O cordel e as rimas ácidas da crise no País
Nas feiras nordestinas, surgem os primeiros folhetos populares com diferentes visões da situação brasileira

Jotabê Medeiros*

É num velho mecanismo de expressão popular, o cordel nordestino, que o sertão comenta à sua maneira o fervilhante cenário político atual. O mensalão, a cueca recheada de dólares, o desencanto com o PT: nada disso tem escapado aos olhos, ouvidos e corações do sertanejo. Nas feiras do Nordeste, entre um baião-de-dois com bode frito e cordéis célebres como Seu Lunga, A Moça Que Namorou o Bode, O Poder Que a Bunda Tem e Pedro Malazartes e o Urubu Adivinhão, já começam a surgir dúzias de novos folhetos com os versos da crise.

No Lamaçal do Mensalão é um deles, escrito pelo casal Vânia Freitas e Gerardo Pardal, filósofo formado pela Universidade Federal do Ceará e estudioso do gênero. Formada em Letras, Vânia Freitas tem 57 anos e até alguns anos atrás nem sonhava em fazer cordéis. "Meu marido é que é cordelista. Eu fazia palavras cruzadas. Daí, um dia eu disse: ô, coisa sem futuro é fazer palavras cruzadas. Mas eu escrevia versos e daí para o cordel foi um pulo", contou Vânia.

Em 2002, depois da posse de Lula, ela escreveu Do Pau-de-Arara à Presidência da República, louvando a trajetória do sertanejo humilde que chegou ao posto mais alto da política nacional. "Normalmente, faço cordel em cima de noticiário dessa natureza." Outro folheto de Vânia que já está nas boas feiras do ramo em Fortaleza é Cuecão de Dólares Aperta a Vida de Cearense, sobre o vereador de Aracati (CE), José Adalberto Vieira, que foi preso em Congonhas com US$ 100 mil na cueca.

"Acima de tudo, o cordelista é um repórter do povão. E ele escreve baseado na opinião da imprensa, quando o que ela trata é um fato popular", diz o poeta Guaipuan, de Fortaleza. Ele é o autor, com Zé Furtado, de O Famoso Mensalão e a Caixa Preta do PT, que será lançado neste fim de semana em feiras públicas de Fortaleza, além de outros 8 cordéis sobre o tema (esse trabalho pode ser conhecido no site www.cecordel.cjd.net).

Segundo Guaipuan, que votou em Lula e chegou a vender 3 mil exemplares de um folheto biográfico do presidente (Lula, Um Operário no Poder), sua decepção com os rumos do País é funda. "As promessas de campanha não foram cumpridas. A corrupção é muito velha, mas a temática da campanha era a ética. Ele prometia limpeza, e tudo continuou igual", diz.

Vânia Freitas, que também votou em Lula, diz que não se desencanta com o atual cenário político. "Já tenho idade suficiente para não me decepcionar mais com as pessoas. Além do mais, Lula não tem sido um péssimo presidente. Houve outros piores", ela pondera. Segundo Vânia, é preciso saber discernir no mar de notícias sobre o tema.

"Pessoas que não têm conhecimento, ignorantes que só vêem TV, não sabem que o noticiário é envergado para o lado que interessa. A mídia coloca e tira. É tão forte que colocou o Collor no poder e depois tirou o Collor. Mas, quando você tem uma certa noção de política, sabe ver os interesses que estão em jogo", ela diz.

Guaipuan vê uma "chuva de cordéis" sobre a conjuntura política invadindo as feiras públicas do Nordeste. "A vergonha fala alto/O escândalo é abrangente/O Brasil não tem mais nome/Tudo está muito indecente/É um vírus perigoso/Atuante e desastroso/Que afeta o presidente", diz o poema popular A Crise Política e o Mensalão, de Chico Salvino.

Varneci Santos do Nascimento, de João Pessoa (PB), é um dos hits da temporada com o cordel PT - Quem te Viu, Quem te Vê, no qual descreve sua motivação literária. "Escrevi sobre cangaço/Fé, gracejo e ficção/Romance, dor e racismo/Guerra e religião/Mas a pedida da hora/No Brasil é o Mensalão!"

