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IAP em Piedade organizada em 23 de abril de 1963
Revista de Estudos nas Escolas Bíblicas da Igreja Adventista da Promessa
LIÇÃO 13: MARCOS 16:9
Este texto ensina que a ressurreição de Cristo alterou o dia de descanço do sábado para o domingo



Autor: Pastor Genésio Mendes
Lição Bíblica 273, sábado, 24 de dezembro de 2005

OBJETIVO: Levar o estudante da Palavra a compreender que o texto de Mc 16:9 não autoriza os cristãos a mudarem o dia de descanso, o sétimo dia, para o primeiro dia da semana, o domingo.

TEXTO BÁSICO: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios. (Mc 16:9)

INTRODUÇÃO: Desde a lição de número 6, temos visto como alguns intérpretes, no desejo de afirmarem que a salvação é pela maravilhosa graça de Deus, desnecessariamente tentam desqualificar a lei de Deus, e, para concretizarem esse intento, na maioria das vezes, isolam os textos de seus contextos, aplicando regras hermenêuticas que lhes sejam convenientes, a fim de obterem o resultado que mais lhes agrada. Nessa postura, encontramos comentaristas bíblicos usando Marcos 16:9 para provar que a ressurreição de Jesus ocorreu no primeiro dia da semana, e, com isso, ter um pretexto para justificar seu desvio histórico sobre o dia determinado para a guarda do quarto mandamento da Lei de Deus. Porém, quando interpretarmos Marcos 16:9, dentro do seu contexto, inevitavelmente, descobrimos que o Senhor Jesus não ressuscitou no primeiro dia da semana.

II - A INTERPRETAÇÃO ERRADA

Quando lemos as explicações teológicas dos defensores da mudança do dia de descanso, percebemos o quanto eles forçam o texto sagrado até que obtenham um sentido que não corresponde ao que foi inspirado pelo Espírito Santo, o autor da Bíblia. O texto que ora estudamos é um exemplo: afirma-se que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou na manhã de domingo com a clara intenção de respaldar a guarda desse dia como o dia do Senhor ou o novo dia de descanso para os cristãos. O teólogo Champlin, por exemplo, tentando explicar esse texto, faz o seguinte comentário sobre o versículo 2: Alguns supõem que isso ocorrera no sábado, mas a observação do “domingo” pela igreja primitiva, como o novo dia de guarda, quase certamente mostra que criam que o domingo fora, realmente, o dia da ressurreição.[1] Observe os termos que Champlin utiliza para explicar questões tão sérias: “supõem”, “quase certamente” e “criam”. Em vez de apresentar argumentos bíblicos objetivos, normativos, ele trabalha com suposições. Por sua vez, o teólogo Isaltino G. C. Filho, para provar que Cristo ressuscitou no domingo, usou como recurso a reunião de cristãos primitivos nesse dia, dizendo: “A Igreja reunia-se no domingo, é uma pista bem clara a deduzir daqui.”[2] A exemplo do texto de Champlin, os termos usados aqui são “pista” e “deduzir”. Isaltino não apresenta nenhuma prova bíblica normativa, concreta, mas, sim, agarra-se a pistas, deduções, textos descritivos e depoimentos históricos extrabíblicos. [3] Como podemos observar, o esforço empregado a favor do domingo como dia de descanso é quase sempre baseado em textos que se referem à ressurreição de Cristo, embora nenhum deles, exceto o de Mateus 28:1-6, declare o momento da ressurreição, e em textos que descrevem momentos em que os cristãos primitivos estavam reunidos. Portanto, afirmar que Jesus Cristo ressuscitou no domingo e usar isso para provar que esse dia é o dia de descanso para os cristãos demonstra, no mínimo, falta de respeito para com as regras de interpretação da Bíblia e de compromisso para com a verdade de Deus.

II - A INTERPRETAÇÃO CORRETA

Antes de apresentarmos a interpretação correta, é importante conhecermos a história do texto que faz parte da conclusão do capítulo 16. A explicação preferida dos teólogos liberais para Marcos 16:9 envolve uma acirrada discussão sobre a veracidade de manuscritos, como vemos no exemplo a seguir: Os dois melhores e mais antigos manuscritos que conhecemos, o Vaticano (B) e o Sinaitico (representado às vezes por S, outras vezes pela letra hebraica alef) e os MS 304 omitem os versos 9- 20. A evidência do manuscrito 2386 é inconclusiva, pois, além de omitir os versos 9-20, o manuscrito não contém a última página (...). O resultado dos estudos críticos mais recentes, aceito pela maioria dos estudiosos, é que os versos 9-20 não foram escritos pelo mesmo autor do Evangelho, na seção que corresponde a Mar. 1.1-16.8, mas for[ am acrescentados, talvez nos meados do segundo século de nossa era.[4]

