letras |
Copyright © 2007 GES Produçoes. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por Eduardo Moreira |
___________________________________________________________________________________ |
Campeando Alçado
“Está findando o pinhão e a lida é boena de fato cruzo capoeira e banhado vou campear porco alçado que tá gordo no mato.” De chapéu fincado e facão afiado Dei um grito pro meu guri Trago o “Nagat” garram de porco E já carregue minha Taquari Dona Maria prepare o tacho, Chegue parceiro chame a cuscada. Que eu de bombacha remangada Já tô pronto pra sair. Ticei o cusco do lusco-fusco Tinha um cachaço presa virada. Chegue parceiro aprume o berro Que se pechemo com essa porcada. “E foi um tal de!...” (Cerca o porco, pega o porco segura o porco, maneia o porco que eu sou serrano e sou da campanha. E o meu guapeca baio sapeca De pegador que levou um guascasso Virou do avesso o baio travesso Partiu nas presas de um cachaço. E o Genival que era ligeiro Também gaiteiro dos bem falados Perdeu um dedo no entreveiro Nas presas do mesmo alçado. “E era um tal de!...” “E esta é a ciência de quando se alça a porcada. As vezes se acha a vara, outras vezes não acha nada. Mais quando acha! Se arremanga as bombachas e é um tal de!...” Pega o porco!... Quero encher um tonel de carne, Tuia, torresmo e lata de banha.) Obs.: “Nagat” garram de porco: antigo revólver que, para ser carregado, era dobrado pelo meio, por onde se tinha acesso ao tambor que rodava fixo em seu eixo. Taquari: espingarda de cano fixo, carregada pela boca. “A lida de porco foi uma das principais atividades do homem serrano, e o conteúdo acima foi baseado verídico ocorrido no distrito de Capão Alto, antes pertencendo a Lages, SC.” |
Letras |
Prenda linda
(Botei o poncho na mala E amarrei bem na cintura Com esse traste de lã O frio não me preocupa Vou rever há prenda linda. Que a muito me espera, E ao tal frio de junho Vou fazer de primavera.) Fiz um rancho a capricho, Com as pranchas do pinheiro E um catre bem trançado Para o nosso amor campeiro Só Você prenda linda que vai me trazer consolo. Eu te trago na garupa deste meu zaino crioulo. Já tenho vaca de cria Leite gordo da zebua Fiz promessa pra são Jorge neste meu quarto de lua. Tu sabes que no meu peito. O amor abriu cancela Vou te fazer minha esposa mês que vem lá na capela. |
MEDICINA CAMPEIRA
O Vendramino… me chame o Onofre Que eu to ruim dos “bofes” Já faz uns três dias! /Que eu quero um xarope daqueles bem forte e um benzimento ainda de garantia/ Quem manda tê o "zóio" maior que as tripa comer carne gorda, feijoada e canjica. /Agora se vem lastimando querendo um xarope pra dor de barriga/ (Qual for o “causo furunco ou friera" pra tudo tem cura essa xucra ciência /e a gente confia o próprio filho a medicina campeira/) E o Vendramino “veio home” Que é feio igual susto Ligeiro igual gato. /A xaropada não cobra nada, mas a embalagem tem que ser paga/ Três “coerada” é o que basta e nada mais pra “ocê meorá” /Mas qualquer coisa tu volta no Onofre que outro xarope ele vai receitar/ 2x “Benzo carne rendida, Osso quebrando, nervo torto. Isso mesmo eu cozo. Em nome de Deus e São Bertozo” - Mas boeno compadre donde tu vai!? -Bueno compadre, To indo lá no Onofre. “Toma” um xarope de “cambará” Pra “vê” se essa dor há de me “alcamá”! -“Péra aí compadre. Vô junto”! OBS: A narrativa do conteúdo acima é baseada em “estórias de minha cidade” de Edésio Nery Caon e relatos de lageanos que conheceram e faziam uso da medicina do Onofre, bem como, na linguagem popular da época. Onofre Ramos, autêntico homem lageano da década de trinta, morava num sítio nas proximidades da ponte do rio caveiras, onde, com ajuda de seu esperto secretário Vendramino atendia pessoas do RS, PR e SC, que eram atraídas por suas consagradas homeopatias e benzeduras. Este curandeiro benquisto preocupava médicos renomados como Dr. César Sartori, Dr. Cândido Ramos e Dr. Carmosino Camargo e muitos outros que não conseguiram desmascara-lo |
MBoitatá
(Não sei se via acordado ou se via ainda dormindo, Mas era um fogaréu só corcoveando chispeando pelo campo.) Me disse um tropijeiro, conhecedor tapejara, Lhe juro viu acordado, era m’boitatá, a cobra grande. Era era mboitatá! Era era mboitatá! Um dia “garrou come o zoio” das carniça, Tomou gosto e passou a comer então, o dos “bicho vivente.” Cada olho que comia continha uma réstia de luz Do último pôr-do-sol que o olhar havia visto Era era mboitatá! Era era mboitatá! Quando se come uma bóia a sustância fica no corpo. E a pele lisa da cobra aos pouquitos ficou transparente, Refletindo um naco de luz, dos mil olhos que havia comido E se tornou uma bola de fogo corcoveando assombrando o campo Era era mboitatá! Era era mboitatá! Por isso quando avisto m’boitatá em noite breu, Desato o laço dos tentos; argola riscando o chão. Até que a noite finde e amanhã leve a escuridão, E deixe eu seguir em paz pelos caminhos de me Deus. Era era mboitatá |