VERSOS CANINOS

SER CACHORREIRO

PEDIDO DE UM CÃO

TRIBUTO A UM CÃO

AS DEZ COISAS QUE UM CÃO QUER DE SUA GENTE

O TESTAMENTO DE UM CÃO

EU TAMBÉM TENHO SENTIMENTOS...

A VELHICE DE UM CÃO

ORAÇÃO DO CÃO

COMO VOCÊ PÔDE?

SER CACHORREIRO
Marcia Villas-Bôas

Quem é cachorreiro já nasce cachorreiro. É algum gene recessivo e misterioso que aparece numa criança de uma família onde, às vezes, só lá um ou outro gosta de cachorro.
O primeiro sintoma surge cedo, naquele dia em que a criança interrompe a paz de um almoço no lar e faz os pais engasgarem com o insólito pedido:
- Quero um cachorro!
Pronto, começou o inferno dos pais e do mini-cachorreiro. É logo levado a uma magnífica loja de brinquedos, podendo escolher o que quiser, desde uma bicicleta até aquele carrinho cheio de luzes e sirenes.
- Quero um cachorro!
Ganha o carrinho e mais um monte de presentes, para ver se esquece do cachorro. Mas não tem jeito. Ganha tartaruga, jabuti, periquito, canário e até um hamster, mas nada disso satisfaz a ânsia de cachorreiro que já nasce em sua alma numa intensidade que assusta toda a família.
Se der sorte, ganha seu primeiro cachorro. Se não, vai ter mesmo que esperar crescer.
Aí, enfim, livre das amarras familiares, começa a mergulhar fundo na criação.
Vem a primeira fêmea, o sufoco do primeiro parto, o acompanhamento dos filhotes, o medo da parvo, da corona e, assustado, resolve:
- Não fico com nenhum!
A ninhada cresce, começa a reconhecer o dono, a abanar o rabinho e pronto! A decisão, antes inabalável, sofre o primeiro impacto. Daí a uns dias, a resolução já é outra:
- Não me desfaço das fêmeas; só saem os machos!
Começou sua longa jornada de cachorreiro através deste mundo-cão. Daí para frente, passa a vida trocando jornais, fazendo vigília ao lado das cadelas que estão para parir ou dando remédio aos filhotes mais fracos.
O cachorreiro vai se afastando do mundo dos homens e admite mesmo:
- Não gosto de gente...
Programa de cachorreiro é visitar ninhada dos outros, pegar cachorro no aeroporto, levar às exposições ou pendurar-se no telefone para conversar com seus amigos cachorreiros... sobre cachorros.
No começo, criar uma raça só já o satisfaz, mas logo dá aquela vontade de experimentar outra e lá vai ele pela vida afora, em meio a muitas raças e muitos cães.
As compras de um cachorreiro também são diferentes das compras de um ser humano comum: shampoos, cremes, óleos, gaiolas, enfeites... mas tudo para cachorro. Se algum amigo viaja para o exterior e cai na asneira de perguntar: "Quer que traga alguma coisa para você?", recebe logo as mais estranhas encomendas: máquina de tosa, lâminas, escovas, pentes... e tudo para cachorro.
Casa de cachorreiro é toda engatilhada, cheia de grades aqui e ali, protegendo portas e janelas. A decoração muitas vezes fica prejudicada com a presença de gaiolas e caixas de transporte na sala e nos quartos. Mas o cachorreiro não está nem aí e, como quem freqüenta casa de cachorreiro é cachorreiro também, ninguém liga mesmo.
O carro do cachorreiro também não pode ser qualquer um. De preferência um utilitário com bastante espaço interno para caberem os cachorros e as tralhas todas nos dias de exposição. Banco de passageiros não é tão necessário, mas o espaço é indispensável.
Cônjuge de cachorreiro tem que ser cachorreiro também, ou a união pode sofrer sérios abalos e quando chega aquela hora fatídica, no meio de um bate-boca, em que o outro dá o ultimátum: "Ou os cachorros ou eu!", o cachorreiro certamente vai optar pelos cachorros.
Velhice de cachorreiro é cheia de preocupações.
- Vou morrer, e quem cuida dos meus cachorros?
Resolve, então, não criar mais nada e reza para que todos os seus cães partam antes dele, mas o coração não agüenta e, daqui a pouco, arranja outro filhote para cuidar, estribado na promessa de alguém que garante ficar com o cachorrinho em caso de morte do cachorreiro.
E, como ser cachorreiro é ‘padecer no Paraíso’, acredito que o bom Deus, na sua infinita misericórdia e eterna sabedoria, já tenha providenciado um céu só para os cachorreiros onde eles, junto com todos os seus cães, seus amigos cachorreiros, juízes, veterinários, etc., possam, enfim, levar uma vida tranqüila e cheia de paz.
Mas, como muita tranqüilidade acaba ficando monótono, logo o cachorreiro fica espiando de longe o mundo dos homens, cheio de saudade, já pensando em voltar para cá e começar tudo de novo.