Paulo de Tarso, num folheto de 8 páginas e com 16 estrofes, atribuiu ao partido do presidente da República a continuidade de muitas das mazelas nacionais. Trata-se de O Mensalão do PT Envergonhou a Nação. "E foi assim lá na Colônia/No fraco império também /Na República do Brasil /A coisa não andou bem/Usava sempre o pretexto/Do tal voto de cabresto/Nos negando educação/Dançamos no bambolê."

O cordel não tem o impacto de uma manchete de jornal, mas sua eficiência como instrumento de comunicação popular não deve ser menosprezada. Em setembro do ano passado, durante a Bienal do Livro de Fortaleza, foram vendidos 6,3 mil exemplares. É uma tradição arraigada das feiras públicas de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí, principalmente. Em Juazeiro do Norte, a Universidade Regional do Cariri, de Juazeiro do Norte, mantém um centro de produção e registro museográfico da atividade.

Marcos Valério e Delúbio/Aparecem no cenário/Fazem cair Genuíno/Dirceu seguiu itinerário/Duda Mendonça presente/Complicou o presidente/Com terrível comentário/ Enquanto isso o Nordeste/Com todo seu solo quente/Mesmo com tanta energia/Vê sofrer a sua gente/Quem lhe prometeu fartura/Vai perdendo a estrutura/De ser grande presidente

O Famoso Mensalão e a Caixa Preta do Governo do PT, de Zé Furtado e Guaipuan Vieira

É fácil tirar proveito/De um povo que pouco cobra/Uma apatia política/Nesse país tem de sobra/Se continuar assim/Isso nunca terá fim/E a safadeza redobra/ É cobra engolindo cobra/ Vejam só os depoimentos/Cada qual o mais santinho/No palco dos julgamentos/Há choro e ranger de dente/No meio daquela gente/que finge ter sentimentos

No Lamaçal do Mensalão, de Gerardo Pardal e Vânia Freitas

O sabido do Adalberto/Pensando não ser notado/Armazenou o dinheirinho/Ficando um pouco apertado/Na certa sentiu incômodo/Com aquilo pressionado

Cuecão de Dólares Aperta Vida de Cearense, de Vânia Freitas

*Fonte: Jornal O Estado de São Paulo-SP –31/08/2005

 

A POLÍTICA NA CULTURA POPULAR
Saga de Lula é mote do cordel
15/Dez/2002

Perfil popular do presidente eleito atrai a atenção dos poetas nordestinos, verdadeiros ‘repórteres’ cuja especialidade é narrar, em versos, o cenário político local e nacional

por SÉRGIO MONTENEGRO FILHO

Que forma melhor de homenagear um presidente eleito, conhecido pelo seu estilo popular, que uma obra literária composta na linguagem do ‘povão’? Pois desde a vitória, em outubro, o petista Luiz Inácio Lula da Silva passou à condição de ‘mote’ de inspiração para autores de folhetos de cordel. Literatura típica das feiras do Nordeste, os pequenos ‘livrinhos’ já tiveram seus dias de glória, mas mesmo perdendo a batalha contra a mídia eletrônica, continuam sendo insistentemente produzidos por poetas de vários Estados da Região, abordando temas românticos, sacros e políticos.

Nos últimos meses, vários ‘livrinhos’ foram publicados contando a saga do retirante que saiu interior de Pernambuco, em um pau-de-arara, buscando uma vida melhor em São Paulo, e terminou sendo escolhido para comandar o País. O primeiro folheto de cordel sobre a vitória de Lula foi produzido no dia seguinte à eleição em segundo turno, pelo teólogo e cordelista cearense Guaipuan Vieira. “Lula, um operário na Presidência”, foi publicado no dia 28 de outubro, e conta, em linguagem popular e com riqueza de detalhes, a trajetória do líder petista rumo ao Planalto. Depois deste, vários outros livrinhos sobre Lula passaram a ser pendurados nos cordéis das feiras livres no interior e em bancas populares nas cidades grandes.

Na última sexta-feira, o pernambucano Tiago Ramos da Silva distribuía – durante a festa de aniversário do deputado eleito Miguel Arraes (PSB), também ‘mote’ histórico dos cordelistas – o livreto de sua autoria: “A vitória de Lula e a posse no dia 1º de janeiro de 2003”. Outras tantas obras foram compostas tendo Lula como personagem.

