Este trabalho foi realizado no primeiro semestre de 2001 por:

Cinara Glaise Puglia,

Janaína Pérola D’Arcádia Fonseca Spolidorio,

Maria Ângela Ribeiro Barbosa,

Marlene Aparecida Medeiros e

Renata de Felice Del Monte.

 

"MENADE BAL, PÜKI BAL" ?

ARTIGO NEOLOGISMOS

 

RESUMO: Este artigo apresenta um estudo do Hopês, idioma do parque temático Hopi Hari, com o objetivo de enfatizar a dicotomia humana em individualizar e socializar a comunicação, criando neologismos.

PALAVRAS-CHAVE: criatividade, (língua) artificial, individualizar, socializar, lúdica.

  1. Introdução:
  2. O Hopês, língua artificial criada especialmente para o parque temático Hopi Hari por Taterka Comunicações Ltda, como estratégia de "marketing", pode ser encontrado na sua totalidade em um pequeno dicionário intitulado Pequeno Dicionário Michaelis Hopês-Português, publicado pela Editora Melhoramentos e vendido em vários pontos do parque.

    A partir do estudo do idioma citado, pretendemos mostrar a necessidade presente no ser humano de criar uma comunicação sempre nova. Sempre que o homem fala, pretende ser inédito, pois, por mais que repita ditos anteriores, o faz de forma diferente. Ao mesmo tempo, entretanto, quer ser compreendido.

    Este artigo pretende afirmar que o maior nível de criatividade na comunicação neológica, encontra-se na construção de uma língua artificial.

    Grande parte da popularidade do Hopi Hari deve-se ao Hopês, pois os usuários do parque vêem nessa brincadeira o desejo particular de "possuir" um idioma fácil e divertido. A grande maioria das pessoas, em algum momento da vida, participou ou participa de um grupo que construiu um código de comunicação restrito aos seus membros.

    Os visitantes utilizam o "produto" língua, criado de forma lúdica e séria ao mesmo tempo, como se fosse mais uma das atrações do parque.

  3. Fundamentação teórica:

"Há muito os filólogos abandonaram, por quimérica, a tentativa de reconstruir a primitiva língua mater, percebendo que todos os idiomas, até os mais antigos, já nos foram transmitidos numa forma muito envolvida, na qual pouco ou nada transparece do primarismo do antepassado comum, se é que o houve." (Rónai, 1964 : 21)

As línguas São vivas, pois vivos são os seus usuários. Para que uma língua possa evoluir, é necessário que os seus falantes permitam a criação lexical. O processo de criação lexical é denominado neologia e o produto da neologia é o neologismo.

"A neologia é um processo dinâmico, que se inicia na sua criação e termina na desneologicidade, recomeçando o processo. Pode-se precisar três aspectos no estudo do nascimento do signo: o primeiro, que focaliza o signo como determinante e, ao mesmo tempo, o reflexo da organização social; o segundo refere-se ao momento de sua criação, o lugar concreto em que se dá, a seleção que se faz, para se escolher o novo signo, bem como a sua aceitabilidade; e o terceiro, que mostra o processo de sua desneologização."(Barbosa, 1996 : 117)

Segundo a orientação sociológica, a origem e a função do signo ligam-se às necessidades sociais do grupo. Uma nova situação social cria uma necessidade de uma nova palavra ou novo significado a um signo já existente. Muitas vezes os neologismos tornam-se signo-símbolo de certas facetas culturais desse grupo. A evocação do objeto traz em si o reflexo de uma cultura dominante.

"O léxico, cujas formas exprimem o conteúdo da experiência social, é o conjunto dos elementos do código lingüístico, em que se sentem particularmente as relações entre a língua de uma comunidade humana, sua cultura – no sentido antropológico – , sua civilização. Compreende-se, pois, que uma alteração nas unidades desse inventário, seja o reflexo, não raras vezes, de alterações culturais." (Barbosa, 1996 : 120)

O momento e o lugar da gênese neológica estão ligados ao processo da enunciação. Qualquer usuário da língua possui os mecanismos necessários à neologia e o usa freqüentemente.

O dito popular "Quem conta um conto aumenta um ponto." determina a necessidade do ser humano em individualizar a sua narrativa. É muito comum encontrar pessoas que, ao conversar com outras sobre determinado assunto, não abdicam de fazer também um comentário, mesmo que para concordar inteiramente com a primeira. É o desejo de autoria manifestado. Esse desejo às vezes não encontra, ou pelo desconhecimento ou pela inexistência, a palavra adequada, conseqüentemente dá mais um passo para a evolução da língua, cria um neologismo. O enunciador do neologismo procura usar vários recursos formais, para chamar a atenção do destinatário a fim de que este consiga decodificá-lo. Pode resultar de ação individual, na maioria das vezes, pode ser consenso de um grupo, ou ainda pode ser de criação popular sem que se consiga identificar sua origem.

O direito à criação de novas palavras não foi sempre pertencente a todos os usuários da língua. Houve época em que esse direito era reservado ao monarca e a alguns escritores de renome; em época posterior o modelo social e lingüístico foi representado por uma elite social – em termos de dominância dos meios de cultura – e pelos melhores escritores assim reconhecidos por essa classe.

Sempre houve grupos que pretendiam o purismo do idioma para "salvaguardar o gênio da língua", apesar disso a modificação é inevitável.

"Os jornais de grande difusão, constituem um lugar privilegiado do movimento dialético conservação-renovação, pois o jornalista, além de precisar "escrever bem" e segundo os padrões estabelecidos, precisa, ao mesmo tempo, dar conta dos novos dados sociais – novos designata – e empregá-los, por vezes, como instrumento de agressão, para atingir os locutores e obrigá-los a reagir." (Barbosa, 1996 : 138)

A nova palavra só assume o estatuto de neologismo de língua quando, depois de criada num ato de fala, é aceito pelos interlocutores, e reempregada em outros atos de comunicação. A aceitabilidade do neologismo pelos destinatários, bem como a inserção no conjunto léxico já estabelecido, determina a "vida" ou "morte" do novo vocábulo.

A alta freqüência de emprego de termos novos, tornam-nos conhecidos e fazem, pouco a pouco, desaparecer o impacto da novidade lexical. A idéia de neologismo vai-se esvaziando progressivamente, até que, imperceptivelmente, os vocábulos passam a integrar o conjunto das unidades lexicais memorizadas de alta freqüência e distribuição regular entre os falantes.

"A formação neológica, exceção feita a certas onomatopéias e à criação ex-nihilo, nunca é uma unidade mínima de significado, isto é, um morfema. O repertório lexical de unidades mínimas é transmitido de geração para geração e, por essa razão, a criação é o resultado da combinatória de elementos mais simples existentes na língua. Desse modo, a criação consiste essencialmente no modo de relação entre esses elementos." (Barbosa, 1996 : 174)

Percebe-se que a renovação lexical não se dá de forma caótica, mas submete-se a um controle. A neologia possui uma série de regras que exercem coerção sobre a criação, a sinalização, a determinação e o emprego dessas novas unidades.

"O estudo da história da língua portuguesa nos revela que o léxico português, basicamente de origem latina, tem ampliado o seu acervo por meio de mecanismos oriundos do latim, a derivação e a composição." (Alves, 1999 : 5)

O ser humano deseja criar na fala ou na escrita, mas ao mesmo tempo deseja ser compreendido pelo receptor. O homem sempre sonhou com a comunicação universal. O latim conseguiu por mil anos ser o idioma internacional dos intelectuais de toda a Europa. No início do século XVII começa o assalto dos idiomas vulgares. Nesse momento surge a idéia de criar um meio novo que aproximasse as pessoas de línguas diferentes. Houve então a tentativa de se organizar uma língua artificial, já que os partidários da língua universal defendiam a opinião de que, se houvesse a adoção de uma das línguas já existentes para esse fim, os demais povos ficariam com inveja e receio do excesso de poder que a nação cuja língua houvesse sido escolhida poderia pretender usar. Hoje em dia, verifica-se que o inverso é que tem ocorrido. A língua das nações com grande poderio político-econômico acaba por ser adotada como língua auxiliar pelos povos menos poderosos incluídos na sua órbita.

Uma proposição seria o retorno de uma língua morta, como o latim, para veículo do pensamento internacional. No entanto, para que se adotasse qualquer língua morta, seria necessário adaptá-la às necessidades atuais e isso seria rebaixá-la de seu pedestal.