PEDIDO DE UM CÃO
Autor desconhecido


Não sei por que me desprezas,
E procuras me maltratar,
E quando tenta gostar de mim,
Acabas por me detestar.
Não o culpo totalmente,
Mas também não te dou razão,
Posso não ser homem,
Mas me orgulho de ser Cão.
Sei que tu foste feito,
A imagem de teu Senhor,
Mas não esqueças que Ele,
Também foi meu criador.
Aqui na terra fui posto,
Para ser teu melhor amigo,
Por quê agora te tornas,
Meu maior inimigo?
Não peço que tu me ames,
Mais que ao teu semelhante,
Só peço que não me desprezes,
De modo triste e humilhante.
Tu tens o Dom da Fala,
Eu o Dom de Latir,
E com apurados ouvidos,
O mal, posso pressentir.
Posso ser teu companheiro,
Posso ser um caçador,
Podes me usar pra tudo,
Até guarda e protetor.
Quando exausto, tu chegas,
Todos podem te abandonar,
Mas eu, nunca esqueço,
De minha cauda abanar.
Todos os teus amigos,
Te amam e te querem bem,
Mas só, enquanto os amares,
E lhes fizeres o bem...
Porém eu sou diferente,
Só te recebo, com alegria,
Mesmo quando me tratas,
Com frieza e grosseria.
Quando ao deitar, pedes a Deus,
Que protejas o teu Lar,
E que não permitas,
Que ladrão, o venha roubar.
Porém esqueces que Deus,
Pode até usar um Cão,
Como usou, Jesus, certa vez
A jumenta de Balão...
Por isso ,creias que Deus,
Pode também me usar,
Para enfrentar o malfeitor,
E com minha vida, defender teu Lar.
Não tentei ser um poeta,
Pois não passo de um Cão,
Só desejo que me trates,
Com carinho e consideração...

TRIBUTO A UM CÃO

Este tributo foi apresentado ao júri pelo ex-senador George G. Vest (então advogado ), que representou o proprietário de um cão morto a tiros, propositadamente, pelo vizinho. O fato ocorreu há um século na cidade de Warrensburg, Missouri, nos Estados Unidos da América. O senador ganhou o caso, e hoje existe uma estátua do cão na cidade e seu discurso está inscrito na entrada do tribunal de justiça, ainda existente na cidade.

"...O mais altruísta dos amigos que um homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona e nunca mostra ingratidão ou deslealdade, é o cão."

"Senhores jurados, o cão permanece com seu dono na prosperidade e na pobreza, na saúde e na doença. Ele dormirá no chão frio, onde os ventos invernais sopram e a neve se lança impetuosamente. Quando só ele estiver ao lado de seu dono, ele beijará a mão que não tem alimento a oferecer, ele lamberá as feridas e as dores que aparecem nos encontros com a violência do mundo.

Ele guarda o sono de seu pobre dono como se fosse um príncipe. Quando todos os amigos o abandonarem, o cão permanecerá. Quando a riqueza desaparece e a reputação se despedaça, ele é constante em seu amor como o sol na sua jornada através do firmamento. Se a fortuna arrasta o dono para o exílio,o desamparo e o desabrigo, o cão fiel pede o privilégio maior de acompanhá-lo, para protegê-lo contra o perigo, para lutar contra seus inimigos.

E quando a última cena se apresenta, a morte o leva em seus braços e seu corpo é deixado na laje fria, não importa que todos os amigos sigam seu caminho, lá ao lado de sua sepultura se encontrará seu nobre Cão, a cabeça entre as patas, os olhos tristes mas em atenta observação, fé e confiança mesmo à morte."