Mas o petista não é o único homenageado pelos poetas e cantadores populares. Ao longo dos seus mais de cem anos de existência, a literatura de cordel, rica em rimas e versos, traz na bagagem inúmeras histórias sobre os homens que se sucederam no comando da Nação, ora narrando suas trajetórias, ora discorrendo sobre duras campanhas eleitorais, e ainda comentando o desempenho dos governantes. Outros, mais lamuriosos, vão mais longe, poetizando a morte dos presidentes. Tudo na “linguagem que o povo entende”, como classifica o maior colecionador de cordéis do Estado, Liedo Maranhão.

Dono de uma invejável coleção, Liedo exibe orgulhoso dezenas de livrinhos escritos sobre os presidentes brasileiros. O campeão em motes para poetas populares é Getúlio Vargas, sobre cuja trajetória foram escritos pelo menos duas dúzias de histórias. Autor de várias publicações sobre a literatura de cordel, Liedo explica as diferenças entre os vários estilos.

“Há o folheto de romance ou amor, o de santidade – como os feitos em homenagem a Padre Cícero e Frei Damião – e os de cangaço, que têm Lampião como principal personagem”, cita. Mas é no folheto político que os poetas agem como verdadeiros repórteres populares, narrando, nas suas sextilhas, os acontecimentos da época, num formato absolutamente identificado com o que desejavam seus leitores. “O cordel é o jornal do matuto”, brinca Liedo, lembrando que alguns dos autores chegam a assinar suas obras como “poeta-repórter”.

O primeiro cordel brasileiro surgiu no final do século IX, composto pelo paraibano Leandro Gomes de Barros. Desde então, nomes como José Soares, Severino Borges, Joaquim de Sena, Minelvino da Silva, Manoel de Almeida, Expedito Silva, Rodolfo Cavalcanti, Otacílio Batista, Olegário Fernandes, Leonardo dos Santos, entre tantos outros, povoam os cordéis das feiras, assinando obras sobre acontecimentos políticos do País. À exceção dos tradicionais ‘pecadilhos’ da língua rimada, é difícil encontrar nos folhetos incorreções históricas significativas. A precisão de fatos é característica dos poetas-repórteres.

Respeitando essa precisão, mas sem abrir mão do veio poético, Guaipuan Vieira e Tiago Ramos capricham nas suas recentes publicações sobre a vitória de Lula. “Ao leitor peço atenção/neste folheto de feira/prá falar de um cidadão/que venceu grande barreira/prá se tornar presidente/desta Nação brasileira”, diz Guaipuan na abertura do seu folheto, antes de desfiar um exato resumo da vida do líder petista. O arremate vem de Tiago: “Luiz Inácio, o Lula/é um político experiente/ganhou a eleição/com muitos votos de frente/que alguém queira ou não queira/é Lula o presidente.

 

A POLÍTICA NA CULTURA POPULAR II
Trechos de alguns folhetos que registram fatos históricos
15/Dez/2002

Morreu Getúlio, morreu nosso chefe amado. Cujo coração em vida fôra ao povo devotado. Hoje o mesmo coração De balas está crivado! Que triste e cruel desfecho Prá quem, desde a mocidade, Com um sorriso enfrentava O bem e a fatalidade, Lutando contra a miséria, Traição e Perversidade.A morte do presidente Getúlio Vargas (Dilarme Monteiro) Morreu Getúlio, morreu Morreu nosso chefe amado. Cujo coração em vida Fôra ao povo devotado. Hoje o mesmo coração De balas está crivado! Que triste e cruel desfecho Prá quem, desde a mocidade, Com um sorriso enfrentava O bem e a fatalidade, Lutando contra a miséria, Traição e Perversidade.

* Composto após a morte de Vargas, em 1954

 

Jânio não traz espada
(Rufino Moraes)

O Jânio não traz espada Nesta luta redentora. Quem quer a casa arrumada Compre logo uma vassoura Que a limpeza adequada Da Sorte é consoladora. É a força do destino A Divina decisão. Acabou o desatino Começou a salvação. Jânio é o presidente De glória para a Nação.

* Composto para a campanha de Jânio Quadros, em 1960

A chegada do ex-presidente Castelo Branco no Céu
(Raimundo Barbosa, o Coleguinha)

Marechal Castelo Branco Daqui da Terra partiu Assim que houve o desastre Para a glória ele subiu Bateu na porta do Céu São Pedro fez que não ouviu Ele tornou a bater Na corte celestial São Pedro disse: quem é? Disse ele: É o marechal Me chamo Castelo Branco Sou cearense legal.

