MONÓLOGO DE UMA MULHER: O SONHO DO PRIMEIRO AMOR
Por: jaime nunes mendes

Quando ainda era meu namorado, ele me fazia viver num lindo céu azul. Suas palavras eram como as mais lindas flores que brotavam incessantemente de um jardim perfeito. Prometia fidelidade sem fim. Confessava seu amor com a naturalidade de uma criança. Eu era sua princesa, sua musa. Quando a lua, no céu, mostrava sua luz, ele declamava os mais belos  poemas de amor. Não havia um só dia em que ele não sussurrava um doce EU TE AMO. Para ele eu não era apenas a mulher mais linda do mundo, era também a única e a última que ocuparia o trono do seu coração. Quais fossem seus planos, lá estava eu ao seu lado. Quais fossem seus sonhos, lá eu era uma realidade. Eu era seus sonhos. Quando me encontrava em dias de angústias e aflições, lá estava ele me confortando, pedindo a Deus por mim. Ele me compreendia na alma. Sabia exatamente o que significava cada lágrima que caiam dos meus tristes olhos. Porque a vida, como sabemos, não é sempre um mar florido, nem um manancial de rosas, às vezes ela se torna espinhos e tormentos. Quando apareceu minha primeira ruga, ele brincou e me chamou de “minha linda velhinha”. Para ele o fato de eu ficar velha era uma bênção de Deus. Em nenhum momento ela fazia menção de algo feio em meu corpo. Mas ele apenas me namorava.
Mas um dia nos casamos. No início vivíamos realmente numa verdadeira lua de algodão. Porém, tão logo o verão da vida passou, quando chegou o inverno existencial, já percebi algumas mudanças nele. O seu carinho e ternura foram diminuindo. Dizia um EU TE AMO a cada semana. Seu trabalho passou a ser mais importante do que eu. Romantismo já não existia. Flores era desperdício. Por que tudo mudou? Pensava eu. Será que eu estava sendo muito exigente? Acreditei que sim e me conformei. Hoje, após alguns anos de casados, vivemos uma outra realidade. Embora ele diga que me ama, raramente o demonstra na prática. Ao contrário de antes, agora qualquer coisa o irrita. Critica-me rotineiramente. Agora repara nas minhas rugas. Acha feio a celulite. Até me aconselhou fazer uma plástica! Não lava um prato porque é coisa de mulher. Não varre a casa pelo mesmo motivo. Mas eu não reclamo. Não diz mais EU TE AMO. Diante da sociedade, na igreja, entre os vizinhos, somos um casal perfeito. Por traz de sua bela gravata, a aspereza o corrói. E eu, eu... deixa pra lá...
Não sei se é porque sou romântica, mas queria tanto que ele voltasse ao ponto de partida. Mas isso é ilusão. Isso é uma ilusão?... Eu não deixei meu primeiro amor. Oxalá ele voltasse ao primeiro amor! Enquanto isto não acontece, vou sonhando... Quem sabe um dia ele acorda e venha a lembrar-se de um verso que sempre me dizia: “Se a felicidade que tenho para compartilhar com você for a mesma que você tem para multiplicar comigo, nosso amor será eterno”.




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