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VERSOS
CANINOS |
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SER CACHORREIRO
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PEDIDO DE UM
CÃO
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TRIBUTO A UM CÃO
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AS DEZ COISAS QUE UM CÃO QUER
DE SUA GENTE
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O TESTAMENTO DE UM
CÃO
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EU TAMBÉM TENHO
SENTIMENTOS...
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A VELHICE DE UM
CÃO
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ORAÇÃO DO
CÃO
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COMO VOCÊ
PÔDE?
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SER CACHORREIRO
Marcia
Villas-Bôas
Quem é cachorreiro já
nasce cachorreiro. É algum gene recessivo e misterioso que aparece numa
criança de uma família onde, às vezes, só lá um ou outro gosta de
cachorro. O primeiro sintoma surge cedo,
naquele dia em que a criança interrompe a paz de um almoço no lar e faz os
pais engasgarem com o insólito pedido: - Quero um
cachorro! Pronto, começou o inferno dos
pais e do mini-cachorreiro. É logo levado a uma magnífica loja de
brinquedos, podendo escolher o que quiser, desde uma bicicleta até aquele
carrinho cheio de luzes e sirenes. - Quero um
cachorro! Ganha o carrinho e mais um
monte de presentes, para ver se esquece do cachorro. Mas não tem jeito.
Ganha tartaruga, jabuti, periquito, canário e até um hamster, mas nada
disso satisfaz a ânsia de cachorreiro que já nasce em sua alma numa
intensidade que assusta toda a
família. Se der sorte, ganha seu primeiro
cachorro. Se não, vai ter mesmo que esperar
crescer. Aí, enfim, livre das amarras
familiares, começa a mergulhar fundo na
criação. Vem a primeira fêmea, o sufoco
do primeiro parto, o acompanhamento dos filhotes, o medo da parvo, da
corona e, assustado, resolve: - Não fico com nenhum!
A ninhada cresce, começa a reconhecer o
dono, a abanar o rabinho e pronto! A decisão, antes inabalável, sofre o
primeiro impacto. Daí a uns dias, a resolução já é
outra: - Não me desfaço das fêmeas; só
saem os machos! Começou sua longa
jornada de cachorreiro através deste mundo-cão. Daí para frente, passa a
vida trocando jornais, fazendo vigília ao lado das cadelas que estão para
parir ou dando remédio aos filhotes mais
fracos. O cachorreiro vai se afastando do
mundo dos homens e admite mesmo: - Não gosto de
gente... Programa de cachorreiro é
visitar ninhada dos outros, pegar cachorro no aeroporto, levar às
exposições ou pendurar-se no telefone para conversar com seus amigos
cachorreiros... sobre cachorros. No
começo, criar uma raça só já o satisfaz, mas logo dá aquela vontade de
experimentar outra e lá vai ele pela vida afora, em meio a muitas raças e
muitos cães. As compras de um
cachorreiro também são diferentes das compras de um ser humano comum:
shampoos, cremes, óleos, gaiolas, enfeites... mas tudo para cachorro. Se
algum amigo viaja para o exterior e cai na asneira de perguntar: "Quer que
traga alguma coisa para você?", recebe logo as mais estranhas encomendas:
máquina de tosa, lâminas, escovas, pentes... e tudo para
cachorro. Casa de cachorreiro é toda
engatilhada, cheia de grades aqui e ali, protegendo portas e janelas. A
decoração muitas vezes fica prejudicada com a presença de gaiolas e caixas
de transporte na sala e nos quartos. Mas o cachorreiro não está nem aí e,
como quem freqüenta casa de cachorreiro é cachorreiro também, ninguém liga
mesmo. O carro do cachorreiro também não
pode ser qualquer um. De preferência um utilitário com bastante espaço
interno para caberem os cachorros e as tralhas todas nos dias de
exposição. Banco de passageiros não é tão necessário, mas o espaço é
indispensável. Cônjuge de cachorreiro tem
que ser cachorreiro também, ou a união pode sofrer sérios abalos e quando
chega aquela hora fatídica, no meio de um bate-boca, em que o outro dá o
ultimátum: "Ou os cachorros ou eu!", o cachorreiro certamente vai optar
pelos cachorros. Velhice de cachorreiro
é cheia de preocupações. - Vou morrer, e quem cuida dos meus
cachorros? Resolve, então, não criar mais
nada e reza para que todos os seus cães partam antes dele, mas o coração
não agüenta e, daqui a pouco, arranja outro filhote para cuidar, estribado
na promessa de alguém que garante ficar com o cachorrinho em caso de morte
do cachorreiro. E, como ser cachorreiro é
‘padecer no Paraíso’, acredito que o bom Deus, na sua infinita
misericórdia e eterna sabedoria, já tenha providenciado um céu só para os
cachorreiros onde eles, junto com todos os seus cães, seus amigos
cachorreiros, juízes, veterinários, etc., possam, enfim, levar uma vida
tranqüila e cheia de paz. Mas, como muita
tranqüilidade acaba ficando monótono, logo o cachorreiro fica espiando de
longe o mundo dos homens, cheio de saudade, já pensando em voltar para cá
e começar tudo de novo.