* Composto após a morte do ex-presidente Castelo Branco, em 1967

 

Lágrimas, gemidos, gritos e choros pela morte de Tancredo Neves
(Leonardo Rodrigues dos Santos)

A vinte e um de abril A data de Tiradentes Deixou o País de luto Choraram até os inocentes O povo não se conforma Com a morte do presidente Pois dorme, dorme Tancredo Que outro aqui não vem Somente Getúlio Vargas Foi seu caminho também Pois dorme, dorme Tancredo Tá no mundo do além.

* Composto após a morte de Tancredo, em 1985

Lula, um operário no poder
(Guaipuan Vieira)

O povo ficou esperto Ouviu cada candidato Seus projetos ilusórios Depois disso, o constato De eleger prá presidente Um trabalhador de fato. Hoje Lula é presidente Do Brasil do excluído Que espera por mudanças Prá que seja renascido Com certeza lutará Por este povo sofrido. Sabemos que enfrentará A pior difamação Pelos seus opositores Que perderam a eleição Mas a casa terá ordem E não mais corrupção.

* Composto em homenagem à vitória de Lula, em outubro de 2002

Do Cruzado às eleições
(Elias A. de Carvalho)

O Nordeste sai em campo e a Nação se ufana, no combate à inflação, e a coisa fica bacana. A euforia é tanta que até padre vai em cana. Cada freguês, um fiscal e nada de paparico. “Dexe cum nóis, presidente! Já tão pidindo pinico.” Agora, é só o senhor mandar prender ladrão rico. O fiscal que come bola deve ter muito cuidado, fazer a coisa direita e entender do riscado, prá não ficar de bobeira que o home tá arretado.

* Composto à época do Plano Cruzado, no Governo de José Sarney, em 1985

O caçador de marajás
(Otacílio Batista)

Cace, cace, caçador Você tem direito à caça. Cace a quem tanto ameaça O pão do trabalhador, Queremos um salvador Que não solte Barrabás. A bigorna se refaz Quando espedaça o martelo. Fernando Collor de Mello Caçador de marajás. Vai aparecer quem dobre O nosso salário nanico. Rico não vai ser tão rico Pobre não vai ser tão pobre. Marajá não mais se cobre Depois que um homem sagaz Enfrentar os Ferrabrás Vencendo o grande duelo. Fernando Collor de Mello Caçador de marajás.

*Composto para a campanha de Collor, em 1989

A POLÍTICA NA CULTURA POPULAR III
Políticos pernambucanos também não escapam à caneta dos poetas populares
15/Dez/2002

O político pernambucano que mais inspirou ‘poetas-repórteres’, segundo os colecionadores, foi o ex-governador Miguel Arraes. De 1960 até hoje, há notícia de mais de uma dezena de cordéis escritos em sua homenagem, constituindo um ciclo literário, na denominação dada pelos especialistas. A rima mais famosa conta a vitória do “Zé Ninguém” contra João Cleófas, em 1962: “Das três quedas de Cleófas/foi essa que doeu mais/Além de cair de costas/caiu nos pés de Arraes”, diz.

Além de Arraes, foram alvo da caneta dos cordelistas figuras como Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Armando Monteiro Filho, Antônio Farias, Cid Sampaio e Gregório Bezerra. Alguns partidos políticos também serviram de mote aos poetas, principalmente o MDB e sua luta contra a ditadura. Não obstante, muitos dos presidentes do regime militar são exaltados em versos nos ‘livrinhos’.

A despeito de a maioria dos folhetos ter sua origem na inspiração espontânea dos poetas, também havia os cordéis escritos a pedido dos próprios políticos. Liedo Maranhão relembra, como exemplo, a encomenda feita pela então deputada federal Cristina Tavares, em campanha pela reeleição, ao poeta José Soares. Ele o escreveu e agradou à “guerreira”, mas recebeu dela uma ressalva irônica: tirar da obra a palavra “beldade”, que usou para descrever Cristina.

