Capítulo

Nove

 

 

 

 

 

 

 

Os nervos de Adriana estavam à flor da pele quando ela se encontrou com Daniel no estacionamento. Mal havia conseguido trabalhar o dia inteiro pensando nisso.

  Olá, Dani.

Ele sentiu uma onda de alívio ao vê-la. Pensara o dia inteiro que ela não iria ao seu encontro.

  Olá, Dri.

  Desculpe o atraso. Eu estava terminando de copiar a matéria – explicou com um sorriso tenso, após se acomodar no confortável banco do passageiro.

Ele tomou a mão dela por um momento e segurou entre as suas.

  Sua mão está gelada.

  Estou apenas um pouco nervosa.

  Não precisa ficar assim. Está segura comigo.

Ela não conseguia evitar. Tinha impressão que estava sendo constantemente seguida.

  Eu sei que sim – respondeu. Mas, antes de passarem pelo portão da faculdade, ela se encolheu no banco e baixou a cabeça.

Daniel encontrou um discreto restaurante a alguns quilômetros dali. E, embora não estivessem com nem um pingo de fome, quando um jovem maître se aproximou, pediram a especialidade da casa: carne de cordeiro grelhada.

  Acho que não deveria ter vindo...

Ele voltou a segurar a mão dela entre as suas.

  Por que não?

Ela retirou a mão sem responder. Daniel desviou então o assunto para dar tempo para Adriana relaxar.

  Não imagina como fiquei contente por você ter vindo. Honestamente, temi que não viesse.

  Era a coisa mais sensata a fazer.

Daniel aguardou que o maître, que se aproximou nesse momento para servir o vinho, se afastasse, para perguntar:

  Afinal, Dri, o que está acontecendo?

Ela precisava de um gole de vinho para se acalmar, mas sua mão estava tão trêmula que, quando levou a taça à boca, quase derrubou o líquido na roupa.

  Tanta coisa...

Ele esperou calmamente que ela desabafasse. Mas Adriana ficou calada por um longo momento.

  Fale, Dri – pediu Daniel. – Fale comigo. Eu preciso muito saber o que está acontecendo.

Adriana abriu a boca para falar, mas o maître se aproximou novamente para servir os pratos.

  Vamos comer – sugeriu Daniel, dando um pouco mais de tempo a ela. Depois, experimentou um pouco da carne macia em seu prato e esperou que ela fizesse o mesmo.

  Não sei se tenho coragem de lhe contar, Dani... É tudo tão humilhante.

  Não precisa ter vergonha de mim. Somos amigos, lembra?

Ela cortou mais um pedaço de carne e empurrou para dentro, embora não estivesse sentindo qualquer gosto. Em seguida tomou um gole maior do vinho, para ajudar a descer a carne.

  Fale, Dri – pediu Daniel novamente.

Ela levou a taça à boca outra vez.

  Eu tenho medo...

  Medo? Medo de quem? De seu marido?

Ela simplesmente balançou a cabeça em afirmação.

  Por quê? Por acaso ele a ameaça?

Adriana tornou a balançar a cabeça.

  Que tipo de ameaças ele faz?

Ela permaneceu por mais algum tempo em silêncio.

  Diz que se eu me separar dele nunca mais verei a minha filha.

  Ele não fará nada disso, Dri. As ameaças são apenas para segurá-la ao lado dele.

  Eu não tenho tanta certeza assim.

  E pretende viver com ele a vida inteira sob ameaças?

Apesar do tom suave e calmo que Daniel mantinha na voz, a última pergunta fora dura, direta.

  Não – respondeu ela, constrangida, e levou mais uma vez a taça à boca. – Claro que não.

  E além das ameaças ele bate em você ou na menina?

O pouco de comida que Adriana conseguiu enfiar de goela abaixo, começou a se revirar no estômago.

  Não precisa ter vergonha de mim – repetiu Daniel.

Ela tomou o restante do vinho de uma só golada. A seguir baixou a cabeça e começou a passar o dedo pela borda da taça vazia.

  Há algumas semanas atrás eu tive uma longa e séria conversa com o Beto e pedi o divórcio – disse, após mais um momento de silêncio. – Mas ele disse que me amava, que amava nossa filha e me pediu uma nova chance... Prometeu que ia mudar.