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PEDIDO DE UM
CÃO Autor desconhecido
Não sei por que me desprezas, E procuras me
maltratar, E quando tenta gostar de mim, Acabas por me
detestar. Não o culpo totalmente, Mas também não te dou razão,
Posso não ser homem, Mas me orgulho de ser Cão. Sei que tu
foste feito, A imagem de teu Senhor, Mas não esqueças que Ele,
Também foi meu criador. Aqui na terra fui posto, Para ser
teu melhor amigo, Por quê agora te tornas, Meu maior inimigo?
Não peço que tu me ames, Mais que ao teu semelhante, Só
peço que não me desprezes, De modo triste e humilhante. Tu
tens o Dom da Fala, Eu o Dom de Latir, E com apurados ouvidos, O
mal, posso pressentir. Posso ser teu companheiro, Posso ser um
caçador, Podes me usar pra tudo, Até guarda e protetor.
Quando exausto, tu chegas, Todos podem te abandonar, Mas eu,
nunca esqueço, De minha cauda abanar. Todos os teus
amigos, Te amam e te querem bem, Mas só, enquanto os amares, E
lhes fizeres o bem... Porém eu sou diferente, Só te recebo, com
alegria, Mesmo quando me tratas, Com frieza e
grosseria. Quando ao deitar, pedes a Deus, Que protejas o teu
Lar, E que não permitas, Que ladrão, o venha roubar. Porém
esqueces que Deus, Pode até usar um Cão, Como usou, Jesus, certa
vez A jumenta de Balão... Por isso ,creias que Deus, Pode
também me usar, Para enfrentar o malfeitor, E com minha vida,
defender teu Lar. Não tentei ser um poeta, Pois não passo de um
Cão, Só desejo que me trates, Com carinho e
consideração...
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TRIBUTO A UM CÃO
Este tributo foi apresentado ao júri pelo ex-senador George G. Vest
(então advogado ), que representou o proprietário de um cão morto a tiros,
propositadamente, pelo vizinho. O fato ocorreu há um século na cidade de
Warrensburg, Missouri, nos Estados Unidos da América. O senador ganhou o
caso, e hoje existe uma estátua do cão na cidade e seu discurso está
inscrito na entrada do tribunal de justiça, ainda existente na cidade.
"...O mais altruísta dos amigos que um homem pode ter neste mundo
egoísta, aquele que nunca o abandona e nunca mostra ingratidão ou
deslealdade, é o cão."
"Senhores jurados, o cão permanece com seu dono na prosperidade e na
pobreza, na saúde e na doença. Ele dormirá no chão frio, onde os ventos
invernais sopram e a neve se lança impetuosamente. Quando só ele estiver
ao lado de seu dono, ele beijará a mão que não tem alimento a oferecer,
ele lamberá as feridas e as dores que aparecem nos encontros com a
violência do mundo.
Ele guarda o sono de seu pobre dono como se fosse um príncipe. Quando
todos os amigos o abandonarem, o cão permanecerá. Quando a riqueza
desaparece e a reputação se despedaça, ele é constante em seu amor como o
sol na sua jornada através do firmamento. Se a fortuna arrasta o dono para
o exílio,o desamparo e o desabrigo, o cão fiel pede o privilégio maior de
acompanhá-lo, para protegê-lo contra o perigo, para lutar contra seus
inimigos.
E quando a última cena se apresenta, a morte o leva em seus braços e
seu corpo é deixado na laje fria, não importa que todos os amigos sigam
seu caminho, lá ao lado de sua sepultura se encontrará seu nobre Cão, a
cabeça entre as patas, os olhos tristes mas em atenta observação, fé e
confiança mesmo à morte."
