Capítulo
Dois Adriana tinha
certeza que o marido faria questão de levá-la à faculdade, e tinha certeza
também que ele ficaria muito irritado caso ela não o aguardasse, mas já era
quase sete horas da noite e Roberto não havia retornado de uma obra que fora
visitar no início da tarde. Durante mais de meia hora, ela tentara falar com ele pelo
celular, porém apenas a voz fria e indiferente da secretária eletrônica a
atendia. Não posso aguardar
mais, disse a si mesma, depois de pegar o
telefone e fazer mais três tentativas frustradas de conversar com o marido. Seja o que Deus quiser! Faltavam
apenas alguns minutos para o início da aula quando Daniel Pacheco Diniz entrou
na sala de número 300 e observou de pé os quase cem alunos do primeiro ano de
arquitetura. E, mais uma vez, como acontecia todos os anos desde que começara a
lecionar, os novos alunos, ou, como os veteranos denominavam, os “bixos”, o
confundiram como sendo também um deles. De fato, Daniel em nada se parecia com a figura
preconcebida que geralmente as pessoas faziam dos professores de faculdade.
Jovem e desembaraçado, era alto, com pele morena bronzeada pelo sol e
indiscutivelmente bonito. Seus grandes olhos verdes, mesmo escondidos por trás
dos óculos, que ele em vão fazia questão de colocar para manter uma aparência
mais velha, chamavam a atenção das alunas. − Boa-noite. Sou o professor Daniel Pacheco – apresentou-se
ele, após o toque da campainha, às sete e meia em ponto – e vou ensinar a
vocês: História das Artes. Alguns alunos ainda pareciam não estar levando a sério, e
um deles chegou a brincar com Daniel. − Ei, cara, saía logo daí, antes que o professor chegue e te
coloque pra correr. Daniel fingiu não ouvir. Afinal havia quatro
anos que lecionava naquela mesma faculdade e sabia que o primeiro dia de aula
era sempre assim: primeiramente, ele tinha de enfrentar o choque dos “bixos”, e
depois, o descrédito. Tudo isso devido a sua pouca idade. Mas o pior problema para Daniel não era enfrentar o
descrédito dos alunos, visto que essa primeira impressão ele tirava de letra já
no início das aulas. Seu pior problema era o assédio das alunas, que já lhe
tinham concedido, nos anos anteriores, o título de homem mais bonito da
faculdade. As alunas costumavam dizer que o único defeito de Daniel era ser “professor”.
Obviamente isso poderia ser motivo de orgulho para qualquer
outro rapaz, mas não o era para Daniel. Pois o reconhecimento que ele buscava
não era o físico e sim o intelectual. Filhos de pais muito ricos, Daniel desfrutara, desde
criança, o privilégio de poder estudar nos melhores colégios de São Paulo. E
ele aproveitou bem tudo isso, já que sempre tivera verdadeira paixão pelos
estudos, principalmente por história e arte moderna. Tanto que fora considerado
aluno nota 10 em todos os colégios que freqüentara. E esse seu fascínio e
dedicação renderam-lhe um convite para dar aulas na faculdade em que se
formara, feito diretamente pelo reitor, assim que se bacharelou. Uma verdadeira
honra para um recém-bacharel. E este mesmo reconhecimento ele buscava agora
entre os alunos. − Bem, alguns de vocês devem estar se perguntando – continuou
ele, enfrentando os olhares ainda desconfiados dos alunos –: por que estudar
história das artes? Eu explico: Embora muitos pensem que não, desenvolver o
gosto pela arte é imprescindível para toda e qualquer pessoa. Afinal,
é através da arte que o homem tentou e tenta
passar a sua visão do mundo, tanto ao seu redor como dentro de si mesmo.
Portanto, através do estudo das artes – frisou mais uma vez –, vocês irão
aprender muito mais sobre si mesmos, sobre a natureza e seus antepassados... O ônibus
estava lotado e o trânsito infernal. Por isso, quando Adriana chegou à
faculdade, estava quase meia hora atrasada. Ela aproveitou a distração do
professor, que escrevia algo no quadro-negro, para entrar sorrateiramente pela
porta esquerda da sala e sentar na primeira carteira vaga que encontrou,
próxima à parede. E ficou surpresa ao reconhecer o primo, o qual não via há
mais de dez anos, quando ele virou. Daniel?!