  E você acredita nessa possibilidade?

Adriana continuou de cabeça baixa e concentrada na taça.

  Ele está tentando.

  E você acredita nessa possibilidade? – Ele repetiu a pergunta. Precisava demais ouvir isso dela.

  Quero acreditar... Quero muito. Mas não consigo deixar de continuar sentindo como se andasse sobre um campo minado, onde qualquer movimento em falso pode detonar uma bomba.

Ele percebeu que Adriana estava no limite de suas forças, tentando agüentar firme para não chorar, mas havia ainda uma última pergunta muito importante a fazer.

  Por favor, Dri, me responda com sinceridade: Você ainda ama seu marido, apesar de tudo o que ele lhe fez e faz?

Sem conseguir mais conter as lágrimas, Adriana cobriu o rosto com as mãos.

  É melhor sairmos daqui – decidiu Daniel, e fez um sinal para o garçom fechar a conta.

Depois procurou um local tranqüilo e seguro para estacionar, e acabou encontrando um drive-in não muito longe dali.

  Ainda não entendi – continuou, assim que desligou o carro e puxou o freio de mão – por que você voltou a dar uma chance a seu marido... Você ainda o ama, é isso?

  Não sei... Sinceramente, eu não sei o que sinto – respondeu ela, com a cabeça baixa. – Mas... ele é o pai da minha filha.

Daniel sentiu um nó terrível apertando seu peito.

  Então, você não tem certeza se ainda o ama?

Adriana refletiu por um momento. Será que o que ainda sentia por Roberto era amor?

  Acho... acho que na verdade o amor que eu sentia pelo Beto há muito tempo já não é mais o mesmo. Ele não é a pessoa que eu imaginei que era.

  O que isso quer dizer?

Ela continuou de cabeça baixa.

  Desculpe, mas eu não posso falar sobre isso com você... É muito constrangedor.

  Olhe para mim, Dri – solicitou Daniel, antes de perguntar: – Ele bate em você, não é?

Ela levantou o rosto, mas não olhou na direção de Daniel. Não podia.

  Ele é um homem descontrolado, dominado por um ciúme doentio.

  Então ele bate mesmo em você? – O nó no peito de Daniel quase o matou sufocado agora. – Ah, meu Deus, Dri, como pode aceitar essa situação?

Adriana apertou os olhos com força para não chorar, mas as lágrimas ardiam no fundo dos olhos.

  Eu... sinto dó dele. Ele... ele não faz por querer, Dani.

  Por Deus – rebateu Daniel –, como pode ter dó de um covarde desses?!

Ela baixou o rosto outra vez e as lágrimas escorreram.

  Eu... eu sou mesmo uma tola.

Daniel sentiu uma vontade imensa de gritar, mas não disse nada por um longo momento, apenas puxou a cabeça de Adriana para seu peito e afagou seus cabelos.

  Francamente, eu não consigo entender por que ainda não se separou desse canalha.

  Eu tenho medo, Dani. Tenho muito medo de que ele tome a Letícia de mim. Já lhe falei isso.

  Ele não fará nada, Dri.

Adriana recuou para trás num movimento brusco.

  Você diz isso porque não faz a mínima idéia do que o Beto é capaz de fazer.

Ele tornou a puxá-la para si.

  Talvez você tenha razão... Não faço a mínima idéia do que esse cara é capaz de fazer. Mas faço idéia do que você é capaz. Você sempre foi uma garota cheia de coragem...

As lágrimas agora se transformaram em soluços profundos.

  Essa garota que você mencionou morreu há muito tempo atrás. Foi assassinada pelo destino.

  Não fale assim – pediu Daniel, afagando seus cabelos. – Não diga uma bobagem dessas.

Adriana fechou os olhos, sentindo uma vergonha profunda.

  Acho que decepcionei você, não é?

  Não, Dri. Você não me decepcionou – respondeu ele. – E se digo isso é apenas porque tenho certeza que a garota forte e destemida que eu convivi durante toda a minha infância e início da juventude ainda existe aí dentro.

Ela sugou as lágrimas e se afastou.

