VII- A Girafa e a Vitória Final

1ª Parte

de

Ilona Bastos

 
                       
         
         
    O Macaco Esperto mostrou-se um precioso auxiliar da Girafa Cientista. Para além de lhe fabricar saborosas refeições - em que abundavam os ovos estrelados e as batatas fritas estaladiças -, mantinha a sua ama informada dos rumores da floresta: não havia boato ou notícia que não lhe chegassem aos ouvidos. E foi por esta via que a Girafa soube dos planos do tigre Tigrês para atacar o Leão Beltrão e tomar o seu lugar no trono.

- Não posso acreditar que seja verdade! - exclamou a Girafa perante tão tristes informações.

- Mas é! - garantiu o Macaco Refilão. - Contou-me o meu primo Zeferino que lhe disse o pirilampo Pimpão que ouviu o beija-flor Franquelim sussurrar ao sapo Saltitão que o tigre Tigrês anda a congeminar um golpe, e que pretende pô-lo em prática nos próximos dias.

- Então, não temos tempo a perder - disse a Girafa. - Corramos a avisar o Rei!

E lá foram os dois, a grande velocidade, para o castelo, onde puseram sua majestade, o Leão Beltrão, a par da conspiração que se preparava para o depôr.

- Cientista Real e assistente, as notícias que me trazeis são preciosas, mas confirmam, infelizmente, os meus piores receios - declarou o Leão. - O Tigrês é um adversário traiçoeiro e não descansará enquanto não tomar o poder pela força. Se isso acontecer, não duvido de que se tornará no pior ditador que a savana já conheceu. Em tudo quererá mandar e todos submeterá aos seus caprichos.

- Majestade, não permitais que isso aconteça! - suplicou o Macaco, com ardor.

O Leão abanou a cabeça e abriu as patas, num gesto de desalento.

- O Tigrês é astucioso, está bem armado, e os seus apoiantes são ferozes...

- Mas também vós contais com um exército jovem e cheio de vigor! - assegurou o Macaco.

- E eu cá me arranjarei para preparar um liquidozinho mágico que o transformará no mais valoroso exército do mundo! - concluíu a Girafa Cientista erguendo-se, de olhos a brilhar.

- Tendes razão - concordou o Leão Beltrão.- Cuidarei de bem treinar os meus soldados. E a ti, Cientista Real, encarrego-te de preparares a mais poderosa arma do mundo!

A mais poderosa arma do mundo! Capaz de impedir os ataques do Tigrês e seu séquito! Ah, como a Girafa Cientista gostava de desafios, e como se sentia importante, estimulada, inspirada perante a grandiosidade da sua missão!

Acompanhada do seu fiel assistente Macaco Esperto, a Cientista Real correu para o laboratório e de imediato se lançou ao trabalho, sem comer, sem dormir, dia e noite, sem parar. Precisava de inventar uma poção mágica que transformasse os súbditos do Leão Beltrão em poderosos guerreiros, valorosos defensores do seu Rei.

Pensou, pensou a Cientista Real no tão desejado invento, e mil vezes misturou líquidos e pós que depois deu a experimentar ao Macaco Esperto. Satisfeito pela honra de participar em tão importante projecto, o Macaco transformou-se, primeiro, num pato marreco careca, e depois, num camelo sem corcovas.

A Girafa já transpirava, de tanto esforço despendido, e começava a ficar decepcionada com as suas invenções. É que o pato marreco careca não parecia minimamente ameaçador - a menos que fizesse cócegas nos inimigos, o que não era o caso - e o camelo sem corcovas, embora jogasse bem xadrez e percebesse muito de futebol, apresentava-se igualmente inofensivo.

- Uma arma poderosa! - repetia a Girafa, febrilmente, escolhendo novos ingredientes do seu famoso armário. - A arma mais poderosa do mundo!

E foi então que, num rasgo de genial inspiração, preparou uma poção mágica de um esplêndido tom dourado, que rapidamente transformou o Macaco Esperto num porco-espinho.

   
 
         
   

 

   

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A Girafa e a Vitória Final

2ª Parte

         
   
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