"Eliminadas assim as línguas vivas e as mortas, só podem entrar em consideração as ainda não nascidas e por ser criadas, isto é, as artificiais, bem mais numerosas do que se pensa: umas francamente natimortas, outras de existência efêmera, algumas falecidas depois de esperançosa novidade, e apenas uma, o esperanto (...) sem sinais visíveis de enfraquecimento. Das outras, poucas saíram da nebulosa condição de sonho, vindo misturar-se por algum tempo aos nossos imperfeitos idiomas naturais." (Rónai, 1964 : 23)

A idéia de se criar uma língua universal não é tão absurda, visto que existem algumas linguagens de áreas específicas que são entendidas em todo o mundo: a linguagem das luzes dos semáforos e demais sinais de trânsito, a linguagem utilizada para a classificação dos livros, usadas por todos os bibliotecários do mundo, a linguagem das partituras musicais, o código de sinais marítimos etc.

Em 1797, o Major Maimieux, da infantaria prussiana, inventou uma Pasigrafia ou Nova Arte-Ciência de Escrever e Imprimir Numa Língua de Maneira que Seja Entendido sem Necessidade de Tradução, espécie de língua universal, só escrita e não falada. Bastava que se soubesse o seu próprio idioma e esta técnica de escrever, para que todos pudessem se entender. Seu plano, porém, não chegou além de algumas páginas de amostra. O princípio de sua linguagem era o mesmo da língua literária chinesa ou mandarim, escrita silábico-ideográfica, em que cada sinal correspondesse a uma sílaba e a uma idéia. A China possui muitos dialetos e é por intermédio dessa língua que todos os seus habitantes, bem como os de outros povos da Ásia Oriental que adotaram a escrita chinesa, tais como os japoneses, os coreanos e os anamitas, conseguem entender textos escritos, sem o conhecimento da língua falada.

Dois métodos podem ser utilizados para a formação de um idioma artificial: inventar o idioma todo ou aproveitar o vocabulário de uma ou várias línguas existentes, sistematizando-o e modificando-o conforme o bom senso. As línguas formadas a partir do primeiro método são denominadas a priori e as formadas a partir do segundo, a posteriori.

As primeiras tentativas foram apriorísticas.

Um professor de Oxford, George Dalgarno, inventou a Ars Signorum, na qual todos os conceitos, são divididos em 17 classes, designadas por letras que seriam as iniciais das respectivas palavras. A segunda letra indicava a subclasse, a terceira, a divisão da subclasse. Todas as palavras tinham quatro letras. Verbos, adjetivos e substantivos, tudo obedecia aos rigores da classificação, menos umas palavrinhas inventadas para pronomes, partículas e flexões.

Na mesma época o bispo de Chester, John Wilkins, publicava o seu plano de "línguas filosófica". Era uma língua parecida com a descrita anteriormente, com a diferença de que o número de gêneros era de 40, representados pelas duas primeiras letras. As duas últimas marcavam "diferença" e "espécie" e o total de letras por palavra era também de quatro.

O filósofo Leibniz propôs outra língua em que cada idéia fosse representada por um número, enquanto as idéias compostas representariam o produto da multiplicação de tais números. Todos esses números seriam representados por letras pronunciáveis e o conjunto formaria uma língua muito melodiosa.

Muitas outras línguas foram criadas pelos franceses: Cidadão Dolormel, A. Grosselin, E. F. Vidal, C. L. A. Letellier, os três primeiros baseavam-se na utilização de números e letras.

Em Madri em 1852 o Rev. Bonifácio Soto Ochando publicou o seu projeto de língua universal baseado numa classificação rigorosamente lógica de idéias.

De um processo similar eram A Lingualúmina (língua da luz), de F. W. Dyer; o Chabé Aban (língua natural) do engenheiro Maldant, com substantivo invariável, artigo declinável e a conjugação reduzida ao único verbo "ser", ligado a qualquer particípio; o Spokil, do Dr. Nicolas, desertora do movimento volapuque e que estabeleceu sistema de correspondência entre grupos de letras e idéias; a Blaia Zimondal, de Meriggi, fundada em correspondências onomatopaicas; a Ro, de E. P. Foster.

Houve ainda a língua "dos algarismos" de Ferdinand Hilbe; a língua "de comunicação internacional" do Dr. Dietrich, na qual a formação do vocabulário estava inteiramente subordinada à gramática.

Couturat e Léau explicam porque nenhuma das línguas filosóficas vingou, pois seus inventores, ao tentar evitar as arbitrariedades das línguas naturais, caíram noutra arbitrariedade: a classificação definitiva das idéias, cujo número, na realidade, é indefinido.

"Por outro lado, atribuindo-se papel classificador aos sons e às letras, torna-se impossível a gravação mental das palavras, porque a memória não mais pode agarrar-se a raízes silábicas. É errado supor, aliás, que palavras de sentido parecido devem ter forma parecida; o que nos permite a utilização das línguas naturais sem risco de maiores equívocos é precisamente o fato de seus homônimos designarem conceitos totalmente diversos." (Rónai, 1964 : 31)

O princípio classificatório utilizado nas diversas línguas descritas pode ser encontrado em algumas línguas naturais como a língua manjaca e outros linguajares africanos.

Uma língua muito criativa é o Solresol, língua musical universal inventada em 1817 por Jean-François Sudre. Os elementos dessa língua são apenas as sete notas internacionais da música – do, re, mi, fa, sol, la, si. As notas isoladas e os grupos de notas serviam para as partículas; os grupos de três, para as palavras mais usadas; os grupos de quatro, transformavam-se de verbos em substantivos, particípios, adjetivos e advérbios, conforme a sílaba acentuada. O que essa língua tinha de mais sensacional era a possibilidade de empregar-lhe os elementos de sete maneiras distintas: escrever ou enunciar os nomes internacionais das notas; tocá-las ou cantá-las; escrevê-las com notas de música; indicá-las com o dedo no ar por sinais estenográficos; substituí-las pelos sete primeiros números, substituíveis, a seu turno, por número correspondente de pancadas, pressões de mão; simbolizá-las pelas sete cores do espectro; marcá-las tocando com o indicador da mão direita os quatro dedos da esquerda ou seus intervalos, representantes, por sua vez, da pauta musical. Assim poderia ser usada como um idioma internacional auxiliar, uma linguagem aos surdos-mudos, outra aos cegos, outra às comunicações semafóricas a distância, outra, enfim, para os segredos da diplomacia.

O volapuque, inventado em 1879 por Johann Martin Schleyer, cura de Litzelstetten, de quem se dizia ter aprendido 83 idiomas, é em parte inventado, em parte derivado. Foi criado para promover a fraternidade humana e seu lema era "Menade bal, püki bal" – uma humanidade, uma língua. O seu criador baseou-se principalmente no inglês, mas adotou também palavras latinas, francesas, alemãs e de outras línguas, com a intenção de acentuar o universalismo. No entanto, a fim de facilitar a pronúncia, suprimia os grupos de consoantes, para ser agradável aos velhos; eliminava o som do R para agradar às crianças e aos chineses; iniciava os nomes com consoantes, colocando um L no princípio dos que em suas línguas de origem, começassem por vogal; por fim reduzia os radicais a monossílabos. Tomava por base a pronúncia e não a grafia. O vocabulário obtido ficou irreconhecível.

Essa complexidade não impediu a expansão do volapuque. Em 1888 havia aproximadamente um milhão de volapuquistas; duzentos e oitenta e três sociedades e vinte e cinco jornais consagrados à difusão do idioma; trezentos e dezesseis manuais de volapuque e a gramática do Ver. Schleyer fôra traduzida em 24 idiomas.

Após o grande apogeu há uma queda vertiginosa, o que constituiu-se o fato mais estranho da história das línguas universais. No terceiro congresso volapuquista, vários lingüistas apontaram muitos problemas da língua e pretendiam fazer as alterações, retirando do seu criador o poder de veto. Schleyer, magoado, abandonou a comissão que resolveu abrir mão do volapuque e construir uma língua inteiramente nova, o Idiom Neutral.

Muitos desertores do volapuque o refizeram por conta própria com outros nomes. Os inventores dessas outras línguas consertaram alguns problemas e criaram outros.

O volapuque veio aumentar o problema da língua internacional. Entretanto teve o mérito de mostrar que existia nos povos a vontade de estudar um idioma artificial e que havia possibilidade de aprendê-lo. Enquanto ele morria, apontava o seu maior rival, o esperanto.

"É preciso estudar volapuque", verso de Carlos Drummond de Andrade no famoso "Poema da Necessidade", tornou-se "a flor que nasce monótona sobre o túmulo" de Mons. Schleyer.

O primeiro idioma artificial que não nasceu morto como a maioria dos predecessores ou morreu ao fim de alguns anos de vida, como o volapuque, foi o esperanto.

