Música de Juca Storoni (João José da Costa Júnior) (Carnaval de 1909)
Iaiá me deixe
(deixa) subir esta ladeira
Que eu (Eu)
sou do grupo (do
bloco) do pega (mas
não pego) na chaleira
Na casa do Seu Tomaz
Quem
grita é que manda mais
Que vem de lá
Bela Iaiá
Ó abre alas
Que eu quero passar
Sou Democrata
Águia de Prata
Vem cá mulata
Que me faz chorar
Gravada originalmente na Odeon (s/ data), pela Banda da Casa Edison.
Outras gravações conhecidas são as da Banda da Casa Faulhaber & Cia (s/data), Banda Pryor (s/data), Banda do 52º de Caçadores (s/data), Almirante (no rádio, 1946), Monsueto & As Gatas (1972), Banda do Canecão (1973), entre outras.
Almirante, em programa de rádio nos conta como surgiu este episódio (clique em Almirante):
"Um certo Presidente da República1, nas suas viagens durante a campanha para a sua eleição, costumava levar consigo uma pequena chaleira de prata, porque ele mesmo gostava de preparar, não sei se o seu café ou o seu chá. Cercado como andava por indivíduos interessados em cair nas suas boas graças, era freqüente ver-se quando um ou outro, em requintes de amabilidade, se esforçava para poupar ao futuro presidente, o trabalho de preparar ou de servir a sua bebida preferida. Os mais afoitos, mal o ilustre homem manifestava o desejo de saborear a sua bebida, avançavam para a pequena chaleira e, na ânsia de serem os primeiros, a seguravam por onde calhasse, ou pelo cabo, ou pelo bojo e até pelo bico. Com isso naturalmente queimavam os dedos. Nasceu daí o dito popular 'chaleira', para designar adulador e a expressão 'pegar no bico da chaleira' para indicar aquela ação de adular. O dito da moda deu motivo a uma canção carnavalesca da autoria de um famoso mestre de bandas que se ocultava sob o pseudônimo de Juca Storoni e foi o maior sucesso do Carnaval de 1909. É isso que vamos lembrar agora com esse número célebre que se inicia com os típicos do Carnaval daquele tempo, hein! O auditório, se quiser, poderá cantar conosco pois os ouvintes em suas casas, na certa, vão fazer o mesmo seduzidos pela saudade que há de despertar esta brejeiríssima polca No bico da chaleira..."
Outra espirituosa explanação é de Darcy Ribeiro:
"O êxito do Carnaval é No Bico da Chaleira, de Costa Júnior, que cria a expressão 'chaleirar', dando o nome e conjugação à prática vulgarmente chamada, até então, de puxa-saco ou lambe-cu. A expressão vem de Pinheiro Machado, que tinha sempre uma chaleira fervendo para o chimarrão e, quando pretendia colocar água na vuia, os presentes corriam pressurosos para pegar e servir."
Em 1945, Roberto Martins e Frazão lançam a marchinha O cordão dos puxa-saco dando continuidade ao tema. Chegaram até a se utilizar dos primeiros versos de No bico da chaleira:
Iaiá
me deixa subir essa ladeira
Que eu sou do bloco
Mas não pego na chaleira
Lá vem
O cordão dos puxa-saco
Dando vivas aos seus maiorais
Quem está na frente
É passado pra trás
E o cordão dos puxa-saco
Cada vez aumenta mais
Vossa Excelência
Vossa Eminência
Quanta reverência
Nos cordões eleitorais
Mas se o "doutor"
Cai do galho e vai ao chão
A turma toda evolui de opinião
E o cordão dos puxa-saco
Cada vez aumenta mais
Baseado em No bico da Chaleira, neste mesmo ano de 1909, Gastão Tojeiro escreveu o argumento para o filme Pega na chaleira da companhia Photo-Cinematographia, produzido por Labanca, Leal & Cia.
1. O político citado era um gaúcho, o general senador José Gomes Pinheiro Machado, líder do Partido Republicano Conservador que dominou a política nacional no início do século e que de fato, não foi candidato à presidência da República.
2. RIBEIRO, Darcy. Aos trancos e barrancos - Como o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro, Guanabara, 1985, verbete 191.