PAULO NERY DE LIMA - outro grande artista, e tão ou mais fã da Velta do que eu.
Quando a gente acha que não há mais nada de novo, ou surpreendentemente bom para ser visto, acabamos sendo surpreendidos.
Há muitos anos, quando eu era moleque, e não podia comprar revistinhas que só adultos lêem, apareceu uma editora chamada GRAFIPAR de Curitiba, que só publicava terror e eróticos em quadrinhos. Eu queria ter umas daquelas na minha coleção, mas papai e mamãe só me compravam Mônica, Cebolinha ou super-heróis gringos, por serem gibis para "todas as idades" e "toda a família". Nunca concordei com essa babaquice, e por isso acabei curtindo e lendo demais os tais super-heróis gringos. No máximo, pude folhear nas casas de amigos mais velhos alguns dos gibizinhos de safadeza. O que eu gostava era das heroínas sensuais e quase nuas, e um desenhista que fazia elas muito bem era o PAULO NERY. Lembro da Aura Cassiopéia, que era linda, da Cereja e do fiel robô Róice. Era interessante como Paulo procurava ser original e diferente já naquele tempo. Não recorria aos chavões de sempre, de meter nomes inglês nos personagens, ou copiar personagens de fora.
Quando fiquei taludo, fui vendo com tristeza as heroínas brasileiras sumindo, inclusive as do Paulo. A Grafipar acabou sem que eu pudesse ter conseguido muita coisa dessa histórica Editora. No Lugar dela veio a PRESS EDITORIAL  de São Paulo, que publicou alguns autores vindos da Grafipar, como Watson Portela, Rodval Matias, Mozart Couto. Paulo Nery não estava lá... ao menos nos gibis que pude adquirir. Mas aí vi um cara novo que eu não conhecia, mas com desenhos muito bons, desenhando uma personagem chamada Ádrian, que era uma ninfeta hermafrodita. Como não me atraí pelo tema, não comprei a revista, mas dei  uma folheada nela e gostei dos desenhos, especialmente do modo como o artista fazia o rosto da mocinha (o). Li o nome do cara apenas uma vez, e o tempo passou e me esqueci dele.  
      
Acima, à direita: Velta.Pintura digital.
        
Abaixo, à esquerda: Velta  no espaço, desenhada por Emir Ribeiro (1987) e com efeitos e pintura digital de Paulo Nery de Lima (2006).