Champlin registra que: Quatro términos do evangelho segundo Marcos figuram nos manuscritos. Os últimos doze versículos do texto comumente recebido de Marcos se fazem ausentes nos mais antigos manuscritos gregos.[5] Assim, seguem muitos teólogos, afirmando que o trecho de Marcos 16:9-20 não foi escrito por Marcos. O que não pode ser negado, entretanto, é que Marcos 16:9-20 existe em mais de 1800 manuscritos. E, sobre esse trecho, a opinião do respeitado teólogo Fritz Rienecker é importante: Para a nossa vida de fé (...) os versículos 9-20 são palavras de Deus como todos os outros versículos da Escritura, pois estão em nosso NT. [6]

Agora, vamos à interpretação correta de Marcos 16:9. No original grego, o texto foi escrito assim:

A tradução Revista e Atualizada – RA – traduz esse texto desta forma: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria madalena, da qual expelira sete demônios. A Edição Contemporânea, por sua vez, traduz o texto assim: Tendo Jesus ressurgido de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. Na Nova Tradução na linguagem de Hoje – NTLH –, o texto está traduzido desta maneira: Jesus ressuscitou no domingo bem cedo e apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios. Com base nessas traduções, Jesus teria ressuscitado no domingo pela manhã. Mas a questão é: Essas traduções expressam o que está dito no original grego? A resposta é: Não! No original, o início do versículo está escrito assim: A tradução literal é esta: Tendo-se levantado,
() porém, cedo em primeiro sábado ...). Perceba, estudante, que as traduções (dé), que equivale à conjunção adversativa tradicionais omitiram a conjunção é uma conjunção adversativa “porém” da língua portuguesa. No grego, o termo e também pode ser aditiva, dependendo da oração. Quando são adversativas, como neste caso, as conjunções têm como função, além de ligar duas sentenças (sentenças coordenadas), firmar uma divergência de sentido da segunda sentença em relação à primeira, ou seja, aquela se estabelece para ser uma negação desta, por meio da conjunção, que carrega o sentido de contrariedade e que, por isso, é chamada de adversativa. Ora, no texto bíblico em questão, a primeira sentença – Tendo-se levantado – apresenta um primeiro evento: a ressurreição de Jesus, sendo seguida da conjunção – porém – e da expressão adverbial de tempo – cedo em primeiro sábado –, que é uma informação acrescentada à segunda sentença – apareceu primeiro a Maria, a Madalena –, que apresenta um segundo evento: a aparição do Senhor.

O que precisamos entender, agora, é por que a expressão adverbial de tempo – cedo em primeiro do sábado – está para a segunda sentença e não para a primeira: A preferência do escritor por uma conjunção adversativa, entre ambas as sentenças, é definitiva para a interpretação correta deste texto, pois mostra que ambos os eventos estão em relação de oposição, quanto ao momento de sua ocorrência, sendo que a conjunção adversativa – porém – afeta especificamente a expressão temporal – cedo em primeiro do sábado – que se segue à primeira sentença – Tendo-se levantado. Isso deixa claro que o autor, ao invés estar afirmando que a ressurreição ocorrera em cedo em primeiro sábado, está, na verdade, negando isso e, ao mesmo tempo, afirmando que esse momento refere-se ao evento da aparição. Por essa razão, a expressão adverbial de tempo jamais poderia estar para a primeira sentença. Em outras palavras, na primeira parte de Marcos 16:9, está-se afirmando que Jesus ressuscitou, porém, estando ressurreto, no primeiro dia após o sábado, apareceu a Maria madalena. O “primeiro dia após o sábado”, portanto, refere-se ao seu aparecimento e não ao dia de sua ressurreição.

Com isso, concorda Champlin: Este versículo leva-nos a aparição a Maria Madalena, o que não é realmente mencionado nos evangelhos sinóticos, exceto agora, neste sumário.[7]

Também, o Novo Comentário da Bíblia diz que o Trecho contém quatro seções: a aparição a Maria Madalena (9-11); a aparição aos dois viajantes (12 e 13) a aparição aos onze (14-18), a ascensão e exaltação (19 e20).[8]

Em nenhuma dessas sessões o assunto é a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana. Esses equívocos de traduções acontecem, em parte, porque a pontuação, nos textos da Bíblia, é atribuída ao arcebispo Langton, ainda no século XIII. Assim, quando o texto foi escrito originalmente, não continha nenhuma pontuação. Isso quer dizer que seu sentido deve ser sempre entendido pelo contexto. As traduções mais conhecidas colocam uma vírgula após as palavras “primeiro dia da semana”, e, por essa razão, dão a entender, erroneamente, que foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Em outra parte, percebe-se a má fé de pessoas que conhecem as regras de interpretação das Escrituras, mas que preferem ignorá-las, quando lhes convém.

Por outro lado, o Novo Testamento Interlinear apresenta a tradução correta: Tendo-se levantado, porém, cedo em primeiro do sábado, apareceu primeiramente a Maria, a Madalena, de quem havia lançado fora sete demônios.

