CRÔNICAS 1. O medo de ser homossexual
Costumo repetir que é preciso ser muito macho
prá ser bicha. Explico-me melhor: em nossa sociedade, tão
marcada pela ditadura heterossexual, onde quem gosta do mesmo sexo é
xingado, agredido, até assassinado, somente os mais fortes e
que resistem mais bravamente ao heterrorsexismo, é que conseguem
suportar a opressão e aceitar o desafio de ser "anormal",
de estar fora da norma dominante.
Mesmo aquela bichinha ultra efeminada, toda mole e de aparência
frágil, se for analisar bem sua história, somos obrigados
a concluir que ela é mais forte e corajosa do que muito machão
troglodita, daqueles que gostam de dar porrada em mulher e viado. Forte
por ter tido a coragem de desafiar tudo e a todos, assumindo uma identidade
"marginal" que só de pensar muita gente morre de medo.
Forte por agüentar a pressão e opressão que diariamente
todo mundo exerce contra ela, criticando, ridicularizando, querendo
curar, jogando pedra ou querendo dar porrada. Forte ainda, dirão
alguns com ironia, por ter força suficiente para agüentar
picas gigantescas, pois não é qualquer um/a que possui
cu e garganta com elasticidade e profundidade suficientes para engolir
verdadeiros obeliscos...
Em suma, não é mole nem fácil ser gay mesmo no
mundo moderno onde já não existe fogueira da inquisição.
Isto porque há mais de 4 mil anos nossos antepassados vem ouvindo
e repetindo que "o homem que dormir com outro homem como se fosse
mulher, deve ser morto a pedradas!" Mais ainda: padres, pastores,
rabinos, médicos e psiquiatras se encarregaram de modernizar
esta abominação do Antigo Testamento, rotulando gays e
lésbicas de anormais, desviantes, descarados, neuróticos,
infantilóides, tarados, etc.
Pergunto: quem escolheria livremente ser rotulado e tratado como devasso,
pervertido, pecador, imoral? Ou ouvir o pai e mãe dizer: "prefiro
um filho ladrão do que viado!" ou "antes uma filha
puta do que sapatão?" E as porradas que os gayzinhos mais
efeminados levam em casa, dos colegas na escola, da polícia na
rua? E as vaias, piadinhas, humilhações, discriminações
injustas quando procuram emprego ou simplesmente passeiam pelo shopping?
E as caricaturas e palhaçadas que a televisão associa
à figura dos gays?
Por todas estas razoes que o índice de adolescentes gays que
se suicidam é três vezes mais alto do que os jovens heterossexuais.
O gayzinho tem de ser muito forte para enfrentar e resistir a homofobia,
esta terrível praga da intolerância que se espalha por
todos os lugares, em todas situações do dia a dia. Daí
a dificuldade e resistência de tantos homossexuais aceitarem tranqüilamente
e assumirem algo tão simples - que amam o mesmo sexo - mas que
a ignorância e a ditadura heterossexista faz deste desejo tão
inocente e legítimo, um monstro de sete cabeças.
Este caso a mim relatado por um jovem bissexual baiano ilustra o que
acabamos de refletir: Richard, hoje com 26 aos, poderia ser considerado
um adolescente privilegiado - bonito, alto, classe média, inteligente
e culto. Tinha uma fraqueza: era vidrado em sexo. Aos 13 descabaçou
a namorada de 16 anos. Aos 18 casou com uma atriz, coroa fogosa de 38.
Sexo todo dia, duas ou mais trepadas cada vez que iam prá cama.
Certa ocasião seu primo mais velho convidou um barbeiro gay para
cortar o cabelo dos dois em sua casa. Lá chegando, ficou cabreiro
ao notar a exibição de um vídeo com filme pornô.
Nisto o barbeiro enquanto cortava o cabelo do primo, logo começou
a apalpá-lo, transando em sua frente. Richard sentia um misto
de atração e repulsa. Também queria transar mas
até aquele dia, só tinha transado com mulheres, e não
sabia qual haveria de ser sua reação.
Após cortar-lhe o cabelo, o barbeiro repetiu o script: começou
a passar a mão no seu sexo por sobre a calça, abrindo
logo a braguilha para libertar aquela pica dura que latejava querendo
sair prá fora. De pé, encostado na parede, Richard sentia
calafrios, querendo mas temendo aquela primeira vez que um outro homem
o fazia perder a cabeça. A bicha era especialista na arte de
chupar, e a profundidade de sua garganta foi o que mais chamou a atenção
do jovem inexperiente, pois nunca mulher alguma havia engolido sua pica
com tanto gosto e profissionalismo como este barbeiro gay.
(Faço aqui um parêntesis: muitos homens dão o depoimento
que gay é quem gosta mesmo de chupar caralho, engolindo o ganso
até o fundão da garganta, enquanto mulher se contenta
em ficar mamando só a cabecinha...)
Richard resistiu por pouco tempo as lambidas e mamadas insistentes da
bicha insaciável: mal enfiou três ou quatro vezes seu caralho
latejante bem no fundo da garganta da criatura, não conteve a
ejaculação: esporrou gostoso enquanto puxava a cabeça
do rapaz para enfiar ainda mais profundamente sua espada na goela abaixo
do passivo. De olhos fechados, seu gozo foi uma explosão como
se tivesse perdido o juízo, esquecendo-se de onde estava e com
quem estava transando. As pernas tremendo, por pouco não caiu
no chão!
Mal terminou de soltar as últimas gotas de gala, que o gay lambia
satisfeito enquanto também se masturbava de cócoras a
seus pés, Richard levantou a cueca, vestiu a calça e só
pensava numa coisa: fugir daquele antro de perdição!
Sentiu imediatamente uma dor de cabeça violenta, escapando do
apartamento de seu primo sem olhar prá trás nem dizer
qualquer palavra. Na rua, voltando prá sua casa, além
da insuportável dor de cabeça, uma idéia fixa o
atormentava: será que eu sou gay? Será que vou me tornar
igual as bichas mariconas de quem todo mundo ri e quer dar porrada?
Será que meu futuro é ser como aquela bichinha cabeleireira
e amanha serei eu a me ajoelhar aos pés de outros machos para
chupar pica e engolir gala? E se a Aids me pegar?
Como Richard, milhares, milhões de jovens morrem de medo do homoerotismo.
Sentem curiosidade e desejo de transar com outros homens, mas a falta
de informação, a homofobia internalizada, o medo das conseqüências
de uma transa homossexual, provocam reações e sentimentos
contraditórios e muitas vezes, altamente neuróticos e
destrutivos. Alguns destes jovens não se permitirão jamais
experimentar o que tanto desejam, transformando suas fantasias homoeróticas
em agressão contra os gays assumidos por que foram mais corajosos
e ousados, desfrutando de um prazer que eles próprios recalcaram.
Quando muito se masturbam pensando nos corpos masculinos que não
ousaram tocar, ou solicitando de prostitutas que enfiem objetos fálicos
em seus anus. Outros manterão relações extremamente
neuróticas e quiçá agressivas com outros gays,
culpando e castigando os parceiros e a si próprios por ceder
a prazeres tão fortes e proibidos.
Uma minoria conseguirá vencer o medo e vai não apenas
vivenciar deliciosas e repetidas relações homoeróticas,
como há de construir sua vida como gay assumido. Para estes,
que venceram o medo de se assumir e de ser reconhecido como homossexual,
o futuro é muito mais promissor e feliz do que os que por medo,
continuam presos ao preconceito e à homofobia internalizada,
pois o medo escraviza, e a coragem, liberta!
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