  Você tem razão... razão absoluta. Eu nunca fui essa mulher fraca e medrosa.

  Claro que não.

  Meu único medo é perder minha filha. Ela é tudo em minha vida.

O coração de Daniel transbordou de alívio.

  Ele não terá nenhuma chance disso, Dri. Posso arrumar um ótimo advogado para...

  O problema não é esse, Dani. Você sabe disso.

  Sim, eu sei – disse ele, fitando-a densamente. – Mas ninguém pode viver a vida inteira ao lado de um homem por medo.

Os olhos de Daniel tinham a cor da floresta, do mato, das árvores. Era difícil não se sentir reforçada quando se olhava para eles.

  Você tem razão de novo. Tem toda razão.

Ele roçou o dedo pelo rosto de Adriana e desejou que o tempo parasse naquele momento. Mas a realidade era que as horas haviam passado muito rapidamente e já era quase hora de voltar à faculdade.

  Precisamos ir agora, Dani.

Ele balançou a cabeça concordando, mas subitamente deslizou a mão para a nuca de Adriana. Tinha de beijá-la. Oh, Deus, ele tinha de beijá-la a qualquer custo.

Adriana quisera detê-lo, ao pressentir o que estava prestes a acontecer, no entanto, antes que conseguisse esboçar qualquer reação, os lábios macios de Daniel já estavam sobre os seus. E a carga de sentimentos que aflorou nesse instante deixou-a tão atordoada que a paralisou por um longo momento.  

Mas aquilo não podia acontecer. Não podia!, disse Adriana a si mesma, enquanto lutava contra os próprios sentimentos e levava as mãos ao peito de Daniel para tentar afastá-lo. Afinal aquele era um mergulho súbito num passado no qual ela sabia que não teria quaisquer condições de enfrentar naquele momento de sua vida. Todavia, quanto mais Adriana dizia a si mesma que não, mais seu coração vibrava, e seu corpo se comprimia contra o de Daniel.

Aquilo levou Daniel a aprofundar ainda mais o beijo. Contudo, porque não era mais um jovem à flor da adolescência, apressado em possuir a menina dos seus sonhos, assim como a mulher em seus braços também não era a mesma jovenzinha afoita pelo primeiro beijo, ao contrário disso, ela agora era uma mulher confusa, insegura, que comprimia o corpo contra o seu ao mesmo tempo em que tentava empurrá-lo, ele manteve uma das mãos acariciando-lhe suavemente a nuca, num gesto hábil de um homem acostumado a tocar, acostumado a conquistar.

Foi nesse momento que Adriana notou o quanto Daniel também mudara. E se surpreendeu, pois, ironicamente, parecia até que haviam invertido os papéis. Daniel em nada se parecia ao garoto acanhado e inseguro que ela guardara em suas lembranças. Ele sabia exatamente o que queria, e isso era muito óbvio. E ele a queria, e isso era muito óbvio também. Só que aquilo era loucura, pensou ela, e ambos eram suficientemente maduros para saber que não poderiam enveredar por aquele caminho.

  Dani, por favor, não. Não podemos fazer isso.

  Aquele homem não lhe merece, Dri – sussurrou ele, enquanto roçava os lábios pelos dela e aspirava deliciado o hálito quente que vinha de sua boca, o perfume agradável que vinha dos seus cabelos. Daniel sabia que estava tomando um caminho perigoso. Mas sabia também que não poderia lutar contra aquele sentimento forte que incendiava seu coração, seu corpo, sua mente, desde a mais tenra adolescência. – E eu te amo. Sempre te amei.

  Mas...

Adriana foi interrompida por um beijo ainda mais profundo.

  E eu quero você, Dri. Quero você só pra mim.

Ela soltou um gemido. Não era fácil resistir ao desejo intenso que turbilhonava seu corpo, ao clamor de uma antiga paixão que ainda tinha o poder de alterar por completo as batidas de seu coração. Além disso, Adriana tinha certeza que um dia voltaria para os braços de Daniel, pelo menos acreditara nisso durante toda a sua adolescência. Mas... agora era diferente, completamente diferente. Estava casada e era uma mulher íntegra, leal, independentemente da falta de merecimento do marido.