Seu criador, Ludwig Lazar Zamenhof, pretendia que sua língua estreitasse os laços entre os homens, pois vivia a sofrer os ódios raciais, nacionais e religiosos em Bialistock, sua cidade natal, onde, sob o domínio russo, polacos, lituanos, judeus e alemães viviam a detestar-se uns aos outros.

A gramática do Esperanto foi resumida por Zamenhof em 16 regras, Várias delas possuem subdivisões, mesmo assim, as regras são bem menos numerosas que as de qualquer língua natural.

Há vários argumentos a favor do esperanto. Dentre eles o seu efetivo funcionamento há mais de um século e a sua capacidade de exprimir quaisquer conteúdos – literários, científicos, práticos – demonstrada por milhares de volumes.

Por outro lado, não é difícil apontar as imperfeições do esperanto. Foram elas que levaram os lingüistas a não darem por terminada a sua tarefa com essa criação engenhosa.

Um idioma artificial deve ser superior às línguas existentes e eliminar-lhes as falhas. Um dos problemas encontrados no esperanto é a conservação do acusativo: o inglês e as línguas neolatinas vivem bem sem ele. Os esperantistas, entretanto, continuam defendendo-o como meio de assegurar flexibilidade à frase no que diz respeito à ordem das palavras. Outro problema é a atribuição de flexões de número aos nomes. Seria preferível marcar o plural pelas variações do artigo. A concordância do adjetivo com o substantivo constitui outro luxo.

"Os seis particípios formam, sem dúvida, um sistema de perfeita simetria, mas são desnecessários. O autor de uma excelente gramática de esperanto aponta-os como uma prova de expressividade da língua. Convida-nos a imaginar o movimento de um consultório. Haverá uma pessoa esperando o momento de consultar o médico: será a Konsultonta persono; outra o estará consultando: será a Konsultante persono: outra acabará de consultá-lo: a Konsultinta persono. Ora, cada um de nós já tem estado em consultórios, aguardando a sua vez, mas a nenhum deve ter ocorrido a falta de termos exatos em sua língua para classificação tão exata das pessoas que ali se encontram. Dir-se-ia que neste pormenor Zamenhof se deixou seduzir pelo quimérico desejo de perfeição de alguns de seus predecessores. Com efeito, a regularidade nem sempre coincide com a facilidade." (Rónai, 1969 : 70)

O sistema de derivação é o orgulho dos esperantistas. No entanto foi esse sistema que instaurou a crise de 1907, com a saída do grupo de Beaufront, Couturat e outros filólogos franceses. Couturat apontou os derivados que não obedeciam aos princípios de univocidade e reversibilidade e propôs a alteração com sufixos novos, o que não foi aceito por modificarem vários trechos do Fundamento, considerado um livro sagrado, imutável e intocável pela maioria.

Apesar das críticas, o esperanto resistiu e prosperou, mas nem assim é ensinado nas escolas como segunda língua obrigatória ou foi adotado na ONU como língua auxiliar internacional

Desde o nascimento o esperanto foi concebido como idioma de virtualidades artísticas, apropriado à expressão literária. "Há poetas que se exprimem unicamente em esperanto." (Rónai, 1969 : 70). Desempenha papel de mediação cultural, prestando-se à tradução de milhares de obras das línguas mais diversas, o que lhe confere caráter único entre os idiomas artificiais, mas, ao mesmo tempo, o aproxima das línguas naturais.

"Em todo o caso demonstrou, cem vezes melhor que o volapuque, que uma língua artificial, fabricada propositadamente, pode funcionar tão bem como uma língua ‘natural’ ". Ronái, 1969 : 71)

Em 1892, o Dr. Liptay criou um projeto de idioma universal, a língua católica, termo não tomado no sentido religioso e sim no sentido primitivo do grego katholikos, isto é, "geral", "universal", mudando o nome posteriormente para Die Gemeinsprache der Kulturvoelkern (A Língua Comum dos Povos Cultos), tendo em vista a significação exclusiva e sectária que o adjetivo católico estava tomando.

O seu idioma baseia-se na herança gramatical e vocabular do antigo Lácio, tal qual foi conservada nos idiomas românicos. A cada sinal deve corresponder um único som. A pronúncia de cada letra será a que ela tem nos idiomas neolatinos e no inglês, uma média.

"Segundo o planejador, a língua universal deve ser descoberta e não inventada, ou, em outros termos, compilada das línguas existentes, vivas e mortas." (Rónai, 1969 : 77)

A dificuldade quanto às línguas internacionais está em colocá-las em prática. O inventor deve elaborar até os seus mínimos detalhes não só a gramática e o vocabulário básico, mas também as regras de derivações. Deve escrever livros inteiros, que experimentem o idioma em várias traduções, como fez Zamenhof.

Sempre houve polêmica sobre os objetivos de uma língua auxiliar. "Os poetas volapuquistas ou esperantistas parecem-me ridículos" – escreve Léon Bollack, comerciante francês fundador do bolak ou língua azul. "Quanto à tradução das obras-primas, em uma língua neutra, acho-a pelo menos inútil. Ou posso ler Hamlet na língua de Shakespeare, ou ignoro o inglês; neste caso, sendo francês, leio-lhe a tradução em francês e não em alemão ou espanhol, e ainda menos em volapuque ou esperanto. Isto me parece o puro bom - senso."

Uma das características mais notáveis da língua azul é a preocupação com a forte expressividade das gírias.

A base da constituição da nova língua é a "lei dos 8-1", formulada assim: 1 letra = l som; 1 palavra = 1 sentido; 1 classe = 1 aspecto; 1 frase = 1 construção.

Bollack acreditava que a evolução das línguas eram regidas apenas pela lei do mínimo esforço. Essa lei existe de fato, como pode ser observada por exemplo em metrô, forma reduzida de metropolitano. Mas neutralizando os efeitos dessa lei, pelo desejo de se tornar claro e explicito, os franceses , não se contentando com a antiga palavra hui (hoje), julgaram útil torná-lo mais claro e passaram a utilizar a forma aujourd’hui, forma que por sua vez o camponês da França entende tornar ainda mais clara, ao dizer au jour d’aujourd’hui. Por esse motivo Bollack evitava os compostos e criava um número excessivo de palavras, simples na forma, mas complexas quanto ao sentido.

Bollack criou algo interessante em sua língua. Além dos tempos presente, passado e futuro, criou o tempo eterno para expressar ação sem designação de tempo preciso.

O matemático Peano, preparou na Itália uma nova variante alicerçada no Latim. Em um congresso realizado em 1909 para estudo do problema da comunicação internacional, o Prof. Peano iniciou o seu discurso em latim clássico, e à medida que progredia, abandonava uma a uma as flexões da língua de Cícero. Sem suas declinações e conjugações, acabaram por lhe sobrar apenas os temas. Estava criado o Latino sine flexione, que um ano depois passou a chamar-se interlíngua.

Um outro idioma muito interessante foi criado por Manuel E. Amador. O inventor não construiu uma língua mais prática e mais fácil do que as existentes, nem sequer mais lógica e mais científica. Acredita criar o mais bonito de todos os idiomas, assimilando de diversas línguas, os pormenores mais atraentes.

"Com este programa, o Panamana tornou-se um verdadeiro museu das enfermidades de vários idiomas, especialmente o inglês, o francês e o espanhol, de suas particularidades mais refratárias à lógica e que mais lhe dificultam o aprendizado." (Rónai, 1969 : 134)

O número de idiomas naturais atingia em 1969 a casa dos 3000, o dos idiomas artificiais esboçados até então acrescentava a essa quantidade pelo menos 20 %. A sua grande maioria nunca foi posta em prática. O grande problema trazido pela enorme quantidade de línguas artificiais é sofrido pelos próprios planejadores de línguas universais que, antes de empreenderem os seus trabalhos, se vêem obrigados a estudar os projetos de seus predecessores principais.

"Antes do esperanto houve mais de seiscentos planos de língua de intercomunicação. Depois dele apareceram outras tentativas, algumas das quais ainda sobrevivem, empenhadas em guerrilhas entre si. Todo ano nascem em diversos cantos do mundo idiomas novos, o que fez recentemente um lingüista observar que "os pretensos demolidores da torre de Babel não fizeram senão erguer-lhe ao lado uma réplica em miniatura"

"(...) Um edifício que não tenha alicerces bem firmes fica mais facilmente abalado. Séculos de falar vivo, de literatura, de conformação a um uso fonético ou sintático representam, para as línguas nacionais, garantias de longevidade e seriedade. Uma língua artificial diverte como brinquedo. Admiramo-nos de sua engenhosidade, experimentamo-lhe o mecanismo, mas logo nos cansamos dela." (Rónai, 1969 : 155)

A CRIAÇÃO DE UMA LÍNGUA

As línguas artificiais baseiam-se em um fundamento que dá uma amplitude extraordinária ao idioma, sendo que este está melhor preparado para a aquisição de novas palavras e conceitos do que as próprias línguas naturais. Hoje mulheres que lavam roupa são chamadas de lavadeiras. Se no futuro homens passassem a lavar roupas como seriam chamados? Lavadeiros ou seria criado outro termo para isto? O esperanto, língua artificial bem planejada, está pronto para os futuros termos e idéias: lav-i (lavar) lav-ist-in-o (lavadeira), lav-ist-o ("lavadeiro").