AS DEZ COISAS QUE UM CÃO QUER DE SUA GENTE
Ulrich Klever, zoólogo,
Em: "The Complete Book of Dog Care",
Tradução de Millor Fernandes

  1. Minha vida deve durar entre 10 e 15 anos. Qualquer separação será muito dolorosa para mim.

  2. Me dê algum tempo para entender o que você quer de mim.

  3. Tenha confiança em mim. É fundamental pro meu bem-estar.

  4. Não fique zangado comigo por muito tempo. E não me prenda em nenhum lugar como punição. Você tem seu trabalho, seus amigos, suas diversões. Eu só tenho você.

  5. Fale comigo de vez em quando. Mesmo que eu não entenda as suas palavras, compreendo muito bem seu tom de voz e sinto o que você está me dizendo. Isso ficará gravado em mim para sempre.

  6. Antes de me bater, lembre sempre que eu tenho dentes que poderiam feri-lo seriamente, mas que nunca vou usá-los em você.

  7. Antes de me censurar por estar sendo vadio, preguiçoso ou teimoso, pergunte antes se não há alguma coisa me incomodando. Talvez eu não esteja me alimentando bem. Posso estar resfriado. Ou também meu coração, que está ficando velho e cansado.

  8. Cuide de mim quando eu ficar velho; você também vai ficar.

  9. Não se afaste de mim em meus momentos difíceis ou dolorosos. Nunca diga "prefiro não ver" ou "faz quando eu não estiver presente". Tudo é mais fácil pra mim com você do lado. "

O TESTAMENTO DE UM CÃO
Frank Reichstein

  1. Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você... Uma coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma escudela de água que se encontra fendada na borda.

  2. Deixo para você metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada, que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito, que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas, e sob o assoalho de minha cama. Além disso, eu deixo para você a memória, que, aliás são muitas.

  3. Deixo para você a memória de dois enormes olhos marrons, a memória de uma caudinha curta e espetada, de nariz molhado e de choradeiras atrás da porta.

  4. Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela, quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.

  5. Deixo para você um tapete esfarrapado em frente à sua cadeira preferida, o qual nunca foi concertado com o tipo de linha certo, essa é a verdade. Eu o mastiguei todinho, quando tinha ainda cinco meses de idade, lembra-se? Também deixo para você a memória da primeira surra que levei e também todo o meu esquecimento.

  6. Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim, debaixo dos arbustos perto da varanda da frente, onde eu encontrava asilo durante aqueles dias de verão. Ele deve estar cheio de folhas agora, e, por isso, talvez você tenha dificuldades em me encontrar. Sinto muito!

  7. Deixo, também, e só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outubro, quando nós vagabundeávamos pelo bosque.

  8. Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs quando saíamos juntos pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha. Recordo-me das suas risadas, porque eu não conseguia alcançar aquele coelho impertinente. Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio quando as coisas não andavam bem; meus latidos quando você levantava a voz aborrecido... e minha frustração por você ter ralhado comigo todas as vezes que eu colocava o nariz debaixo da cauda. Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você exemplo de paciência, de amor e compreensão.

  9. Sua vida tem sido mais alegre porque eu vivi.

EU TAMBÉM TENHO SENTIMENTOS...
Autor Desconhecido

 

1a semana
Hoje faz uma semana que nasci, que alegria ter chegado a este mundo!

1o mês
Minha mãe me cuida muito bem. É uma mãe exemplar.

2o mês
Hoje me separaram de minha mãe. Ela estava muito inquieta e, com seus olhos, me deu adeus, esperando que minha nova 'família humana' cuide tão bem de mim como ela fez.

4o mês
Tenho crescido rápido, tudo chama minha atenção. Há várias crianças na casa que para mim são como se fossem irmãozinhos. Somos muito inquietos, eles puxam o meu rabo e eu mordo brincando.

5o mês
Hoje me repreenderam. Meu dono ficou bravo porque fiz xixi dentro de casa, mas nunca tinham me dito onde devo fazê-lo. Ainda durmo na área de serviço. Já não agüentava mais!

