Rede Mineira de Viação
em Conservatória (RJ)


Baldwin #206 da RMV
Baldwin #206, da RMV


   Uma viagem ao passado

Distante aproximadamente 150 km da cidade do Rio de Janeiro, Conservatória, pequeno lugarejo no interior fluminense com cerca de 4.000 habitantes, é o sexto distrito de Valença. (veja mapa de localização)

A fundação da Aldeia de Santo Antônio do Rio Bonito deu-se em 1789.

O primeiro registro de Conservatória aparece em um relato ao Império comentando que a região era um “Conservatório de Índios”, lugar de excelente clima, protegido por montanhas onde os índios Araris se recolhiam para se recuperar de doenças e lutas.

Lá, resolveram se instalar definitivamente.

A prosperidade e a riqueza da região vieram com a expansão da cultura do café, que utilizou intensamente o trabalho escravo.
Após o declínio da cafeicultura, o distrito passou a ser procurado para tratamentos de saúde.

Atualmente, sua economia está baseada na agropecuária e revela vocação turística única, atraindo visitantes pela beleza de seu casario e com as suas famosas serestas, onde todos os finais de semana, os amantes da boa música, percorrem as ruas da cidade, cantando as mais belas canções brasileiras, acompanhados por violões.

Em cada casa há uma pequena placa com o nome de uma música, e em cada rua a singular beleza do casario colonial espelha a memória viva de um passado glorioso e centenário.

É apelidada carinhosamente pelos moradores de “Pedacinho do Céu”, possui uma ótima rede hoteleira e o principal, a clássica hospitalidade, que é marca registrada de seus simpáticos habitantes. (veja mapa da cidade)

A Ferrovia

A ferrovia, inicialmente chamada de Estrada de Ferro Pirahyense, foi construída entre 1879 e 1883, sendo inaugurada pelo Imperador D. Pedro II.

Ligava a então chamada Estrada de Ferro D. Pedro II (posteriormente Central do Brasil) em Barra do Piraí a Minas Gerais.

Possuía visual deslumbrante e cortava serras e matas da região.

Foi absorvida depois pela Companhia Viação Férrea Sapucahy.

Devido aos constantes prejuízos, esta ferrovia foi encampada pelo governo mineiro, e, juntamente com outras, passou a constituir a RSM (Rede Sul Mineira, se bem que foi apelidada com bom humor pelos moradores de Ruim, Suja e Miserável), até que em 1931, foi constituída a RMV - Rede Mineira de Viação, englobando diversas estradas de ferro mineiras (Machadense, Minas ao Rio, Muzambinho, Oeste de Minas, Paracatu, São Gonçalo, Trespontana e Viação Férrea Sapucahy).

O trecho ferroviário de Conservatória foi desativado em 1961, no governo do presidente Jânio Quadros, e seu leito foi utilizado, em grande parte, para a construção da rodovia RJ 137, chamada de Rodovia “A Canção do Amor” , em homenagem às tradicionais serestas realizadas em Conservatória.

Pontos interessantes

Barra do Piraí (altitude 357,600 m) - Ponto final da ferrovia, esta importante estação fazia a conexão da Pirahyense com a E. F. D. Pedro II, posteriormente E. F. Central do Brasil. (veja foto atual)
O acesso à estação era feito através de longa ponte metálica (veja foto) que cruza o rio Paraíba do Sul, hoje chamada Getúlio Vargas, e que serve atualmente para o tráfego de automóveis. (veja foto atual)

Ipiabas (km 260,870 altitude 685,600 m) - 5o distrito do município de Barra do Piraí.

O nome original era Nossa Senhora da Piedade de Ipiabas e sempre teve como principal característica a atividade rural, predominantemente a cultura de café.

A estação está em péssimo estado de conservação e é utilizada como Posto Policial e Correios. (veja foto atual)

Desvio Gomes - às margens da RJ 137, é uma pequena parada entre Ipiabas e Conservatória, que conserva apenas um pequeno telhado, utilizado hoje como mero ponto de ônibus. (veja foto atual)

Parada Rochedo - réplica de uma antiga estação ferroviária. Feita por iniciativa de particulares que assim homenageiam a importância que teve a ferrovia para o desenvolvimento da região.
Muito bem cuidada, é utilizada para venda de artesanatos e produtos regionais.
Possui arquitetura refinada e na parte frontal destacam-se a plataforma alta e diversos dormentes posicionados como em uma ferrovia tradicional. (veja fotos atuais)

Túnel que Chora - localizado na entrada do distrito, vindo de Barra do Piraí, temos o “Túnel que Chora”, é conhecido por este nome por causa da água que mina de suas paredes. Foi inaugurado em 21 de novembro de 1883 e foi construído pelos escravos.

As pedras retiradas serviam para a construção da ferrovia e para a formação do lastro. O túnel, que é um marco da cidade, possui 108 m. de comprimento, 4,33 m. de altura e 4,14 m. de largura e é utilizado atualmente para o trânsito de veículos. (veja foto atual)

Estação Conservatória (altitude 518,000 m) - Foi inaugurada em 21 de novembro de 1883, com a presença do imperador D. Pedro II.
A estação, por ironia do destino, serve hoje ao maior concorrente dos trens: os ônibus. Foi transformada em rodoviária e abriga além de lanchonete e banca de jornais, o Posto Policial.

É bela pelas suas características originais, mas merece maior atenção da Prefeitura, pois está precisando de uma boa reforma. (veja foto atual)

Maria-fumaça - a bela locomotiva Baldwin 4-6-0 (veja sistema de classificação de locomotivas a vapor) #206, série 34.217, fabricada em 1910 (veja a placa de identificação) e utilizada até 1961 pela RMV (Rede Mineira de Viação, se bem que os antigos moradores digam que a sigla significa Ruim Mas Vai) em exposição na praça próxima à antiga estação, é um símbolo vivo do passado e lembra também o descaso com que foi tratado o transporte ferroviário no Brasil.

Esta valente locomotiva era responsável por tracionar carros repletos de passageiros e vagões com a rica produção de café. (veja foto atual)

Veja a locomotiva Baldwin #210 que está em operação na VFCJ (Viação Férrea Campinas Jaguariúna) da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
Veja a locomotiva Baldwin #205 que está em operação em Pouso Alegre, MG.

Ponte dos Arcos - Outro exemplo do trabalho escravo pode ser visto nesta monumental ponte, que foi construída com enormes pedras trabalhadas e rejuntadas com areia e óleo de baleia, que tinha a finalidade de dar liga às pedras, já que naquela época não existia cimento.

Mede 55 m. de comprimento, 12 m. de altura e 4 m. de largura.

Foi concluída em 1884 e é uma das únicas pontes da antiga ferrovia ainda conservada. Localiza-se a seis quilômetros do centro de Conservatória na precária estrada para Santa Isabel do Rio Preto. (veja foto atual)

Pedro Carlos (km 232,264 altitude 748,000 m) - localiza-se na estrada que liga Conservatória a Santa Isabel do Rio Preto, logo após a Ponte dos Arcos.
A estação não está preservada e o visitante desavisado corre o risco de não vê-la. (veja foto atual)

Túnel do Capoeirão - longo túnel escavado na pedra e que se localiza aproximadamente 5 km após a estação de Pedro Carlos na direção de Santa Isabel do Rio Preto.
Não é difícil de se encontrar pois possui sinalização indicativa. Com tempo bom, vale a pena uma rápida visita, apesar da precária estrada de terra batida. (veja fotos atuais)

  • Texto: Jorge A. Ferreira Jr






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