Acontece que a vida sempre nos surpreende, e algumas coincidências chegam a não parecer simples coincidências. Quando comecei a frequentar a internet, de cara me apaixonei por essa mídia, e naquele afã de aprender e testar tudo, entrei para uma das chamadas LISTAS DE DISCUSSÕES por indicação de uma amiga. Lá tive o desprazer de conhecer o sujeito mais imbecil que já vi na vida, um verdadeiro doente mental  neurótico esquizofrênico que agredia todos mundo e se achava o bam-bam-bam mais inteligente que todos. O vagabundo desrespeitou essa minha amiga que me indicara a lista, e resolvi dar o troco para ele, usando da mesma arma: gozação, sarcasmo e falta de respeito apenas com ele, é claro. Ele não aguentou seu próprio remédio e me bloqueava mensagens, comentários e tudo o mais. Só não deixava de espicaçar as pessoas. Uma das suas vítimas disparou o alarme da lembrança na minha cabeça. Era o desenhista EMIR RIBEIRO, a quem logo identifiquei ser o autor da Ádrian que eu havia visto há muitos anos. Mas o idiota que o criticava, falava muito mal não só dele como de uma personagem ainda desconhecida para mim: VELTA. Volta e meia o maluco estava lá enxovalhando a personagem, e pelos textos dava a entender que seria uma super-heroína brasileira. Pronto! Foi o suficiente para me atiçar a curiosidade. Procurei informações sobre Velta na internet, e as pesquisas indicavam milhares de sítios, a maioria internacionais. Quando abri alguns, eram pessoas reais chamadas Velta. Então, para restringir mais a pesquisa, coloquei o nome do autor, e aí, saltando de página em página, descobri que ele estava lançando pela Editora Escala uma edição de colorida. Quando o gibi saiu, fui um dos primeiros a comprar. 
Aí, minhas lembranças de molecote que gostava de ver gatas gostosas nos quadrinhos voltaram com tudo. Velta era tudo que eu queria ver numa personagem de gibi. O passo seguinte foi contatar com o Emir Ribeiro, de quem me tornei amigo e admirador.
Abri um blog para falar de mulheres nos quadrinhos, e Velta não podia faltar nele.
Através do blog conheci outro grande amigo, que era fã da Velta até a morte. Era o Rod Gonzalez, que hoje mantém o blog MULHERES NOS QUADRINHOS como meu parceiro. Rod também havia se tornado grande amigo de Emir Ribeiro, e junto com mais outro fã da loira, o Evandro Molina, e eu, idealizamos a CQC - a Central dos Quadrinhos Brasileiros.
A CQB é uma tentativa de trazer de volta os melhores momentos dos quadrinhos brasileiros e seus grande personagens, além de formar uma consciência nacional para que haja um mercado forte para as produções da nossa terra.
Outra forma que encontramos para divulgar nossa paixão comum pelos quadrinhos nacionais foram os fotologs. Abri um no Terra e outro no Gigafoto, e fomos cada um fazendo seu trabalho.
Mas um dia, foi aberto um novo fotolog, além dos dos meus amigos Emir Ribeiro e Rod Gonzalez, que me fez de novo voltar ao passado. Era o mesmo Paulo Nery de Lima das boazudas da Grafipar. E o cara foi logo declarando que era amigo do criador da Velta, além de fã inveterado da belezona loira. E para isso postou vários desenhos dela feitos em programas e artifícios digitais, ou em artes feitas a mão também. Coisa de se deslumbrar e babar. Cada desenho duca.
Aí fechou-se o círculo das coincidências. Todos os meus ídolos do passado, os criadores de heroínas gostosas e brasileiríssimas, e mais novos amigos apreciadores delas agora se reuniram.
Acima, à esquerda: Velta  desenhada em 1987 e pintada em 2006 por Paulo Nery de Lima, . Publicada no fanzine MINIZINE. Abaixo, à direita, lápis e cores de Paulo Nery, com arte-final de Emir, em outro trabalho de parceria executado em 1987 e colorido em 2006.

Coisas muito boas podem sair dessa reunião, pois cada dia se discute a criação de novos projetos para o quadrinho brasileiro. O que eram idéias soltas e desejos de concretização agora tem a força da união. Muitos outros já começam a se contagiar com a febre das novidades que podem vir. Talvez uma nova era de auge dos quadrinhos brasileiros esteja se chegando. E aquele moleque que gostava de heroínas semi-nuas está bem no meio desse movimento todo. Uma coisa que o menino jamais sonharia tomar parte. Parece uma coisa assim, como se eu tivesse nascido para isso. Algo determinado há muito tempo.

E viva os quadrinhos brasileiros.

Vamos que vamos. A luta continua. E vamos vencer.

MARCONI LAPADA - El Lapadón
Acima, à esquerda: Desenho original de Emir Ribeiro, feito em 1998 e colorido digitalmente por Paulo Nery em 2006. As imagens ao fundo são da edição 25 ANOS DE VELTA, que está sendo publicada em cores no meu blog MULHERES NOS QUADRINHOS.

 A idéia de fazer esta página foi do Emir Ribeiro, a fim de homenagear seu antigo amigo artista. O problema é que o cara não sabe fazer páginas para a net, e eu sei. Combinou tudo e aqui estão as artes maravilhosas de Paulo Nery de Lima para a galera apreciar e babar.   Aí embaixo, atalhos para quem gosta de arte de verdade, em quadrinhos.
    
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