ENTREVISTA DE EMIR RIBEIRO AO JORNAL "O NORTE"

  A HEROÍNA VELTA RETORNA À PARAÍBA

Emir Ribeiro lança nova revista com sua personagem famosa e diz que sua intenção foi regionalizar sua obra e divulgar o Estado

    
                                              Por Ricardo Anísio

O desenhista paraibano Emir Ribeiro, especialista em quadrinhos, estará lançando na próxima segunda-feira a revista VELTA – NOVA IDENTIDADE PARAIBANA. O evento acontecerá, às 19h, no Casarão 34, na Rua Visconde de Pelotas, no centro da cidade, em frente ao Palácio do Bispo (que fica na Praça Dom Adauto).
Ele fará uma sessão de autógrafos e ainda falará um pouco sobre este formato, que traz suas heroína Velta a alguns pontos de importância turística e histórica da Paraíba, com ênfase em João Pessoa.
Em entrevista exclusiva ao caderno Show, o quadrinhista paraibano explica que razões de localizar esta nova aventura de sua heroína na Paraíba foram “primeiramente para voltar às raízes, e regionalizar ainda mais a personagem: no roteiro, o motivo é que Velta tentará salvar a vida da sua mãe, que é pessoense”.

Confira a entrevista na íntegra:


RA -
Você trouxe Velta à Paraíba para essa aventura com qual objetivo?
ER) Primeiramente para voltar às raízes, e regionalizar ainda mais a personagem.

RA -
Qual é o foco central desta nova aventura de Velta e como ela veio parar em nosso Estado?
ER) No roteiro, o motivo é que Velta tentará salvar a vida da sua mãe, que é pessoense.

RA -
Tratando-se de uma revista que divulga a Paraíba, você teve algum apoio dos órgãos públicos de cultura?
ER) Infelizmente, nenhum. A edição foi toda bancada pelo meu próprio bolso. E não foi por falta de tentativas, pois me inscrevi em todas as leis de incentivo à cultura, assim como bati às portas de órgãos públicos com vistas a patrocinar a edição, e nada consegui. 

RA -
Percebe-se que você ficou algum tempo sem lançar alguma obra; a que se deveu essa reclusão?
ER) Falta de patrocínio, visto que tenho outros materiais prontos, apenas à espera da chance de ser impresso.

RA -
Nos diga quando surgiu a idéia de lançar uma aventura de sua heroína em solo paraibano?
ER) Na verdade, não foi a primeira. Nos anos 70 publiquei uma série de três ou quatro  histórias, em jornais Paraibanos, tendo como cenário a nossa capital das acácias, inclusive mostrando alguns pontos turísticos da época. Portanto, esta aventura atual tem um certo sabor de nostalgia, relembrando essa publicação da década de 70.

RA - De uma forma abrangente como anda a produção de quadrinhos no Brasil?
ER) Praticamente paralisada, pois é sempre muito difícil publicar, e mais difícil ainda colocar numa banca para vender. Ocorre que as grandes distribuidoras, subsidiárias das editoras que republicam material estrangeiro, tem uma força tão grande que conseguem impedir até que a produção de autores locais cheguem às bancas. E dessa forma, isso inibe a produção nacional.

RA -
Aqui na Paraíba, acha que novos nomes têm se dedicado a desenhar e criar histórias em quadrinhos?
ER) Existe um grupo tentando, mas pelo que sei conseguiram apenas imprimir fanzines em cópias xeróx, ou então utilizam a internet como meio de divulgação.
Outro entrave são os preços gráficos, sempre incompatíveis com o orçamento pessoal de cada um.

RA -
Além de Velta você tem algum projeto para outro personagem?
ER) Estou pensando em dar uma parada nas aventuras de Velta, publicando apenas material que já tenho pronto. Após a publicação desse, pretendo explorar  a Nova (lançada em 1976 no jornal “O Norte”), a pedido dos leitores.

RA -
É mera impressão ou as pessoas têm perdido o hábito de ler gibis?
ER) Infelizmente, não é impressão. A internet e os jogos eletrônicos tem tirado uma boa fatia do que seria um público jovem e novo para os quadrinhos. Alie-se a isso a histórica falta de interesse do Brasileiro pela leitura, e está formado o quadro de queda na venda de livros e revistas em quadrinhos.

RA -
Você nunca pensou em tentar uma parceria e levar Velta ao cinema?

ER) Os leitores e fãs dela bem que já me escreveram muito sugerindo a idéia. Inclusive, em uma das enquetes constantes do sítio 
www.bigorna.net , onde se pergunta qual personagem dos quadrinhos Brasileiros os leitores gostariam de ver transportada para o cinema, Velta lidera  a pesquisa do 25% dos votos.

Mas, a prática é muito difícil. Seria um projeto caríssimo e que envolveria muita gente. Como já é dificílimo até fazer um livro ou revista, onde praticamente sou o único envolvido, imagine só um empreendimento da envergadura de uma produção cinematográfica.


RA -
Nunca pensou em criar um espaço para dar aulas de desenho e história dos quadrinhos para jovens?
ER) Já me sugeriram, mas meu tempo é escasso. Como é impossível viver de arte ou quadrinhos, tenho outra atividade durante oito horas por dia, e assim o pouco tempo que me resta é para produzir quadrinhos e dar atenção à família.

RA - Ao criar um personagem como Velta, que tem uma beleza nórdica, não teve medo de ser acusado por relegar os traços da mulher brasileira?
ER) Já me acusaram disso aos montes, porém é preciso entender que Velta foi criada aos meus 14 anos de idade, numa fase de absorção máxima da influência estrangeira. Até pessoas bem mais velhas e experientes se influenciam pela mercadologia e propaganda; e para um adolescente, tal influência é bem mais acentuada. Como a personagem ganhou público rapidamente, seria um desrespeito aos leitores transformá-la de repente numa morena, mulata ou negra. Sem falar que o Brasileiro é um povo muito miscigenado, e não se pode afirmar que uma loura de olhos azuis não é brasileira por possuir alguns caracteres nórdicos. 

RA -
 Seu trabalho consegue penetrar em mercados nacionais e internacionais até que ponto?

ER) Para falar a verdade, já desisti do mercado internacional, vez que parei com a produção de desenhos para os Estados Unidos. Por isso, me voltei inteiramente para meu público interno, e para ele farei as edições, a partir de agora. Caso algum estrangeiro queira ler minhas publicações, elas serão escritas em bom português e estará também à disposição deles.

João Pessoa, Paraíba, Sábado, 04 de agosto de 2007

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