Hoje, os cordéis perderam força em todas as áreas, inclusive na política, cujo espaço está totalmente coberto pela mídia de massa. Cantadores famosos ainda são contratados durante as campanhas, mas apenas como atração para animar os poucos comícios que acontecem. “O cordel teve um papel importante na política. Era a notícia quente e fresquinha, em forma de arte, e muito procurada”, lembra o advogado e compositor Samuel Valente, também colecionador de material político. Para ele, os folhetos eram, acima de tudo, informativos, mas traduziam também o lado romântico das campanhas. “Com a modernização, os meios de comunicação de massa tomaram todo o espaço. Não há mais esse romantismo”, conclui Valente.

A POLÍTICA NA CULTURA POPULAR IV
“Lula é popular. Ele está no contexto do cordel”
15/Dez/2002

 

 

Nascido em Teresina (PI) e radicado no Ceará desde 1976, o poeta, teólogo e servidor federal Guaipuan Vieira ingressou há alguns anos no ramo do cordel político. Preocupado com a decadência da “literatura de feira”, fundou, em 87, o Centro Cultural dos Cordelistas do Ceará, que atualmente reúne poetas de todo o Nordeste. Hoje, com livros publicados sobre o tema, ele está convencido: “O cordel está vivo”. E vê na política mais um veio de inspiração. Em 28 de outubro, um dia depois da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, Guaipuan compôs o folheto “Lula, um operário no poder”, que está sendo vendido em vários Estados da Região. Nesta entrevista ao repórter Sérgio Montenegro Filho, ele diz ter se inspirado nas características de Lula, “um homem simples, identificado com os nordestinos mais sofridos”, principal mote da poesia popular.

JORNAL DO COMMERCIO – O sr. costuma fazer poesias de cunho político, ou fez apenas uma homenagem a Lula?

GUAIPUAN VIEIRA – O primeiro folheto referente à política foi sobre Sílvio Santos, quando ele quis candidatar-se à Presidência da República, em 1989. Era intitulado “Sílvio Santos e seus ministros”. O trabalho foi de humor. Coloquei todos os jurados do programa dele como ministros. O segundo nessa temática foi o de Lula. Esse é diferente. Lula tem história, conteúdo. É um personagem que está no contexto do cordel, pela sua popularidade. É um folheto biográfico. Aliás, pretendo escrever tudo sobre Lula. Claro, os fatos populares. Ao término, pretendo publicar todos os folhetos numa coletânea-livro. Mas sairão em primeira mão como folhetos.

JC – O sr. é filiado ao PT ou a algum outro partido?

GUAIPUAN – Não! Em 1989, filiei-me ao PSB, por uma razão qualquer, mas não sei se ainda sou. Não sou militante.

JC – O que o inspirou a fazer o folheto sobre Lula?

GUAIPUAN – A sua popularidade. Ser nordestino. Homem simples, a exemplo de milhares que fugiram da terra natal em busca de melhores condições de vida. Talvez seja isso que o torna um mito. Até o presente, é o único governo popular, que fala com a gente humilde, que ouve as suas origens. É simples pelo seu natural.

JC – Qual a sua expectativa diante do Governo Lula?

GUAIPUAN – Muita esperança de mudanças na política social. O Brasil precisa mudar, mudar para melhor. os homens de diplomas provaram que não são capazes de fazer um Brasil melhor. O Brasil precisa de alguém que governe com o coração, com a convicção de que veio para transformar este País de milhões de descamisados, que está à mercê da corrupção.

JC – Como o sr. obteve as informações sobre Lula? Há uma riqueza de detalhes no cordel.

GUAIPUAN – Há anos pesquiso sua vida, através de revistas, jornais, folderes de políticos do PT e, sem dúvida, consegui uma ajuda pela Internet.

JC – Em 1987, o sr. fundou um centro voltado para a literatura de cordel, e escreveu livros sobre o assunto, além de vários folhetos inspirados em outras áreas que não a política. Qual a situação do cordel hoje?

GUAIPUAN – Naquela época o cordel estava esquecido, quase morto. Tive que fazer alguma coisa, e deu certo. Fizemos exposições de títulos, debates, palestras, oficinas de cordel. Tudo isso em universidades, colégios e galerias de arte. Hoje, o cordel está vivo. Sou licenciado em teologia e sou funcionário público federal, mas tenho o folheto como gancho, porque o salário é pouco. Me orgulho de vender folhetos em feiras.

 

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