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AS DEZ COISAS QUE UM CÃO QUER
DE SUA GENTE Ulrich
Klever, zoólogo, Em: "The
Complete Book of Dog Care", Tradução de Millor Fernandes
-
Minha vida deve durar entre 10 e 15 anos. Qualquer separação será
muito dolorosa para mim.
-
Me dê algum tempo para entender o que você quer de mim.
-
Tenha confiança em mim. É fundamental pro meu bem-estar.
-
Não fique zangado comigo por muito tempo. E não me prenda em nenhum
lugar como punição. Você tem seu trabalho, seus amigos, suas diversões.
Eu só tenho você.
-
Fale comigo de vez em quando. Mesmo que eu não entenda
as suas
palavras, compreendo muito bem seu tom de voz e sinto o que você está me
dizendo. Isso ficará gravado em mim para sempre.
-
Antes de me bater, lembre sempre que eu tenho dentes que poderiam
feri-lo seriamente, mas que nunca vou usá-los em você.
-
Antes de me censurar por estar sendo vadio, preguiçoso ou teimoso,
pergunte antes se não há alguma coisa me incomodando. Talvez eu não
esteja me alimentando bem. Posso estar resfriado. Ou também meu coração,
que está ficando velho e cansado.
-
Cuide de mim quando eu ficar velho; você também vai ficar.
-
Não se afaste de mim em meus momentos difíceis ou dolorosos. Nunca
diga "prefiro não ver" ou "faz quando eu não estiver presente". Tudo é
mais fácil pra mim com você do lado. "
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O TESTAMENTO DE UM
CÃO Frank Reichstein
-
Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você... Uma
coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma
desajeitada cama de cachorro e uma escudela de água que se encontra
fendada na borda.
-
Deixo para você metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada, que
você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito,
que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no
canteiro de rosas, e sob o assoalho de minha cama. Além disso, eu deixo
para você a memória, que, aliás são muitas.
-
Deixo para você a memória de dois enormes olhos marrons, a memória de
uma caudinha curta e espetada, de nariz molhado e de choradeiras atrás da
porta.
-
Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela,
quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse
meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.
-
Deixo para você um tapete esfarrapado em frente à sua cadeira
preferida, o qual nunca foi concertado com o tipo de linha certo, essa é a
verdade. Eu o mastiguei todinho, quando tinha ainda cinco meses de idade,
lembra-se? Também deixo para você a memória da primeira surra que levei e
também todo o meu esquecimento.
-
Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim, debaixo dos arbustos
perto da varanda da frente, onde eu encontrava asilo durante aqueles dias
de verão. Ele deve estar cheio de folhas agora, e, por isso, talvez você
tenha dificuldades em me encontrar. Sinto muito!
-
Deixo, também, e só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo
sobre as folhas de outubro, quando nós vagabundeávamos pelo bosque.
-
Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs quando saíamos
juntos pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de
baunilha. Recordo-me das suas risadas, porque eu não conseguia alcançar
aquele coelho impertinente. Deixo-lhe como herança minha devoção, minha
simpatia, meu apoio quando as coisas não andavam bem; meus latidos quando
você levantava a voz aborrecido... e minha frustração por você ter ralhado
comigo todas as vezes que eu colocava o nariz debaixo da cauda. Eu nunca
fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado
sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você exemplo de
paciência, de amor e compreensão.
-
Sua vida tem sido mais alegre porque eu vivi.
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EU TAMBÉM TENHO
SENTIMENTOS...
Autor
Desconhecido
1a semana Hoje faz uma
semana que nasci, que alegria ter chegado a este mundo!
1o mês Minha mãe me cuida
muito bem. É uma mãe exemplar.
2o mês Hoje me separaram de
minha mãe. Ela estava muito inquieta e, com seus olhos, me deu adeus,
esperando que minha nova 'família humana' cuide tão bem de mim como ela
fez.
4o mês Tenho crescido
rápido, tudo chama minha atenção. Há várias crianças na casa que para mim
são como se fossem irmãozinhos. Somos muito inquietos, eles puxam o meu
rabo e eu mordo brincando.
5o mês Hoje me
repreenderam.
Meu dono ficou bravo porque fiz xixi dentro de casa, mas nunca tinham me
dito onde devo fazê-lo. Ainda durmo na área de serviço. Já não agüentava
mais!
