TRANSFORMAÇÃO
" Já dizia, Lavoisier: "Nada se cria. Nada se perde. Tudo se transforma". A transformação é o sentido da evolução da vida espiritual e do progresso da vida material. A entropia é o sentido da transformação degenerativa. É a vida se deteriorando no ritmo do tempo. A carne jogada ao chão tende a se deteriorar. O homem largado em si mesmo tende a se degenerar. Então, surge a grande questão: O destino existe? O homem é sujeito as forças da natureza e nada pode fazer para mudar o rumo da sua falência material? O fim já está pré-determinado? Teremos que nascer, crescer e morrer sem poder alterar o sentido desse destino pré-fixado?"


Se o destino é orientado por leis determinantes, então, somos escravos do tempo, da história, da cultura, da tradição, dos costumes, dos elos afetivos, dos elos sociais etc. Mas, se por hipótese, admitirmos que o destino não é algo dirigido por leis determinantes, então somos capazes de conquistar a liberdade de viver além do tempo, da história, da tradição, da cultura, dos costumes e dos valores do mundo. Isso implica prescrever a hipótese de que somos um caminho ainda desconhecido e inacabado. Somos um devir, ou seja, um vir a ser. Não somos ainda, mas estamos sendo num processo ad infinitum (sem fim) evolutivo. O mundo de valores sociais é a água do oceano da vida material. Bebemos a cada instante dessa água. E nos indentificamos com ela a cada batida do coração. Estamos submersos que não conseguimos imaginar uma existência fora desse contexto dinâmico e indutor. Então, surge a crise como resposta às indagações filosóficas: O que sou afinal? Para onde estou indo? Por que existo assim? O que faço com minha consciência induzida e indutora? Como tomar ciência da minha ação- em-consciência? A ciência é o ato de caminhar evoluindo entre um pólo- resposta. É o caminho é o método, ou seja, é o percurso que escolhemos realizar entre várias alternativas evolu tivas existentes. Nesse sentido, existente caminhos diretos e indiretos, caminhos fáceis e difíceis, caminhos certos e enganosos, caminhos claros e escuros, caminhos de dor e de amor. Então cabe uma pergunta: Qual é o melhor caminho? A resposta para essa pergunta carece ou pede antes de tudo que se caminhe porque a própria resposta não é dada, mas sim conquistada numa disciplina escolhida por livre e espontânea vontade. Daí que ninguém pode prescrever um final de caminho para o outro, se esse outro não está em condições de dar o primeiro passo nesse caminho. A resposta nesse contexto, não é uma interpretação, não é tampouco um significado buscado. Ela é a transformação da sensibilidade humana. Uma transformação radical(no sentido etmológico da palavra: ir à raiz) da sensibilidade, tornando-a mais sutil e, portanto, mais pura. A grande resposta é a visão da verdade, em planos sutis da consciência. De modo que sendo a verdade uma conquista, ela nunca poderá ser dada ou interpretada por um sujeito externo à própria consciência investigada. A investigação da própria consciência passa ser o problema da ciência do ser, ou seja, da ciência de si mesmo: O que fazer para melhorar a consciência? Deve-se ler ou meditar mais? Devo orar ou raciocinar mais ainda? Plantar a semente ou transformar o solo da razão? Ser ou não ser num mundo do ter sem compaixão? Assim, qualquer homem ou mulher que parar para se questionar irá se defrontar um dia com sua própria verdade de ser. O que devo fazer? Ser pessoa consciente indutora ou indivíduo inconsciente induzido? Crescer ou degenerar? Como querer ser uno sendo uma dualidade indefinida? É preciso coragem para ver as dificiências da personalidade. É preciso coragem para intervir e transformar o seu próprio solo da consciência. A boa colheita necessita de um bom trabalho feito no solo orgânico ou no solo da consciência. O solo gasto não pode produzir com qualidade a não ser que a terra seja de novo "retrabalhada" e adubada. O bom fruto nasce de uma árvore. E a boa árvore cresce num solo sadio. A semente plantada com sensibilidade é portanto, o início de um bom processo de transformação da consciência. A coragem de se transformar em semente e solo ao mesmo tempo é a coragem verdadeira. É aquela que nos leva a verdade cósmica da nossa inserção material, social-cultural e existencial. A coragem de superar a si e crescer em si mesmo é o poder não sobre o outro irmão, mas o poder de compreender a dimensão do "outro" em si mesmo. O "outro'deixa de ser algo externo utilitário para ser essencialmente. Eu também me vendo ou agindo no outro em mim. Assim o que se faz no "outro", planta-se em si mesmo muito antes de atingir física ou moralmente o seu objeto de percepção. Resumindo: o "outro", fora de si mesmo, está levando a humanidade a um sofrimento e a uma crise neurótica tão degenelarizada que pode ser vista ou constatada objetivamente nas crescentes guerras modernas e nas mazelas antigas acumuladas. A verdadeira coragem é aquela que nos faz enxergar a transformar a nossa própria cruz sem precisarmos destruir, culpar, diminuir, humilhar, invadir ou violentar ninguém. Já dizia um sábio indiano de nossa época, sai Baba: "Se não pode fazer um bem, então, não faças o mal a ninguém". Se a convivência é difícil com o "outro", primeiro perdoe e depois siga o teu próprio caminho solitário de paz. Vale mais a paz sem glória material do que a glória material sem paz. A paz é um passo em direção à verdade cósmica. O silêncio interior, a fé e a vontade são passos decisivos em direção à resposta existêncial filosófica da nossa inserção nesse cosmo belo e complexo. O homem foi criado para sempre transcender, com disciplina e esforço, o seu próprio nível de consciência a partir da vontade em querer se transformar em si mesmo. O "outro" que se vê é, portanto, a projeção insensível intelectual-emocional de si mesmo. O grau de sabedoria do amor císmico se inicia no ato de perceber o limite entre o que se vê e o que não se vê, ou seja, entra a sensibilidade e a insensibilidade do mundo interior preceptivo que cria o mundo exterior a nossa volta. Se a sensibilidade permite ver, tudo fica claro; se a insenbilidade impede de ver, tudo fica trevas. A dor é proveniente da insensibilidade intrínseca na interpretação instintiva-racional a respeito da existência do binômio ser-mundo. E o seu efeito, portanto, se reflete na incompreensão da ação irrefletida no mundo. Ao homem comum foi dado o discernimento racional para agir; ao santo/místico/cientista foi possibilitado o desenvolvimento da sensibilidade intuitiva para perceber o produto do discernimento realizador. A vida humana flui ou deverá fluir entre esses dois momentos existenciais. A sensibilidade é a ponte entre o "animal humano" e o santo ou místico supra-humano. A evolução sensível á a lei. Por isso, A. Einstein afirmou(no Livro Como Vejo o Mundo): "A ligação entre o conceito e conteúdo é feita por uma experiência sensível. E isso é vivido. Nenhum sistema epistemológico faz essa união". A palavra amor não ama ninguém!
(Bernardo Melgaço da Silva). prof. de Metodologia da Pesquisa.
E-mail:bernado@pep.ufrj.br

©1999/Julho - Elaine Rosa

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