Dani! Adriana e Daniel foram criados praticamente juntos, moravam
na mesma rua e eram grandes amigos quando crianças. Ela guardava em sua memória
maravilhosas recordações daquela época, em que juntos, ela e ele, corriam de
mãos dadas pelas ruas do bairro de Perdizes. Tempos felizes
aqueles, refletiu, enquanto sua mente
fazia um regresso rápido pelo tempo, e imergia com tudo em doces lembranças de
uma paixão memorável. Ela estava com menos de quatorze anos de idade e Daniel
com dezesseis quando se descobriu completamente
fascinada por ele. Mas isso somente aconteceu depois que ele a beijara. Embora
fosse ela que tivesse pedido-lhe um beijo. − Você tem certeza?! – perguntou
ele. A surpresa no tom de voz de
Daniel fez com que Adriana se sentisse meio idiota. Mas ao lembrar-se que fora
alvo de gozações das amigas da escola, porque era a única do grupo que nunca
havia sido beijada, ela não hesitou. Ao contrário. Ergueu-se na ponta dos pés e
ofereceu com decisão os lábios inocentes a ele. − Vamos, beije-me, Dani. Quero
apenas experimentar. Minhas amigas dizem que é gostoso... que tem gosto de
hortelã. E eu sou a única que nunca foi beijada. Gosto de hortelã?! Daniel achou
estranho. Nunca havia sentido gosto de hortelã na boca de uma menina, a não ser
que ela tivesse chupado bala desse sabor antes. De qualquer forma, ele concluiu
sensatamente que era melhor não dizer nada. − Mas... Aqui? Na calçada? − E por que não? – perguntou ela
com uma pontada de irritação. − E se seus pais nos virem? Você
não tem medo que eles nos vejam? − Tem razão! – respondeu Adriana,
com frustração condizente aos exageros da adolescência. Em seguida, teve uma
boa idéia. – Que tal então no jardim? Ele coçou a cabeça, meio sem
jeito. − Pode ser. Adriana puxou-o para o quintal
nos fundos de sua casa. Depois, jogou a mochila num canto e encostou-se sob uma
árvore que ficava fora da vista de qualquer janela ou porta. − Está bom aqui? − Sim. Está – respondeu ele,
completamente embaraçado agora. − Então vamos, Dani – ela já estava
impaciente –, beije-me logo. A hesitação agora foi breve.
Afinal, quem poderia resistir a uma boca tão tentadora?, perguntou-se Daniel,
quando ela tornou a se erguer nas pontas dos pés e oferecer-lhe os lábios
carnudos. Além disso, ocultamente, há algum tempo ele sentia-se atraído pela
prima. Embora jamais tivesse demonstrado tal sentimento, pois era tímido demais
para isso. Além de jovem demais para compreender que o que sentia não era
simplesmente atração. Apesar da timidez e da juventude,
porém, Daniel a envolveu em seus braços com firmeza suficiente para arrancar-lhe
um suspiro. E consumou um beijo cálido, intenso, quando ela fechou os olhos e
entreabriu os lábios. Adriana achou que tinha alguma
coisa de errado com seu coração quando ele disparou. Nenhuma de suas amigas
haviam lhe dito que isso acontecia. Mas elas também fizeram uma comparação
ridícula quando lhe disseram que o beijo tinha gosto de hortelã, pensou ela.
Embora não tivessem exagerado nem um pouco quando disseram que era muito
gostoso. Ela também não compreendeu porque
seu peito estufara ou porque se sentia flutuando como uma pluma. Será que todas
as pessoas se sentiam assim quando beijavam?, especulou ligeiramente, sem saber
que a impressão de Daniel era justamente o contrário. Daniel sentia-se
afundando à medida que aprofundava o beijo e os corpos se comprimiam cada vez
mais um contra o outro. − Dani... O nome saiu no meio de um
murmúrio de prazer quando ele mudou o ângulo do beijo, e ela se apertou ainda
mais contra ele. Será que Adriana tinha noção do quanto o estava enlouquecendo?
