na arte de rimar que até já ganhou um concurso de poesia!
Átila Sá, 10 anos, também estuda na 5ª série. Ele escreveu dois dos
quatro folhetos lançados pelo Projeto Cordel, e também gosta muito da leitura. Da
biblioteca da escola, ele leu o romance Ubirajara, de José de Alencar, e o
livro de aventuras Viagem ao Centro da Terra, do escritor francês Júlio
Verne.
No pandeiro
Márcio Rafael Martins, 14, aluno da 6ª série, e Elvis Micena,
11, também da 6ª, fizeram uma apresentação de embolada para a nossa reportagem.
Enquanto Márcio batia o ritmo no pandeiro, Elvis cantou o poema sobre Antônio
Conselheiro, escrito por Guaipuan Vieira.
Para ajudar
As aulas de cordel acontecem na biblioteca da escola. Todos os livros foram doados (assim
como os folhetos). Eles tem muita coisa boa lá, mas ainda é pouco para o gosto de
leitura das crianças. Quem quiser doar livros e revistas, pode ligar: o telefone da
Escola Emanuel é o 497 1452
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- DIA DA CRIANÇA EM VERSOS
- Autor: Atília Sá( 10 anos)
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- Para quem não me conhece
- Vou então me apresentar
- Sou poeta cordelista
- Me chamo Àtila de Sá
- Eu criei este cordel
- Para apenas te alegrar.
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- Hoje é um dia especial
- É um dia bem feliz
- Com muito auto astral
- Pra crianças do país
- É um dia bem legal
- Como nunca ninguém quiz.
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- Preste muita atenção
- Porque eu vou explicar
- A vida dessas crianças
- Que não param de falar
- Moramos nesse país
- Com todo gosto da vida
- Tomando banho de mar.
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- Se preparem minha gente
- Se preparem pra essa dança
- Hoje é doze de outubro
- É o dia da criança
- Mas um ano que se passa
- Pra essa gente de esperança.
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- Quando a gente é pequeno
- Se protege com dois peitos
- Quando a gente cresce
- Nós temos nossos direitos
- E a gente continua
- Por caminhos bem estreitos.
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- Digam para os seus filhos
- Logo eles tem que saber
- Eu aviso para os país
- Que eles tem que nos dizer
- Nos dizer como é a vida
- Pois nós temos que viver.
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- A vida caminhando certo
- Tomando seu rumo real
- Os adultos me perdoem
- Mais ser criança é legal
- E nada melhor na vida
- Do que um bom auto astral.
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- Hoje eu quero ser feliz
- Hoje eu não penso em nada
- Comemorando meu dia
- Hoje eu pego a estrada
- Vou pra um safari bem bonito
- Ver passar uma manada.
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- Hoje é só brincadeira
- Hoje não vou pra escola
- Eu vou pra um campinho
- E fazer um gol com a bola
- O vencedor ganha uma fruta
- Eu só quero carambola.
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- Esse mundo que nós traz
- Uma nova esperança
- Esse mundo que nós faz
- Uma bela de uma criança
- O mundo seguindo em paz
- Com a nossa confiança.
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- Agora eu vou contar
- Uma nova novidade
- Quando eu era bem pequeno
- Uns três anos de idade
- Maltratavam as crianças
- Que moravam na cidade.
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- Hoje a vida me ensina
- O tal modo de viver
- Com meus pais me ajudando
- É mais fácil aprender
- Agora é muito fácil
- Pois não tenho sofrer.
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- Minha gente ó gentinha
- Leia esse documento
- Aqui você aprende a ler
- E integra ao pensamento
- Me respeite por favor
- Ou vai parar no julgamento.
-
- Respeite os nossos direitos
- Não queira se incriminar
- Existe uma idade mínima
- Para a gente trabalhar
- Depois dos 18 anos
- Que vamos-nos sustentar.
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- Tenho um apelo para os pais
- De todo o meu coração
- Toda vida na infância
- Tem direito a diversão
- Também temos de estudar
- Para nossa educação.
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