8o mês
Sou um cachorro feliz. Tenho o calor da família, me sinto tão seguro, tão protegido. Acredito que meu dono gosta muito de mim. Quando está comendo, me convida. O patio é só para mim e faço minhas artes cavando como os meus antepassados, os lobos, quando escondiam a comida. Nunca me ensinaram. Devo estar fazendo a coisa certa.

12 meses
Hoje fiz um ano. Sou um cachorro adulto. Meus donos dizem que cresci mais do que pensavam... Devem estar orgulhosos de mim.

13 meses
Como me senti mal hoje. Meu 'irmãozinho' pegou minha bola... eu nunca pego os brinquedos dele. Assim, tirei dele novamente mas minhas mandíbulas ficaram muito fortes e o machuquei sem querer. Depois do susto, me acorrentaram, quase sem poder me mexer, no sol. Dizem que vou ficar em observação e que sou um ingrato. Não entendo nada do que aconteceu.

15 meses
Nada mais é igual...vivo na sacada. Me sinto muito sozinho... minha família já não gosta mais de mim. Às vezes esquecem que tenho fome e sede... quando chove não tenho teto para me cobrir.

16 meses
Hoje me tiraram da sacada. Com certeza a minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que dava pulos de alegria. Meu rabo parecia ventilador. Me levaram com eles para passear. Estávamos na estrada e de repente pararam, abriram a porta e eu desci feliz, acreditando que faríamos nosso 'piquenique'. Não entendo porque fecharam a porta e foram embora.
"Escutem, esperem!" - lati - "Esqueceram de mim!" Corri atrás do carro com toda minhas forças. Minha angústia crescia ao me dar conta que ficava cansado e eles não parariam: tinham me esquecido.

17 meses
Tenho tentado, em vão, procurar o caminho de volta a casa... sinto que estou perdido. No meu caminho há gente de bom coração, que me olha com tristeza e me dá algo para comer. Eu agradeço com meu olhar e do fundo da minha alma. Eu queria que me adotassem, seria leal como ninguém. Mas só dizem "pobre cachorrinho, deve estar perdido".

18 meses
Outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens como meus 'irmãozinhos'. Me aproximei e um grupo deles, rindo, me jogou uma chuva de pedras "para ver quem tinha a melhor pontaria". Uma das pedras machucou meu olho e desde então não vejo com ele.

19 meses
Parece mentira... quando estava mais bonito ficavam com mais pena de mim, hoje estou magro, meu aspecto está mudado... perdi meu olho... e as pessoas me espantam a vassouradas quando tento deitar-me numa sombra.

20 meses
Quase não posso me mover... hoje ao atravessar uma rua por onde passam muito carros um me atropelou. Eu estava num lugar seguro chamado acostamento... nunca vou esquecer o olhar de satisfação do motorista, que desviou o trajeto para me bater. Queria que tivesse me matado, mas só deslocou a bacia. A dor é terrível, minhas patas traseiras não respondem e, com dificuldade, arrastei-me até um pouco de grama ao lado da rua.
Estou a 10 dias embaixo do sol, da chuva e no frio, sem comer. Já não posso me mover... a dor é insuportável. Sinto-me muito mal, fiquei em um lugar úmido e parece que até meu pêlo está caindo. Algumas pessoas passam e nem me vêem, outras dizem: "Não te aproxime". Já estou quase inconsciente mas alguma força estranha me fez abrir os olhos... a doçura de sua voz me fez reagir.
"Pobre cachorrinho, olha como te deixaram", dizia... junto dela vinha um senhor de jaleco branco, começou a me tocar e falou: "Sinto muito senhora, mas este cachorro já não tem remédio, é melhor que pare de sofrer". Da gentil senhora caíram lagrimas dos olhos. Como pude, movi o rabo e a olhei, agradecendo-a por me ajudar a descansar. Só senti a picada da agulha, dormi pra sempre pensando porque tive que nascer se ninguém me queria.