Ou do quanto era difícil para um cara de sua idade controlar o impulso sexual
que turbilhonava seu corpo?, Daniel perguntou a si mesmo. Em seguida,
ordenou-se a se controlar e encerrou o beijo, antes que não tivesse mais
condições de fazê-lo. − E aí, o que achou? Ela ainda sentia o coração
batendo muito rápido quando ele a soltou. Então era assim? Nossa! Aquilo era
demais! Mas ela não tivera coragem de dizer-lhe o que achou e, menos ainda, o
que sentiu. Como poderia dizer que sentiu
um desejo intenso, quase transtornante, de se fundir com ele? Ou explicar que
na mesma intensidade do desejo algo de repente despertara em seu coração? − Eu... ahn... preciso entrar. E correu para dentro de casa.
Depois, sentiu-se uma completa imbecil pelo que fizera. Porém não houve tempo
para conversar com Daniel sobre o assunto, pois, no dia seguinte, Filomena teve
uma recaída forte e faleceu em poucas semanas. Ela mudou-se então para Santos e
nunca mais voltou a vê-lo. Restavam
cinco minutos para o encerramento da aula quando Daniel recolheu a lista de
presença assinada pelos alunos e resolveu chamar aleatoriamente alguns nomes
para confirmar o comparecimento. Mas
quando bateu os olhos no primeiro nome da lista seu coração quase parou, a voz
falhou. Adriana Diniz Martinez. Adriana?!
Dri! Com um esforço, ele pronunciou o nome e levantou os olhos,
tentando reconhecer, entre os quase cem alunos, aquela por quem seu coração
perdia completamente o compasso na adolescência. Adriana ergueu a mão e aguardou ansiosa que o primo olhasse
em sua direção e a reconhecesse. Ela mudara um pouco, estava mais esguia, o rosto mais
refinado e os cabelos castanhos estavam um pouco mais escuros e lustrosos, além
de mais compridos. Apesar disso tudo, ele a reconheceu no mesmo instante. E,
por um longo momento, Daniel manteve-se olhando fixamente para ela, incapaz de
fazer qualquer outra coisa, a não ser, fitá-la. Adriana contraiu os lábios num sorriso constrangido, quando
um rapaz, logo atrás dela, comentou em voz alta: − Humm... pintou um clima. A turma toda caiu na risada e Daniel lançou um olhar
impaciente ao aluno alto e de rosto estreito. Ia dizer alguma coisa, entretanto
a campainha tocou. Mal sabia ele que aquele mesmo aluno, metido a
engraçadinho, um dia iria tornar-se um de seus melhores amigos. Apressado, Daniel levantou e fez um sinal de despedida para
a prima. Em seguida se dirigiu para a sua próxima turma, onde teria que dar
apenas mais uma aula para encerrar seu expediente. Mas ele não conseguiria
dormir sossegado se não a visse novamente, por isso aguardou até a última aula. Os lábios de Adriana se entreabriram em surpresa ao vê-lo
em frente à porta de sua sala. − Olá, Dani. O que faz aqui?! − Eu? Bem... – Ele pensou em inventar uma desculpa qualquer.