  Não! Por favor, não! – Ela gritou.

Daniel ficou atordoado.

  Oh, Deus, Dri!

  Eu não posso. – E as lágrimas transluziram em seus olhos. – Nós não podemos...

Com o corpo ainda vibrando de desejo e paixão, Daniel recuou ao banco do motorista.

  Perdoe-me – pediu Adriana –, mas eu... eu realmente não posso fazer isso...

Tenso, Daniel baixou a cabeça e massageou as têmporas com as pontas dos dedos, fazendo um esforço para pensar com clareza, compreender aquela situação. Levou algum tempo para isso.

  Eu entendo.

E lentamente encostou a cabeça no encosto do banco e ficou olhando o céu estrelado e a lua bela e solitária no céu.

  Desculpe. – Adriana não parava de se sentir culpada por tudo o que havia acontecido. – A culpa foi toda minha.

Mais calmo, Daniel puxou-a mais uma vez para si e afagou-lhe os cabelos com carinho.

  Não. A culpa não foi sua.

  Eu não deveria ter vindo...

  Não diga bobagem – pediu ele, suavemente.

Ela apertou o rosto contra o peito de Daniel quando as lágrimas afloraram novamente. Ele tornou a desejar que o tempo parasse, mas o relógio parecia cada vez mais veloz.

  Dri, quando pretende se separar de seu marido?

Ela ergueu o rosto para fitá-lo, e as lágrimas escorreram.

  Primeiro tenho que procurar um advogado e saber dos meus direitos.

  Posso contratar um advogado.

  Não quero que se envolva nisso. Já lhe disse isso.

Daniel segurou o rosto de Adriana entre as mãos e passou os polegares pelas faces para enxugar as lágrimas.

  E quantas vezes vou ter que lhe dizer que já estou envolvido?

Ela respirou fundo. Jamais permitiria que Daniel se envolvesse.

  Precisamos ir agora. Já está ficando muito tarde.

Ele não conseguia suportar a idéia de que Adriana tinha de voltar para os braços do marido. Apesar disso, deixou-a no estacionamento da faculdade.

 

  Aconteceu alguma coisa? – perguntou Roberto, quando Adriana se recolheu para deitar. – Chegou tão estranha da faculdade.

Adriana não conseguia tirar da cabeça tudo o que Daniel lhe falara. Sabia que ele tinha razão, não poderia ficar a vida inteira ao lado de um homem por medo. Mas sabia também que Roberto não aceitaria uma separação amigável, e a simples hipótese de que ele pudesse tomar-lhe Letícia, causava-lhe calafrios.

  Não. Nada – respondeu. – Estou apenas com um pouco de dor de cabeça.

Ele a abraçou por trás, quando ela virou de costas.

  Tem certeza? Eu estava tão ansioso.

Ela tentou se desvencilhar dos braços dele, sem sucesso.

  Por favor, Beto, não estou bem hoje.

  Prometo que serei rapidinho – murmurou ele, enquanto já começava a levantar sua camisola.

  Mas que droga, Beto! – Ela virou -se e empurrou-o para o lado. – Me deixa em paz, pelo amor de Deus!

Ele a puxou de volta para seus braços.

  Relaxe, querida. Não vai levar mais do que...

  Ai, meu Deus, que inferno de vida! Não vê que não estou bem hoje!

  Você está sempre cansada ou com dor de cabeça.

Irritada, ela tornou a empurrá-lo e tentou se levantar, mas Roberto a agarrou pelo pulso.

  Estou de saco cheio de suas desculpas esfarrapadas – e entortou a mão de Adriana para o lado quando ela tentou se soltar. – Acha mesmo que eu acredito nessa conversa-fiada?

  Largue-me. Está me machucando.

Ele não a largou.

  Então venha se deitar novamente. Não aceitarei desculpas esta noite.

Era um absurdo muito grande aceitar aquela situação, aceitar que Roberto continuasse dominando-a daquele jeito, pensou Adriana.

  Solte-me, Beto. Caso contrário...

  O que vai fazer? – perguntou ele, quase gritando. – Vamos, responda: o que vai fazer?

  Pare de berrar, seu estúpido. Vai acordar a Letícia.