8o mês Sou um cachorro
feliz. Tenho o calor da família, me sinto tão seguro, tão protegido.
Acredito que meu dono gosta muito de mim. Quando está comendo, me convida.
O patio é só para mim e faço minhas artes cavando como os meus
antepassados, os lobos, quando escondiam a comida. Nunca me ensinaram.
Devo estar fazendo a coisa certa.
12 meses Hoje fiz um ano. Sou um
cachorro adulto. Meus donos dizem que cresci mais do que pensavam... Devem
estar orgulhosos de mim.
13 meses Como me senti mal hoje. Meu
'irmãozinho' pegou minha bola... eu nunca pego os brinquedos dele. Assim,
tirei dele novamente mas minhas mandíbulas ficaram muito fortes e o
machuquei sem querer. Depois do susto, me acorrentaram, quase sem poder me
mexer, no sol. Dizem que vou ficar em observação e que sou um ingrato. Não
entendo nada do que aconteceu.
15 meses Nada mais é igual...vivo na
sacada. Me sinto muito sozinho... minha família já não gosta mais de mim.
Às vezes esquecem que tenho fome e sede... quando chove não tenho teto
para me cobrir.
16 meses Hoje me tiraram da sacada.
Com certeza a minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que dava
pulos de alegria. Meu rabo parecia ventilador. Me levaram com eles para
passear. Estávamos na estrada e de repente pararam, abriram a porta e eu
desci feliz, acreditando que faríamos nosso 'piquenique'. Não entendo
porque fecharam a porta e foram
embora. "Escutem, esperem!" - lati -
"Esqueceram de mim!" Corri atrás do carro com toda minhas forças. Minha
angústia crescia ao me dar conta que ficava cansado e eles não parariam:
tinham me esquecido.
17 meses Tenho tentado, em vão,
procurar o caminho de volta a casa... sinto que estou perdido. No meu
caminho há gente de bom coração, que me olha com tristeza e me dá algo
para comer. Eu agradeço com meu olhar e do fundo da minha alma. Eu queria
que me adotassem, seria leal como ninguém. Mas só dizem "pobre cachorrinho,
deve estar perdido".
18 meses Outro dia passei por uma
escola e vi muitas crianças e jovens como meus 'irmãozinhos'. Me
aproximei e um grupo deles, rindo, me jogou uma chuva de pedras "para ver
quem tinha a melhor pontaria". Uma das pedras machucou meu olho e desde
então não vejo com ele.
19 meses Parece mentira... quando
estava mais bonito ficavam com mais pena de mim, hoje estou magro, meu
aspecto está mudado... perdi meu olho... e as pessoas me espantam a
vassouradas quando tento deitar-me numa sombra.
20 meses Quase não posso me mover...
hoje ao atravessar uma rua por onde passam muito carros um me atropelou.
Eu estava num lugar seguro chamado acostamento... nunca vou esquecer o
olhar de satisfação do motorista, que desviou o trajeto para me bater.
Queria que tivesse me matado, mas só deslocou a bacia. A dor é terrível,
minhas patas traseiras não respondem e, com dificuldade, arrastei-me até
um pouco de grama ao lado da rua. Estou a
10 dias embaixo do sol, da chuva e no frio, sem comer. Já não posso me
mover... a dor é insuportável. Sinto-me muito mal, fiquei em um lugar
úmido e parece que até meu pêlo está caindo. Algumas pessoas passam e nem
me vêem, outras dizem: "Não te aproxime". Já estou quase inconsciente mas
alguma força estranha me fez abrir os olhos... a doçura de sua voz me fez
reagir. "Pobre cachorrinho, olha como te
deixaram", dizia... junto dela vinha um senhor de jaleco branco, começou a
me tocar e falou: "Sinto muito senhora, mas este cachorro já não tem
remédio, é melhor que pare de sofrer". Da gentil senhora caíram lagrimas
dos olhos. Como pude, movi o rabo e a olhei, agradecendo-a por me ajudar a
descansar. Só senti a picada da agulha, dormi pra sempre pensando porque
tive que nascer se ninguém me queria.