Para se criar uma língua artificial é necessário:

  1. Decidir quais serão os sons da língua;
  2. Criar o léxico;
  3. Criar a gramática;
  4. Designar um alfabeto;
  5. Decidir como o alfabeto será em letra cursiva;
  6. Traduzir um texto (teste).

Estudar uma língua não européia como o Quechua, o Swahili, o Chinês pode ser de grande ajuda.

SONS

Não lingüistas iriam começar pelo alfabeto e adicionar alguns apóstrofes e sinais diacrônicos. O resultado seria algo muito parecido com sua língua mãe. Pode-se conseguir melhores resultados com a utilização de noções de fonética e fonologia.

As consoantes são formadas pela obstrução de ar dos pulmões. Elas podem variar quanto ao ponto onde a obstrução ocorre, quanto ao modo de articulação, quanto à presença ou ausência de vibrações das cordas vocais, quanto à maior passagem do ar pelas vias orais ou nasais etc. A chave para a criação de uma língua é adicionar ou subtrair dimensões inteiras. Uma língua pode ter somente duas consoantes palatizadas (como o espanhol: "ll" e "ñ"), mas uma que tenha uma série delas é mais típica. É possível também adicionar locais de articulação.

Para as vogais é preciso lembrar-se de criar uma regra de acento. O acento do inglês é imprevisível e uma língua criada sem essa preocupação também o será. O francês acentua a última sílaba. O polonês e o Quechua sempre acentuam a segunda sílaba. O latim tem uma regra mais complexa: acentua da Segunda para a última sílaba, a menos que as sílabas finais sejam curtas e não separadas por duas consoantes. Se a regra for absolutamente regular não há a necessidade de indicação de acento ortograficamente. Se for irregular, entretanto, os acentos gráficos devem ser considerados.

Há ainda a tonalidade. As sílabas do mandarim chinês têm quatro tons ou entonações. Os tons podem distinguir palavras de diferentes significados. O cantonês e o vietnamita têm seis tons.

Cada língua tem uma série de sons possíveis. É necessário estabelecer o esquema de vogais e consoantes a serem pronunciados como possíveis. O japonês permite basicamente só CV(V) O Quechua permite CVC.

LÉXICO

Quantas palavras são necessárias?

O lingüista Henry Kuera aponta um relacionamento inverso entre o conteúdo de freqüência e o de informação: as palavras mais freqüentes são funcionais (preposições, partículas, conjunções, pronomes), que não contribuem muito para o significado e que podem ser deixadas de lado facilmente; enquanto as palavras menos freqüentes são cheias de semântica. Outro problema é que a redundância não é um defeito, mas uma característica. Muito provavelmente, o grau de redundância de línguas humanas é muito precisamente calibrado para um nível mínimo de informações necessárias para lidar com níveis típicos de distorção.

Quando se faz um idioma para um mundo diferente, certamente serão escolhidas palavras que não se pareçam com aquelas encontradas em qualquer outra língua existente. Pode-se também criar novas raízes que ajudarão a derivar mais facilmente as palavras. Os sons não são distribuídos racionalmente em línguas naturais. Deve-se resistir à tentação de dar um significado a cada expressão possível. Línguas reais não funcionam desta forma. É interessante derivar palavras longas misturando-as às curtas, ou adicionando sufixos, ou imitando à maneira do inglês: emprestando palavras polissilábicas do latim e do grego.

A interlíngua é baseada em nove línguas, e geralmente adota a palavra encontrada na maioria dos idiomas. Lojban usa uma grande variedade de línguas, incluindo algumas não ocidentais e usa um algoritmo estatístico para produzir uma forma intermediária. A intenção é conseguir alguma assistência mnemônica para uma variedade ampla de falantes.

GRAMÁTICA

Deve ser decidido o sistema de regras para o funcionamento da língua. Pode-se tomar como modelo os idiomas existentes. Alguns possuem declinações, embutindo a função sintática em uma desinência, outras valem-se de preposições para obter o mesmo resultado. O português possui duas desinências verbais, uma modo-temporal e outra número-pessoal. O inglês, entretanto, possui apenas uma terminação para indicar os tempos passado e particípio passado, para os verbos regulares e formas específicas para os irregulares. Os outros tempos verbais são formados por verbos auxiliares. A maioria das línguas utilizam o "s" como marca de plural, o Italiano, outrossim, utiliza o "i". Os adjetivos que concordam com o substantivo em várias línguas são invariáveis no inglês.

As regras de gramática devem ser claras e bem definidas.

ALFABETO

Para a escolha do alfabeto não é recomendável que se abuse da criatividade, a menos que a utilização da língua possua tal necessidade. A língua portuguesa possui 23 letras, enquanto o havaiano possui 12 (aehiklmnopuw) e o hopês 23 também (abcdefghijklmnoprstuvwz).

LETRA CURSIVA

Esse item deve ser conjugado ao anterior. Ao se escolher um alfabeto já existente e definido, possivelmente a letra cursiva já esteja determinada. Se no entanto houver escolha de sinais diferentes dos usuais deve ser estabelecida também a letra cursiva.

TRADUÇÃO

Finalmente, para que o idioma seja testado em seu funcionamento, é preciso traduzir-se um texto nesse novo idioma. Esse é o momento para ajustes dos itens anteriores, se necessário.

HISTÓRIA DO HOPÊS

Há duas formas de se contar a história do Hopês. A primeira delas é, assim como a língua, igualmente artificial. Consta do próprio dicionário já citado anteriormente que

"a única coisa de que se tem notícia é que antes do hopês atual existia o hopês arcaico, que era uma mistura de todas as línguas trazidas pelos primeiros habitantes de Hopi Hari. Essa língua evoluiu, evoluiu e chegou ao hopês que é falado atualmente em Hopi Hari. Tem profunda influência do português e umas pitadas de inglês, francês, italiano, espanhol, holandês e até bororo. Tem também pitadinhas de algumas outras línguas. Superfácil de falar. Hiperfácil de entender."

A segunda forma de contar a história do Hopês nos foi relatada por Fernando Leite, redator responsável da Taterka Comunicações Ltda.

Ao ser procurada, para desenvolver um projeto de marketing para um parque de diversões em início de construção em Valinhos – São Paulo, denominado, então, como Great Adventure – O Maior Parque Temático da América Latina, a equipe responsável julgou que, para um evento de tal vulto, seria necessária a criação de um trabalho grandioso. Surgiu-lhes a idéia do nascimento de um país com sua bandeira, hino nacional, governante, capital, passaporte, consulado, cultura e língua própria.

O trabalho foi desenvolvido em nove meses por uma grande equipe, que se encarregou de fazer tanto as logomarcas, os desenhos de todas as placas indicativas, nomeação das atrações, como também trabalho de engenharia em estruturas e diversos outros.

Para realizar o item língua, os redatores Alexis Toledo Piza e Laerth Pedrosa, além do próprio Fernando Leite adquiriram inúmeros dicionários de diversas línguas diferentes, fizeram estudos variados na área lingüística e, motivados pelo desejo e habilidade natural do ser humano em criar neologismos e inspirados no papiamento, língua falada nas diversas Antilhas do Caribe, criaram o Hopês. A princípio surgiram algumas palavras, quase uma brincadeira, mas o intento tomou conta de seus autores e o trabalho tornou-se muito sério, pois pretendiam que jovens, arrebatados pelo idioma simples e divertido, viessem a utilizá-lo em seus jogos, tornando-o uma nova forma de comunicação. Para tanto seria preciso que a língua suprisse as necessidades da fala e da escrita, obedecendo algumas regras básicas.

As flexões verbais de modo, tempo, número e pessoa não existem. Absolutamente todo verbo é regular e se apresenta de uma única forma. Para os numerais existem apenas as denominações para os algarismos de zero a nove: 0 – nada; 1 – uni; 2 – duni; 3 – te; 4 – kua; 5 – cin; 6 – meia; 7 – seven; 8 – óto; 9 – nona. Para se pronunciar, por exemplo, o número 4256 diz-se kua, duni, cin, meia. Observe-se que aos numerais 1, 2 e 3 corresponde a pronúncia uni-duni-te (parlenda infantil do nosso folclore).