Ele apertou seu pulso com força suficiente para fazê-la gemer.

  Perguntei o que vai fazer.

Ela conseguiu coragem suficiente para dizer:

  Eu juro que se não me soltar agora mesmo, vou denunciá-lo à polícia, Beto. E eu não estou brincando.

Ele largou-a nesse instante.

  Pois experimente fazer isso e você nunca mais verá a sua filha.

  Não suporto mais suas ameaças. Já agüentei tudo o que podia. Quero a separação, o divórcio.

Enfurecido, ele se levantou, e Adriana se preparou para o pior. Mas Roberto não a agrediu. Não dessa vez. Em compensação, a expressão em seus olhos aterrorizou-a muito mais.

  Já lhe disse, experimente fazer isso e você nunca mais verá a sua filha.

 

Adriana de fato mentira quando dissera que estava com a cabeça doendo, mas, após passar quase a noite toda insone, pensando numa solução para o dilema que se tornara sua vida, amanhecera com a cabeça vibrando de dor.

Ela tomou um analgésico e depois foi à cozinha preparar o café. Em seguida, foi até o quarto de Letícia e acordou-a docemente.

  Vamos, gatinha, acorde. Já é hora.

Quando Roberto desceu, Adriana e a filha já estavam terminando de fazer o desjejum, mas apenas a menina estava arrumada.

  Não vai trabalhar hoje?

  Não – respondeu Adriana sem dirigir-lhe o olhar. – Estou com muita dor de cabeça. Por favor, avise ao Sr. Mário que vou trabalhar somente após o almoço.

Com o rosto impassível, Roberto tomou alguns goles de café e em seguida virou-se para beijá-la, mas Adriana recuou e levou Letícia até o carro. Depois, esperou que ele também saísse para fechar a porta e encostar-se nela. Precisava decidir o que fazer, descobrir uma saída, embora soubesse que não havia uma saída fácil. Se é que havia alguma.

Mas em vez de chorar por isso, Adriana deixou nesse momento que a raiva em seu peito prevalecesse sobre a angústia. E para colocar aquela raiva toda para fora, seguiu para o quartinho onde o marido se exercitava e colocou suas pesadas luvas de boxe. Esmurrou o saco de pancadas com toda a força que tinha, até que praticamente caiu de exaustão no chão gelado.

E ela ainda se encontrava estirada no chão, com braços e pernas abertos, quando a empregada chegou, às oito e meia da manhã.

  Meu Deus! O que aconteceu, D. Adriana?! A senhora está bem?

Ela conseguiu levantar o dedo polegar em sinal positivo, pois, apesar do cansaço e das mãos inchadas, já se sentia um pouco melhor, e os pensamentos começavam a desanuviar. E compreendeu de repente que talvez precisasse mesmo treinar algum tipo de luta para enfrentar o marido, desde que não fosse aquele maldito boxe.

Não, ela não iria fugir. Chegara a cogitar essa hipótese durante toda a noite e até sonhou com isso nos poucos minutos que conseguira pregar os olhos e dormir. Mas não era uma criminosa, portanto não deveria fugir. Ao contrário disso, tinha de enfrentar Roberto e exigir o divórcio, pensou ela, enquanto cambaleava até o banheiro e a idéia começava a lhe parecer razoável.

 E muito embora nunca tivesse gostado de luta e menos ainda de artes marciais, pois seu gosto sempre fora pela dança e a arte, a idéia estava tomando forma cada vez mais prática em sua mente. E enquanto tomava banho, um monte de nome de artes marciais conhecidas veio em sua cabeça: judô, kendô, kung fu, karatê, taekwondo, hapkido, aikido, t’ai chi ch’uan, sem que ela fizesse a menor idéia da diferença entre elas. Apesar disso, estava determinada a procurar uma boa academia e se inscrever o mais rápido possível.

Ainda com esta idéia fixa em sua mente, voltou ao quarto e, após tomar mais um analgésico, estirou-se no leito para dormir. Precisava se recuperar para trabalhar à tarde e à noite ir para a faculdade. Precisava se recuperar para uma batalha. A batalha contra a própria impotência... contra a própria fragilidade física.






[Continua no próximo capítulo...]



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