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Campeando Alçado

“Está findando o pinhão
e a lida é boena de fato
cruzo capoeira e banhado
vou campear porco alçado
que tá gordo no mato.”

De chapéu fincado e facão afiado
Dei um grito pro meu guri
Trago o “Nagat” garram de porco
E já carregue minha Taquari

Dona Maria prepare o tacho,
Chegue parceiro chame a cuscada.
Que eu de bombacha remangada
Já tô pronto pra sair.

Ticei o cusco do lusco-fusco
Tinha um cachaço presa virada.
Chegue parceiro aprume o berro
Que se pechemo com essa porcada.

“E foi um tal de!...”

(Cerca o porco, pega o porco
segura o porco, maneia o porco
que eu sou serrano
e sou da campanha.
E o meu guapeca baio sapeca
De pegador que levou um guascasso
Virou do avesso o baio travesso
Partiu nas presas de um cachaço.

E o Genival que era ligeiro
Também gaiteiro dos bem falados
Perdeu um dedo no entreveiro
Nas presas do mesmo alçado.

“E era um tal de!...”

“E esta é a ciência de quando se alça a porcada.
As vezes se acha a vara, outras vezes não acha nada.
Mais quando acha!
Se arremanga as bombachas e é um tal de!...”

Pega o porco!...
Quero encher um tonel de carne, Tuia, torresmo e lata de banha.)

Obs.: “Nagat” garram de porco: antigo revólver que, para ser carregado, era dobrado pelo meio, por onde se tinha acesso ao tambor que rodava fixo em seu eixo.
Taquari: espingarda de cano fixo, carregada pela boca.

“A lida de porco foi uma das principais atividades do homem serrano, e o conteúdo acima foi baseado verídico ocorrido no distrito de Capão Alto, antes pertencendo a Lages, SC.”
Letras
Prenda linda

(Botei o poncho na mala
E amarrei bem na cintura
Com esse traste de lã
O frio não me preocupa
Vou rever há prenda linda.
Que a muito me espera,
E ao tal frio de junho
Vou fazer de primavera.)

Fiz um rancho a capricho,
Com as pranchas do pinheiro
E um catre bem trançado
Para o nosso amor campeiro

Só Você prenda linda
que vai me trazer consolo.
Eu te trago na garupa
deste meu zaino crioulo.

Já tenho vaca de cria
Leite gordo da zebua
Fiz promessa pra são Jorge
neste meu quarto de lua.

Tu sabes que no meu peito.
O amor abriu cancela
Vou te fazer minha esposa
mês que vem lá na capela.
MEDICINA CAMPEIRA

O Vendramino…
me chame o Onofre
Que eu to ruim dos “bofes”
Já faz uns três dias!
/Que eu quero um xarope daqueles bem forte
e um benzimento ainda de garantia/

Quem manda tê o "zóio" maior que as tripa
comer carne gorda, feijoada e canjica.
/Agora se vem lastimando
querendo um xarope pra dor de barriga/

(Qual  for o “causo furunco ou friera"
pra tudo tem cura essa xucra ciência
/e a gente confia o próprio filho
a medicina campeira/)


E o Vendramino “veio home”
Que é feio igual susto Ligeiro igual gato.
/A  xaropada não cobra nada, mas a
embalagem tem que ser paga/

Três “coerada” é o que basta
e nada mais pra “ocê meorá”
/Mas qualquer coisa tu volta no Onofre que outro xarope ele vai receitar/ 2x

“Benzo carne rendida, Osso quebrando, nervo torto. Isso mesmo eu cozo. Em nome de Deus e São Bertozo”

- Mas boeno compadre donde tu vai!?
-Bueno compadre, To indo lá  no Onofre. “Toma” um xarope de “cambará” Pra “vê”  se essa dor há de me “alcamá”!
-“Péra aí  compadre.  Vô junto”!


OBS: A narrativa do conteúdo acima é baseada em “estórias de minha cidade” de Edésio Nery Caon e relatos de lageanos que conheceram e faziam uso da medicina do Onofre, bem como, na linguagem popular da época.
     Onofre Ramos, autêntico homem lageano da década de trinta, morava num sítio nas proximidades da ponte do rio caveiras, onde, com ajuda de seu esperto secretário Vendramino atendia pessoas do RS, PR e SC, que eram atraídas por suas consagradas homeopatias e benzeduras.
Este curandeiro benquisto preocupava médicos renomados como Dr. César Sartori, Dr. Cândido Ramos e Dr. Carmosino Camargo e muitos outros que não conseguiram desmascara-lo
MBoitatá

(Não sei se via acordado ou se via ainda  dormindo,
Mas era um fogaréu só corcoveando chispeando pelo campo.)
Me disse um tropijeiro, conhecedor tapejara,
Lhe juro viu acordado, era m’boitatá, a cobra grande.

Era era mboitatá! Era era mboitatá!

Um dia “garrou  come o zoio” das carniça,
Tomou gosto e passou a comer então, o dos “bicho vivente.”
Cada olho que comia continha uma réstia de luz
Do último pôr-do-sol que o olhar havia visto

Era era mboitatá!   Era era mboitatá!

Quando se come uma bóia a sustância fica no corpo.
E a pele lisa da cobra aos pouquitos ficou transparente, 
Refletindo um naco de luz, dos mil olhos que havia comido
E se tornou uma bola de fogo corcoveando assombrando o campo

Era era mboitatá!  Era era mboitatá!

Por isso quando avisto m’boitatá em noite breu,
Desato o laço dos tentos; argola riscando o chão.
Até que a noite finde e amanhã leve a escuridão,
E deixe eu seguir em paz pelos caminhos de me Deus.

Era era mboitatá
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