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A VELHICE DE UM
CÃO Autor
Desconhecido
Seu cachorrinho já lhe terá proporcionado muitas alegrias. Cuide
para que ele tenha um final de vida feliz. Sempre que for possível,
deixe que ele permaneça ao seu lado, pois este será, realmente, um dos
poucos prazeres que lhe restarão na velhice. A grande despedida está
próxima e ele, por instinto, sabe disto. É natural que deseje a
companhia daquele que aprendeu a amar e respeitar durante toda a
vida. Não o abandone agora! Ele já não será mais aquele animal
bonito de antes. Seus pelos começam a cair. Seu caminhar perderá a
elegância e sua cabeça penderá, cansada, sobre suas patas. Somente seu
olhar acompanhará os passos de seu dono. Lembre-se que, dentro do
peito, ele ainda possui aquele coração que vibrará com o som da voz de seu
mestre. E, chegando o fim, não se envergonhe, chore.
Você acabou de perder o mais delicado e fiel dos amigos... o
cão!
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ORAÇÃO DO
CÃO Autor desconhecido
Senhor de todas as
criaturas, fazei que o homem, meu dono, seja fiel aos outros
homens, como eu próprio lhe sou fiel. Fazei-o afeiçoado à minha
família e aos amigos, como eu próprio lhe sou afeiçoado. Fazei que
ele guarde honestamente os bens que tu lhe confias, como eu,
honestamente, guardo os que ele me confia. Dai-lhe Senhor, um sorriso
fácil e espontâneo, como fácil e espontâneo é o mover da minha
cauda. Fazei-o tão pronto à gratidão, como eu, sempre tão pronto,
lhe lambo as mãos. Dai-lhe uma paciência igual à minha, que lhe
aguardo sem queixume. Que ele tenha a minha coragem, e a minha
prontidão no sacrifício, Desde a comodidade à própria
vida. Conserva-lhe a juventude do meu coração,e a alegria do meu
conhecer. Por fim, ó Senhor de todas as criaturas, fazei-o sempre
tão verdadeiramente homem, como eu sempre, tão verdadeiramente, sou
cão.
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COMO VOCÊ
PÔDE? Jim Willis tradução: Cida
Lellis
Quando era um filhote, eu o
distraia com minhas travessuras e o fazia
rir. Você me chamava de sua criança e,
apesar de um certo numero de sapatos mascados e um par de almofadas destruídas, eu me tornei sua melhor amiga . Sempre que eu fazia algo
errado, você chacoalhava seu dedo para mim e dizia: "Como você pôde" - mas
depois você se arrependia e me rolava no chão para me coçar a barriga. Meu
treinamento demorou um pouco mais do que o esperado porque você estava
ocupado demais, mas, juntos, nós conseguimos dar um
jeito.. Eu me lembro daquelas noites em
que me aninhava a você na cama e ouvia suas confidencias e sonhos secretos
- e acreditava que a vida não poderia ser mais perfeita. A gente fazia
longos passeios e corridas no parque, andava de carro, e parava para um
sorvete (eu ganhava só a casquinha porque "sorvete não faz bem para cães"
você dizia) e eu tirava longos cochilos ao sol enquanto aguardava sua
volta para casa ao final do dia. Aos
poucos você passou a gastar mais tempo no trabalho e com sua carreira e
levava mais tempo procurando por uma companheira humana. Eu esperei por
você pacientemente, confortei-o em suas mágoas e desilusões, nunca o
repreendi por suas escolhas ruins, e vibrei de alegria nas suas vindas
para casa e quando você se apaixonou... Ela, agora sua esposa, não é uma
"apreciadora de cães" - ainda assim eu a recebi em nossa casa, tentei
mostrar-lhe afeição, e a obedeci. Sentia-me feliz porque você estava
feliz. Então vieram os bebês humanos e eu
reparti com você o entusiasmo. Eu estava fascinada por seus tons rosados,
seu cheiro, e queria muito cuidar deles também. Mas ela e você tinham medo
de que eu pudesse machucá-los, e eu passei a maior parte do tempo sendo
banida para outra sala, ou para a casinha de cachorro.. Oh, como eu queria
tê-los amado, mas eu me tornei uma "prisioneira do
amor." À medida que foram crescendo, me
tornei amiga deles. Eles se agarravam ao meu pêlo e se levantavam sobre
perninhas trôpegas, enfiavam os dedos em meus olhos, examinavam minhas
orelhas, e davam beijos em meu nariz. Eu adorava tudo isso, e o toque de
suas mãozinhas - porque o seu toque agora era tão raro - e eu os teria
defendido com minha própria vida, se fosse preciso. Eu me esgueirava para