Com o intuito de agradar a todos e principalmente aos mais jovens, muitas palavras foram criadas a partir de dois recursos muito utilizados na fala: a truncação (tá – ser, estar, permanecer e ficar) e a gíria (napa – nariz, cheirar).

Quase todos os verbetes trazem a origem da palavra. Para suprir a falta da origem correta em alguns casos, os autores criaram uma língua fictícia denominada "seilaoquês", à qual agregaram os novos vocábulos, criando até um sufixo dessa língua (kyws), por simples simpatia fonética. Essa atitude lembra um pouco a utilizada por Emília no Sítio do Pica-pau Amarelo, que, quando não consegue resolver um problema, lança mão do faz-de-conta.

Da mesma forma que o papiamento e o swahili, o hopês é basicamente fonético, o que torna muito interessantes as palavras vindas do inglês. Essa característica, que foi um dos maiores problema para o volapuque, encontra-se bem ajustada para o Hopês, cuja pretensão de uso (ao menos inicial) dentro do Brasil o torna viável. O dicionário traz logo após o verbete entre parênteses a pronúncia correta da palavra, para não suscitar dúvidas.

A palavra alegria, que no hopês é "hari" é impossível de ser pronunciada sem sorrir, o que acontece também em grande parte das línguas existentes (alegria, do português; laetitia, do latim; happiness etc). Todo o idioma hopês, bem como toda a personalidade do parque calcam-se na alegria, felicidade e bom humor.

Havia grande expectativa de sucesso do novo idioma por parte de seus criadores. Após a inauguração do parque, entretanto, é que se pôde avaliar a receptividade das pessoas. Crianças e jovens começaram a escrever para o Hopi Hari, pedindo por mais palavras; sugerindo outras.

A língua estava viva.

O controle do crescimento da língua é feito pela Akademika Hopi Hari di Letera i Numieri, um departamento que fica dentro do parque e registra em documentos todas as solicitações de participantes, para agregar novas palavras, que estão sendo reunidas para a publicação da próxima edição do dicionário Hopês-Português.

PAPIAMENTO

Quando da libertação do nordeste brasileiro, os invasores neerlandeses reinstalaram-se nas já então Antilhas Neerlandesas, a sua colônia mais próxima, fazendo-se acompanhar por numerosos falantes do português – estes em fuga da intolerância religiosa do recuperado domínio português, tratando-se na sua maioria de judeus e calvinistas recém convertidos, sendo que muitos emigraram também para evitar acusações de colaboracionismo e para manter relações econômicas com os Países Baixos.

O papiamento é uma língua crioula de base portuguesa falada em Aruba, em ambos os grupos das Antilhas Neerlandesas e nas respectivas vizinhanças: dois núcleos nos extremos sudoeste e nordeste do Caribe, separados por 800 km e contando com 250.000 falantes. É uma língua com uma vivacidade excepcional, aplicada por todas as classes sociais e em todas as esferas do dia-a-dia desde o século passado.

Mais do que qualquer das outras ilhas, Aruba é a "capital" do papiamento. Com uma densidade populacional dez vezes mais elevada que a das Antilhas Neerlandesas, separou-se destas em 1986 por motivos de alegada especificidade cultural, a que a ainda maior importância local do papiamento está declaradamente ligada. Ambos os territórios mantêm-se separadamente sob administração neerlandesa.

Imagina-se que os primeiros habitantes de Aruba lá chegaram a partir do continente, em pequenos barcos, cerca de 4.000 anos atrás. Estes primeiros indígenas eram caçadores que viviam em pequenos grupos. Os índios Caiquetio da tribo Arawak chegaram a Aruba por volta do ano 1.000 d.C. e se estabeleceram em três grandes vilas da ilha. Alguns dos artefatos que eles usavam podem ser encontrados nos museus de Aruba.

Aruba foi descoberta em 1499 pelo espanhol Alonso de Ojeda. Ao longo da agitada era colonial que veio a seguir, a ilha foi constantemente visitada por piratas. Em 1636, perto do término da Guerra dos oitenta anos, entre a Espanha e a Holanda, os holandeses tomaram a ilha. Houve um intervalo entre os anos 1805 e 1816, durante as Guerras Napoleônicas, quando os ingleses assumiram o controle. Em 1816, os holandeses voltaram a ter o controle da ilha.

No Ano de 1824, o maior tesouro de todos os tempos foi descoberto: Ouro! Aruba passou a ter a sua primeira industria e as minas funcionaram até o ano de 1914, quando a atividade se tornou antieconômica. Mas foi o ouro negro que trouxe a verdadeira prosperidade. A exploração do petróleo fez da década de 20 a mais importante da historia da ilha.

Os arubianos tem uma capacidade especial para o aprendizado de vários idiomas, falam fluentemente, o inglês, holandês e o espanhol. O idioma oficial é o holandês. Papiamento é a língua do povo. Muitos dos componentes da língua possuem uma cadencia tal que produz um som melódico único.

Nas Antilhas Neerlandesas o papiamento não tem a mesma importância histórica que em Aruba. No entanto nestas ilhas se concentra a maior parte dos seus falantes – 77%. O território consiste de dois grupos de ilhas bem afastados: Ao largo da Venezuela oriental, nas Antilhas do Sotavento, ficam as ilhas de Curaçao e Bonaire, que constituem (junto com a vizinha Aruba) o núcleo histórico do aparecimento e expansão do papiamento. A implantação do papiamento nas Antilhas do Barlavento é muito reduzida – apenas 400 falantes contra 250.000 nas de Sotavento. A sua presença é claramente secundária e está reconhecida apenas para a parte neerlandesa de São Martinho, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas.

As restantes ilhas – Saba, Santo Eustáquio e São Martinho (apenas a metade meridional da ilha), que formavam até 1983 um território separado, Bovenwindse Eilanden, situam-se 800 km para nordeste, nas Antilhas do Barlavento, e representam um estádio posterior de expansão do papiamento, por migração interna no seio das Antilhas Neerlandesas. Estes terão passado para Porto Rico e para as Ilhas Virgens Americanas, onde existem pequenos grupos de falantes.

Em Bonaire são faladas oficialmente três línguas: holandês, espanhol e papiamento. Devido ao grande número de turistas estrangeiros, o inglês também é dominado pela maioria dos habitantes da ilha.

Curaçao, a maior das ilhas holandesas das Pequenas Antilhas do Caribe é a terra da multiplicidade cultural.

"Desde pequenos, os curaçolenhos são alfabetizados em holandês nas escolas, língua oficial do país na qual estão escritas as leis. A partir da quinta série do primeiro grau, tanto espanhol como inglês são ensinados. Porém, antes mesmo de iniciar os estudos, todos os nativos da ilha "papiam" muito bem. É em casa que a maioria do povo de Curaçao aprende o papiamento, que serviu como elo de comunicação entre europeus e nativos.

"Por seu caráter universal, o papiamento ganhou novas implementações e tornou-se a língua mais falada quando Curaçao, sob domínio holandês, se fixou como importante e estratégico centro comercial freqüentado por pessoas de diversos lugares do mundo. A Holanda, quando colonizou a ilha, a enxergava como uma verdadeira porta de entrada dos povos – a ligação entre os continentes Europeu, Africano e Americano.

"As pessoas de lá gostam do português falado no Brasil porque são capazes de compreender algumas palavras. Quando ouvidas com atenção, algumas expressões do papiamento são entendidas por quem fala português (por exemplo: eles dizem bon dia para bom dia; com ta bai para como vai; mi ta masha bom para estou bem)."