A VELHICE DE UM CÃO
Autor Desconhecido

 

Seu cachorrinho já lhe terá proporcionado muitas alegrias.
Cuide para que ele tenha um final de vida feliz.
Sempre que for possível, deixe que ele permaneça ao seu lado, pois este será, realmente, um dos poucos prazeres que lhe restarão na velhice.
A grande despedida está próxima e ele, por instinto, sabe disto.
É natural que deseje a companhia daquele que aprendeu a amar e respeitar durante toda a vida.
Não o abandone agora!
Ele já não será mais aquele animal bonito de antes.
Seus pelos começam a cair.
Seu caminhar perderá a elegância e sua cabeça penderá, cansada, sobre suas patas.
Somente seu olhar acompanhará os passos de seu dono.
Lembre-se que, dentro do peito, ele ainda possui aquele coração que vibrará com o som da voz de seu mestre.
E, chegando o fim, não se envergonhe, chore. Você acabou de perder o mais delicado e fiel dos amigos... o cão!

ORAÇÃO DO CÃO
Autor desconhecido

Senhor de todas as criaturas, fazei que o homem,
meu dono, seja fiel aos outros homens,
como eu próprio lhe sou fiel.
Fazei-o afeiçoado à minha família e aos amigos,
como eu próprio lhe sou afeiçoado.
Fazei que ele guarde honestamente os bens que tu lhe confias,
como eu, honestamente, guardo os que ele me confia.
Dai-lhe Senhor, um sorriso fácil e espontâneo,
como fácil e espontâneo é o mover da minha cauda.
Fazei-o tão pronto à gratidão,
como eu, sempre tão pronto, lhe lambo as mãos.
Dai-lhe uma paciência igual à minha,
que lhe aguardo sem queixume.
Que ele tenha a minha coragem, e a minha prontidão no sacrifício,
Desde a comodidade à própria vida.
Conserva-lhe a juventude do meu coração,e a alegria do meu conhecer.
Por fim, ó Senhor de todas as criaturas,
fazei-o sempre tão verdadeiramente homem,
como eu sempre, tão verdadeiramente, sou cão.