suas camas e escutava suas inquietações e sonhos secretos, e juntos
esperávamos pelo barulho de seu carro no
caminho. Houve um tempo, quando alguém
perguntava se você tinha cachorro, em que você tirava uma foto minha de
sua carteira e contava histórias sobre mim. Nos últimos anos você apenas
respondia "sim" e mudava de assunto. Eu passei de "seu cão" para "apenas
um cachorro" e você reclamava de cada gasto que tinha comigo. Agora você
tem uma nova oportunidade de carreira em outra cidade , e vocês irão se
mudar para um apartamento onde não permitem animais. Você tomou a decisão
acertada para sua "família", mas houve um tempo em que eu era sua única
família. Fiquei excitada com o passeio de
carro até que chegamos ao abrigo de animais. O local tinha cheiro de gatos
e cães, de medo, de desesperança. Você preencheu a papelada e disse "Sei
que vocês encontrarão um bom lar para ela"... Eles deram de ombros e
lançaram a você um olhar compadecido. Eles compreendem a realidade que
espera um cão de meia idade, mesmo um com "papéis". Você teve que
desgarrar os dedos de seu filho de minha coleira enquanto ele gritava
"Não, papai! Por favor, não deixe que levem meu cão!". E eu me preocupei
por ele, e com a lição que você tinha acabado de lhe dar sobre amizade e
lealdade, sobre amor e responsabilidade, e sobre respeito por todo tipo de
vida. Você deu um afago de adeus em minha cabeça, evitou meu olhar e,
polidamente, recusou levar minha coleira e guia com você. Você tinha um
tempo-limite para encarar e agora eu também tenho
um. Depois que você partiu as duas
simpáticas senhoras que o atenderam comentaram que você provavelmente
soube meses atrás da mudança que ocorreria e não fez nenhuma tentativa de
encontrar um novo lar para mim. Elas sacudiram a cabeça e disseram "Como
você pôde?". Elas são tão atenciosas para nós aqui no abrigo quanto seus
ocupados horários permitem. Elas nos
alimentam, é claro, mas eu perdi meu apetite dias atrás. De início, sempre
que alguém passava pelo meu alojamento , eu corria para a frente, na
esperança de que fosse você - que você tivesse mudado de idéia - que isto
fosse tudo um sonho mau.... ou eu esperava que ao menos fosse alguém que
se importasse, alguém que pudesse me salvar. Quando percebi que não
poderia competir com os alegres filhotes, inconscientes de seus próprios
destinos, nas brincadeiras para chamar atenção, afastei-me para um canto
distante, e aguardei. Ouvi seus passos
quando ela veio até mim ao final do dia, e a segui ao longo do corredor
para uma sala separada. Uma sala deliciosamente silenciosa. Ela me colocou
sobre a mesa, acariciou minhas orelhas, e disse-me para eu não me
preocupar. Meu coração se acelerou na expectativa do que estava para vir,
mas havia também uma sensação de alivio. A prisioneira do amor havia
esgotado seus dias. Como é de minha
natureza, estava mais preocupada com ela. O fardo que ela carrega é
demasiado pesado, e eu sei disso, da mesma maneira que conhecia cada um de
seus humores. Ela gentilmente colocou um torniquete em volta de minha
perna dianteira, enquanto uma lágrima corria por sua face. Lambi sua mão
do mesmo modo como costumava fazer para confortar você há tantos anos
atrás.. Ela habilmente espetou a agulha hipodérmica em minha veia. Quando
senti a picada e o líquido frio se espalhou através de meu corpo, deitei a
cabeça sonolenta, olhei dentro de seus olhos gentis e murmurei "Como você
pôde?". Talvez por ter entendido meu
linguajar canino, ela disse "Sinto tanto!", abraçou-me e apressadamente
explicou que era seu trabalho fazer com que eu fosse para um lugar melhor
onde não seria ignorada, ou maltratada ou abandonada, nem ter que me virar
para sobreviver - um lugar de amor e luz, tão diferente deste lugar
terrestre. E com minha ultima gota de energia tentei transmitir -lhe com
uma sacudidela de minha cauda que meu "Como você pôde?" não era dirigido a
ela. Era em você , Meu Amado Dono, que eu
estava pensando. Pensarei em você e esperarei por você eternamente. Possa
alguém em sua vida continuar a demonstrar-lhe tanta lealdade.
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ICQ
15111569
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