NOTÍCIA DO JORNAL DE ARUBA EM PAPIAMENTO

"Gert van Vliet y Veronica Posner a bira Campeon Nacional di Triathlon 2001 ORANJESTAD-Diadomingo mainta Aruba Triathlon Association a organisa e Campeonato Nacional di Triathlon 2001, evento cu tabata tin 28 alteta individual y 2 equipo di relevo. E evento aki tabata posibel danki na e patrocinio di "Gatorade" di D. De Veer & Sons. Tabata Gert van Vliet cu un biaha mas a demostra cu ainda e ta e Campeon indiscutibel den e deporte di Triathlon ganando cu un tempo di 1:05:29, el a wordo sigui pa Glennon Eights y Alvin Ras cu temponan di 1:06:24, y 1:08:20 respectivamente. Den e seccion femenino, Veronica Posner a retene su titulo di aña pasa ganando den un tempo di 1:16:43, sigui pa Nathalie Kardol 1:37:40. Den e categoria infantil, Shair Eights a sali victorioso cu un tempo di 00:35:38, sigui pa Jean Carlo Croes (00:36:15) y Dyonne Lopez (00:39:44). Den infantil femenino tabata Shamila Gomez a sobresali cu un tempo di 00:48:16. Siguientemente e resultado segun categoria. Den categoria Masculino 9-13 aña: 1) Shair Eights, 2) Jean Carlo Croes y 3) Dyonne Lopez. Den categoria di Femenino 9-13 aña: 1) Shamila Gomez y 2) Jeanella Robert. Den categoria di 14-17 aña: 1) Glennon Eights, 2) Jonathan Croes y 3) Reynaldo Gomez. Den categoria 18-29 aña: 1) Maximilian Irving, 2) Rigoberto v/d Linde y 3) Jeroen Bosch. Den categoria dia 30-39 aña: 1) Gert van Vliet, 2) Alvin Ras y 3) Alirio Rojas. Den categoria di 40-49 aña: 1) Salomon Buddy, 2) Alex Tromp y 3) Rudolf Hassel. Den categoria di 50 aña y mas: 1) Rubert Ammerlaan. Den Damas Habri: 1) Veronica Posner y 2) Nathalie Kardol. Den Relay Team: 1) Melvin Tromp, Richard Rodriguez y Edgar Colina y 2) Annemiek van Vliet, Rodney Pieternella y Joshua Posner. Aruba Triathlon Association ta gradici gerencia di "Gatorade", gerencia di Brisas del Mar, mayornan di e atletanan infantile, voluntarionan, y tur otro persona cu a yuda de e ehecucion di e Campeonato Nacional 2001. Tambe A.T.A. ta invita tur su miembronan y atletanan pa inscribi na tempo pa e Aruba International Aquathlon & Triathlon cu lo tuma lugar dianan 23 y 24 di Juni proximo."

 

CRISTAN Em Málaca, se fala o "cristan" (papiá kristang), que nada mais é do que um "crioulo" ou "papiamento" calcado no português dos séculos 15 e 16, levado por Afonso de Albuquerque para essa região tão longínqua. Os nativos fizeram questão de preservar a língua levada pelos portugueses. No mês de junho, a comunidade do estabelecimento português de Málaca festeja os nossos santos populares, ou seja, Santo Antônio, São João e São Pedro. Cantam músicas juninas de quatrocentos anos ou mais e se vestem com trajes típicos, muito parecidos com os usados na província portuguesa do Minho.

"Assistir a esses espetáculos lá no fim do mundo faz bem aos olhos e, sobretudo, à alma. Afinal, a língua de Camões e Pessoa não está fenecendo, como apregoam certos inimigos. Arlindo Oscar A. Gomes da Costa, São Paulo"

HISTÓRIA DO SWAHILI

O idioma swahili é basicamente originário do bantu, com empréstimos de palavras de outros idiomas, tais como o árabe, provavelmente como conseqüência do uso do Quran, seu guia espiritual, escrito em árabe. A palavra swahili era usada antigamente por visitantes árabes e significava "costa". Alguns estudiosos dizem que o idioma swahili originou-se do árabe e do persa, embora só o vocabulário possa ser associado a estes grupos, pois a sintaxe é Bantu.

Existe uma hipótese de que o swahili seja uma língua bastante antiga. O documento mais antigo a esse respeito foi escrito no século II DC em grego, por um autor anônimo da Alexandria no Egito e é chamado o Periplo de Mar Erythrean. Diz esse documento que os mercadores que visitavam a costa leste africana naquela época, vindos do sul da Arábia, costumavam falar com os nativos em sua língua local e que houve miscigenação entre seus povos.

Para perceber a contribuição das várias culturas presentes no idioma, observe-se os números: "moja" – um, "mbili" – dois , "tatu" – três, "nne" – quatro, "tano" – cinco, "nane" – oito, "kumi" – dez, todos de origem bantu. Por outro lado, há "sita" – seis, "saba" – sete e "tisa" – nove, que são emprestados do árabe. As palavras swahili "chai" – chá, "serikali" – governo, "diwani" – prefeito , "sheha" – cidade , são empréstimos dos persas. A língua swahili também absorveu palavras do Português, pois Portugal controlava as cidades costeiras entre 1500 e 1700. A luta de touros Swahili, bastante popular na ilha de Pemba é também um legado português. O Swahili também emprestou algumas palavras do inglês e do alemão.

Durante séculos, o Swahili permaneceu como a língua dos povos da costa leste africana. Interações de grande duração com outros povos espalharam o idioma swahili para lugares distantes como as ilhas Comoro e Madagascar e, mesmo bem longe do sul da África, para Oman e Emirados Árabes. O comércio da costa swahili durante o século dezenove ajudou a espalhar o idioma para o interior da Tanzânia. Também alcançou a Uganda, Rwanda, Burundi, Congo, Republica Africana Central e Moçambique. Missionários cristãos aprenderam o swahili como língua de comunicação para espalhar o Evangelho no leste da África. O primeiro dicionário swahili foi preparado por um missionário. Em Zanzibar usava-se o swahili padrão para a comunicação informal e o dialeto unguja para a comunicação formal em escolas, na mídia, em livros e outras publicações.

Hoje em dia o Swahili é falado em muito países do leste da África. No Kenya e em Uganda, o Swahili é a língua nacional, mas a correspondência oficial ainda é escrita em inglês.

O swahili está presente também no mundo da arte. A letra da musica "Liberian girl" de Michael Jackson tem frases em Swahili "nakupenda pia, nakutaka pia, mpenzi we" (eu te amo e eu te quero querida) . No filme "Rei Leão" de Walt Disney há muitas palavras em swahili: "simba" – leão, "rafiki" – amigo, "hakuna matata" – sem preocupações.

  1. Levantamento e Análise dos dados:

Seguindo o esquema dos "processos neológicos no português contemporâneo", constante do livro Neologismo – Criação Lexical de Ieda Maria Alves, apontamos alguns vocábulos do Dicionário Hopês-Português, já citado. Os verbetes apresentados estão numerados para facilitar comentários.

Os neologismos fonológicos são raros em todas as línguas, pois embora a totalidade dos sons possam ser produzidos por qualquer ser humano que possua um aparelho fonador normal, as comunidades restringem o uso de alguns sons, que passam a ser característicos daquele grupo, tornando todos os outros de difícil pronúncia aos seus membros.

As criações onomatopaicas geralmente não criam sons novos, mas reproduzem sons já existentes, transformando-os em novas palavras com significado de fácil compreensão até por estrangeiros.

Constam do dicionário Hopês-Português alguns vocábulos onomatopaicos:

  1. CHABUM – 1 Som ou barulho de crianças fazendo a maior bagunça na água. 2 Folguedos aquáticos divertidíssimos. 3 Nome do playground aquático de Hopi Hari, onde água, gargalhadas e diversão estão sempre presentes. [Orig. do próprio som da água.]
  2. CLIKI – 1 Fotografia. 2 Boas lembranças, memórias de momentos maravilhosos. 3 Instante em que se flagra uma situação qualquer. 4 gír. Piscadela para paquerar alguém. [Orig. do barulhinho que a máquina fotográfica faz quando a gente tira uma foto.]
  3. HUMMM – (pron. ummm) Adjetivo para dizer que uma comida é boa. [Orig. do som que a gente faz quando vê um rango muuuuiiiiito gostoso.] obs.: a variação Hopi Hummm amplia o significado da expressão, querendo dizer "muito gostoso", "saboroso demais".
  4. KLAPI – 1 Palmas, aplausos. [Orig. da descrição do barulho das palmas nos gibis.] Obs.: existe a variação Klapi-Klapi. Usado nessa forma, ou seja, repetidamente, o termo significa "algo espetacular", "digno de muitas palmas".
  5. TIKI-TAKI – 1 Hora, horas. 2 Tempo. [Orig. do barulhinho que o relógio faz enquanto o tempo passa.]
  6. TUM-TUM – 1. Coração. 2 Bumbo. 3 É como os hópius chamam o samba. [Orig. do barulhinho de bumbo que o coração faz.]
  7. O recurso dos neologismos onomatopaicos é muito utilizado por crianças ou adultos ao falar com as crianças. Tendo em vista a característica lúdica do idioma do Hopi Hari, é possível perceber que esse recurso foi amplamente utilizado.

    Os neologismos sintáticos são muito comuns e utilizam a combinação de elementos já existentes na língua. São subdivididos em derivação prefixal derivação sufixal, composição, composição sintagmática e composição por siglas ou acronímica.

    Em nosso objeto de estudo encontramos exemplos das quatro primeiras subdivisões dos neologismos sintáticos.

