joão damasceno

alma-fria

sketches policiários

1.

Alma-Fria levanta-se à entrada de uma cliente: uma camisa e um casaco azuis escuros cingem-lhe o busto, uma saia curta, apertada, faz sobressair as pernas. Lábios e unhas vermelho vivo. Alma-Fria olha atentamente para o rosto oval, os olhos verdes e o cabelo negro curtado curto. Repara na chávena de café vazia e com o indicador raspa lentamente o açúcar que resta chupando depois o dedo. Olha mais uma vez para a mulher de pé na sua frente e diz-lhe que se sente. Levanta-se, dá uma volta na sala, aproxima-se do corpo sentado e observa-o com vagar antes de se retirar para detrás da secretária onde se volta a sentar. Volta a levantar-se para pegar ao colo na sua cliente que pousa em cima da mesa. Levanta-lha as saias e penetra-a. Saindo-lhe de cima o detective o detective volta a sentar-se na sua cadeira. Ela, por sua vez, depois de ajeitar a roupa reocupou o seu primitivo lugar.
Alma-Fria brincando com um elástico, enrola-o em volta de dois dedos conseguindo assim uma fisga. Introduz-lhe um pedaço de papel amassado, estica a borracha, faz pontaria e acerta no nariz da mulher.

2 . 

2. 

Alma-Fria olha para a rua através da janela do seu gabinete. 
Uma criança que passa mostra-lhe a língua. Alma-Fria sai para a rua e dá-lhe dois pontapés deixando o garoto inanimado. Volta para o interior, senta-se à secretária e enfia um lápis na boca, horizontalmente, de modo a ficar com as bochechas em bico. 

3 . 

3. 

Alma-Fria entrou no bar e pediu ao balcão uma água Cruzeiro. Encheu um copo e equilibrou-o nas costas da mão esquerda. 

4 . 

4. 

Alma-Fria está sentado à sua secretária. Observa fascinado o voo de uma mosca. De um gesto rápido aprisiona-a no côncavo da mão direita. Espreita cautelosamente e retira o insecto entre os dedos médio e indicador da mão esquerda. Esmaga-o lentamente após o que, chupa com ruído ambos os dedos. Leva os polegares aos suspensórios enquanto se recosta para trás na cadeira, acaricia a coronha do revólver aconchegado num coldre de cabedal negro junto do sovaco esquerdo. 
Alma-Fria tira o relógio de pulso e dedica-se a extair-lhe o vidro circular com toda a cautela. Aplica-o no olho direito e usa-o como se fosse um monóculo. 

5 . 

5. 

Tezão-Sexual entrou pelo gabinete dentro e encarou Alma-Fria. 
Com uma acrobacia da língua mostrou, apertado entre os lábios, um seixo redondo, amarelo, brilhante e húmido da saliva de Tesão-Sexual. 

6 . 

6. 

A velha mulher que limpa, todas as quintas-feiras, o gabinete de Alma-Fria esfrega activamente o soalho. 
O detective levanta-se da sua mesa de trabalho, aproxima-se do corpo acocorado, arregaça-lhe as saias e mete-lhe um dedo no cu, fazendo-o deslizar no orifício algumas vezes. Retira-o e ajeita a roupa da mulher que entretanto continuara a trabalhar. Volta para detrás da secretária, descalça o sapato e ata-o em volta do pescoço, usando-o como um colar. 

7 . 

7. 

Alma-Fria olhou para o própria barguilha aberta donde saltava o pénis electricamente erecto. Pousou-lhe a mão e acariciou-o. Durante um momento o sexo pareceu-lhe de plástico. 
 

publicado em papel como  Fenda Revista de Luxúria, nº 1, Director: Vasco Sérlei, Coimbra, Janeiro de 1986 

 

domingues pinto  ~  fernando pereira  ~  joão damasceno   ~  josé d'alemão  ~  manuel portela  ~  m. pinto febre