COMO VOCÊ PÔDE?
Jim Willis
tradução: Cida Lellis


Quando era um filhote, eu o distraia com minhas travessuras e o fazia rir.
Você me chamava de sua criança e, apesar de um certo numero de sapatos mascados e um par de almofadas destruídas, eu me tornei sua melhor amiga . Sempre que eu fazia algo errado, você chacoalhava seu dedo para mim e dizia: "Como você pôde" - mas depois você se arrependia e me rolava no chão para me coçar a barriga. Meu treinamento demorou um pouco mais do que o esperado porque você estava ocupado demais, mas, juntos, nós conseguimos dar um jeito..
Eu me lembro daquelas noites em que me aninhava a você na cama e ouvia suas confidencias e sonhos secretos - e acreditava que a vida não poderia ser mais perfeita. A gente fazia longos passeios e corridas no parque, andava de carro, e parava para um sorvete (eu ganhava só a casquinha porque "sorvete não faz bem para cães" você dizia) e eu tirava longos cochilos ao sol enquanto aguardava sua volta para casa ao final do dia.
Aos poucos você passou a gastar mais tempo no trabalho e com sua carreira e levava mais tempo procurando por uma companheira humana. Eu esperei por você pacientemente, confortei-o em suas mágoas e desilusões, nunca o repreendi por suas escolhas ruins, e vibrei de alegria nas suas vindas para casa e quando você se apaixonou... Ela, agora sua esposa, não é uma "apreciadora de cães" - ainda assim eu a recebi em nossa casa, tentei mostrar-lhe afeição, e a obedeci. Sentia-me feliz porque você estava feliz.
Então vieram os bebês humanos e eu reparti com você o entusiasmo. Eu estava fascinada por seus tons rosados, seu cheiro, e queria muito cuidar deles também. Mas ela e você tinham medo de que eu pudesse machucá-los, e eu passei a maior parte do tempo sendo banida para outra sala, ou para a casinha de cachorro.. Oh, como eu queria tê-los amado, mas eu me tornei uma "prisioneira do amor."
À medida que foram crescendo, me tornei amiga deles. Eles se agarravam ao meu pêlo e se levantavam sobre perninhas trôpegas, enfiavam os dedos em meus olhos, examinavam minhas orelhas, e davam beijos em meu nariz. Eu adorava tudo isso, e o toque de suas mãozinhas - porque o seu toque agora era tão raro - e eu os teria defendido com minha própria vida, se fosse preciso. Eu me esgueirava para suas camas e escutava suas inquietações e sonhos secretos, e juntos esperávamos pelo barulho de seu carro no caminho.
Houve um tempo, quando alguém perguntava se você tinha cachorro, em que você tirava uma foto minha de sua carteira e contava histórias sobre mim. Nos últimos anos você apenas respondia "sim" e mudava de assunto. Eu passei de "seu cão" para "apenas um cachorro" e você reclamava de cada gasto que tinha comigo. Agora você tem uma nova oportunidade de carreira em outra cidade , e vocês irão se mudar para um apartamento onde não permitem animais. Você tomou a decisão acertada para sua "família", mas houve um tempo em que eu era sua única família.
Fiquei excitada com o passeio de carro até que chegamos ao abrigo de animais. O local tinha cheiro de gatos e cães, de medo, de desesperança. Você preencheu a papelada e disse "Sei que vocês encontrarão um bom lar para ela"... Eles deram de ombros e lançaram a você um olhar compadecido. Eles compreendem a realidade que espera um cão de meia idade, mesmo um com "papéis". Você teve que desgarrar os dedos de seu filho de minha coleira enquanto ele gritava "Não, papai! Por favor, não deixe que levem meu cão!". E eu me preocupei por ele, e com a lição que você tinha acabado de lhe dar sobre amizade e lealdade, sobre amor e responsabilidade, e sobre respeito por todo tipo de vida. Você deu um afago de adeus em minha cabeça, evitou meu olhar e, polidamente, recusou levar minha coleira e guia com você. Você tinha um tempo-limite para encarar e agora eu também tenho um.
Depois que você partiu as duas simpáticas senhoras que o atenderam comentaram que você provavelmente soube meses atrás da mudança que ocorreria e não fez nenhuma tentativa de encontrar um novo lar para mim. Elas sacudiram a cabeça e disseram "Como você pôde?". Elas são tão atenciosas para nós aqui no abrigo quanto seus ocupados horários permitem.
Elas nos alimentam, é claro, mas eu perdi meu apetite dias atrás. De início, sempre que alguém passava pelo meu alojamento , eu corria para a frente, na esperança de que fosse você - que você tivesse mudado de idéia - que isto fosse tudo um sonho mau.... ou eu esperava que ao menos fosse alguém que se importasse, alguém que pudesse me salvar. Quando percebi que não poderia competir com os alegres filhotes, inconscientes de seus próprios destinos, nas brincadeiras para chamar atenção, afastei-me para um canto distante, e aguardei.
Ouvi seus passos quando ela veio até mim ao final do dia, e a segui ao longo do corredor para uma sala separada. Uma sala deliciosamente silenciosa. Ela me colocou sobre a mesa, acariciou minhas orelhas, e disse-me para eu não me preocupar. Meu coração se acelerou na expectativa do que estava para vir, mas havia também uma sensação de alivio. A prisioneira do amor havia esgotado seus dias.
Como é de minha natureza, estava mais preocupada com ela. O fardo que ela carrega é demasiado pesado, e eu sei disso, da mesma maneira que conhecia cada um de seus humores. Ela gentilmente colocou um torniquete em volta de minha perna dianteira, enquanto uma lágrima corria por sua face. Lambi sua mão do mesmo modo como costumava fazer para confortar você há tantos anos atrás.. Ela habilmente espetou a agulha hipodérmica em minha veia. Quando senti a picada e o líquido frio se espalhou através de meu corpo, deitei a cabeça sonolenta, olhei dentro de seus olhos gentis e murmurei "Como você pôde?".
Talvez por ter entendido meu linguajar canino, ela disse "Sinto tanto!", abraçou-me e apressadamente explicou que era seu trabalho fazer com que eu fosse para um lugar melhor onde não seria ignorada, ou maltratada ou abandonada, nem ter que me virar para sobreviver - um lugar de amor e luz, tão diferente deste lugar terrestre. E com minha ultima gota de energia tentei transmitir -lhe com uma sacudidela de minha cauda que meu "Como você pôde?" não era dirigido a ela.
Era em você , Meu Amado Dono, que eu estava pensando. Pensarei em você e esperarei por você eternamente. Possa alguém em sua vida continuar a demonstrar-lhe tanta lealdade.

ICQ 15111569

Victor Hugo e Manoela

 

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