Talvez assim não se sentisse tão tolo. Mas detestava mentir. – Sinceramente, eu
apenas queria vê-la de novo. Ela reprimiu a vontade de abraçá-lo com um sorriso
encantador. Aquele mesmo sorriso que Daniel lembrava-se tão bem. − Acho que vai até enjoar de me ver, Dani. Afinal, é meu
professor agora. Enjoar? Não. Isso jamais aconteceria, pensou ele, enquanto
sentia o coração disparado. Era incrível e até mesmo ridículo que se sentisse
assim, mas ele não podia evitar. Estava tão nervoso que mal sabia o que dizer. − Você... sumiu. O que aconteceu? Por que nunca mandou notícias? − Tanta coisa... – Ela lutou para não deixar transparecer
qualquer amargura no seu tom de voz. – Acho que levaria dias lhe contando. Sem se dar conta do gesto, mas exatamente como fazia quando
menino, Daniel agarrou a mão de Adriana e entrelaçou seus dedos aos dela,
enquanto caminhavam em direção ao pátio. A mão de Adriana enrijeceu, numa reação automática. Em
qualquer lugar que estivesse, tinha sempre a impressão que Roberto estava por
perto, vigiando cada movimento seu. Pura
paranóia, disse a si mesma, tentado relaxar. − E o seu pai? – Daniel puxou um assunto. – Onde está? − Em Santos. − E ele está bem? − Está ótimo – respondeu ela, sorrindo outra vez. – Ele
casou-se novamente. − Puxa, que bom! – tornou Daniel com franqueza. – Pensei que
ele não se recuperaria nunca da morte da tia Filó. − De fato papai sofreu muito com a morte da mamãe. − E você? Como está? – Ele girou o rosto na direção dela
enquanto fazia essas perguntas. Adriana estava com um traje discreto, um
tailleur preto simples. Apesar disso, Daniel achou que ela estava simplesmente
linda. Mas achou também que ela parecia estranhamente frágil, vulnerável e
hesitante. Além disso, havia algo
naquele belo par de olhos castanhos que ele não saberia explicar. – O que anda
fazendo da vida? − Eu estou ótima. – Ela continuou tentando parecer natural. –
Casei-me também e tenho uma filhinha de cinco anos. Daniel parou de repente. Não deveria ter ficado tão
desapontado. Mas ficou. − Você está casada?! − Há cinco anos – confirmou. – E mudei para São Paulo porque
meu marido foi transferido para cá. − Fico feliz por você – disse ele, e soltou a mão dela quase
no mesmo instante. – Você merece ser feliz. Feliz?!
Quem me dera. − E você? Casou? − Ainda não – respondeu ele com um sorriso, para disfarçar
seu desapontamento. − Ainda não? Por quê? Está noivo ou algo do tipo? − Não. Nada disso. – Daniel colocou a mão que estava agarrada
a da prima dentro do bolso da calça social que combinava com a camisa, porque
sentia uma vontade quase incontrolável de tocá-la. – Mas tive um relacionamento
sério com uma garota. Vivemos por três anos juntos e tivemos um filho. − E ele mora com você? – perguntou Adriana, apenas por
curiosidade. – Qual o nome dele? − Felipe. Ele mora com a mãe − Deve ser um lindo garotinho. Dessa vez, Daniel sorriu com espontaneidade. − Sem querer ser coruja, ele é mesmo um lindo garoto. Por uma fração de instante, Adriana especulou
como teria sido sua vida se não tivesse mudado para Santos, logo após a morte
da mãe. Será que ela e Daniel teriam namorado? Casado? Seriam felizes ao lado
um do outro? Não importava isso agora, disse a si mesma. Suas vidas haviam
tomado rumos completamente diferentes. E a memorável paixão que sentira pelo
primo era apenas algo que deveria ser preservado como uma boa lembrança, e nada
mais. − Preciso ir agora, Dani. Já está ficando tarde e meu marido
vai ficar preocupado. − Entendo... Os olhos se encontraram nesse instante e permaneceram fixos
um no outro até que Adriana ficou completamente embaraçada e repetiu: − Preciso ir agora. − Você está de carro? – Ele queria apenas um pouco mais da
companhia dela. – Eu poderia levá-la. De
jeito nenhum!, pensou Adriana. O Roberto iria me matar se me visse no
carro de outro homem. − Não precisa. Obrigada. − Você mora aqui perto? − Moro. − Onde? − No Tatuapé. − Não é tão próximo assim. − Também não é tão longe. − Eu posso levá-la. – Ele insistiu. – Não me custa nada. − Eu agradeço, Dani, mas realmente não precisa. Além disso,
pode ser que... Bem, pode ser que o Beto, meu marido, esteja me aguardando lá
fora. Ele entendeu o recado. − Está certo. Então, boa-noite! Após um instante de hesitação, Adriana se
aproximou e, erguendo-se na ponta dos pés, beijou-o suavemente na face. − Boa-noite. Foi um prazer muito grande em revê-lo. − O prazer foi todo meu. − Ah, mande lembranças ao Tio Pedro e a tia Wilma – pediu
ela, mesmo sabendo que talvez os tios não se alegrassem nem um pouco em saber
que ela estava de volta a São Paulo. − Pode deixar. Ela caminhou em direção ao portão. Depois,
virou-se rapidamente para olhar para trás. Daniel continuava parado no mesmo
lugar, com uma das mãos enfiadas no bolso e a outra segurando uma pasta de
couro. Estava muito elegante, e um pouco diferente também, notou Adriana.
