EGOLATRIA
Por: jaime nunes mendes

Ego, em latim, significa EU. Na psicanálise, EGO é a personalidade da pessoa; a experiência que ela tem de si mesma; o EU de qualquer indivíduo. O radical grego latria denota culto ou adoração. Egolatria é, portanto, a adoração do próprio EU. O Elemento EGO é o mesmo usado nas palavras: egocêntrico ( que, ou quem tem no seu próprio EU o centro de todo interesse); egoísta (que trata apenas de seus interesses); egotista (aquele quem tem o hábito de falar ou escrever em excesso sobre si mesmo); ególatra  (que cultua a si próprio).
Relacionamos, a seguir, uma série de afirmações de caráter restritamente egoísta, as quais poderão servir como uma espécie de “juiz” para a própria consciência norteada pelo egocentrismo:

- A dor do meu vizinho nunca me incomoda
- Meu carro nunca funciona quando alguém precisa
- Nunca tenho dinheiro para emprestar
- Estou sempre ocupado com aquilo que é de meu próprio interesse
- Não tenho tempo para trabalho voluntário
- “Acho feio o que não é espelho”
- Fico mais tempo na academia do que na igreja ou com meus amigos
- Minhas preocupações restringem-se ao meu pequeno círculo familiar
- Falo mais do que ouço
- Evito ouvir queixas alheias
- Troco da namorada(o) como troco de roupa
- O que eu aprendo fica só para mim mesmo(a)
- Pouco me interessa saber por qual razão minha mulher (ou esposo) está preocupada ou aflita
- Quando alguém me pede uma ajuda, sempre tenho um NÃO como resposta
- Sou incapaz de compreender o motivo da lágrima de alguém
- Se as coisas não estão do meu jeito, nada está bem
- Aborreço-me com facilidade quando alguém me critica
- Costumo brincar com os sentimentos dos outros
- Rio bastante quando vejo alguém numa situação embaraçosa
- Só oro a Deus para pedir coisas
- Agradeço a Deus pelo carro, pela casa, pelo emprego, pela saúde; porém, nunca  pela amizade das pessoas, pelas flores, pela chuva, pelo vento, pelo bem-te-vi que canta no quintal...
- Tenho mania de criticar as outras pessoas
- Não vejo necessidade de pregar o Evangelho
- O que importa é que eu esteja salvo
- Aceitei a Cristo somente para receber bênçãos materiais
- Sou cristão porque quero ir para o céu
- Acredito que todos os mendigos e maltrapilhos são vagabundos ou ladrões
- Não dou esmolas porque ignoro o modo como irão usá-las
- Dou o dízimo para ter o meu celeiro cheio
- Preocupo-me em demasia com a minha aparência física
- O que sou é menos relevante do que aquilo que tenho
- “Os fins justificam os meios”
- A verdade é aquela que prego
- Gosto apenas de receber carinho
- Sou incapaz de dizer EU TE AMO
- Tento controlar o modo de ser das pessoas
- Faço antes para pensar depois
- Tenho vergonha de pedir desculpas ou perdão
- Não posso admitir minhas própria falhas
- Jamais dou presentes; quando os dou é por puro interesse
- Não consigo abrir meu coração para alguém
- Num diálogo só eu é que falo
- Pouco me interessa saber o porquê de meu amigo ter faltado no serviço, na escola etc.
- Nunca me lembro do aniversário de alguém; contudo, sinto-me magoado quando não lembram do meu
- “Assim como a terra gira em torno do sol, assim as pessoas devem girar em torno de mim”
- Só sei sorrir quando as coisas estão bem comigo
- Detesto fazer visitas
- Quando vejo um deficiente físico, agradeço a Deus por não ser igual a ele
- Creio que as pessoas sofrem porque não têm fé
- A palavra que mais uso, depois de meu próprio nome, é o pronome EU
- Não há argumentos para aquilo que sei tratar-se da verdade
- Ao ver um bêbado, rio “até cuspir o fígado”
- Zombo do gordo, gracejo do magro, acho graça de quem tem orelhas grandes, brinco com os de narizes avantajados; no entanto, odeio quando alguém me chama de careca
- No “Pai Nosso”, a parte de que mais gosto é: “Venha o teu reino...”
- Sinto vergonha em ter parentes ou amigos problemáticos
- Penso que Deus tem a obrigação de dar aquilo de que necessito
- No meu RG fiz esta opção: “NÃO DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS”.

Muitas dessas afirmações não são – necessariamente – características de um legítimo ególatra. Algumas revelarão apenas uma certa timidez; outras, traços de personalidade. Entretanto, a identificação com a maior parte delas pode sim ser indício de egolatria.
Se este for o seu caso, chegou o momento de abandonar a casca do ovo, o instante de deixar o casulo, a hora de se livrar do invólucro deste bicho-de-seda do egoísmo.
Você precisa ter consciência de que há vida (no sentido físico e humano) além da sua. As dores e tribulações que você sente, também são sentidas por outras pessoas. Enquanto sua cabeça descansa tranqüilamente no travesseiro, a da sua esposa pode estar atormentada pela sua indiferença e desprezo. O esquizofrênico que você ridiculariza tem um mundo dentro de si, mundo este que você recusa enxergar. O encarcerado que não toma banho de mar, o hospitalizado que aguarda uma delicada cirurgia, o mendigo que vive sob uma ponte, o suicida que se prepara para pular do último andar do prédio, o faminto que se mantém em fome por vergonha de pedir, o desempregado que não sabe o que fazer para pagar o aluguel, o alcoólatra que luta loucamente para se livrar da bebida, todos eles são pessoas igualzinhas a você. Têm sentimentos, medos, angústias, alegrias, êxtases, infortúnios etc.
O seu “mundinho” é pequeno demais para você viver apenas nele. A vida é como uma extensa corrente, em que cada elo representa uma pessoa. No seu viver cotidiano você sempre precisa de alguém. Você precisa do padeiro e, consequentemente, precisa do trabalhador que planta o trigo para fazer o pão e assim sucessivamente num vínculo social interminável. Você é somente uma minúscula parte de um todo que se estende de onde você está até a mais remota aldeia africana.
Enquanto você come, bebe e se alegra, há, em alguma ruazinha lá de Capim Grosso, na Bahia, alguém que sonha e que, tal qual você, deseja muito ser feliz.
Faz-se necessário deixar-se envolver pela beleza das flores, sentir o aroma do amanhecer, ouvir com delicadeza o silvar dos pássaros, alegrar-se com os pingos da chuva, extasiar-se com um poema de amor; enfim, viver a vida. Permita que o EU seja superado pelo NÓS. LIVRE-SE DA EGOLATRIA: “Não digas ao teu próximo: Vai, e volta amanhã que to darei, se já o tens contigo” (Pv. 3:28).


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