A Nova Versão Internacional omite o porém, mas tem o mérito de colocar a vírgula no lugar certo, respeitando o sentido correto do texto original: Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena. Essas versões honestas estão em total harmonia com o contexto imediato de Marcos 16, em que os versículos 1,2,5,6, informam que, no domingo, pela manhã, quando as mulheres foram ao sepulcro, bem cedo, o anjo lhes comunicou que Jesus já havia ressuscitado: Depois que terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, a mãe de Tiago, compraram perfumes para perfumar o corpo de Jesus. No domingo, bem cedo, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. Então elas entraram no túmulo e viram um moço vestido de branco sentado no lado direito. Elas ficaram muito assustadas, mas ele disse: —Não se assustem! Sei que vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado; mas ele não está aqui, pois já foi ressuscitado. Vejam o lugar onde ele foi posto. (NTLH)

Essa interpretação correta está totalmente alinhada com as narrativas dos demais evangelistas, Mateus e Lucas (Mt 28:1-6; Lc 24:1-10), e com a narrativa mais detalhada de João (20:1-18), que tem a seguinte seqüência: No v.1, Cristo se apresenta a Maria Madalena no sepulcro, bem cedo; no v. 2 é dito que ela correu e foi avisar os discípulos; nos vv. 3-9, Pedro e João vão, imediatamente, ao sepulcro e confirmam a notícia, mas não vêem a Cristo; por isso, o v. 10 diz: Os discípulos voltaram para casa. Maria, porém, ficou à entrada do sepulcro chorando. Ela ficou ali sozinha, até que Jesus Cristo se apresentou a ela (vv. 11-17). Foi, exatamente, a esse encontro que Marcos se referiu, em 16:9. Como Pedro e João só viram o túmulo vazio, Maria Madalena, agora já tendo se encontrando pessoalmente com o Salvador, foi outra vez aos discípulos e lhes disse: Eu vi o Senhor; e contou-lhes o que ele lhe dissera (Jo 20:18). Esta é, amado estudante, a verdadeira interpretação de Marcos 16:9: Jesus ressuscitou, conforme Mateus 28:1-6, ao pôr-do-sol de sábado, e, quando Maria Madalena foi ao sepulcro, na manhã do primeiro dia, lá foi Jesus e se apresentou a ela. Não temos, com esse texto, nenhuma prova de que Jesus ressuscitou no domingo de manhã, e muito menos de que o domingo seja o dia de repouso dos cristãos.

CONCLUSÃO: Vivemos um momento delicado no mundo cristão, em que muitas teologias têm aparecido para enganar os filhos de Deus. O perigo é tão grande que o próprio Jesus avisou que, se possível, os eleitos seriam enganados (Mt 24:24). Diante dessa avalanche de heresias e enganos, precisamos nos firmar em Cristo, através do conhecimento perfeito de sua Palavra. Essa luz nos dará condições para nos livrarmos das trevas espirituais que cobrem os corações enganadores e enganados. A verdade é essa luz que ilumina o caminho da vida (Pv 6:23). Por essa razão, reafirmamos nossa atitude de não alterarmos os fundamentos da lei de Deus, porque é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom (Rm 7:12). Na Lei, nos dez mandamentos, o dia de descanso não é o domingo, mas, sim, o sétimo dia da semana. Não se trata de um decreto humano, mas divino: A parte legal consiste dos dez mandamentos que formam a lei fundamental da teocracia e dos estatutos que nele se baseiam.[9] O doador dos dez mandamentos é Deus. Moisés é apenas o transmissor ao povo. Não o seu autor. Este é Deus.”[10]

QUESTIONÁRIO:

Como os defensores da extinção da guarda do sábado no sétimo dia da semana interpretam Mc 16:9?

Com base no segundo comentário, qual é a tradução correta de Mc 16:9, do grego para o português?

Com base na tradução correta, faça a conexão de Mc 16:9 com o seu contexto (Mc 16:1-2,5-6) e responda: Jesus ressuscitou no domingo pela manhã?

Agora, explique a interpretação correta de Mc 16:9.

Em que sentido Jo 20:1-18 confirma a interpretação correta de Mc 16:9?

Da interpretação correta e da interpretação incorreta, que lições você tira para a sua vida espiritual?

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[1] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Milenium Distribuidora Cultural Ltda., 1983, 4a Impressão Vol. I, p. 799.

[2] FILHO, Isaltino G. Coelho. A Atualidade dos Dez Mandamentos, São Paulo: Exodus, 1997, p.61

[3] Idem, pp. 53-66

[4] Estudos Introdutórios nos Evangelhos Sinóticos, p.p. 214-216. (FALTA RESTANTE DA REFERÊNCIA)

[5] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Milenium, Vol. I, p. 801.

[6] POHL, Adolf. Evangelho de Marcos – Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1998, pp. 460.

[7] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Vol. I, Milenium, p. 802.

[8] Novo Comentário da Bíblia, Vol. 2, p.1025. (COMPLETAR REFÊNCIA)

[9] John D. Daves, Dicionário da Bíblia, p. 256

[10] Atualidade dos Dez Mandamentos, p. 30 (COMPLETAR REFERÊNCIA)

 
 
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