    DERIVAÇÃO PREFIXAL

  8. ARIBOBAGEM – 1 Besteirinha divertida, bugiganguinha, coisinha deliciosamente inútil. 2 Equivalente à expressão "não faz mal" ou "não tem grilo". [Orig. fusão do hopês ariba, pra cima + bobagem, do português.]
  9. INFANTASIA – 1 Reino da fantasia. 2 hist. Região de Hopi Hari que é o paraíso das crianças. Foi lá que os hopiuzinhos e as hopiazinhas sempre brincaram. Infantasia virou um lugar tão agradável que cada vez mais e mais gente aparecia lá para brincar. Numa dessas levas, apareceu uma turma legal demais: o pessoal da Vila Sésamo. Eles gostaram tanto do lugar que hoje em dia estão morando lá.
  10. DERIVAÇÃO SUFIXAL

  11. GUARDADERO – 1 Guarda-volumes. 2 Lugar seguro usado para guardar pertences. 3 Nome dos armários para guardar o que não vai ser usado durante o passeio em Hopi Hari. [Orig. do germânico wardôn, buscar com a vista + ero, sufixo hopês.]
  12. OFERENDAMENTU – 1 Presente. 2 Mimo, agrado. 3 Oferenda aos deuses. [Orig. do latim offerenda, através do português oferenda.]
  13. COMPOSIÇÃO

  14. GIRALATA – 1 Uma Porção de latas girando de forma estonteante. 2 Lugar de Infantasia onde o Oscar da Vila Sésamo adora ficar girando suas latas de lixo. 3 gír. Estado prazeroso de tonteira. 4 Pessoa que gosta de virar mais de uma lata de refrigerante por vez quando está com sede. [Orig. do italiano, girare, girar + lata, do português.]
  15. ROLABOLA – 1 Bola redondante. 2 Divertimento de Aribabiba em que se rola uma bolinha por cima de taças de diversas cores. Cada cor tem um número diferente de pontos. Quanto maior a pontuação, maior a prenda. 3 gír. Diz-se para o jogador de futebol que não passa a bola de jeito nenhum, o fominha. [Orig. até agora ninguém sabe, mas pesquisas estão rolando.]
  16. NAMIRA – 1 Esporte de Aribabiba semelhante ao jogo de dardos, só que com dardos de ventosas em vez de dardos pontudos, que requer um olho bem afiado e o outro bem fechado. 2 Expressão usada para festejar quando alguém acerta alguma coisa na mosca. [Orig. do hopês namuskita, em cheio, na mosca.]
  17. COMPOSIÇÃO SINTAGMÁTICA

  18. PERDEUTAKÍ – 1. Achados e Perdidos, no português do Brasil. 2 Perdidos e Achados, no português de Portugal. 3 Cabine à qual os visitantes de Hopi Hari devem se dirigir caso tenham perdido alguma coisa. 4 Cabine à qual os visitantes de Hopi Hari devem se dirigir caso tenham encontrado alguma coisa perdida. [Orig. do português perdeu + tá + akí, do hopês] Obs.: a cabine dos itens 3 e 4 é a mesma.
  19. SEILAOKÊ – Desconhecer. [Orig. do seilaoquês seilaokyws]
  20. VENDINOVU – 1 Volte sempre. 2 Ao pé da letra, essa expressão quer dizer: "volte mesmo e volte logo, já estou até com saudades". [Orig. os estudos conclusivos sobre a origem desse nome ainda não estão prontos, mas em breve estarão.]
  21. Pode-se observar no verbete de número 7 a criação do prefixo "ari" unido à palavra bobagem, existente no português. O dicionário dá como origem da palavra a junção do prefixo "ariba" do hopês ( na verdade arriba – do espanhol) que significa para cima. A significação real para o prefixo "ari" é sem importância. Embora pareça haver uma incoerência entre esse significado e a expressão para cima, pode-se dizer que o conjunto faz sentido, pois "aribobagem" seria uma bobagem boa(para cima). No item 8 o prefixo latino "in" movimento para dentro foi empregado com bastante propriedade. "Infantasia" é estar dentro da fantasia. Os dois verbetes seguintes, 9 e 10 apresentam sufixos utilizados no português com pequena variação: "guardadero" perde o "i" do sufixo "eiro", podendo ser compreendido como um sufixo do espanhol "ero" e oferendamentu troca o "o" de "mento" por "u" de "mentu". Ambos os sufixos criam substantivos. Os elementos 11, 12 e 13 unem duas palavras do português para criar os neologismos e os itens 14, 15 e 16 aproveitam expressões coloquiais do português representando os sons da fala.

    Os neologismos semânticos caracterizam-se por não apresentar alteração formal, mas um novo uso para a mesma palavra.

  22. GRINGO – 1 Língua falada em Wild West. 2 hist. Inglês rudimentar trazido pelos pioneiros de Wild West e que vem sendo constantemente influenciado pelo hopês.
  23. ARARA – 1 Revolta, indignação, insatisfação, incompatibilidade. 2 Ficar indignado, sentir-se revoltado, ludibriado e reclamar de forma nada discreta. [Orig. da expressão popular brasileira ficar uma arara.] Obs.: embora ainda apareça neste dicionário, essa palavra caiu em desuso em Hopi Hari por não ser ouvida desde tempos imemoriais.
  24. Para a expressão gringo, número 17, o Novo Dicionário Aurélio traz a significação de estrangeiro (pejorativamente) e para arara, número 18, traz designação de uma ave; espécie de amaranto; certa formiga; mentira; tolo; certa dança; elemento de uma determinada tribo indígena.

    A truncação está classificada no livro de Ieda Maria Alves como outros processos. A formação de neologismos por esse processo consiste em se usar apenas uma parte da palavra para indicar o todo.

  25. BUS – (pron. bus) Ônibus, coletivo, busão, busum. [Orig. do latim omnibus, para todos.]
  26. TÁ – Ser, estar, permanecer e ficar. Conjugação geral do verbo tá. [Orig. do papiamento ta, ser.]
  27. KÉ – Querer. Conjugação geral do verbo ké. Ex.: Mi ké (eu quero), Bo ké (você quer). [Orig. desconhecida.]
  28. Os três itens, 19, 20 e 21, representam truncação de palavras do português, formas utilizadas no português informal, sendo que a última delas apresenta um alomorfe (alteração do dígrafo "qu" para a letra "k", para representar o som [k]. No entanto existe o termo "ta", sem o acento agudo, no papiamento, o quefaz com que o neologismo em questão possa ser considerado como estrangeirismo.

    Pudemos encontrar também alguns exemplos de reduplicação. Esse processo duplica uma mesma base duas ou mais vezes para constituir um novo léxico.

  29. BILLI-BILLI – 1 Montanha de Wild West que era habitada por búfalos selvagens 2 Montanha-russa de Wild West que homenageia a montanha dos búfalos. [Orig. do americano chamado Billy, o cara que vivia na tal montanha.]
  30. VAM VAM – 1 Vem comigo. 2 Convite para que a pessoa acompanhe a outra. [Orig. controversa. A Akademika Hopi Hari di Letera i Numieri recusa inclementemente a hipótese de vir do gringo van van van, comboio de peruas, caminhonetes.]
  31. Os neologismos por empréstimo utilizam palavras de outras línguas. Essas palavras podem ser usadas exatamente como aparecem no idioma estrangeiro ou traduzidas, aportuguesadas.

    O idioma hopês inspirou-se principalmente no papiamento, cuja característica principal é a sua formação a partir de diversas línguas. O estrangeirismo, portanto, é o recurso neológico mais utilizado no idioma de Hopi Hari. Alguns verbetes utilizam o estrangeirismo puro e outros o adaptado.