Afinal o garoto outrora magro e de feições delicadas, tinha agora um rosto mais
quadrado e ombros largos. − Até a próxima aula, professor. − Até a próxima – respondeu Daniel, já se sentindo ansioso
por chegar quinta-feira. Adriana
chegou quase meia-noite a sua casa, e por um momento percebeu-se rezando para
encontrar Roberto dormindo. Porém, ao contrário, ele estava muito acordado,
praticando boxe num pequeno quarto aos fundos da casa. Ela subiu ao quarto em passos curtos e leves, na intenção
que o marido não notasse sua chegada, pois assim poderia dizer que chegou mais
cedo. Seu plano, no entanto, não deu certo, porque assim que começou a
despir-se, Roberto apareceu e perguntou: − Por que chegou tão tarde? Adriana não o vira entrar, por isso foi impossível não se
assustar. − Oh, Beto, que susto você me deu! − Por que chegou tão tarde? – perguntou ele outra vez. − O ônibus... ele... ele demorou demais. Roberto sabia que era mentira, pois estivera na faculdade
desde as dez e meia. Só não sabia por qual motivo Adriana demorara tanto dentro
da faculdade, já que permanecera o tempo inteiro dentro do carro, escondido. Será que ela estava com outro lá dentro?
Será que reencontrou algum namoradinho da adolescência? Se não foi nada disso,
por que diabos ela demorou tanto para sair? E por que está mentindo? Essa história está muito mal contada e eu
vou descobrir o porquê, ele disse a si mesmo. Mais cedo ou mais tarde, eu vou descobrir. − E por que você não esperou por mim? Eu ia levá-la à
faculdade. − Mas eu... eu esperei, Beto – Adriana odiou-se por não
conseguir controlar a gagueira. – Es-esperei até praticamente sete horas da
noite. − Eu cheguei sete e
cinco – replicou ele com uma intensidade ameaçadora na voz –, e você não
estava mais lá. Se tivesse me esperado por mais cinco minutos eu teria te levado. − Eu... eu não sabia a que horas você ia chegar. E não queria
chegar muito atrasada em meu primeiro dia de aula. Prometo que amanhã eu lhe
espero. A promessa de Adriana pareceu acalmá-lo um pouco. Ela
aproveitou para tentar mudar de assunto. − E a Lê, tudo bem com ela? − Como uma filha pode ficar bem tendo uma mãe tão omissa? − Você está sendo injusto comigo, pois sabe muito bem que sou muito carinhosa e dedicada... − Ah, é?! – desdenhou Roberto. – Quer dizer que passar o dia
inteiro fora e chegar mais de meia-noite em casa, quando sua filha já está
dormindo há muito tempo, é ser carinhosa? Dedicada? Ele sabia mesmo como fazê-la se sentir uma megera, pensou
Adriana, antes de pegar uma camisola e dirigir-se chateada para o banheiro.
Roberto foi atrás. − Por favor, Beto, deixe-me ao menos tomar um banho em paz. Ele a segurou pelo braço e a puxou para si. − Dri, eu te amo. E se digo tudo isso é para o bem de nossa
filha. Adriana tentou se desvencilhar dos braços do marido, no
entanto sua força era ínfima em comparação à dele. − Eu vou recompensar a Letícia de todas as formas possíveis.
Pode ter certeza disso. − E eu? – perguntou Roberto, enquanto a apertava contra seu
corpo ardente. – Eu não vou ser recompensado? Os olhos de Adriana encheram-se de lágrimas. Estava cansada
e morta de sono. Não sentia nenhuma vontade de fazer amor, naquele momento. Mas
tinha certeza que se não aceitasse por bem ele a obrigaria, como já fizera
inúmeras outras vezes. − Claro. [Continua no próximo capítulo...]
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