  32. AMI – 1 Amigo. 2 Pessoa que tem prazer em prestar serviço ou assistência a outra pessoa. 3 Palavra usada como apelido de todos os hópius. [Orig. do francês ami, amigo.]
  33. BOM BINI – 1 Bem-vindo. 2 Calorosa saudação de boas-vindas. 3 Ao pé da letra, essa expressão quer dizer o seguinte: "é um prazer inenarrável compartilhar toda nossa alegria com tão maravilhosa pessoa". [Orig. provavelmente esta expressão vem do papiamento, língua das Antilhas Holandesas.]
  34. CRAZY WAGON (pron. Kreizi ueigon) 1 Caravana desvairada. 2 Ao pé da letra: "apertem os cintos, o cocheiro sumiu". 3 hist. Diligência muito veloz que os primeiros habitantes do Wild West usavam, às vezes para escapar dos índios, às vezes para correr atrás deles. 4 Nome de uma antiga diligência que ainda dá seus giros lá por Wild West. [Orig. do gringo crazy wagon, diligência maluca.]
  35. DI – De, a preposição de e suas flexões da, do , das e dos. 2 De algum lugar. Ex.: Theatro di Kaminda = Teatro de Kaminda. [Orig. do italiano di, que significa "de". Ex.: Pepino di Capri.]
  36. EMBARK – Embarque. O oposto de desembark. [Orig. do português]
  37. GRUPOS – 1 Grupos ou excursões. 2 Atendimento rápido e diferenciado para grupos e excursões. São três: entrakí grupos, guardadero grupos e tiketeria grupos. [Orig. provavelmente do português grupo.]
  38. HATARI – (pron. ratári) 1 Perigo. 2 Situação que exige prudência ou sagacidade. 3 Momento, bom ou mau, que faz a adrenalina subir. [Orig. do swahili hatari, perigo.]
  39. HELPI (pron. rélpi) 1 Ajuda. 2 Pode significar também solidariedade, o que os hópius têm até demais. 3 gír. Uma mãozinha. [Orig. do inglês help, ajuda.]
  40. IÁ – 1 Sim. 2 Qualquer resposta afirmativa. 3 O que o noivo hópiu diz para a noiva hópia, e vice-versa, na hora do casamento e em muitas outras horas. [Orig. do alemão ja, sim]
  41. LA MINA DEL JOE SACRAMENTO – Um dos mais espantosos espaços para visitar no Wild West. Joe Sacramento, um dos habitantes mais perversos da História de Hopi Hari, extraiu muito, muito ouro de sua mina, sumiu e deixou arapucas e ciladas para quem ousasse entrar nela. Para visitar La Mina é preciso ter coragem. Pero no mucha!
  42. MOTURI (pron. motúri) 1 Maravilhoso. 2 Palavra usada para descrever um momento de extrema felicidade. [Orig. do bororo moturi, maravilhoso.] Obs.: bororo: língua falada pelos índios bororos do Brasil.
  43. PARANGOLÉ – 1 Atração de Aribabiba da família dos chapéus-mexicanos. 2 Espaço redondo com cadeiras suspensas, que giram em torno do próprio eixo. 3 Conjunto dos ruídos, gritos e exclamações provocados por excesso de adrenalina. 4 Qualquer objeto, normalmente de pano, que esvoace ao girar. [Orig. corruptela de Paregórico, um antigo elixir brasileiro + olé, provavelmente por influência espanhola.]
  44. Nota-se que os criadores do hopês, criaram um neologismos para designar a língua dos habitantes de Wild West, uma região do parque. A língua real é o inglês. No item número 26, a origem verdadeira do termo é o inglês, mas os redatores do dicionário a indicam como sendo o "gringo". O item 33 é uma expressão que representa o nome de uma atração do parque. Nessa expressão encontramos elementos do espanhol "la" (a – artigo); "del" (de+ ele = dele). Ao final da explicação do verbete há uma outra expressão em espanhol muito difundida "pero no mucha!" (mas não muita!).

    Alguns estrangeirismos do hopês possuem uma característica especial, pois reproduzem no português o som de palavras estrangeiras tornando-as muito divertidas.

  45. EISKRIM – Sorvetes com sabores os mais desejáveis. [Orig. variante do gringo ice-cream, usada pelos hópius que não habitam o Wild West.]
  46. HOPI BARDEI (pron. rópi bãrdei) Feliz aniversário. [Orig. do inglês happy birthday, feliz aniversário.]
  47. Apenas a título de curiosidade, mostrando o aspecto lúdico da criação desta língua, gostaríamos de apresentar mais alguns exemplos de neologismos do hopês, em que aparecem como origem citações de humor afiado e grande criatividade.

  48. CLIPI – 1 Abraço. 2 Abraçar. 3 gír. Clipi-Clipi Abraço apertado [Orig. do material de escritório clipe, que abraça papéis] Obs.: Essa palavra jamais vem precedida de numeral.
  49. DOLORIS – Conta de restaurante. [Orig. do nome próprio Dolores, dona e tesoureira de um famoso restaurante que ficava nas proximidades de Hopi Hari.]
  50. ESSAKÍ – (pron. éssakí) 1 Esse, essa, esses, essas, este, esta, estes, estas. 2 Essa coisinha; um jeitinho carinhosos de se referir a objetos que se deseja comprar. [Orig. do nome próprio hebraico Isaac.]
  51. KANJA – 1. Sopa de galinha e arroz. 2 Esporte olímpico de Aribabiba conhecido vulgarmente como arremesso, a distância, de galinha na panela. 3 gír. Jogada mole, facílima, uma barbada. 4. gír. Vitória facilitada por conchavo ou panelinha. [Orig. do português da padaria ao lado de Hopi Hari, inventor do esporte Kanja e cozinheiro excelente.]
  52. NA – No, na, nos, nas. [Orig. do italiano nona, por separatismo.]
  53. NANINA – 1 Não. 2 Enunciação de recusa. 3 gír. Diz-se dos raros, aliás raríssimos – havia um, mas ninguém sabe onde foi parar – pessimistas de Hopi Hari. [Orig. existem duas hipóteses: a primeira, ninguém lembra e a segunda, todo mundo esqueceu.]
  54. NAPA – 1 Nariz. 2 Cheirar, sentir o perfume, ter o dom de perceber odores. 3 Como adjetivo, significa "isso cheira bem", "isso tem cheiro de novo" ou "ah, que cheiro gostoso". Sempre tem conotação positiva. [Orig. três hipóteses, duas que disputam vir do arábico ou do hebraico e uma terceira, a mais aceita atualmente, de ser uma gíria do português do Brasil incorporada ao hopês.]
  55. PLIS 1. Por favor. 2 Palavrinha mágica que faz as pessoas ficarem mais gentis. [Orig. do francês plus plus, mais mais.]
  56. TAKA TROKO – 1 Ato esperançoso de jogar moedas numa fonte dos desejos. 2 Jogo de sorte no qual o participante atira suas moedas e tenta equilibrá-las numa plataforma de vidro. Não exige prática, tampouco habilidade. Basta cruzar os dedos das mãos, dos pés e ter ainda no bolso uma figa, um pé-de-coelho, um ramo de arruda, um cavalo-marinho empalhado e uma nota rara de dois dólares. 3 gír. Chuva de dindin. [Orig. do português que foi para Portugal, perdeu o lugar e atirou sua última moeda numa fonte dos desejos esperando recuperar seu lugar de volta.]
  57. TORÓ – 1 Toró, chuva fortíssima que dura pouco e molha muito. 2 Banho repentino, inesperado e muito refrescante causado pelo estouro de uma bexiguinha d’água que acontece toda hora numa das atrações de Aribabiba. 3 gír. Molhado, ensopado. [Orig. do inglês to rain, chover.]
  58. VAMBATÊ – 1 Conjunto de carros conversíveis e elétricos que dispõem de direção muito macia, porém incerta e não sabida. 2 Convite que as pessoas costumam fazer quando chegam perto dessa atração de Hopi Hari. 3 Expressão do desejo de ir e vir de encontro ao outro, de forma violenta, porém segura. 4 Lugar cultuado por barbeiros, por acreditarem que foi construído sobre uma antiga barbearia. [Orig. alguns filólogos dizem que vem do português vamos bater, enquanto outros garantem que vem do sobrenome holandês Van Batten, suposto designer dos carrinhos. A pendenga ainda não foi resolvida.]

3. Conclusão:

A necessidade que o homem tem de inventar um código ou língua sua o fez realizar esse sonho no decorrer dos anos, como se pode verificar na extensa fundamentação teórica exposta. A infinidade de línguas de que se tem notícia por certo não corresponde à mínima parcela do total real. Com objetivos variados que vão desde o desejo por uma integração total da humanidade até o simples brinquedo de crianças (de todas as idades), o homem tem se mostrado capaz de criar neologismos ilimitadamente. E é graças a esta capacidade dos seres humanos que as línguas, juntamente com suas civilizações evoluem.

O processo neológico é extremamente democrático, pois não basta alguém criar uma palavra ou uma expressão para que o seu uso seja incorporado à língua. Há principalmente a necessidade de que os outros falantes do mesmo grupo aceitem e utilizem o neologismo, tornando-o "propriedade" do grupo como um todo. Ninguém é "dono" da língua, mas todos o são.

ABSTRACT: This article presents a study of "Hopês" language used at Hopi Hari, a thematic park, aiming to emphasize the human dictomy in individualizing and socializing the communication, creating neologisms.

KEY-WORDS: creativity, artificial (language), individualizing, socializing, ludic.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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Michaelis: Pequeno Dicionário Hopês-Português / Taterka Comunicações, São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1999.

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RÓNAI, Paulo, Babel e Anti-Babel. Coleção Debates, 1969.

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